quarta-feira, 30 de novembro de 2022
Cinema - Aftersun
terça-feira, 29 de novembro de 2022
Novidades em Streaming - Another World (Un Autre Monde)
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
Picanha.doc - Good Night Oppy
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
Curta Um Curta - Eu Espero o Dia da Nossa Independência
Novidades em Streaming - Marte Um
segunda-feira, 21 de novembro de 2022
Novidades em Streaming - Athena
quinta-feira, 17 de novembro de 2022
Novidades em Streaming - O Milagre (The Wonder)
De: Sebastián Lelio. Com Florence Pugh, Kíla Lord Cassidy, Tom Burke e Ciarán Hinds. Drama, EUA / Reino Unido / Irlanda, 2022, 109 minutos.
Não é novidade afirmar que a prática religiosa em si não chega a ser um problema. Cada um tem suas crenças, sua fé, suas convicções. O que é questionável mesmo é o "fã clube". O fanatismo. Que nunca faz bem. É assim nos dias de hoje - e basta ver notícias que dão conta da redução da cobertura vacinal no País (e que também tem a ver com o extremismo religioso) para que tenhamos uma ideia do retrocesso -, era mais ainda no passado, quando a ciência passou a ocupar um espaço cada vez maior na sociedade, funcionando como um contraponto à doutrinação religiosa. E esses polos distintos podem coexistir de forma pacífica? Quais os limites éticos, morais que envolvem esse suposto antagonismo? Em tempos de Deus acima de todos e de presidente da República colocando o conhecimento científico em cheque, um filme como O Milagre (The Wonder) é muito mais do que uma mera reminiscência que nos faz viajar mais de 150 anos atrás. A meu ver é uma forma criativa de olhar para os dias de hoje, a partir de eventos históricos.
E o que seria de nós sem uma boa história para contar, não? Apostando na metalinguagem como recurso, o diretor Sebastián Lelio - aliás, um dos motivos pelos quais me senti atraído para o projeto, já que sou fã de obras como Gloria (2013), Uma Mulher Fantástica (2017) e Desobediência (2018) -, abre o filme com uma narração em off em um estúdio de cinema. Equipamentos de filmagem, de luz, cenários. Um travelling nos conduzirá para uma casa improvisada onde mergulharemos no ano de 1862, na Inglaterra. É nesse local que vive à sombra da Grande Fome, que seremos apresentados a enfermeira Lib Wright (Florence Pugh) que é chamada para uma pequena e remota vila na Irlanda para acompanhar a rotina da jovem Anna O'Donnell (a ótima Kíla Lord Cassidy) que, aparentemente, parou de comer. Mais precisamente, a menina de 11 anos está há quatro meses, desde o seu último aniversário, sem se alimentar. O que tem atraído turistas e peregrinos, que acreditam estar diante de um milagre. Qual o mistério, afinal? Como é possível alguém sobreviver dessa forma?
Lib chega ao vilarejo com o ceticismo natural dos investigadores. Anna explica à Lib que não precisa se alimentar. Que para ela, o "maná que vem do céu" é o suficiente. No mesmo ambiente a Irmã Michael (Josie Walker) alternará turnos com a enfermeira. Claramente se está em uma comunidade em que será mais fácil ser guiado pela fé católica cega como meio de sobrevivência, do que pelo eventual cartesianismo da ciência. Se aproximando de Anna, a protagonista a isolará da família como forma de melhor estudá-la. O que possibilitará desvendar os supostos mistérios por trás desse milagre - e as reviravoltas do enredo, é preciso que se diga, são construídas de forma elegante, quase elegíaca, com o uso do primoroso desenho de produção, da fotografia suave e levemente adocicada (ainda que melancólica) e. especialmente, da trilha sonora, sombria e onírica em igual medida. Todos recursos estéticos que reforçam o poder da narrativa que acompanhamos. Há uma tensão meio palpável em meio àquele cenário ermo, de relva e de cinza, e que caberá a Lib confrontar.
Evidentemente não será tarefa fácil. Num universo em que é mais lógico acreditar em uma suposta intervenção divina do que na ciência, Lib ainda precisará lidar com o patriarcalismo, que envolverá sequências constrangedoras de uma espécie de comitê - formado por, entre outras lideranças, o padre Thaddeus (Ciarán Hinds, visto recentemente em Belfast) - que parece desconfiar o tempo todo das práticas da enfermeira (ela é convidada apenas a observar, sem jamais interferir). A "ajuda" partirá de um jornalista (Tom Burke), que está interessado na história e que poderá contribuir para que a luz seja definitivamente jogada no caso. Ao cabo trata-se de uma experiência profunda, elegante, que coloca o dedo na ferida quando o assunto é o conservadorismo excessivo e a dificuldade de lidar com a quebra de paradigmas, especialmente em comunidades mais tradicionais. "Ah, então a última coisa que ela comeu foi farinha com água?" pergunta Lib em certa altura para mãe da jovem, que se sente ultrajada com a forma com que a profissional trata o "corpo de Cristo" - a hóstia. Nesse conflito cego parece haver apenas uma prejudicada. E para Lib será preciso muita força para enfrentar isso.
Nota: 8,0
quinta-feira, 10 de novembro de 2022
Tesouros Cinéfilos - A Professora de Piano (La Pianiste)
terça-feira, 8 de novembro de 2022
Curta Um Curta - Desvirtude
"Isso é um pedido de socorro / Você está aplaudindo / Eu tô me matando, porra! / Eu tô me matando, porra! / Eu tô me matando / Você tá aplaudindo e eu tô me matando". O estilo visceral de Baco Exú do Blues observado na suplicante canção En Tu Mira - que está presente no álbum Esu (nosso sexto colocado entre os melhores na lista de 2017) - combina perfeitamente com o curta-metragem Desvirtude, do qual integra a trilha sonora. Um dos lançamentos da semana na plataforma Mubi, o premiado filme da diretora gaúcha Gautier Lee coloca o dedo na ferida do racismo estrutural, mostrando como essa chaga pode emergir de onde, em tese, menos se espera. Durante uma apresentação de trabalho acadêmico, uma jovem negra sofre injúria racial de uma das professoras universitárias - crime previsto em Lei. Lidar com as consequências desse episódio sendo o lado vulnerável da equação (a docente, pelo visto é uma figura querida por todos, de reputação ilibada) será o dilema da protagonista, que se vê isolada não apenas pelos colegas, mas pela própria Instituição de ensino. Uma obra sobre injustiça, que supera uma ou outra dificuldade técnica com a potência de sua mensagem. Vale demais.
Novidades em Streaming - Men: Faces do Medo (Men)
De: Alex Garland. Com Jessie Buckley e Rory Kinnear. Drama / Terror / Ficção Científica, Reino Unido, 2022, 100 minutos.
[ATENÇÃO: ESSE TEXTO CONTÉM ALGUNS SPOILERS DE LEVE]
Falar de machismo e misoginia fugindo um tanto do óbvio. Esse é um objetivo que o enigmático Men: Faces do Medo (Men) alcança. Ou ao menos em partes já que, a despeito do título original autoexplicativo - que fala muito por meio de uma única palavrinha -, trata-se de uma experiência complexa e evocativa, mas que parece nos fazer lembrar o tempo todo da dificuldade que é ser mulher em uma sociedade tão patriarcal. O que talvez explique o receio sentido pela protagonista Harper (Jessie Buckley) a cada novo encontro com um homem "diferente", no retiro que ela resolve fazer em um exótico (e enorme) casarão de uma pequena comunidade da Inglaterra, após uma tragédia ter abalado a sua vida. Já na chegada ao local, que ela aluga por meio de algum aplicativo, o senhorio, um homem de nome Geoffrey (Rory Kinnear), parece se comportar de forma esquisita mesmo que ele não seja tão expansivo. Respostas secas, duras, um senso de humor torto que se soma a um provincianismo que sai dos poros. Tudo gera certo estranhamento.
De qualquer maneira não demora para que o espectador perceba que esse retiro meio forçado tem a intenção de expiar traumas: Harper se sente culpada pela morte do marido e, bom, os homens são mestres em fazer a mulher se sentir culpada mesmo quando ela não é. E se livrar desses demônios interiores não será fácil. Hábil, o diretor Alex Garland - do ótimo Ex-Machina: Instinto Artificial (2015) e do mediano Aniquilação (2018) - constroi um suspense que evolui sem muita pressa, nos deixando aflitos mesmo em instantes em que, aparentemente, não acontece nada. Em uma sequência ainda no começo, Harper sai para explorar o entorno do casarão que alugou. É uma pequena propriedade ladeada por uma densa floresta, com simpáticas plantações de lavanda. Ao alcançar um túnel de trem em uma linha férrea abandonada, a protagonista se ocupa longamente de brincar com o eco do local. Executa melodiosos sons. Sorri com essa besteirinha. Até o instante em que ela tem a impressão de não estar sozinha.
E enquanto assistia, fiquei bastante satisfeito ao perceber o fato de não ser necessário nenhum tipo e jump scare apelativo para que fiquemos tensos. Harper foge correndo dali. Há um homem em seu encalço. Pior, um homem nu. Que parece machucado. O que ele pretende? Harper chama a polícia que prende o sujeito. Mas logo o solta. Não há acusação que se sustente. Não há crime. Ele talvez fosse apenas alguém com problemas mentais. Ou não, vai saber. Em seu entorno, a moça vai percebendo que nenhum daqueles homens parece disposto a ajudá-la. Em certa altura ela encontra um jovem ao lado da Igreja que a provoca (usando uma máscara que gera calafrios). O padre chega, ela conta a sua história. O sacerdote a questiona sobre se ela não é a culpada por não ter conseguido sustentar um casamento. E talvez ter sido responsável direta sobre a tragédia que a leva até ali.
Ao cabo trata-se de uma experiência pouco óbvia, que exige do espectador atenção plena aos detalhes. Utilizando elementos do mundo exterior para discutir o turbilhão interior, Garland compõe uma obra poeticamente visual, cheia de contrastes no que diz respeito as cores e aos elementos cênicos. As paredes extremamente vermelhas do casarão são um indicativo do terror que está na mente da mulher em fuga. Como se livrar desse caos que vêm de dentro? Na natureza ela procura a paz, mas será capaz de encontrá-la? Não é um filme que fornece explicações fáceis. Ao contrário, suscitará longos debates, especialmente por incorporar um sem fim de elementos religiosos - a macieira é quase escancarada -, folclóricos, primitivos, ambíguos. E que vão no limite entre o onírico e o real, o imaginário e o concreto. A mensagem como um todo está lá: homens, apenas melhorem. Para que as mulheres não precisem ficar exorcizando-os o tempo todo de suas vidas!
Nota: 8,0
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
Novidades em Streaming - Ingresso para o Paraíso (Ticket to Paradise)
De: Ol Parker. Com Julia Roberts, George Clooney, Kaitlyn Dever e Maxime Bouttier. Comédia / Romance, EUA, 2022, 104 minutos.
Um dos problemas de comédias românticas como Ingresso para o Paraíso (Ticket to Paradise) não é apenas o fato de o filme não ter nenhuma graça. O que gera mais estranhamento - ou vergonha alheia - é perceber que quando há uma tentativa de piada, não conseguimos rir nem por pena. Nem por um segundo. Pense naquele tiozão que contava aquela anedota no churrasco de domingo, mas que talvez só tivesse graça nos anos 80. Foi exatamente o que me veio a mente em uma sequência em que George Clooney resolve sacudir o esqueleto ao som de Gonna Make You Sweat do C+C Music Factory. "Uau, olha aí o choque geracional que emerge do pai que faz a filha passar vergonha só porque dança uma música brega dos anos 90", foi o que pensei na hora. Mais ou menos o ápice em termos de senso de humor, de uma experiência que mais parece inimiga do riso.
E, confesso que durante a projeção - aliás, parêntese, resolvi dar uma chance justamente por causa de Clooney, que contracena com Julia Roberts - me senti tão incomodado que até coisas que normalmente passariam meio batido começaram a inquietar. Na trama Clooney e Roberts são o "casal" David e Georgia. Ele, aparentemente, um arquiteto (nem isso consegui ter certeza). Ela, atua em uma galeria de arte moderna - ainda que, na única sequência em que ela apareça em seu trabalho, é para tirar sarro de um quadro que está na parede ("ele está virado?"). Separados há muitos anos, ambos deixam suas vidas pessoais pra trás - compromissos, agendas, amigos, relacionamentos - para tentar demover a filha Lily (Kaitlyn Dever) que, em uma viagem de férias a Bali após a formatura no curso de Direito, conhece um nativo da ilha paradisíaca e, bem, considera uma excelente ideia ficar ali para casar. Talvez apenas uma semana após conhecê-lo.
Sim, essa boa dose de suspensão de descrença é parte do que vai dando um certo cansaço conforme o filme evolui. Lembrando: um filme sem graça. Uma comédia de chorar de ruim. E que, de quebra, ainda tem um romance insípido, com zero química - aliás, vamos combinar que chega a ser constrangedor o instante em que Lily esconde um pacote gigantesco de camisinhas de seu pai por que, uau, ele não pode saber que ela transa. Sério? Esse tipo de infantilidade que advém de um roteiro anêmico também transforma David e Georgia em duas pessoas que entram em férias involuntárias enquanto, pacientemente, aguardam o enlace de Lily. Quer dizer, em partes, já que eles estão no local pra tentar fazê-la desistir desse "projeto" - até mesmo porque, como manda a boa, velha e anacrônica cartilha de Hollywood, é simplesmente impossível para uma mulher jovem ser feliz no amor e também no trabalho. É um ou outro. E, no caso, ela opta pela vida paradisíaca ao lado de Gede (Maxime Bouttier), um bonitão que cultiva algas no local.
Sério, é preciso acreditar muito no amor pra achar que esse tipo de coisas funcionaria na vida real. Ainda mais em um mundo tecnológico, moderno, urgente. Fora a amiga Wren (Billie Lourd) - sim, sempre tem uma amiga que é exageradamente bonita pra fazer a esquisita -, não há mais ninguém na vida de Lily? Não há nenhum apego ao seu local de nascença? À cidade, a vida urbana? Bom, de qualquer maneira a gente nunca saberá do passado dela. Da rotina, do cotidiano. O mesmo vale para a vidinha de David e Georgia, que no tempo todo em que estão em Bali, são incapazes de responder uma mensagem de whatsapp que seja pra avisar que eles vão se atrasar um pouco para seus compromissos. Para pagar o boleto. Para pegar leite no mercadinho. Clooney e Roberts já provaram seu talento: têm carisma, são simpáticos, queridíssimos pelo público. E isso acho que torna o desastre ainda maior. E pra não dizer que a tragédia é completa, há algumas boas locações. Mas, se eu quisesse um guia de viagens, eu procurava na internet. No caso aqui pretendia rir e me emocionar com um filme. Mas só consegui ficar indiferente. E me irritar.
Nota: 1,5