quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

25 Grandes Filmes de 2019 Lançados no Cinema ou DVD/Now (+15 menções Honrosas)

Acho que falo isto todos os anos na hora de fazer a relação de grandes filmes, mas não existe lista mais difícil do que essa. E um dos principais motivos é o de que dificilmente conseguimos assistir a tempo a todas aquelas obras que gostaríamos. Por exemplo, muitos de vocês estranharão a ausência de A Vida Invisível de Eurídice Gusmão - o nosso enviado ao Oscar, mas que ainda não passou pelo nosso "crivo". Bom, existe grande chance de ele figurar na nossa lista do ano que vem e na verdade não há mal nenhum nisso, já que a nossa intenção não é a de fazer uma relação dura, e sim falar de grandes películas que assistimos, gostamos e resenhamos por aqui - na intenção de indicá-las a vocês, que nos acompanham. Também fizemos um esforço para incluir na relação obras das mais variadas nacionalidades (não apenas de Hollywood) e de gêneros - sem esquecer dos nacionais, claro. Bom, chega de conversa fiada. Eis a nossa relação com os 25 Grandes Filmes de 2019 Lançados em DVD/Now (+15 Menções Honrosas). Boa leitura!


Menções Honrosas:

40) Eu Não Sou Uma Bruxa ( I Am Not a Witch)
39) A Tabacaria (Der Trafikant)
38) No Coração da Escuridão (First Reformed)
37) Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk)
36) Mirai (Mirai)
35) A Favorita (The Favourite)
34) A Odisseia dos Tontos (La Odisea de Los Giles)
33) One Child Nation
32) Estou Me Guardando Pra Quando o Carnaval Chegar
31) Green Book: O Guia (Green Book)
30) Privacidade Hackeada (The Great Hack)
29) Dogman (Dogman)
28) Amanda (Amanda)
27) Ad Astra: Rumo às Estrelas (Ad Astra)
26) Boy Erased: Uma Verdade Anulada (Boy Erased)


25) Minha Obra-Prima (Mi Obra Maestra): em sua ainda curta filmografia, o argentino Gastón Duprat se especializou em obras que utilizam a mesquinhez e a afetação do universo das artes como o cínico contraponto para uma Argentina dolorosamente decadente, provinciana e cheia de contrastes. Foi assim com o divertido O Cidadão Ilustre (2017) e é assim neste, em que acompanhamos uma improvável dupla de amigos: de um lado um amargo pintor de nome Nervi, que já foi bem sucedido, mas hoje não consegue vender quadro algum. De outro, o galerista Arturo que tenta valorizar a obra do primeiro, a despeito da personalidade abusadamente presunçosa e prepotente do artista. Após uma tentativa mal sucedida de parceria, o artista sofre um gravíssimo acidente pouco depois da catastrófica vernissage de lançamento de uma peça, que lhe faz perder parte da memória. Repleta de ótimas surpresas, a obra aborda a amizade e ainda discute os limites da arte, em uma narrativa leve, cheia de bons diálogos e que nos diverte e emociona em igual medida. Leia a resenha completa.



24) Temporada: esse é aquele tipo de filme que parece sobre o nada mas que, na verdade, é sobre tudo ao mesmo tempo. Não por ser algum tipo de projeto ambicioso e hiperbólico e sim por apostar na sutileza como forma de abordagem para temas relacionados a diferenças sociais, a solidão e a busca pela felicidade. É o filme sobre o cotidiano. Sobre a vida real. Sobre errar e acertar. Ou sobre deixar o passado para trás para tentar tudo de novo. E novamente. E o pior: em um País que não costuma olhar com carinho para as classes menos favorecidas ou vulneráveis. Na trama acompanhamos a jornada de Juliana (a espetacular Grace Passô) que está se mudando de Itaúna para a periferia de Contagem, para trabalhar como agente de controle da dengue na região. É filme político, sem ser panfletário, sem precisar esfregar nada na cada. Há, aqui e ali, uma discussão sobre precárias condições de trabalho, sobre salários baixíssimos, sobre as dificuldades para que as contas fechem e os sonhos permaneçam. Uma obra sutil, que diz muito. Leia a resenha completa.


 

 23) A Esposa (The Wife): com uma excelente abordagem sobre o machismo existente no universo da literatura - em 115 edições do Prêmio Nobel foram apenas 13 ganhadoras -, esse pequeno achado narra a história de um escritor que será laureado com a já citada distinção, enquanto a esposa permanece como um espectro, à sua sombra. É um trabalho arrebatador da atriz Glenn Close, que foi justamente indicada por encarnar uma mulher que, nas aparências, permanece perplexa e taciturna diante do absurdo do contexto em que vive. Seus olhos parecem comunicar algum tipo de tensão, de desconforto e de incerteza - e não serão poucas as sequências em que este expediente se repetirá, especialmente naqueles momentos em que o homenageado tomará a palavra para mencionar a importância da esposa para a sua vida. "Eu não sou nada sem ela", será uma frase ouvida com frequência. Flashbacks fornecerão preciosas informações sobre essa relação, em uma película cheia de reviravoltas, boas doses de tensão e um final surpreendente. Leia a resenha completa.


22) Atlantique (Atlantics): enviado pelo Senegal para a próxima edição do Oscar, esse filme sensorial começa como um drama convencional sobre relacionamentos e sobre casamentos arranjados para se transformar em um suspense que mistura ficção científica e fantasia, com elementos sobrenaturais, religiosos e até futuristas. Após um grupo de homens se lançar ao mar em busca de melhores condições de trabalho, as mulheres que ficam, entre elas Ada são possuídas por algum tipo de "força" que fará com que coisas estranhas aconteçam no local. Discutindo o papel da mulher, especialmente em sociedades mais conservadoras, a obra de estréia da diretora Mati Diop evoca uma série de sensações para discutir escolhas, liberdade, paixão e permanência da memória afetiva. Repleta de contrastes, de simbolismos e de imagens idílicas (especialmente do mar), a película também faz a crítica social ao demonstrar como famílias podem ser devastadas a partir de frágeis relações trabalhistas e de costumes antiquados. Leia a resenha completa.


21) Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (Midsommar): existem filmes que, muito mais do que um começo, um meio e um fim bem definidos, utilizam a sua narrativa cheia de simbologias para evocar as mais diversas sensações no espectador. Nesse tipo de obra nada é previsível e tudo pode acontecer. É trama mais sensorial do que esquemática, mais incômoda do que lógica. Ao contar a história de um grupo de amigos que vai para a Suécia para participar de uma espécie de festival de verão onde coisas estranhas começam a acontecer, o diretor Ari Aster mergulha de cabeça em temas como fanatismo religioso, diferenças culturais, ritos de passagem, importância do tempo para amenizar as feridas, sensação de pertencimento a um grupo, empatia e insignificância da vida. Nesse sentido, a obra é uma verdadeira colcha de retalhos que nos faz refletir sobre a nossa existência, nossas relações com família e com amigos, sobre comportamento humano (suas fraquezas, anseios e ambições) e também sobre a iminência da morte. Filmaço. Leia a resenha completa.


20) Era Uma Vez em Hollywood (Once Upon a Time In... Hollywood): opinião sobre filme do Tarantino é que nem c*: todo mundo tem a sua. Seja na mesa de bar (pseudo)cinéfila ou em fóruns gloriosos de redes sociais, cada um de nós tem seu pitaco a dar. "É o filme menos Tarantino do diretor", "ele fez uma ode ao cinema", "as referências à cultura do final dos anos 60 conferem um charme a mais", "é cinema mais arrastado e menos violento". Sim, você vai ouvir um pouco de tudo sobre sua mais recente película e tudo tem, sim, um tanto de sentido - a despeito do pedantismo dos fãs do diretor, quando resolvem discorrer sobre sua obra. É, como todos os filmes do Tarantino, um bom filme. Cheio de diálogos divertidos, situações imprevisíveis, metalinguagem e também aquela que tem sido uma de suas marcas, em seu cinema mais recente: subverter a lógica de eventos reais do passado, reimaginando-os em um novo contexto. E isso ele faz de forma avassaladoramente maluca, curiosa, excêntrica, em mais um inspirado trabalho. Leia a resenha completa.


19) Girl (Girl): quando o filme começa e a jovem Lara surge em cena pela primeira vez, jamais temos dúvida de estarmos diante de uma garota: seu sorriso delicado e suas feições suaves são o complemento para uma identidade totalmente feminina. Sim, trata-se de uma mulher que nasceu com corpo de homem mas que, com apenas quinze anos, tem consciência de suas escolhas e do que deseja para sua vida. Apoiada de forma comovente pelo pai, Lara está fazendo um tratamento com hormônios, enquanto aguarda uma cirurgia para readequação de gênero. Sim, não bastassem todos os dilemas, anseios, dúvidas, descobertas e inseguranças da juventude, Lara é uma garota trans em um mundo em que o ódio, o preconceito e a intolerância parecem sempre prontos à vir a tona. Evitando um pouco o clichê da história de superação, a obra olha com carinho para sua protagonista (um trabalho sensacional do ator Victor Polster) que não vê a hora de seu corpo como ela deseja, "acontecer" de uma vez. Uma obra delicada e extremamente naturalista. Leia a resenha completa.


18) Em Trânsito (Transit): só a sutileza com que o diretor Christian Petzold (Phoenix) aborda o avanço do nazismo (ou do fascismo) nos dias de hoje já torna este um filme digno de nota. Para falar de cerceamento da liberdade, de cassação de direitos e de injustiças sociais não há volta no tempo ou trens levando judeus para campos de concentração. A história se passa na modernidade e acompanha um grupo de pessoas que está em fuga de uma França pronta a ser sitiada pelo exército, que pretende iniciar um "trabalho de limpeza" no País. Nesse sentido, Em Trânsito se apresenta como uma distopia daquelas típicas da ficção científica, em que a sociedade decadente e tecnológica, em choque com um passado de opressão, de censura e de medo do diferente. No microcosmo proposto por Pletzold, seria como se o nazismo estivesse para acontecer na atualidade, em uma capital como Paris, motivada por uma política conservadora e ditatorial que se avizinha. Sim, parece que a gente já viu "esse filme" e talvez seja isso o que mais assusta. Leia a resenha completa.


17) O Ano de 1985 (1985): o abismo geracional existente entre filhos com ideias mais progressistas - com mais empatia e mais tolerância -, num contraponto aos pais mais conservadores, representantes das "famílias de bem", que acreditam que bandido bom é bandido morto e que certamente votariam no Bolsonaro, é a matéria-prima para este achado em forma de filme. O jovem publicitário Adrian está retornando para a casa dos pais para passar o Natal. Ao lado do irmão, percebe que não pertence mais àquele lugar ultrapassado, conservador, parado no tempo. Pior: é gay e tem uma terrível notícia para dar aos seus genitores. A trama é simplíssima, mas desenvolvida com elegância, sem pressa. Já a belíssima fotografia em preto e branco, levemente escurecida, acentua o clima de melancolia familiar meio generalizada - todos se espiam pelos cantos, como se estranhos fossem, sendo obrigados a conviver, em uma obra que se encaminha dolorosamente para um desfecho não menos do que comovente. Leia a resenha completa.


16) Deslembro: "aqueles que não conhecem a sua história estão fadados a repeti-la". Adequando a frase atribuída ao teórico político Edmund Burke para o nosso contexto, especialmente se pensarmos na Ditadura Militar, ela soa atualíssima. Nesse sentido, quando nos deparamos com um esforço artístico que, de alguma forma, resgata aquele momento, ele já nasce digno de nota. E é exatamente este o caso dessa obra que nos joga de volta para o final dos anos 70 (no período que em que foi decretada a Lei da Anistia), para contar a história de uma família de exilados, que está voltando para o Brasil. O retorno não será fácil. Há uma sensação generalizada de desconforto, simbolizada pela dificuldade de adaptação da jovem Joana. Hábil, na construção de uma narrativa que sufoca mesmo nas cenas mais prosaicas, a diretora Flávia Castro amplia a sensação de incômodo, com o uso de sons que surgem no formato de sussurros, zumbidos e outros barulhos. Em um grande ano para o nosso cinema, Deslembro não fica para trás. Leia a resenha completa.


15) Divino Amor: a ideia para esse filme é absurdamente original. Nele, a trama viaja para o futuro para imaginar um Brasil do ano de 2027, onde o Estado definitivamente deixou de ser laico, a família tradicional está estabelecida exclusivamente no padrão homem, mulher e filho, a burocracia é galopante e o Governo funciona num misto de opressão religiosa e conservadorismo extremo. Enfim, é o tipo de distopia tão verossímil nesses recém-iniciados anos de Bolsonaro que a sensação, na verdade, é a de que não estarmos necessariamente vendo o futuro e, sim, o presente. No universo concebido pelo diretor Gabriel Mascaro (Boi Neon), a opressão não surge escancarada, mas sim nos hábitos que visam a uniformizar uma sociedade que, consequentemente, perde a sua identidade. Como exemplo, o Carnaval foi agora substituído por um tipo de rave gospel em que fundamentalistas religiosos aguardam pela chegada do Messias - mais ou menos o que o Crivella pretende para o réveillon. A vida, afinal, imita a arte. Leia a resenha completa.


14) Querido Menino (Beautiful Boy): o uso de drogas é um severo problema de saúde pública nos Estados Unidos, sendo algo que, em muitos casos, não se sabe exatamente de onde vem. Ou o que desencadeia esse quadro tão desalentador. Família disfuncional? Pais separados ou ausentes? Jovens que sofrem bullying? Não necessariamente, como nos mostra a história do jovem Nic Sheff (Timothée Chalamet), que protagoniza o filme. Nic é um menino da classe média como qualquer outro: amado pelos pais, tem boas notas na escola, pratica esportes, gosta de música, literatura e artes em geral. Mas se tornará usuário de drogas - inicialmente maconha, mais tarde metanfetamina -, se tornando dependente químico e, consequentemente, alterando a rotina de todos. A obra comove, sendo muitas vezes dura, ao mostrar que mesmo um pai presente, pode não conseguir identificar as suas próprias falhas, na tentativa de acolher o filho. Leia a resenha completa.


13) Rocketman (Rocketman): devo confessar a vocês que não foi nada fácil escrever a resenha sobre esse filme, já que o Elton John é o meu artista do mundo da música preferido. Na trama, como não poderia deixar de ser em uma cinebiografia de uma estrela tão retumbante, estamos diante da clássica história de ascensão e queda. E de ascensão novamente. E de persistência. E de enfrentamento de preconceitos, claro. Em uma época (os anos 60) em que se declarar gay era quase um "crime inafiançável", o astro surge para o mundo da música com suas canções sensíveis mas potentes, reflexivas mas radiofônicas. Os figurinos ousados, festivos, chamativos, surgiriam mais tarde como forma de referendar o seu estilo, em uma obra que recria a época de forma fidedigna e sem endeusar seu biografado: Elton, afinal, a despeito de todo o seu talento, é gente como a gente, com dores, fraquezas, incertezas e anseios. E o filme acerta em cheio ao humanizar uma figura tão magnífica. Leia a resenha completa.


12) Vermelho Sol (Rojo): existe uma frase sobre os "fascistas do futuro" que José Saramago NUNCA disse, mas que é atribuída a ele: "os fascistas do futuro não vão ter o estereótipo de Hitler e Mussolini. Não vão ter aquele jeito de militar durão. Vão ser homens falando tudo aquilo que a maioria quer ouvir. Sobre bondade, família, bons costumes, religião e ética". De certa forma, aquilo que assistimos nessa verdadeira joia do cinema argentino, dialoga com essa sentença. Na trama, uma discussão entre dois homens em um restaurante descamba para uma tragédia que evidencia as tensões de uma Argentina calejada por diversos golpes de estado sequenciais. Há uma tensão no ar que é fruto de algo maior - um tipo de mal-estar político e institucional que escancara as feridas de um Estado de Exceção, colocando o homem contra o próprio homem. Trata-se de uma obra atmosférica, de sutilezas, daquelas que acredita na inteligência do espectador. Leia a resenha completa.


11) Guerra Fria (Zimna Wojna): silenciosa e de grande lirismo, a trama nos joga para o contexto político/social da Polônia no pós Segunda Guerra Mundial, compreendendo um espaço de tempo que vai do ano de 1949 à 1964, mostrando as idas e vindas do músico Wiktor (Tomasz Kot) e da jovem Zula (Joanna Kulig), sua pupila e par romântico. De personalidades opostas - Wiktor é mais sisudo e pragmático ao passo que Zula é sonhadora e intempestiva - ambos se conhecem durante uma espécie de programa de Governo da Polônia comunista que, após o conflito, busca localizar talentos musicais e artísticos com o objetivo de resgatar e repaginar o arcabouço cultural e folclórico do País. Este fato afastará a dupla central que, a cada reencontro, estará mudada - não apenas fisicamente, mas em sua essência (em um trabalho de interpretação formidável, diga-se). O amor nos tempos de guerra afinal de contas não é fácil - e essa obra lírica, bergmaniana e de linda fotografia em preto e branco vem para comprovar isso. Leia a resenha completa.


10) Feliz Como Lazzaro (Lazzaro Felice): este drama italiano disponível na Netflix é cheio de simbologias - o tipo de filme que nos deixa pensativos. E que aposta na sutileza para mostrar que vivemos em um mundo de pessoas corrompidas - pelo poder, pelo dinheiro -, onde a bondade, a gentileza e a empatia dão lugar ao ódio, a intolerância e ao individualismo. Na trama Lazzaro é um garoto pobre, que mora com a sua família em uma fazenda mantida por uma Marquesa. Ele está sempre disposto a ajudar, seja nas tarefas mais pesadas do dia a dia na plantação de tabaco, seja se oferecendo para levar uma xícara de café para alguém. Quando uma fatalidade ocorre, agentes de polícia são atraídos à fazenda, fazendo uma descoberta surpreendente. Ao ir no limite do realismo fantástico para falar sobre a tragédia pós-moderna de um mundo em que o homem definitivamente deu errado, a diretora Alice Rohrwacher constrói uma fábula comovente sobre gratidão e altruísmo como um contraponto a ganância e a mesquinhez. Leia a resenha completa.


9) Democracia em Vertigem: para narrar essa história da derrocada da nossa democracia com a conhecemos, a documentarista Petra Costa traça um paralelo que cruza a sua vida pessoal e de sua família, com os eventos políticos recentes. Tomando como ponto de partida as eleições que culminariam no primeiro governo do presidente Lula, a diretora recorda, com vibrantes imagens de arquivo, desde as manifestações dos metalúrgicos do ABC em 1979 até as conquistas sociais que mercaram os anos petistas, com famílias vulneráveis saindo da linha de pobreza extrema, o desemprego em apenas 4% e a estabilidade econômica. A partir dos protestos de 2013 e dos equívocos econômicos da presidenta Dilma, Petra também esquadrinha os fatores que levaram à ascensão de uma extrema-direita difusa e incendiária, que gestaria Bolsonaro. Com grande riqueza de material e excelente edição, Democracia.. se constitui em um verdadeiro documento de nosso tempo. Fundamental é pouco. Leia a resenha completa.


8) História de Um Casamento (Marriage Story): acho que o que torna este filme tão especial é o fato de, inevitavelmente, olharmos para nós mesmos enquanto acompanhamos o desgastante processo de separação que envolve o casal Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver). Afinal de contas, quem nunca rompeu um relacionamento e teve de lidar com toda a quebra de expectativas, as dúvidas e as frustrações que decorreram dessa experiência? Nesse sentido, a obra de Noah Baumbach (de A Lula e A Baleia e Frances Ha) é um prodígio que trata não apenas o tema, mas as pessoas envolvidas nele - com suas virtudes e imperfeições -, com todo o carinho. Não há lado certo na história. Ambos lutam por aquilo que acreditam ser o melhor. Erram e acertam. São empáticos e egoístas, se atacam e sorriem constrangidos. Tentam proteger o filho e compreendem a importância do outro em suas vidas, o que é comovente. Choram. Assim como nós choraremos. Pelo filme ou por algum relacionamento que terminou inesperadamente, enfim. Leia a resenha completa.


7) Vice (Vice): um filme sobre a vida do vice-presidente do Partido Republicano Dick Cheney desde a sua juventude até os anos de parceria política com George W. Bush seria um convite para um sono "glorioso" se não fosse o diretor Adam McKay. Abusando do deboche, assim como já havia feito em A Grande Aposta, o realizador transforma esta em uma obra leve, dinâmica, repleta de referências à cultura pop, com ótima trilha sonora e outras trucagens. Com uma trama cheia de idas e vindas e um Christian Bale que engordou cerca de 20 quilos para o papel principal, o filme mete o dedo na ferida ao fazer a crítica a um sujeito que, no fim das contas, pensa de forma semelhante ao atual presidente Donald Trump. Figura conservadora, adepta da família e dos bons costumes, Cheney sai de Zé Ninguém no cenário político, até ser figura central em decisões políticas importantes, como as da Guerra ao Terror. Pra quem acha que eleger figuras rotundamente estúpidas para o poder seja especialidade nossa, vale lembrar: não é. Leia a resenha completa.


6) Culpa (Den Skyldige): com pouco mais de 80 minutos, esse valioso suspense dinamarquês é a prova viva de que não são necessárias explosões, efeitos especiais e outras trucagens para a composição de um bom filme. A trama é centrada em um policial que atende ligações de emergência na delegacia em que trabalha. Em meio a pedidos de socorro os mais variados - desde quedas de bicicleta, até relatos de pequenos furtos -, o sujeito recebe uma ligação de uma mulher que, aparentemente, está sendo sequestrada. Ao telefone, ela finge que está falando com a sua filha, como forma de despistar o sequestrador e facilitar a logística que poderá levar a polícia até a autoestrada em que está a van do criminoso. Só que talvez nem tudo seja o que parece, nessa obra que discute o conceito de culpa, bem como o nosso ímpeto natural de ser juiz em causas que não são nossas. Nesse sentido trata-se de um filme completo: tenso, urgente, com ótima interpretação do protagonista e uma resolução surpreendente. Leia a resenha completa.


5) Coringa (Joker): "Sou só eu ou o mundo está ficando mais louco?" Está. Está ficando mais louco. As pessoas estão perturbadas, insanas, descrentes. Estão acoadas lutando para sobreviver e tentando entender o que acontece nesse universo de caos, de violência gratuita, de ódio, de polarização, de indecência política e de banalização (e legitimação) da grosseria, da estupidez e da intolerância. Estão conectadas em aparelhos, mas estão distantes, frias, individualistas. Há uma sensação de isolamento em meio a confusão de tudo que parece nada. Há um futuro incerto. Há dor. Doença. Desamor. Deboche. Dívidas. Depressão. Gatilhos despertados. Assassinato e brutalidade. E essa verdadeira hecatombe fílmica que não parará tão cedo de ser falada, estudada, analisada, se passa no começo dos anos 80, mas dialoga completamente com o tempo em que vivemos, como quem diz: lidem com isso. Sobre o Coringa em si? Joaquin Phoenix nasceu para o papel. E entrega uma caracterização inesquecível e um dos melhores filmes do ano. Leia a resenha completa.


4) Dor e Glória (Dolor y Gloria): vamos dizer que este talvez seja um filme muito mais bonito do que profundo. Mais sensível, mais leve. Menos impactante ou provocativo - como eventualmente ocorre na carreira de Pedro Almodóvar. Mas isso não é nenhum demérito. Olhar com carinho para o passado, fazer um filme com ares autobiográficos, que homenageia o cinema e outras artes, também é afagar o espectador. De vez em quando a gente quer uma película que nos envolva, sem necessariamente nos intrigar de maneira comovente. E esta obra parece fazer isso sem forçar a barra, na base da gentileza, da graça. Continua sendo um legítimo Almodóvar: estão lá o uso de cores vivas e a fotografia saturada, Antonio Banderas e Penélope Cruz interpretando, um roteiro com algum grau de mistério cheio de idas e vindas e, claro, as paixões que não olham cor, gênero, tipo físico ou idade. O tipo de obra perfumada pela experiência, talvez. E que por isso tão bela, tão introspectiva. E que merece este nosso quarto lugar. Leia a resenha completa.


3) O Irlandês (The Irishman): Robert De Niro, Joe Pesci, Al Pacino e Harvey Keitel reunidos para um filme um pouco mais contemplativo sobre a máfia, dirigido por Martin Scorsese. Não tinha como dar errado! Obra paradoxal que reflete sobre finitude e sobre o absurdo da morte - afinal de contas, de que adianta uma vida de ambição, de poder e de violência se daqui nada levamos? -, este tour de force de mais de 200 minutos, nos joga na cara o fato de que, ao fim das contas, todos morreremos: doentes, fragilizados, sozinhos. Em última análise, o que nos acompanhará no momento derradeiro de nossas vidas? Entrecortando uma série de eventos, quase como pequenas colagens, a obra se revela como um quebra-cabeças riquíssimo que tem em Frank (De Niro), um simples caminhoneiro que trabalha para um açougue e se torna uma das mais proeminentes figuras da máfia de Chicago, sua figura central. Um monumento cinematográfico bem humorado, melancólico e que deverá fazer bonito na próxima edição do Oscar. Leia a resenha completa.


2) Parasita (Gisaengchung): grande vencedor do Festival de Cannes desse ano, o mais recente filme do diretor Bong Joon-ho (Okja, Expresso do Amanhã), desconstrói o sentido do substantivo/adjetivo que dá nome à obra: quem afinal de contas parasita quem para que a engenhoca capitalista siga funcionando a contento? Na trama, uma família pobre do subúrbio da Coréia do Sul vai aos poucos entrando na vida de outra, burguesa, sem que esta perceba o que está realmente acontecendo. A intenção é a de oferecer a força de trabalho, mas até onde vai a mentira para que esteja assegurada a manutenção do estratagema? Com um elenco carismático, a trama mostra que não há vilões - sendo o Estado o grande culpado por não viabilizar uma sociedade com menos contrastes. Com ótimo (e carismático) elenco, a obra ainda vai no limite do suspense, adotando metáforas - como na inesquecível cena da chuva -, que resumem a intenção geral da película em poucos segundos. Um filmaço que merece ser visto! Leia a resenha completa.


1) Bacurau: seria praticamente impossível a elaboração de qualquer lista de melhores filmes, sem que essa obra-prima do Kleber Mendonça Filho figurasse nas "cabeças". Vencedor do Prêmio do Juri no último Festival de Cannes, o filme é uma bofetada bem dada na cara da elite mesquinha brasileira, do vira-lata, daquele se acha mais importante ou superior que o restante do País, dos que perderam a humanidade e dos que avalizam todo o absurdo que estamos vivendo nesse governo de imbecis desmiolados. Na trama do povoado que se une para enfrentar uma milícia que aposta na barbárie e no esfacelamento da civilização, a história de todos nós, numa alegoria que mistura terror, drama, comédia, ação, faroeste e ficção científica de forma orgânica, fluída. Uma colagem visual de sequências inesquecivelmente do CARALHO, com grande roteiro, diálogos arrebatadores e interpretações magníficas, que dão conta do poder transformador da arte, também como forma de resistir ao autoritarismo. Leia a resenha completa.


E pra vocês? Quais filmes que mereceriam estar nessa lista? Deixem comentários e vamos seguir nesse debate!

E se você curtiu essa relação, confira também as nossas listas de melhores de 2018, 2017, 2016 e 2015.

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