sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Bombou na Semana - Los Hermanos, Crise Hídrica e House of Cards

Esta semana aconteceu bastante coisa no mundo do entretenimento, e a seguir você confere os fatos que mais chamaram a atenção aqui no Picanha!

A Volta do Los Hermanos
E os órfãos dos cariocas Los Hermanos não tem mais do que reclamar. A cultuada banda já anunciou seu retorno para uma turnê que passará por oito capitais brasileiras (Porto Alegre inclusa), o que fará a alegria de seu fiel público (e o ódio de seus detratores também). Seria algo temporário ou estaria o grupo voltando pra valer e, quem sabe, com um novo trabalho mais à frente?


Will Butler e a Crise Hídrica de São Paulo
O integrante da banda Arcade Fire, Will Butler, compôs uma música inspirada na crise hídrica que vem assolando o Estado de São Paulo. A canção, batizada de "You Must Be Kidding Me" ("você deve estar brincando comigo"), faz parte de um projeto do jornal britânico The Guardian. O mesmo consiste na criação de músicas a partir de manchetes publicadas no próprio jornal. O site da publicação ainda traz um depoimento do músico falando do período em que esteve em São Paulo. Butler aproveitou para alfinetar, dizendo ter certeza que o hotel onde estava hospedado daria um jeito de conseguir água, enquanto a população mais pobre iria sofrer com o descaso e falta de planejamento que poderia ter evitado a crise. Uma triste realidade. Ouça a canção:


House of Cards - Terceira Temporada Já Disponível
E o Netflix Brasil acabou de liberar toda a 3ª temporada da aclamada série House of Cards, levando à loucura os fãs da série - a mobilização nas redes sociais em função do acontecimento é visível. Teremos várias horas e mais doses das maldades do político Frank Underwood (Kevin Spacey) que, episódio após episódio, vem revelando facetas ainda mais sinistras. Qualquer semelhança com personalidades reais não é mera coincidência (lembram desta capa da Istoé?). Uma série imperdível!


Um bom final de semana a todos!

Disco da Semana - Father John Misty (I Love You, Honeybear)

Se existe uma palavra que resume bem o trabalho do ex-baterista do Fleet Foxes Joshua Tillman - ou Father John Misty, como é conhecida a sua persona musical - é nostalgia. Ao ouvir as fabulosas canções de I Love You, Honeybear, seu segundo álbum - e já candidato a estar entre os melhores do ano - a impressão, em alguns casos, é de se estar fazendo parte de algum livro da época da literatura beat, talvez de John Fante ou Jack Kerouac. Em outras situações, pensamos estar em meio a algum filme de faroeste do John Ford ou do Sergio Leone, com uma trilha de estilo folk ou country tocada ao fundo. Em outros casos, somos jogados para a noite de uma cidade grande e tecnológica, que, como numa espécie de paradoxo, toca Vaya Con Dios ou qualquer outra banda oitentista, em algum bar sujo e decadente.

Pode ser que, em algumas dessas circunstâncias, todas essas referências se misturem, como se estivéssemos em algum filme de Quentin Tarantino, com trilha sonora de Elton John. E o mais legal de tudo isso: ainda que viajemos no tempo enquanto escutamos cada uma das músicas dessa preciosidade de pouco mais de 45 minutos, nunca nos sentimos diante de algo repetitivo ou pouco inovador. Father John Misty nos apresenta um arcabouço de referências, provavelmente parte de sua formação musical, que sim, nos faz viajar no tempo - mais ou menos como também ocorre com o trabalho do músico Christopher Owens e, consequentemente, de sua maravilhosa e infelizmente extinta banda Girls. Mas nunca sem nos permitir pensar estar diante de algo novo e que dialoga plenamente com o período em que vivemos.


As letras, em geral, falam de amor e são baseadas em sua relação com a esposa Emma. Mas mesmo o romantismo de Tillman é carregado de tintas pouco convencionais, com uma exposição visceral de suas angústias e sofrimentos. Now I’ve got a lifetime to consider all the ways/ I grow more disappointing to you /As my beauty warps and fades (algo como "Agora eu tenho uma vida inteira para considerar todas as maneiras/ Em que eu fico mais decepcionante pra você/ Enquanto minha beleza se distorce e desaparece"), canta John Misty em Bored in the USA - que, em seu título, faz uma brincadeira com o clássico Born in the USA de Bruce Springsteen. Aliás, títulos criativos são uma marca do trabalho - o que dizer de Chateau Lobby #4 (in C for Two Virgins), que poderia ser traduzida como Saguão do Castelo #4 (Em Dó Para Duas Virgens).

Mas o álbum também conta com críticas comportamentais - como na ótima The Night Josh Tillman Came To Our Apartment em que John Misty canta Of the few main things I hate about her/ One's her petty, vogue ideas/ Someone's been told too many times/ They're beyond their years, algo como "Das poucas coisas principais que eu odeio sobre ela/ Uma são suas ideias insignificantes e moderninhas/ Alguém ouviu vezes demais/ Que é muito madura pra sua idade". Mas de todas as boas canções, nenhuma supera a concretista Holy Shit, com sua letra poética e abrangente sobre o mundo moderno, que bem faz lembrar Fitter Happier - aquela do Radiohead, mas com uma orquestração muito mais agradável. Com um trabalho ainda mais completo musicalmente que o seu antecessor - o qualificado Fear Fun de 2012 - Father John Misty eleva a qualidade daquilo que pode ser considerado a atual música alternativa, com um instrumental poderoso e diversificado, que faz a base para as suas irretocáveis letras. E isso não é pouca coisa.

Nota: 9


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Cinemúsica - Três Homens em Conflito

E temos mais uma novidade aqui no Picanha: o quadro Cinemúsica!

Como o próprio nome já diz, uniremos os dois principais temas aqui do site - música e cinema - ao falarmos de trilhas sonoras inesquecíveis do cinema. E, para começar, falaremos da icônica trilha de Três Homens em Conflito (The Good, the Bad and the Ugly), dirigido por Sergio Leone em 1966, que é um dos maiores expoentes do gênero Western Spaghetti. Para quem não sabe, este foi o último filme da "Trilogia dos Dólares", junto dos filmes Por Um Punhado de Dólares (1964) e Por Uns Dólares a Mais (1965), ambos dirigidos por Leone e protagonizados por Clint Eastwood.


Qualquer pessoa que se preza já ouviu o tema de abertura deste filme, música esta que foi reutilizada diversas vezes, seja em outros filmes ou comerciais de TV. Na trama, três homens fazem de tudo para meter a mão em 200 mil dólares roubados, entrando literalmente em conflito uns com os outros. A trilha foi totalmente composta e executada pelo maestro italiano Ennio Morricone (hoje com 86 anos), considerado um dos maiores gênios da música de seu tempo. Morricone compôs também diversas outros temas famosos, como os dos filmes A Missão (1986), Os Intocáveis (1987) e até do jovem clássico Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino. É fascinante notar o papel que uma trilha pode ter no andamento e criação de climas de um filme. Neste caso, a música elevou a obra cinematográfica a um outro patamar artístico - não à toa, é um dos melhores e mais lembrados faroestes de todos os tempos.


Com uma obra atemporal, Ennio Morricone firmou-se na história da música e do cinema. Basta re-escutar a faixa título e a maravilhosa "The Ecstasy of Gold", uma das músicas instrumentais mais belas que se tem notícia. Relembrem estas duas obras incríveis e, se quiserem ouvir a obra inteira, estaremos disponibilizando no player abaixo. Alguma sugestão de trilha sonora inesquecível para abordarmos no próximo post do quadro? Mandem pra gente! Enquanto isso, fiquem na companhia do mestre Ennio Morricone.



quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Picanha na Rádio Univates

E o Picanha Cultural estará, a partir de amanhã, na Rádio Univates. Fomos convidados a participar semanalmente do programa Enciclopédia 95 & 1, que ocorre das 17 às 19 horas, com um quadro sobre cinema e música às quintas-feiras. Todos estão convidados a prestigiar!

E, pra quem perder, esperamos estar disponibilizando os áudios dos programas aqui no site.
Pra quem quiser ter uma palhinha do que há de vir, pode conferir abaixo nossa participação no último dia 20/02, falando sobre o Oscar 2015.

Cine Baú: Morangos Silvestres

De: Ingmar Bergman. Com Victor Sjöstrom, Bibi Andersson, Ingrid Thulin e Gunnar Björnstrand. Drama / Clássico, 1957, 95 minutos.

Assistir a qualquer filme do diretor sueco Ingmar Bergman, é mergulhar em um universo repleto de simbolismos, de imagens poéticas e de metáforas relacionadas a vida, a morte, a religião e a condição humana - e, confesso que selecionar a primeira obra do mestre a figurar no nosso Cine Baú, se consiste em um dilema existencial que está bem adequado àqueles que compõem as suas delicadas narrativas. Gravado apenas um ano depois de outro clássico, no caso, O Sétimo Selo, Morangos Silvestres (Smultronstället) conta a história do professor de medicina Isak Borg (Victor Sjöstrom, em interpretação magistral), que receberá um prêmio honorário pelos 50 anos de carreira, oferecido pela Universidade de Lund, na cidade onde nasceu.

Isak, um senhor de 78 anos solitário e amargurado, sairá de Estocolmo acompanhado da nora Marianne (Thulin) para uma viagem de quase 20 horas em direção ao local em que será concedida a honraria. No caminho, a dupla dá carona a três jovens, entre eles a espevitada Sara (Anderson), que, por conta de sua personalidade e nome, fará com que Isak se recorde de seu grande amor da juventude. Além dos jovens, passará pelo caminho do grupo um casal de meia-idade que parece viver as turras. Todos esses encontros, aliados a uma série de sonhos e alucinações vividos pelo professor, servirão para que ele faça um balanço de sua vida - compreendendo os motivos de sua frieza, que podem ser fruto de uma vida inteira de decepções, especialmente no campo das relações.


Como forma de conferir certa complexidade a essa jornada de autoconhecimento, Bergman inunda a tela de imagens repletas de simbologias - sempre fotografadas no tradicional preto e branco, que compõe boa parte de sua ampla obra. Como por exemplo, na parte em que o professor sonha estar em uma cidade deserta e em ruínas e os relógios da cidade aparecem sem ponteiros. Na cena seguinte, um caixão cai de uma carruagem deixando parte do corpo que ali jaz, a mostra. Isak acorda assustado ao perceber que ele mesmo é o sujeito morto, numa metáfora para um homem que, ainda que esteja vivo, encontra-se morto por dentro, resultado de uma vida de fracassos e de uma personalidade desagradável, capaz de machucar a todos aqueles que o rodeiam.

Um encontro com a mãe e outro com o filho, possibilitará ao professor uma espécie de redenção conforme o filme avança - mas sem abusar do sentimentalismo -, especialmente quando o docente passa a compreender que os problemas emocionais vivenciados por ele, parecem ser transmitidos por gerações, quase como uma espécie de doença genética sem cura. Morangos Silvestres faturou diversos prêmios, entre eles o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e o Urso de Ouro no Festival de Berlim e o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Veneza, além de Bergman ter sido indicado ao Oscar na categoria Melhor Roteiro. A obra pavimentou ainda o caminho para outros clássicos do diretor sueco, como A Fonte da Donzela, Através de um Espelho, Luz de Inverno e, especialmente, Persona. Fundamental.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Pra Ouvir - A Banda Mais Bonita da Cidade

Meu amor, essa é a última oração/ Pra salvar seu coração/ Coração não é tão simples quanto pensa/ Nele cabe o que não cabe na despensa. Quem não se lembra desses versos simples que inundaram rádios, cativaram o Brasil inteiro e quase zeraram a internet em meados de 2011? Eles fazem parte do megahit Oração, d'A Banda Mais Bonita da Cidade. Pois o quinteto de Curitiba já foi sim conhecido por essa canção que, é preciso que se diga, parece ter viralizado muito mais pela forma como feita - em um único plano sequência, com a presença de uma série de pessoas e outros elementos cenográficos -, do que pela música em si que, ainda que esta contenha belos versos é dotada de grande simplicidade.

Quando eu digo no parágrafo acima que o grupo "já foi" conhecido por Oração significa que, hoje, com dois discos lançados, centenas de apresentações realizadas não apenas no Brasil, mas também no exterior, e que já atraíram milhares de pessoas, A Banda... parece ter superado o estigma de "viral de internet que, assim como aparece, some". Atualmente, os curitibanos podem ser incluídos naquele conjunto de artistas da nova Música Popular Brasileira (MPB), que são mais queridos pelo público que, sempre cativo, é capaz de cantar a plenos pulmões todas as canções em cada espetáculo - algo que ocorre com muitas outras bandas do cenário alternativo nacional. E que parece ter iniciado com a febre vivida pelos ardorosos fãs dos Los Hermanos - eu entre eles, só pra constar.

Muitas pessoas não se lembram disso, mas A Banda... possui um integrante de Lajeado, no Rio Grande do Sul - a cidade "sede" do Picanha. No caso, o percussionista Luis Bourscheidt, querido amigo que, na época de piá era conhecido por Geleia - e eu não faço ideia se esse apelido se espalhou pelos campi das faculdades paranaenses. Além dele, compõe o grupo a vocalista Uyara Torrente, o tecladista Vinícius Nisi, o guitarrista Thiago Ramalho e o baixista Marano - em 2014, o ex-guitarrista Rodrigo Lemos deixou a banda para partir para a carreira solo. Abaixo, você conhece um pouco mais sobre os dois discos lançados pel'A Banda... até então. O terceiro pode pintar ainda nesse ano, pra alegria de todos nós. Assim como o primeiro DVD.


A Banda Mais Bonita da Cidade (2011)

Não tão coeso quanto viria a ser o registro seguinte o primeiro disco, homônimo, foi resultado de financiamento coletivo, e apresenta uma coleção de canções bastante diversificada, selecionada a partir de composições de amigos e outros artistas locais. Ainda assim, a eventual falta de "ligação" entre as músicas, é compensada por um competentíssimo trabalho de produção e arranjos, que valoriza a parte instrumental, abrindo espaço para a voz sempre limpa de Uyara. Além do hit Oração, o disco alterna entre momentos mais divertidos - como na espetacular Mercadoramama, sobre um casal que só quer passar uma noite em paz, mas tem de aguentar o choro insuportável de um "inesperado" bebê - e outros mais dramáticos - como em Solitária, do ótimo refrão: Vou cometer haraquiri/ Mesmo sabendo que nesse momento você ri. Ouça: Mercadoramama, Garotos de Aluguel, Canção Pra Não Voltar, Solitária e Oração (tá brincando, ainda não escutou?).


O Mais Feliz da Vida (2013)

Eu seu segundo disco, A Banda... mostra impressionante maturidade para um grupo ainda jovem, ao apresentar uma série de canções mais complexas, que parecem se unir umas as outras, formando um conjunto muito mais homogêneo. A escolha das músicas, baseada, novamente, em composições de artistas locais como Luiz Felipe Leprevost, Troy Rossilho, Alexandre França, Vitor Paiva e Rodrigo Lemos, representa uma espécie de contraponto ao trabalho anterior, ao propor "uma reflexão sobre as etapas da vida, com todas as suas alegrias, intempéries, fracassos, superações e o fim", de acordo com o que diz no site do grupo - algo que pode ser visto, inclusive, no belo trabalho artístico do álbum. Mais maduro, o registro representa uma evolução na ainda pequena discografia do quinteto, por meio de arranjos ainda mais climáticos e, em muitos casos, até mais emocionantes do que os do primeiro álbum. Ouça: Saindo de Casa, Deixa eu Dormir na Sua Casa, Balada da Contramão e Uma Atriz.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

10 Fatos (e Curiosidades) Sobre a Cerimônia do Oscar 2015

E finalmente ocorreu a tão esperada cerimônia do Oscar 2015! Birdman, de Alejandro González Iñarritu, foi o grande vencedor da noite com quatro estatuetas (Filme, Diretor, Roteiro Original e Cinematografia), seguido por O Grande Hotel Budapeste, que faturou o mesmo número de premiações, porém em categorias técnicas. Já Boyhood, outro forte concorrente, levou pra casa apenas o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante (Patricia Arquette).

Abaixo listamos 10 fatos interessantes sobre o evento de ontem à noite:

1) É a segunda vez consecutiva (e na história!) que um mexicano ganha o prêmio de Melhor Diretor na premiação norte-americana. Iñarritu levou a estatueta por Birdman enquanto que, no ano passado, Alfonso Cuarón faturou o prêmio por Gravidade.

Equipe do filme Birdman

2) A premiação de Birdman possui duas peculiaridades: é a primeira vez que um filme que não foi indicado a Melhor Edição ganha o prêmio principal em mais de trinta anos! A última vez que isso aconteceu foi com o filme Gente Como a Gente, de 1980. Além do mais, é o primeiro vencedor do Oscar de Melhor Filme que perdeu o prêmio de Comédia/Musical no Globo de Ouro desde Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen, que ganhou em 1978.

3) Os dois vencedores do Oscar de Melhor Atuação interpretaram personagens com doenças degenerativas. Julianne Moore venceu como Melhor Atriz interpretando uma professora com Alzheimer em Para Sempre Alice, enquanto que Eddie Redmayne venceu como Melhor Ator ao encarnar Stephen Hawking, portador de Esclerose Lateral Amiotrófica.

4) Leonardo DiCaprio mais uma vez foi alvo na internet de brincadeiras sobre nunca ter vencido um Oscar. Na apresentação da música Everything is Awesome, do filme Uma Aventura Lego, os dançarinos distribuíram estatuetas do Oscar feitas com as peças do brinquedo a diversos artistas que estavam na platéia. Adivinha se DiCaprio ganhou alguma? E os usuários das redes sociais não demoraram pra satirizar o ocorrido.

Cadê minha estatueta?
5) Whiplash foi o filme com melhor aproveitamento da noite. Venceu três dos cinco prêmios a que concorria, nas categorias Ator Coadjuvante, Montagem e Edição de Som.

6) Se Como Treinar Seu Dragão 2 tivesse vencido na categoria Melhor Filme de Animação, seria o segundo prêmio desta categoria para uma continuação. Como Operaçâo Big Hero venceu, o feito continua sendo de Toy Story 3.

7) Um dos momentos mais emocionantes da noite ocorreu quando a canção do filme Selma, Glory, foi executada. A apresentação, a cargo de John Legend e o rapper Common, foi ovacionada de pé pela platéia, levando diversos presentes às lágrimas.

8) A pessoa que mais comemorou prêmios Oscar na noite foi... Edward Norton! O ator participou dos filmes Birdman e O Grande Hotel Budapeste que, juntos, contabilizaram 8 estatuetas. Chama a atenção a divisão dos prêmios entre os vários indicados, sendo que o maior vencedor levou 4 prêmios - ao contrário de anos em que os vencedores foram Titanic e O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei, que levaram praticamente todos os prêmios a que concorreram.

9) A cantora Idina Menzel subiu ao palco para entregar o prêmio de Melhor Canção Original. Ao solicitar que o astro John Travolta entrasse no palco para abrir o envelope com o premiado, a artista o chamou propositalmente pelo nome de "Glom Gazingo" - retribuindo a "gentileza" do ator que, ao ter chamado a artista ao palco para receber o Grammy, pronunciou seu nome errado.

10) Boyhood foi de favorito a principal perdedor da noite, aos moldes de A Rede Social, em 2011. No entanto, este último ganhou 3 estatuetas naquela ocasião enquanto o primeiro faturou apenas uma.


E vocês, o que acharam da cerimônia? Contem pra gente! A lista completa dos vencedores você pode conferir neste link.

Fontes:
G1
Terra
@helioflores, via Twitter


Cinema - Selma: Uma Luta Pela Igualdade

De: Ava DuVernay. Com David Oyelowo, Tom Wilkinson e Carmen Ejogo. Drama / Biografia, Reino Unido / EUA, 2014, 128 minutos.

Assistir a um filme como Selma: Uma Luta Pela Igualdade (Selma) é ter a oportunidade não apenas de apreciar uma excelente produção do ponto de vista cinematográfico, mas também de conhecer um pouco mais sobre uma das mais importantes personalidades da recente história norte-americana - no caso o pastor protestante e ativista político Martin Luther King Jr (Oyelowo). Nascido em Atlanta, no ano de 1929, King se tornaria, a partir do final dos anos 50, um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros, nos Estados Unidos, com uma campanha baseada em métodos não violentos e, consequentemente, em ações pacíficas, amparadas por discursos e marchas que pudessem, eventualmente, criar uma opinião pública favorável para a questão.

O filme começa com King recebendo o Prêmio Nobel da Paz, no ano de 1964, que lhe foi outorgado como forma de reconhecer a sua liderança na resistência não violenta pelo fim do preconceito racial nos Estados Unidos e também por conquistas prévias, relacionadas ao fim da segregação na terra do Tio Sam - como no caso da divisão étnica que existia há (pasme) apenas 50 anos, em transportes coletivos. Só que um cruel e surpreendente ataque a um grupo de crianças é o gatilho para que o espectador perceba que a realidade é bem diferente - especialmente nos estados do Sul, como é o caso do Alabama, onde fica a cidade de Selma. É por lá que direitos básicos de qualquer cidadão, como o voto, ainda são negados por lideranças políticas (brancas, claro) locais.


King e seu grupo, a Conferência da Liderança Cristã do Sul (CLCS), viajam para Selma com o objetivo de reverter essa questão. As negociações envolvem conversas com integrantes do Comitê Não Violento de Coordenação Estudantil (CNVCE) - em muitos pontos, contrário as ideias do ativista - e até com o presidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson que, com apenas uma assinatura, poderia resolver o imbróglio passando o assunto para a esfera federal. E nesse sentido, é preciso que se faça um elogio aos roteiristas Paul Webb, além de Duvernay, por tornarem um assunto complexo e, em muitos casos, desconhecido do público de outros países, em algo mais fácil de ser assimilado. Ao passo que também merece elogio o design de produção, por recriar com perfeição os figurinos e cenários da época.

A obra também não alivia nas cenas de violência que, em muitos casos, serviram de base para que outras pessoas aderissem ao movimento. O filme recebeu apenas duas indicações ao Oscar - tendo faturado a estatueta na categoria Canção Original, com a soberba Glory, composta por John Stephens e Lonnie Lynn e interpretada por John Legend e pelo rapper Common, que também integra o elenco da película. E talvez tenha sido pouco, especialmente em um ano tão modesto em termos de qualidade cinematográfica. Oyelowo, que interpreta King com um naturalismo impressionante, bem poderia estar no lugar de Benedict Cumberbatch. O mesmo valendo para a diretora Duvernay, já que Morten Tyldum parece estar sobrando, com seu trabalho em O Jogo da Imitação. De qualquer forma, independente de indicações, trata-se de um filme de qualidade e que trata com respeito um tema caro não apenas aos americanos, mas às outras pessoas também.

Nota: 8,5


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Disco da Semana - The Decemberists (What a Terrible World, What a Beautiful World)

Quem acompanha o The Decemberists desde os seus primeiros álbuns sabe que, com o passar dos anos, a banda mudou um pouco o seu estilo - ainda que não tenha perdido, evidentemente, a sua essência. No começo de sua carreira de quase 15 anos, o grupo de Portland, nos Estados Unidos, adotava um formato musical que bem poderia fazer parte de algum espetáculo do vaudeville ou mesmo estar na trilha sonora de alguma peça de teatro exibida ao lado (ou dentro!) do cabaré Moulin Rouge da Belle Époque francesa - o que pode ser observado, de maneira especial, em pequenas obras-pimas de sua discografia, casos de Her Majesty (2003), Picaresque (2005) e The Crane Wife (2006).

Era nessa época que era possível acompanhar melodias que tinham como base instrumentos tão versáteis como violino, acordeão e xilofone e que versavam sobre duquesas, baronesas, concubinas, elefantes, carruagens, prostitutas, reis mouros, virgens prometidas, canhões de guerra, esposas de militares, reis canibais e até órfãos que "acordam" dentro da barriga de uma baleia apenas para confrontar seu algoz - como no caso da magistral The Mariner's Revenge Song, presente no disco Picaresque, uma das mais divertidas letras do rock moderno. Todos esses personagens fantásticos - e em muitos casos melancólicos - eram e são concebidos a partir do riquíssimo vocabulário do compositor e letrista Colin Meloy.


Após uma tentativa frustrada de fazer uma espécie de ópera-rock, com ecos de heavy metal, no insuportável The Hazards of Love (2009), o grupo abraçou de vez o pop no disco The King is Dead (2011) que tinha, entre outros, hits saborosos como This is Why We Fight, Rise to Me e Down By the Water. E esta proposta segue no agradável What a Terrible World, What a Beautiful World, lançado há algumas semanas que mantém o estilo que mistura rock com folk, como se o REM tivesse tum encontro com Neil Young para a realização de um disco. Canções como Cavalry Captain, Philomena, The Wrong Year e Make you Better são verdadeiras gemas para os ouvidos e, em alguns casos, parece até indicar uma nova guinada para a banda, que chega a flertar com música eletrônica e até, eventualmente, com o jazz.

Os temas, como se pode perceber já nos títulos das canções, permanecem, apenas saindo de cena as composições mais longas que, em alguns discos, chegavam a ultrapassar os 10 minutos - talvez para desespero dos puristas, fãs do modelo que já os incluiu entre os artistas do rock progressivo. A estratégia, aliada a um bom punhado de letras mais românticas e sensuais - I am the cavalry captain/ I am the remedy to your heart - pode ter o objetivo de atingir uma nova fatia de ouvintes que, vivendo em um mundo cada vez mais veloz e tecnológico, talvez não tenha paciência para ouvir uma música de mais de 12 minutos - e Better Not Wake the Baby, com seus impressionantes 1m45s talvez seja o melhor exemplo disso. Independentemente da estratégia da banda, ou de qual será o caminho adotado daqui pra frente, uma coisa é certa: o The Decemberists continua um grupo muito bacana. Como (quase) sempre foi.

Nota: 7,5

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Especial - Nossas Apostas para o Oscar 2015

Faltam apenas três dias para a maior premiação do cinema e nós, aqui do Picanha, não poderíamos deixar de publicar as nossas apostas para as principais categorias do Oscar 2015. Fiquem à vontade para comentar sobre elas e para dizer também o que vocês pensam a respeito de possíveis vencedores que passarão pelo tapete vermelho na noite de domingo, dia 22! Eis aqui os nossos comentários para as categorias Filme, Diretor, Ator, Atriz, Roteiro Original, Roteiro Adaptado, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante e Filme em Língua Estrangeira. As primeiras apostas são minhas (Tiago). As demais são do meu "sócio", Henrique. A brincadeira também servirá como um "mini-bolão", mas sem as categorias técnicas, de curtas e de documentários.




Filme

Tiago:

Apesar de ser difícil cravar com certeza o vencedor, o que se pode dizer é que essa categoria está polarizada entre os filmes Boyhood e Birdman. Como Birdman faturou o principal prêmio do Producers Guild of Awards (PGA) - que é um baita termômetro, diga-se -, acredito que o filme do Alejandro González Iñarritu esteja um pouquinho na frente. Ainda mais se levarmos em conta o fato de que, em 24 edições do PGA, apenas em sete ocasiões o vencedor não foi o mesmo do Oscar. Por outro lado, no Globo de Ouro, Birdman perdeu na categoria Comédia ou Musical para O Grande Hotel Budapeste, que corre por fora. Enquanto Boyhood faturou o prêmio na categoria Drama. Aparentemente, qualquer outra coisa que der será zebraça. Algo tipo o Figueirense ganhando o Brasileirão.

Quem eu gostaria que ganhasse: Birdman
Quem ganha: Birdman

Henrique:

Acho que a lista dos candidatos a melhor filme foi bem injusta esse ano, deixando de fora filmaços como Garota ExemplarFoxcatcher e O Abutre, e indicando filmes medianos como Sniper AmericanoO Jogo da Imitação e A Teoria de Tudo. Há polarização entre os B's (Boyhood e Birdman), sendo muito difícil apontar um vencedor. Birdman conta com um número maior de indicações, no entanto a última vez que um filme ganhou o Oscar sem ter sido indicado na categoria Montagem (ou Edição), que é o caso aqui, foi há 35 anos! E ainda tem toda a questão do processo de filmagem de Boyhood, que levou 12 anos, sendo inclusive considerado o melhor filme de 2014 pelo presidente Barack Obama, tornando-se mais um evento importante do que necessariamente um filme excepcional.

Quem eu gostaria que ganhasse: Birdman
Quem ganha: Birdman


Diretor

Tiago:

O vencedor do Directors Guild of America Award (DGA) foi Alejandro González Iñarritu pelo soberbo trabalho em Birdman. Este fato o coloca na dianteira para faturar a estatueta na categoria. Só que no Globo de Ouro deu Richard Linklater, pelo tour de force realizado com Boyhood. A princípio o prêmio fica polarizado entre esses dois, com Wes Anderson e seu O Grande Hotel Budapeste correndo por fora. O mesmo valendo para Bennet Miller, que foi melhor diretor no Festival de Cannes. O problema é que o Foxcatcher não foi indicado a melhor filme - injustamente, diga-se. Aí complica um pouquinho.

Quem eu gostaria que ganhasse: Bennett Miller (apesar de adorar o filme, não sou muito chegado na figura do Alejandro González Iñarritu)
Quem ganha: Richard Linklater (viradinha no final)

Henrique:

Outra categoria difícil de prever, A briga entre Iñarritu e Linklater promete ser acirrada. A indicação de Morten Tyldum pelo trabalho apenas correto em O Jogo da Imitação foi uma bola fora da academia, que poderia muito bem ter indicado David Fincher, por Garota Exemplar, no lugar. Apesar de toda a perseverança de Linklater na produção de seu Boyhood, foi Iñarritu que surpreendeu ao mudar completamente de estilo, inovando no processo de filmagem, trazendo inclusive toques de comédia até então inéditos em sua filmografia, com seu excepcional Birdman.

Quem eu gostaria que ganhasse: Iñarritu
Quem ganha: Iñarritu


Ator

Tiago:

Talvez a categoria mais difícil para se apostar e que deverá levar a loucura os jogadores do "Bolão do Oscar". Todo mundo sabe que a academia adora uma interpretação que exija algum tipo de transformação - seja ela física ou psicológica por parte dos atores e é preciso que se diga: o jovem Eddie Redmayne está espetacular como Stephen Hawking antes (e durante) a descoberta de sua dura doença em A Teoria de Tudo. De quebra ainda ganhou o prêmio do Sindicato dos Atores, o que é um bom termômetro. Mas o que dizer do Michael Keaton, e todo o seu magnetismo em Birdman? Ambos levaram o Globo de Ouro em suas categorias e deverão gerar dúvida sobre o vencedor até a hora do anúncio.

Quem eu gostaria que ganhasse: Michael Keaton
Quem ganha: Eddie Redmayne

Henrique:

Eu estava maravilhado com Michael Keaton e sua brilhante atuação em Birdman, no entanto ao assistir A Teoria de Tudo ficou praticamente impossível achar algum defeito na impressionante interpretação de Redmayne como Stephen Hawking. O próprio cientista chegou a comentar em entrevistas que estava "se vendo" na telona. Além do mais, é o tipo de performance que agrada demais à Academia, embora o renascimento das cinzas de Keaton seja uma história de superação e, quem sabe, o mesmo alcance o reconhecimento que seu personagem tanto almeja.

Quem eu gostaria que ganhasse: Michael Keaton
Quem ganha: Eddie Redmayne


Atriz

Tiago:

Juliane Moore já foi indicada outras quatro vezes ao Oscar - por Boogie Nights, Fim de Caso, As Horas e Longe do Paraíso. E, sabe-se, a Academia gosta de premiar atores que saiam de mãos abanando por muitas edições seguidas - alguém aí falou em Jeff Bridges? Por isso a chance dela é grande e é preciso que se diga que sua interpretação em Para Sempre Alice - que lhe deu O Globo de Ouro e o SAG - como uma mulher feliz no casamento e no trabalho, mas que se descobre com Alzheimer é, pra dizer o mínimo, emocionante. Reese Whiterspoon por Livre e Rosamund Pike, por seu trabalho visceral em Garota Exemplar, correm por fora.

Quem eu gostaria que ganhasse: Rosamund Pike
Quem ganha: Juliane Moore

Rosamund Pike em Garota Exemplar

Henrique:

O único porém nas indicações a melhor atriz fica por conta de Felicity Jones que, embora competente em A Teoria de Tudo, foi prejudicada pelo roteiro que não favoreceu sua personagem. As demais estão extremamente elogiadas em seus papéis e, apesar de gostar muito de Rosamund Pike em Garota Exemplar, o ano é da Julianne Moore. É a oportunidade que a Academia tem de coroar uma carreira brilhante em um papel no qual ela demonstra enorme competência e sensibilidade, uma professora com Alzheimer.

Quem eu gostaria que ganhasse: Julianne Moore
Quem ganha: Julianne Moore


Ator Coadjuvante

Tiago:

Parece ser uma das únicas barbadas da noite, já que J. K. Simmons faz o papel de sua vida, como o insano professor Fletcher, de Whiplash. Essa tendência é reforçada pelas vitórias no SAG e no Globo de Ouro. Edward Norton seria uma segunda opção bem distante, por seu trabalho em Birdman.

Quem eu gostaria que ganhasse: J. K. Simmons (apesar de uma torcidinha paralela por Mark Rufallo em Foxcatcher)
Quem ganha: J. K. Simmons

Henrique:

Categoria barbada. J.K. Simmons tem faturado tudo quanto é prêmio e é aposta certeira (e merecida) para levar o Oscar pelo magnífico Whiplash. Mark Ruffalo, por Foxcatcher, e Edward Norton, por Birdman, também são destaques - mas correm por fora.

Quem eu gostaria que ganhasse: J.K. Simmons
Quem ganha: J.K. Simmons


Atriz Coadjuvante

Tiago:

A situação de Patricia Arquette, por Boyhood, é semelhante a de J.K. Simmons. Vencedora do SAG e do Globo de Ouro, ela sai na dianteira pra faturar a categoria, por sua exaustiva interpretação no filme de Richard Linklater. Acredito que nenhuma das outras ameace seu favoritismo. Nem mesmo Meryl Streep. Que só foi indicada por que é, bem... a Meryl Streep.

Quem eu gostaria que ganhasse: Patricia Arquette
Quem ganha: Patricia Arquette

Henrique:

Outra categoria que parece aposta certa. Patricia Arquette está excelente em Boyhood, no papel de uma mulher forte, e é impressionante acompanharmos seu envelhecimento e amadurecimento nos 12 anos de filmagem da película. Emma Stone é um ótimo destaque em Birdman, mas possui poucas chances.

Quem eu gostaria que ganhasse: Patricia Arquette
Quem ganha: Patricia Arquette


Roteiro Original

Tiago:

Mais uma categoria complicada de se apostar. O vencedor do Writers Guild Awards (WGA), foi Wes Anderson e seu O Grande Hotel Budapeste - o que dá um nó na cabeça dos apostadores já que, nesse caso, ficaram pra trás os favoritos ao principal prêmio da noite Boyhood e Birdman. E, em muitas ocasiões, o vencedor do roteiro também premia o filme, no Oscar. E agora?

Quem eu gostaria que ganhasse: Birdman
Quem ganha: O Grande Hotel Budapeste

Henrique:

Todos os candidatos contam com ótimos roteiros, no entanto Birdman dá um show de criatividade, com diversas frases de efeito e reflexões sobre a crítica e o consumo da Arte nos dias atuais, tendo faturado o Globo de Ouro. Boyhood possui uma história simples, e O Grande Hotel Budapeste vem colecionando prêmios e elogios - embora não seja nada de muito diferente do que Wes Anderson já realizou anteriormente.

Quem eu gostaria que ganhasse: Birdman
Quem ganha: Birdman


Roteiro Adaptado

Tiago:

Entre os roteiros adaptados, o WGA premiou Graham Moore, por seu trabalho em O Jogo da Imitação. Isso o coloca como provável vencedor. O único que poderia atrapalhar essa vitória seria Whiplash. Mas isso se não houvesse uma confusão sobre este ser ou não um roteiro adaptado - no WGA ele concorreu como original. Mas ele foi adaptado de um curta que, inclusive, venceu o Festival de Sundance em 2013.

Quem eu gostaria que ganhasse: Whiplash
Quem ganha: O Jogo da Imitação

Henrique:

Whiplash é um caso diferente nesta categoria, pois não foi adaptado de um livro e, sim, de um curta-metragem dirigido anteriormente pelo mesmo diretor, Damien Chazelle. Como não li nenhum dos livros concorrentes fica difícil opinar, mas O Jogo da Imitação possui uma história bem interessante, além de já ter faturado alguns prêmios. Paul Thomas Anderson pode ser um forte concorrente pela adaptação do cultuado livro Vício Inerente, porém o filme ainda não surgiu por aqui.

Quem eu gostaria que ganhasse: O Jogo da Imitação
Quem ganha: O Jogo da Imitação


Filme Estrangeiro

Tiago:

Mais uma categoria em que tudo pode acontecer. O russo Leviatã levou o prêmio do Globo de Ouro. Mas o polonês Ida e, especialmente, o ótimo Relatos Selvagens, têm crescido na bolsa de apostas. E quem joga o Bolão fica perdido mais uma vez.

Quem eu gostaria que ganhasse: Relatos Selvagens (e muito!)
Quem ganha: Ida

Henrique:

Vimos apenas três dos cinco concorrentes a filme estrangeiro - todos excelentes, diga-se de passagem. Ida tem em sua vantagem estar concorrendo ao Oscar de Melhor Fotografia, junto com as produções norte-americanas. Leviatã tem, além de ter vencido o Globo de Ouro, um grande prestígio frente à crítica especializada e sua crítica social é extremamente relevante. Já Relatos Selvagens tem feito muito sucesso junto ao público e pode ser uma surpresa, como foi quando o argentino O Segredo dos Seus Olhos faturou o prêmio do até então favorito A Fita Branca que, a exemplo de Ida, também fora indicado a Melhor Fotografia naquele ano.

Quem eu gostaria que ganhasse: Leviatã
Quem ganha: Leviatã

Ida, candidato da Polônia a Melhor Filme Estrangeiro

Uma ótima cerimônia a todos!

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Cinema - Leviatã

De: Andrey Zvyadginstev. Com: Aleksey Serebryakov, Elena Lyadova, Roman Madyanov e Vladimir Vdovichenkov. Drama, Rússia, 2014, 140 minutos.

No livro de Jó, no Antigo Testamento, há o relato da criatura mítica Leviatã, descrita como o maior e mais poderoso dos monstros aquáticos. O cientista político Thomas Hobbes publicou, em 1651, sua principal obra: nela, o Leviatã bíblico é a representação do Estado onde o governo central seria uma espécie de monstro, concentrando todo o poder em torno de si e ordenando todas as decisões da sociedade.

Representante da Rússia no Oscar 2015 e vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, Leviatã (Leviafan) conta a história de Kolya (Serebryakov), mecânico que vive praticamente isolado com o filho adolescente e a segunda esposa em uma casa na região costeira de uma cidade russa. O governo da cidade, representado por um prefeito corrupto, pede a desapropriação da área onde a casa (pertencente à mesma família por diversas gerações) está localizada para a construção de um Centro de Comunicações. Contrariado, Kolya chama um amigo de longa data e advogado de Moscou (Vdovichenkov) para recorrer à justiça sendo que, no caminho, segredos do governante local são revelados, o que pode ser decisivo no processo. 


O magnífico roteiro nos apresenta a uma série de personagens humildes, que buscam a alegria em momentos prosaicos como um jantar em família ou um piquenique na companhia dos amigos - tudo regado a litros de Vodka, claro. A bebida, por sinal, tem papel fundamental na narrativa. Com um cotidiano praticamente ausente de sentido, os personagens lutam por dignidade e amor, muitas vezes de maneira desesperada, tornando ainda mais trágicas suas vazias - e etílicas - existências. Demonstrando total descrença nas instituições como a Igreja, a Justiça e o Estado, a obra revela uma insatisfação com a ineficiência do governo e a situação atual da Rússia. Não à toa, em determinado momento, quadros de várias figuras históricas como Lênin e Gorbatchev aparecem para servir de mira para tiros de espingarda (uma crítica pouco sutil, mas relevante). Contudo, o filme ainda toma tempo para flertar com a sátira, no caso do personagem do prefeito Shelevyat (Madyanov), repleto de trejeitos e jargões inerentes ao tipo de personagem que retrata (seu gabinete conta com um quadro de Vladimir Putin ao fundo), e o thriller policial.

Contando com uma abordagem naturalista por parte do diretor Andrey Zvyadginstev, com poucas movimentações de câmera, trilha sonora praticamente inexistente, e uma cinematografia com imagens belíssimas de uma realidade triste, porém repleta de significados (as ondas batendo nas rochas, o "cemitério" de barcos que lembra de um passado que não mais há de voltar), Leviatã é, desde já, não só um dos grandes filmes de 2014, mas um dos mais importantes. É cinema sem concessões, triste, pessimista, kafkiano e extremamente contundente em sua mensagem crítica a um mundo individualista e inescrupuloso. Um mundo cuja maioria das pessoas, a despeito de suas boas intenções, acabam sendo obrigadas a se render às circunstâncias de uma realidade impossível de fugir.

Nota: 9,0.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Pérolas do Netflix - Qual É o Nome do Bebê?

De: Alexandre De La Patellière e Mathieu Dellaporte. Com: Patrick Bruel, Valérie Benguigui, Judith El Zein e Charles Berling. França, Comédia Dramática, 2013, 109 minutos.

Quem assistiu (e gosta) de clássicos imperdíveis como Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? (1966) de Mike Nichols, ou mesmo do recente Deus da Carnificina (2011) de Roman Polanski, não pode perder de jeito nenhum este Qual É o Nome do Bebê?. O estilo teatral é o mesmo dos anteriores, com um grupo de familiares reunidos durante as quase duas horas de projeção sob o mesmo teto. E o que começa como um agradável jantar oferecido pelo casal Pierre (Berling) e Elisabeth (Benguigui) ao casal Vincent (Bruel) e Anna (El Zein) e mais o amigo Claude (Guillaume de Tonquedec), terminará em uma lavação de roupa suja, a partir da revelação de segredos e verdades que apenas resultarão em mágoas e ressentimentos entre todos do grupo.

Mas é preciso que se diga: o filme é amargo apenas nas aparências. Baseada em peça de teatro encenada anteriormente pela mesma dupla de diretores, a obra já começa divertida, ao apresentar cada um de seus protagonistas - bem como seus hábitos e idiossincrasias - com uma dinâmica narração em off, que, diga-se, muito faz lembrar uma outra película francesa: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet. Ao chegar na casa do casal anfitrião, Vincent, que é irmão de Elisabeth, faz um jogo para que os outros adivinhem o nome que dará ao filho que a esposa Anna, grávida de cinco meses, está esperando. É a revelação do tal nome que iniciará um debate recheado de referências literárias, filosóficas e políticas (claro!).


Como em qualquer filme do gênero, a grande força dessa pequena pérola do cinema francês está no elenco afiadíssimo (apenas Berling não faz parte do grupo que interpretava a peça no teatro) e nos diálogos inteligentes e bem-humorados sobre os mais variados temas. Por exemplo: ao abrir um vinho caríssimo, no valor aproximado de 500 euros, Claude brinca, ao dizer que não se tomavam exemplares desse tipo na missa. Ao que Vincent responde: se fosse assim iria muito mais seguidamente a igreja. Em outro momento, Elisabeth se mostra preocupada com o fato de Anna, grávida, estar fumando, ao argumentar que o futuro filho poderá nascer baixinho. Vincent ataca novamente: se for assim, ele se tornará jóquei.

A naturalidade das interpretações também merece destaque, ainda que, eventualmente, determinadas sequências possam parecer um tanto quanto infantis - como no caso em que Elisabeth tampa os ouvidos e grita, apenas para não poder ouvir de Vincent qual será o nome do bebê, já que ela está magoada por algo dito anteriormente. A trama discute outros temas que envolvem, entre outros, a confiança entre amigos, o respeito as diferenças - em especial as intelectuais -, e até mesmo (pasme!), os limites do humor, quando se vai brincar com algo tão sério (!) como o futuro nome de uma criança. Todos os temas reforçados por citações que vão de Imanuel Kant, passando por Charles Chaplin, até chegar a Adolph Hitler.

Lançamento de Videoclipe - Florence and the Machine (What Kind of Man)

Após quatro anos desde o seu último disco, Ceremonials, a cantora Florence Welch chega com um novo álbum a ser lançado dia primeiro de Junho, intitulado How Big How Blue How Beautiful. Nos últimos dias foi disponibilizado o clipe da faixa What Kind of Man, que fará parte desta mais recente obra da artista, que foi produzida por Markus Dravs, responsável pela gravação de bandas como Coldplay, Arcade Fire e a cantora Björk, ou seja, podemos esperar coisa boa e interessante aí.

Em What Kind of Man encontramos a introdução com vocais típicos e marca registrada da cantora, e na sequencia um riff de guitarra surge trazendo intensidade e um teor mais pop à canção. No videoclipe, temos uma introdução com uma daquelas famigeradas historinhas, onde um acontecimento faz com que sejamos transportados a um sonho onde Florence está cercada por diversos homens. questionando um amor não correspondido na mesma intensidade (What kind of man love like this?, ela repete por diversas vezes). Confiram o clipe abaixo:

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Cinema - Sniper Americano

De: Clint Eastwood. Com: Bradley Cooper, Sienna Miller, Kyle Gallner. Drama / Ação, EUA, 2014, 132 minutos.

Sniper Americano (American Sniper) é a cinebiografia de Cris Kyle, o mais letal atirador da história dos Estados Unidos, cuja "turnê" pelo Iraque junto ao exército americano deixou um saldo de mais de 150 mortos. Sucesso de bilheteria em sua estréia no país de origem, o filme provocou polêmica devido à visão unilateral com que retrata o conflito do Iraque. Dirigido por Clint Eastwood, que assumiu o projeto depois da desistência de Steven Spielberg, a obra (indicada a 6 Oscar, incluindo filme e ator) retrata a formação de um assassino que, sob a proteção do Estado americano, foi alçado à condição de herói devido à sua "performance" no conflito armado.

De todas as biografias narradas nos indicados a melhor filme para o Oscar 2015, esta com certeza é a mais controversa. O filme mostra a infância de Kyle (Cooper, em grande atuação), sua relação com os pais, o relacionamento com a esposa, o primeiro filho, até o momento em que o mesmo entra no exército para participar da guerra e retorna ao seu país como herói respeitado por ter eliminado diversos "inimigos" - mesmo que, entre estes, se incluam mulheres e crianças. Aí que o filme falha ao transformar em herói um personagem tão controverso: apesar de demonstrar os efeitos da guerra no protagonista e as consequências inclusive para a sua família, o mesmo é um sujeito idolatrado pela população local e colegas de exército. Ademais, o roteiro trata de mostrar os adversários de maneira estereotipada: os iraquianos possuem aspectos vilanescos, o que pode levar o espectador a torcer em vários momentos pelo Sniper.


Tecnicamente impecável, a filmagem retrata a guerra de maneira bem intensa, fazendo a alegria dos fãs de filmes do gênero. O elenco está muito bem, inclusive Sienna Miller, que interpreta a esposa de Kyle e preocupa-se com as consequências da participação do marido no conflito, tanto psicológicas quanto em relação ao filho. Já Cooper dá complexidade ao papel principal, demonstrando seu desconforto ao ter de realizar suas primeiras execuções até o momento em que a guerra passa a fazer parte de sua personalidade - um paralelo que pode ser traçado com o personagem de Jeremy Renner em Guerra ao Terror, filme vencedor do Oscar 2009.

Moralmente questionável, Sniper Americano é um grande filme sob o ponto de vista cinematográfico, com momentos tensos, bem executados, uma carga dramática forte, porém sem o desenvolvimento necessário por parte do roteiro e direção quanto aos aspectos inerentes ao conflito, o que justifica todo o "bafafá" em torno da obra. Contudo, o filme não deixa de ter os seus méritos - despertar uma discussão sobre o conflito e a maneira como este é retratado é algo positivo - e seria um excelente entretenimento caso fosse uma obra de ficção, mas não é. E, por retratar algo que realmente aconteceu, a falta de verossimilhança de algumas situações retratadas pode não ser algo digno de um filme indicado a tantas premiações. O que separa um herói de um assassino? Até que ponto podemos interferir na vida de outro ser humano, mesmo amparado por leis ou um Estado nem sempre justo? São questões que o filme parece ignorar e faz com que o resultado final fique aquém do esperado.

Nota: 7,0.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Bombou na Semana - Cinquenta Tons de Cinza

Esta semana ocorreu um fenômeno que só lembro de ter acontecido na época do filme Titanic, em 1997. Com a estréia nos cinemas do filme Cinquenta Tons de Cinza, adaptado do best seller de E.L. James, uma comoção nacional ocorreu: pessoas comprando ingressos com vários dias de antecedência e compartilhando sua ansiedade nas redes sociais, sessões lotadas, e o trailer mais assistido de 2014 no Youtube. O sucesso, tanto do livro quanto do filme (que promete bater recordes de bilheteria), mostra o reinteresse do público pela temática erótica que, nos anos 90, teve seu ápice em Hollywood com filmes como Instinto Selvagem e 9 e 1/2 Semanas de Amor - enquanto que na década passada o estilo deu uma brochada decaída.

Com isso uma série de reações vem sendo despertada, desde declarações de amor e satisfação pelo filme no Facebook, a questionamentos sobre a suposta temática machista da história e seus aspectos cinematográficos - o que vem desagradando movimentos feministas e a crítica especializada, respectivamente. A popularidade do filme vem proporcionando estas e outras discussões polêmicas, o que é sempre interessante. Nós, do Picanha, em breve daremos nossa opinião aqui no site. E você? Já assistiu? Qual a sua opinião? Participe com a gente!

Uma curiosidade: uma paródia do trailer oficial foi feita utilizando bonecos Lego, pegando carona no sucesso de filmes como Lego: the movie. E você pode assistir logo abaixo.


Um bom final de semana a todos!
Pra quem for viajar e pular carnaval, boas festas e, pra quem fica, boas músicas e filmes! Aproveitem pra dar uma conferida em nossas postagens, tem muita dica legal para passar o tempo. ;)

Novidades em DVD - Garota Exemplar

De: David Fincher. Com: Ben Affleck, Rosamund Pike e Neil Patrick Harris. Drama / Suspense, EUA, 149 minutos.

Chega em DVD um dos melhores filmes da safra recente: dirigido por David Fincher, dos excepcionais Se7en - os sete crimes capitais e Clube da LutaGarota Exemplar (Gone Girl, 2014) é um thriller cujo roteiro (adaptado do livro homônimo pela própria autora, Gillian Flynn) narra a história do desaparecimento de Amy Dunne (Pike), a "garota exemplar" do título. Imediatamente a suspeita pelo acontecido recai sobre seu marido Nick (Affleck), cujo relacionamento com a esposa não estava correndo de forma satisfatória. De cara já vemos o momento quando o casal se encontra pela primeira vez, jovens, bonitos e bem-sucedidos, em um típico romance que tinha tudo para dar certo. Mas o tempo trata de revelar os conflitos inerentes a toda relação de longa duração, mostrando que a realidade pode ser bem diferente da sonhada. O filme lança as seguintes questões: o que terá acontecido à Amy? Nick teria participação no ocorrido? Revelar mais da trama seria estragar a experiência, portanto não nos deteremos em mais detalhes. Mas vale ressaltar a crítica à imprensa sensacionalista que, retratada de forma similar no filme O Abutre, não hesita em explorar dramas particulares, influenciando inclusive nas investigações - muitas vezes de forma irresponsável.


Todo o elenco está incrível aqui, tanto Affleck quanto Neil Patrick Harris (da série How I Met Your Mother, no papel de um ex-namorado de Amy). Este último, por sinal, está surpreendente em um papel curto, porém dramático e bem diferente daqueles associados ao ator. No entanto, o destaque indiscutível do filme é Rosamund Pike, sendo indicada com justiça ao Oscar 2015 pelo seu papel. Novamente, não dá pra entrar em detalhes sobre a personagem sob pena de estragar as surpresas do enredo, este que, graças ao roteiro muito bem estruturado e com a direção sempre precisa e racional de Fincher, é repleto de reviravoltas e consegue chocar o espectador em diversos instantes. Mesmo ignorado nas demais categorias do Oscar 2015 (poderia muito bem estar indicado a melhor filme, direção e roteiro adaptado), Garota Exemplar permanece um dos grandes destaques do ano que passou e é sessão obrigatória para quem gosta de uma história inteligente, com belas atuações, tecnicamente impecável e surpreendente.

Nota: 9,0.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Grandes Cenas do Cinema (Ou Não!): Team America - Detonando o Mundo

Filme: Team America - Detonando o Mundo
Cena: Vomitando as tripas (se um marionete as tivesse)

Team America - Detonando o Mundo (Team America, 2004) é daqueles filmes que, a princípio, ninguém dá nada. Na época de seu lançamento, passou totalmente despercebido nos cinemas e nas locadoras locais. Acontece que a obra, realizada pelos criadores do South Park, é impagável! Toda feita com marionetes - metáfora perfeita para a condição de alguns atores nas mãos de certos produtores - a comédia faz uma inacreditável sátira aos filmes de ação.
Na animação - uma das mais engraçadas da história recente do cinema - os bonecos fazem de tudo: dançam, saltam, andam de moto, dirigem carros a toda a velocidade, transam.. e vomitam! Numa das tantas boas cenas do filme o protagonista está enchendo a cara depois de se desiludir - aliás, qualquer semelhança com as edificantes obras de Hollywood não é mera coincidência. Só que o que ocorre depois, bom... vocês têm de ver pra acreditar!


Evidentemente o filme não é para todos os paladares. Mas se você lida bem com piadas que destroem instituições consolidadas, que brinca com política e com religião sem se preocupar com reações exacerbadas - é só uma obra cinematográfica, não custa lembrar - e que abusa do politicamente incorreto de forma inteligente e muito divertida, esse filme é pra você!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

10 Curiosidades Sobre o Framboesa de Ouro

Semana passada fizemos, aqui no Picanha, uma lista com 10 Curiosidades Sobre o Oscar. Agora é a vez de listar algumas particularidades a respeito do Golden Raspberry Award - ou Framboesa de Ouro -, que visa a distinguir os piores filmes, diretores, atores e atrizes, entre outras categorias. Essa espécie de paródia bem-humorada do Oscar foi criada em 1980 pelo publicitário e crítico de cinema John Wilson e é concedida um dia antes da grande premiação de Hollywood. Mas é preciso que se diga: poucos astros tem a presença de espírito de ir buscá-lo.

1) O "prêmio" é uma framboesa de plástico sobre um filme Super 8 pintado de tinta dourada, que não custa mais do que US$ 5. Os vencedores, evidentemente, são convidados a receber a distinção.

2) Uma das melhores histórias de "vencedores", envolve a atriz Sandra Bullock. Na premiação de 2010, Sandra faturou a indigesta estatueta por sua escabrosa participação no filme Maluca Paixão. No dia seguinte, na noite do Oscar, subiu novamente no palco, dessa vez para receber a estatueta pela sua comovente interpretação na obra Um Sonho Possível. Foi o primeiro caso, na história, de astro que ganhou o Framboesa e o Oscar no mesmo ano. Outro caso semelhante, envolveu o roteirista Brian Helgeland, que ganhou em 1998 o Oscar por Los Angeles Cidade Proibida e o Framboesa por O Mensageiro. Na ocasião, pediu à instituição seu "prêmio", para por ao lado de seu Oscar lembrando a "natureza quixotesca de Hollywood".

3) O recordista de indicações é o ator Sylvester Stallone, que foi nominado 32 vezes, faturando 10 prêmios. Em uma das vezes em que foi escolhido, o astro ficou tão ofendido que chegou a deixar um recado malcriado na secretária eletrônica de Wilson.

4) Acredite se puder, o clássico O Iluminado de Stanley Kubrick, recebeu duas indicações - como pior diretor e pior atriz (para Shelley Duvall). Outro clássico a receber indicação foi Scarface, de Brian De Palma. A propósito, foi o diretor o nominado.

5) Entre os diretores, De Palma é o campeão de indicações: foram seis, deixando para trás nomes muito mais consagrados entre os piores, como Michael Bay (com quatro) e Uwe Boll (com três).


6) Entre as atrizes, a grande campeã de nominações é a cantora Madonna, com 12 indicações e oito prêmios. Demi Moore, com nove e Faye Dunaway e Kim Bassinger vem logo em seguida, com oito cada.

7) Anthony Hopkins, Michael Caine, Laurence Olivier, Marlon Brando, Peter O'Toole, Al Pacino, Sean Penn, Tim Robbins, Harvey Keitel e Jack Nicholson já foram indicados. Ou seja, o Framboesa não poupa ninguém!

8) Em 2012, a comédia Cada Um tem a Gêmea que Merece, com Adam Sandler e Al Pacino, bateu os recordes do Framboesa do Ouro, levando todas as 10 categorias existentes no prêmio.

9) O filme campeão de indicações na história é o Showgirls. Foram 15 indicações - 13 em 1996, Pior Filme da Década de 90 em 2000 e Pior Drama dos 25 Anos do Framboesa de Ouro em 2005).

10) Em 2011, David Eigenberg resolveu aceitar a premiação na categoria Pior Dupla/Elenco de Sex and the City 2 dizendo "nunca ter vencido nenhum prêmio na vida". na ocasião, fez com Wilson um vídeo de aceitação.


 Fontes das informações: Guia dos Curiosos, Wikipedia e Razzies.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Picanha em Série - Better Call Saul

Na noite de ontem estreou Uno, primeiro episódio da aguardada série original da Netflix, Better Call Saul que é, como a maioria das pessoas já sabe, um spin off de Breaking Bad. De maneira geral, a série tem o objetivo de apresentar as circunstâncias da vida do advogado inescrupuloso Saul Goodman (Bob Odenkirk), antes de se tornar... Saul Goodman (com o perdão da óbvia redundância). O episódio piloto inicia com um epílogo de bela fotografia em preto e branco que mostra, na realidade, como está sendo a sua vida após os eventos ocorridos nas cinco temporadas de BB. E de como ele terá de carregar por toda a eternidade o fardo de ter encontrado Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul), onde quer que esteja, seja atuando como magistrado ou gerenciando uma delicatessen em algum shopping center do Canadá.

Quem possui o Netflix já pode conferir, inclusive, o segundo episódio, intitulado Mijo, que estreou hoje. E assim será nas 11 próximas terças-feiras, quando será divulgado um episódio por semana, até que sejam completados os 13 que formam a primeira temporada. O que, de saída, se pode depreender de Better Call... é que será, aparentemente, uma série mais divertida e, consequentemente, menos pesada do que aquela que a antecedeu. Aliás, nada mais natural que seja assim, uma vez que, em BB, os poucos alívios cômicos, em muitos casos, eram protagonizados pelo personagem de Odenkirk, com seus diálogos impagáveis e comportamento nada convencional.


Os fãs de BB que já viram fotos ou teasers divulgados previamente, já sabem que outro personagem da série da qual Better Call... deriva também fará parte de seu elenco fixo: no caso, Mike (Jonathan Banks), que na série sobre o professor que produz metanfetamina, é uma espécie de braço direito do chefão do tráfico Gus Fring (Giancarlo Esposito). A propósito, a curiosa interação entre Saul - e nunca é demais lembrar que em Better Call... seu nome ainda é James (Jimmy) McGill - e Mike resulta em alguns dos momentos mais divertidos dos dois primeiro episódios. Jimmy é um advogado chinelão, que ajuda adolescentes acusados de vandalismo e que fica na porta da cadeia, disposto a ajudar bandidos pé-rapados que cometeram pequenos furtos, por salários que não passam dos US$ 700 por caso. Isso não o impede de se envolver em problemas maiores, resultado de um comportamento extremamente ambicioso. (spoiler alert) E, nesse contexto, a aparição de outro personagem familiar deve divertir ainda mais os fãs.

Já se sabe que Cranston e Paul não participarão da primeira temporada ainda que, em entrevistas, tenham acenado de forma positiva para essa possibilidade. E talvez essa "negociação" tenha possibilitado o uso de algumas referências em Better Call... - e nesse sentido não deixa de ser curioso notar como, na primeira aparição de Saul, de óculos e bigode, ele esteja idêntico fisicamente (e na postura também) a Walter White, como se ele mesmo, como resultado de todos os seus trambiques, também fosse uma espécie de Heisenberg, cheio de segredos. Os fãs de BB também se deliciarão com os cenários familiares, com destaque para as sequências no deserto - quase sempre funcionando como se fosse ele também um personagem das cenas tensas.

Evidentemente, ainda é cedo para alguma opinião mais definitiva - a crítica americana adorou e já considera a possibilidade de o spin off superar a sua "matriz". Mas a série promete!

Lado B Classe A - The Afghan Whigs (1965)

Atenção:
Tire as crianças da sala.
Material altamente inflamável.

Com o álbum 1965, a banda The Afghan Whigs (uma das queridinhas aqui da casa) deu fim às suas atividades, no ano de 1998, entregando um trabalho altamente viciante, bem produzido e com uma levada soul elevada à enésima potência. Produzido pela primeira vez por David Bianco (dos excelentes discos Grand Prix, do Teenage Fanclub, e Smitten, do Buffalo Tom), o grupo alçou o rock alternativo ao patamar dos grandes clássicos da "música para acasalamento", até então representada por ícones como Marvin Gaye, Barry White, dentre outros.

Com uma coleção de faixas intensas, saborosas, suingadas e com um teor altamente explosivo, o vocalista, líder e compositor Greg Dulli destila todo o seu "veneno" com a fome de um predador prestes a capturar sua presa. Sabendo dosar os momentos mais agitados com outros mais elegantes, com uma melancolia subjacente, Dulli acaba por ser uma espécie de, guardadas as devidas proporções, Christian Grey (sim, daquele livro e, em breve, filme) do rock. Ou melhor: imagina o Wando cantando junto com o Mano Changes, da Comunidade Nin-Jitsu (do clássico gaúcho Maicou Douglas Syndrome) mais o rock dos anos 90, vocais de black music, e já dá pra ter uma noção do que encontrar aqui.


Ao apertar o play, ouve-se de imediato o som de um fósforo sendo aceso, já dando a deixa pra Somethin' Hot, com seu riff sacolejante, convidar o ouvinte pra dançar. A balada Crazy, com suas melodiosas frases de guitarra, pergunta: What ever did happen to your Soul?, numa referência óbvia ao estilo homenageado. Uptown Again volta a agitar, sendo um dos maiores destaques, com refrão forte. A faixa 66 traz uma das letras mais 'safadas' do disco, um balanço irresistível com alto teor pop, vocais femininos, uivos, gemidos e tudo mais... só ouvindo pra crer. Citi Soleil traz frases em francês e viola espanhola para complementar o já conhecido rock da banda, em outro destaque do álbum. John the Baptist traz uma letra que deve horrorizar os católicos mais fervorosos, com Dulli pecando sem pudor e trazendo à tona a frase que escancara a influência ddo grande clássico: Let's Get it On! A próxima música, The Slide Song, traz, como o título sugere, slides de guitarra fazendo a cama para mais uma linda balada, narrando a busca de um vampiro por amor. Neglekted talvez seja a mais soul do disco, com um suingue que casa muito bem com os vocais sussurados entremeados pelos backing vocals femininos, criando um clima sexy que descamba para um gran finale de cair o queixo. Por fim temos Omerta, uma faixa mais climática, porém de menor destaque, que faz o prelúdio para The Vampire Lanois, faixa instrumental que encerra este grande álbum.


Wando, Dulli e Mano Changes: incentivando a perpetuação da espécie

Recheado de hits, 1965 deveria ter se tornado um grande sucesso comercial que finalmente alçaria a banda ao mainstream. Infelizmente não foi o que aconteceu, o que acabou por levar o grupo ao término após a turnê do álbum. No entanto, Greg Dulli continuou na ativa e permanece até hoje, tendo neste meio tempo participado de projetos sensacionais como The Twilight Singers e The Gutter Twins, além de uma carreira solo. Em 2014, a banda voltou à ativa com o elogiado Do to the Beast, fazendo a alegria dos fãs de longa data. Com uma discografia invejável, este é o perfeito exemplar Lado B Classe A, uma dica preciosa que nós aqui do Picanha compartilhamos com vocês. Enjoy it!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Cinema - O Jogo da Imitação

De: Morten Tyldum. Com Benedict Cumberbatch, Keira Knightley e Matthew Goode. Drama / Biografia, EUA / Inglaterra, 2014, 115 minutos.

Existe uma antiga anedota que diz o seguinte: dois homens caminham por uma floresta e são surpreendidos pela presença de um urso. Um deles se ajoelha e começa a rezar. O outro começa a calçar as botas que carregava para "bater em retirada". Ao avistar a cena, o primeiro comenta com o segundo: de que adianta calçar as botas se jamais poderemos ganhar uma corrida do urso? Ao que o outro responde: eu não preciso ganhar do urso. Eu apenas preciso vencer você. Dentro do filme O Jogo da Imitação (The Imitation Game), esse pequeno conto é mencionado pelo matemático Alan Turing (personagem de Benedict Cumberbatch, em boa atuação) e serve como metáfora perfeita para definir a ação orquestrada pela Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial e que tinha o objetivo de frear o nazismo.

Na trama, o governo britânico monta uma equipe que tem o objetivo de quebrar o Enigma, o famoso código em linguagem criptografada que os alemães usavam para enviar mensagens aos soldados de campo e para organizar futuros ataques. Turing, um matemático de 27 anos, é parte dessa equipe. Ainda que fosse um sujeito introspectivo e com problemas de relacionamento, Turing passa a liderar a equipe, ao mesmo tempo em que começa a colocar em prática um projeto para construir uma máquina que seja capaz de analisar todas as possibilidades de codificação do Enigma, em menos de 18 horas. Isto porque, passado este período, novas informações são enviadas - e elas são milhares - e todo o trabalho do dia anterior é perdido. Em resumo: uma baita duma sinuca!


A guerra funciona como pano de fundo - ela aparece em imagens em flashback que se tornam, a cada dia que passa, mais agressivas, servindo para dar uma dimensão da violência pela qual passava a Europa como um todo, com o avanço do nazismo. Mas o roteiro centra suas forças no relacionamento (complicado) entre Turing e os demais matemáticos - especialmente após a entrada de Joan Clarke (Keira Knightley) na equipe. Aliás, as questões de gênero resultam em sequências meio batidas como a da mulher que chega atrasada a uma prova, mas que mostra sua "força" ao ser a primeira a terminar um exercício que a qualificaria para entrar no grupo. Ou mesmo a necessidade de esconder essa nova realidade da família - e o diálogo entre Turing e Joan, na frente dos pais, com o objetivo de enganá-los, é preciso que se diga, é um tanto constrangedor.

A propósito, essas pequenas fraquezas tornam ainda mais surpreendente o fato de o filme do norueguês Morten Tyldum ter sido indicado a oito estatuetas do Oscar. E talvez esse seja um indicativo de que a premiação está realmente mais "fraca" - ao menos em relação a 2014. A obra é bem fotografada e, especialmente, bem montada. Os atores entregam um trabalho correto. O argumento é bom e, baseado em fatos reais, incrivelmente significativo. Mas a trama corre naquele esquema que a gente já conhece: o matemático chega, enfrenta dificuldades, briga com os empregadores e com os colegas de trabalho, chora, tem dúvidas, quase é demitido, insiste e eureka. Aquele momento em que cai a ficha, mas a gente nem entende o por quê. Sem surpresas. Sem curvas fora do prumo. Correto e extremamente cartesiano. Tal qual a matemática que é a base da película.

Nota: 6,0



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Bombou na Semana - Neil Young e Jimmy Fallon (imitando Young) cantam Old Man

Jimmy Fallon, um dos apresentadores mais legais do planeta, tem se superado nas imitações. Nessa semana, ao receber em seu programa, o Tonight Show, o músico e compositor canadense Neil Young, que está divulgando o recém-lançado disco Storystone, Fallon o imitou, executando de maneira perfeita a música Old Man, um dos tantos clássicos do cantor. Esta não é a primeira vez em que a versão de Neil Young de Fallon compartilha o palco com um ícone do rock:o apresentador já cantou Whip My Hair, de Willow Smith, ao lado de Bruce Springsteen, em 2010, e completou o “Y” do CSNY em uma versão de Fancy, hit da cantora Iggy Azalea, no ano passado.

Em Old Man, pela primeira vez, Fallon fez a imitação cantando uma música do próprio Neil Young - sem contar quando Bradley Cooper tocou air guitar em Down By the River. “Vi você me imitando antes e sempre achei muito engraçado”, disse Young sobre tocar ao lado de “Young”.

Fonte: Revista Rolling Stone


Cinema - A Teoria de Tudo

De: James Marsh. Com: Eddie Redmayne, Felicity Jones e Tom Prior. Drama / Biografia / Romance, EUA, 2014, 123 minutos.

O filme A Teoria de Tudo (The Theory of Everything) conta a história real do relacionamento entre o genial físico britânico Stephen Hawking (Redmayne) e sua primeira esposa Jane (Jones), desde o momento em que ambos se conheceram até a mudança radical na vida do casal devido ao aparecimento da doença que viria a incapacitar fisicamente o cientista, a Esclerose Lateral Amiotrófica - popularmente conhecida como Doença de Lou Gehrig (devido ao famoso jogador de beisebol também acometido pela doença no início do século passado). Esta patologia faz com que haja uma degeneração progressiva dos neurônios motores, diminuindo a atividade muscular, incapacitando o doente a realizar atividades básicas como caminhar, falar, deglutir e, em estágio avançado, até respirar. No entanto, a mente do afetado permanece intacta, o que possibilitou que Hawking trouxesse ao mundo suas mais importantes teorias sobre o universo mesmo em estágio avançado da doença, tendo o auxílio da sempre presente Jane.

O enredo de superação teria tudo para virar um drama pesado, sedento a levar o espectador às lágrimas - o que, felizmente, não acontece. Eddie Redmayne entrega aqui uma performance perfeita como Hawking, tendo sido inclusive elogiado pelo próprio ("as vezes pensava que ele era eu", disse o cientista), demonstrando a elegância e inteligência compatíveis com o personagem pelo qual ganhou o Globo de Ouro de melhor ator em drama, ao passo que Felicity Jones cumpre seu papel com competência, porém prejudicada pelo roteiro que conta com frases que poderiam muito bem ter saído de uma telenovela. O roteiro, por sinal, foi adaptado do livro escrito pela própria Jane e, talvez por isso, não foque tanto nas teorias do título e, sim, no relacionamento entre os dois - o que pode ser frustrante para aqueles que forem assistir interessados pelo aspecto científico.


Apesar de não vitimizar o protagonista, a direção de James Marsh (do documentário vencedor do Oscar O Equilibrista) opta por uma abordagem mais hollywoodiana do romance entre o casal, citando, mas evitando, maiores polêmicas sobre os conflitos gerados pelo ateísmo declarado de Hawking versus o cristianismo de Jane, além de pegar leve na questão dos demais relacionamentos do casal principal. Contribui para a aura de "homenagem" a fotografia, que acaba alterando as tonalidades de acordo com o estado dramático da narrativa, e a trilha sonora, que também valoriza o aspecto um tanto irreal de algumas passagens, podendo soar um pouco exagerada em alguns momentos.

Mesmo contando com uma passagem perto do final que acaba levemente descambando para o melodrama, o encerramento conta com uma cena belíssima que, ao fazer uma rima temática com um conceito desenvolvido durante o filme, torna a experiência satisfatória. Com quatro indicações ao Oscar (melhor filme, ator, atriz e trilha sonora), A Teoria de Tudo é um filme bonito, interessante, com grandes atuações e, embora deixe a desejar em alguns aspectos, merece ser visto e apreciado.

Nota: 7,0

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Disco da Semana - Rafael Castro (Um Chopp e Um Sundae)

Eu já havia lido sobre o jovem cantor, compositor e multi-instrumentista Rafael Castro em alguns lugares, mas nunca tinha dado a devida atenção. No entanto, zapeando pelo Deezer, encontrei seu nono (!!) álbum recém-lançado, Um Chopp e Um Sundae, disponível para audição. O músico paulista havia produzido pela primeira vez um "álbum físico" com o elogiado Lembra?, de 2012, sendo que até então seus discos eram todos disponibilizados online. Confesso que sempre curti quem ousasse seguir por caminhos musicais pouco ortodoxos e, embora o estilo principal de Castro seja o rock and roll, encontram-se lampejos de influências bem variadas, sendo seu trabalho muitas vezes comparado a artistas como Raul Seixas e Os Mutantes.

A guinada musical em Um Chopp e Um Sundae, contudo, é radical - tanto em temática quanto sonoridade - comprovando a característica "camaleônica" do artista, o que, segundo o próprio, pode deixar muitos fãs "de cara" com o que vão encontrar. Ao contrário da sobriedade e tom mais sério do álbum anterior, aqui o músico emula o som - inclusive toda a atmosfera "brega" e exagerada - dos anos 80, criando o que o próprio convencionou chamar de "Música Gata" (!!). Nas palavras de Rafael, segundo o site O Globo: "(...) sonhei que uma garota dizia que faço ‘Música Gata’. Imaginei que beats eletrônicos antigos, maquiagem carregada, sintetizadores, salto alto, guitarras com litros de chorus e unhas prateadas compunham o gênero (...) é música festeira, muito menos cabeça e muito mais quadril".



O disco, totalmente produzido e gravado pelo próprio cantor em seu estúdio caseiro, consegue resgatar com perfeição a sonoridade anacrônica da década homenageada, trazendo momentos bem excêntricos e, por isso mesmo, divertidos. Com algumas regravações, incluindo Aquela (de Gabriel Thomaz, "eternizada" pelo grupo Raimundos), Víbora (Tulipa Ruiz), e Um Trem Passou Por Aqui (da banda Joelho de Porco) - esta última, por sinal, fazendo referência ao suposto acidente do "Rei" Roberto Carlos - é nas composições próprias que o músico se destaca: Preocupado e Motivo seriam hits certos de artistas dos 80 como Ritchie ou até de grupos como Dominó e Polegar. A impagável Caetano Veloso faz menção ao ícone da MPB, mimetizando até seu timbre de voz, ao ironizar a popularidade do músico.

Vale observar também a transformação visual do artista, uma espécie de David Bowie tupiniquim, e a capa um tanto quanto bizarra ousada - o que será que a Júlia, do blog Frescurinha, teria a dizer? - de forma a complementar o conceito do disco e podemos perceber que não estamos diante de um trabalho convencional. Contudo, para os apreciadores da inventividade, Rafael Castro é um artista talentoso, inquieto, multifacetado e que, certamente, merece ser levado em consideração.

Você pode ouvir o álbum no player abaixo ou baixá-lo gratuitamente (inclusive toda a discografia) no site oficial do artista.

Nota: 7,5