sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

25 Grandes Filmes de 2018 Lançados no Cinema ou DVD (+15 Menções Honrosas)

A lista mais difícil de fazer sempre é a dos filmes. Primeiro porque amamos cinema (capaz?). Segundo porque nunca conseguimos assistir a tudo aquilo que gostaríamos. E isso explica, por exemplo, a ausência de obras que já estiveram em cartaz - caso de Nasce Uma Estrela ou Primeiro Homem - mas que ainda não vimos (e que provavelmente estarão na nossa relação do ano que vem, já que ambas estão sendo cotadas para o Oscar). Bom, a intenção do nosso 25 Grandes Filmes de 2018 Lançados no Cinema ou DVD (+15 Menções Honrosas) não é relacionar melhores. E, sim, aqueles que vimos, gostamos e que achamos por bem sugerir (muitos deles, inclusive, foram resenhados aqui no Picanha)! Boa leitura!

Menções Honrosas:

40) Bird Box (Bird Box)
39) Hannah (Hannah
38) Tully (Tully)
37) É Apenas O Fim do Mundo (Juste La Fin Du Monde)
36) Bohemian Rhapsody (Bohemian Rhapsody)
35) Baseado em Fatos Reais (D'Apres Une Histoire Vraie)
34) O Confeiteiro (The Cakemaker)
33) Verão 1993 (Estiu 1993)
32) Tinta Bruta
31) Desobediência (Disobedience)
30) O Destino de Uma Nação (Darkest Hour)
29) Hereditário (Hereditary)
28) As Boas Maneiras
27) Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi (Mudbound)
26) Um Lugar Silencioso (A Quiet Place)

25) Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name): este filme de grande beleza plástica - ainda que econômico no que se refere a complexidade (e até ousadia) - nos joga para o lânguido verão de 1983, na Lombardia, na Itália. No local o jovem Elio (Timothée Chalamet) passa as férias com os pais Anella (Amira Casar) e o senhor Perlman (o sempre ótimo Michael Stuhlbarg), em um ambiente multicultural, em que não apenas várias línguas são faladas de forma fluente - inglês, francês e italiano -, como também são naturais discussões sobre literatura, música e artes em geral. A chegada do estudante Oliver (Armie Hammer) agitará o local. Todos os anos o senhor Perlman convoca um acadêmico para lhe ajudar com as pesquisas sobre cultura greco-romana. Só que Oliver é diferente - alto, louro, com voz firme chamará a atenção de Elio que, aos 17 anos, talvez experimentará pela primeira vez a sensação de, de fato, se apaixonar. Uma verdadeira fábula sobre o amor, narrada de forma sutil, elegante, sem pressa. E que faturou a estatueta na categoria Roteiro Adaptado, no último Oscar. Leia a resenha completa.


24) Doentes de Amor (The Big Sick): baseada em fatos reais, essa é aquela obra que você assiste meio desconfiado, mas que vai te ganhando aos poucos - e, no fim, estamos torcendo por todos os personagens o que, em uma comédia romântica, é um mérito. A trama nos joga para o universo em que convivem os comediantes de stand up, que tentam a sorte em bares e boates com meia lotação. Um deles, o paquistanês Kumail (Kumail Nanjiani), chama a atenção da estudante de psicologia Emily (Zoe Kazan). Após um flerte meio desajeitado (e cheio de tiradas bem humoradas), ambos acabam se apaixonando. Só que há um problema meio "Romeu e Julieta" nessa história. Por ser paquistanês, os pais de Kumail jamais aceitariam, de acordo com a sua cultura, o casamento com uma caucasiana. Por outro lado, é possível imaginar o tipo de preconceito - ou, minimamente, de desconfiança - que Kumail sofreria quando apresentasse a loira a sua família. O conflito, após estabelecido, garantirá duas horas de ótima diversão! Leia a resenha completa.



23) 120 Batimentos Por Minutos (120 Battements par Minute):  representante da França no último Oscar, essa pequena obra-prima volta no tempo, mais especificamente para o final dos anos 80, para mostrar os bastidores da ONG Act Up, que procurava das visibilidade para o HIV (que registrava seus primeiros casos). A França, na época governada por François Miterrand, sofria com um aumento alarmante do número de pessoas infectadas com o vírus e, mesmo com esta condição, o que parecia haver era o descaso dos governantes que, por preconceito ou negligência, não destinavam recursos, não organizavam campanhas e não apresentavam políticas públicas suficientes com vistas a conscientizar a população. Cabia ao Act Up assim, essa divulgação. Na marra, protestando e até deixando as coisas saírem do controle. O tema é pesado e o diretor Robin Campillo não alivia nas cenas em que a doença é mostrada. Mas ainda assim o clima geral não é de melancolia, já que em meio ao ativismo, os jovens se divertem, participam de festas, transam. É tudo muito naturalista, em uma película que procura compreender as motivações de todos. Leia a resenha completa.


22) O Sacrifício do Cervo Sagrado (The Killing Of a Sacred Deer): sempre provocativos, os filmes do diretor Yórgos Lánthimos geralmente se ocupam de denunciar, ainda que de forma sutil, a hipocrisia das famílias de bem. Já havia sido assim com o ótimo Dente Canino (2009) e não é diferente com este, que é estrelado por Colin Farrel e Nicole Kidman. Eles são um casal que tem dois filhos, sendo ele um cardiologista que viu um de seus pacientes morrer na mesa de operação (a obra já abre com uma impactante sequência que mostra uma cirurgia). Ocorre que após este evento, o filho do paciente morto se aproxima da família, tornando-se um amigo. Há um clima de inquietação e de suspense no ar, algo reforçado pela pungente trilha sonora, como se algo estivesse o tempo todo para acontecer - e realmente acontece, quando os filhos perdem os movimentos das pernas. É um filme de "silêncio pesado", diferente, levemente surrealista, que discute religião, paranoia e vingança (e se o Oscar fosse uma premiação realmente justa, o jovem Barry Keoghan receberia uma nominação).


21) Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here): drama de temática forte, com boas doses de suspense, o filme da diretora Lynne Ramsey já começa com uma série de imagens em close  - de mãos, de objetos sendo manipulados e limpos e que, inicialmente, apenas despertarão a nossa curiosidade. Uma trilha sonora cheia de notas caóticas, difusas. Um flashback esmaecido em que uma criança parece sofrer com algum tipo de violência. Todo esse preâmbulo servirá para que se instale uma sensação de desconforto. Ainda que o filme esteja muito menos interessado em escancarar gratuitamente em nossas caras a violência que parece o tempo todo estar nas entrelinhas, o roteiro opta, assim, por uma visão mais oblíqua - e nem por isso menos intensa - das ações do protagonista Joe (Joaquin Phoenix, em mais uma de suas impressionantes caracterizações). Joe é um veterano de guerra que, no submundo, se ocupa de resgatar adolescentes mantidas em cativeiros como escravas sexuais. Um "trabalho" duro, dificilmente satisfatório, e que tem tudo para, em algum momento, dar errado. Leia a resenha completa.


20) As Herdeiras (Las Herederas): este é um filme que aposta na sutileza para apresentar a jornada de transformação de sua protagonista. Ao invés da janela escancarada, a fresta. Ao contrário da gargalhada farta, o sorriso de canto de boca. Há muita sugestão e pouca obviedade. A trama gira em torno de Chela (Ana Brun) e Chiquita (Margarita Irún) que vivem em uma casa opulenta (ainda que decadente) de um bairro rico no Paraguai. Herdeiras de famílias abastadas, vendem seus bens como forma de equilibrar as finanças. Tudo muda quando Chiquita é presa por sonegação fiscal. Diante dessa "novidade", Chela é surpreendida pela vizinha Pituca (Maria Martins) que pede que ela lhe conduza até o subúrbio para um jogo de cartas envolvendo senhoras ricas e mais preocupadas com a vida dos outros do que com as suas próprias. Será nessas idas e vindas que Chela conhecerá a interessante Angy (Ana Ivanova). Angy é mais nova e é um espírito livre. Tem relacionamentos fracassados, mas tem personalidade forte. E isto tudo interessará Chela, que projetará nela a vida que, certamente, nunca teve. Leia a resenha completa.


19) Eu, Tonia (I, Tonya): filmes baseados em fatos reais sobre atletas indo do céu ao inferno não chegam a ser exatamente uma novidade mas esta é daquelas que merece ser vista! A história aqui é a da atleta Tonya Harding (Margot Robbie) que, no começo dos anos 90, surgiu para o mundo como um dos mais promissores talentos da patinação artística no gelo. Apesar de alta e relativamente forte para o esporte ela foi a primeira mulher americana a conseguir executar o dificílimo salto triplo axel em competições, o que lhe garantiu títulos no campeonato nacional. Tonya era uma das apostas dos Estados Unidos para a conquista do posto mais alto do pódio nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1994. Mas o relacionamento abusivo com o violento marido Jeff Gilooly (Sebastian Stan) e as constantes humilhações e maus-tratos por parte da mãe (Allison Janney, em papel que lhe deu o Oscar), transformaram a vida da atleta em um verdadeiro inferno. O filme tinha tudo para ser pesado, mas a abordagem leve transforma-o em uma comédia dramática que nos deixa no limite entre o riso e o choro. Leia a resenha completa.


18) O Animal Cordial: em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freire já falava do temperamento do brasileiro, que teria bons modos, gentileza e polidez apenas na superfície (e nunca é demais lembrar que o radical latino córdio é relativo ao coração, sanguíneo, portanto). De certa maneira, esse conceito vem bem a calhar numa análise desse ótimo filme nacional, que mistura algumas doses de Tarantino com outras tantas de Irmãos Coen. Quando um restaurante de classe média é assaltado por dois bandidos, o dono do estabelecimento (Murilo Benício) tentará de todas as formas "controlar" a situação. Por trás da voz calma e dos modos educados, está um sujeito que está no limite de explodir, tendo de aguentar empregados que ele considera desobedientes e clientes chatos. Nesse contexto, o homem cordial dará lugar ao sujeito epidérmico, incapaz de preservar inatas as suas sensibilidades e emoções. O resultado de tudo isso é imprevisível, numa obra que vai no limite do gore, mas que também nos faz rir de nervoso, quando percebemos que o fascista pode estar logo ali.


17) Arábia: no Brasil pós Golpe (e de Bolsonaro), em que sujeitos engravatados decidem, dentro de gabinetes bem refrigerados, pela subtração de direitos trabalhistas há muito conquistados ou por reformas previdenciárias que agradam apenas a uma pequena parcela da sociedade, um filme como Arábia se torna ainda mais impactante. A obra dos diretores Affonso Uchoa e João Dumans é uma verdadeira ode ao trabalhador comum - aquele sujeito fragilizado que anda pelos rincões do Brasil para oferecer a força física e que convive com a insegurança dos precários contratos de trabalho e com "patrões" que lhes sugam até a última gota de suor sem se preocuparem com qualquer tipo de reação daqueles que eles exploram. É uma película dura, triste, áspera, desalentadora. E inacreditavelmente real e atual. A trama, simplíssima, nos joga para Minas Gerais, onde um jovem (Murilo Caliari) encontra por acaso o diário de um operário metalúrgico que sofreu um acidente, o que mudará a sua vida e a sua percepção sobre os trabalhadores marginalizados. Leia a resenha completa.


16) Pantera Negra (Black Panther): não é necessário ser um fiel acompanhante do Universo Marvel - meu caso, diga-se -, para se deleitar com essa produção que, muito provavelmente, contará com várias indicações para o Oscar. Em uma época em que a palavra REPRESENTATIVIDADE se faz cada vez mais necessária em nosso vocabulário, a película de Ryan Coogler é um acerto. Não se trata apenas de um herói negro e de um grande elenco de matriz africana. Na trama sobre o Rei de Wakanda (Chadwick Boseman), que luta para garantir a paz em seu País, há espaço para discussões sobre o papel da mulher na sociedade, respeito às minorias, empatia e até a importância de se ter um governo que governe para TODOS (e que, de preferência, não ameace de morte aqueles que pensam diferente). A obra tem visual belíssimo, figurinos e maquiagens acachapantes e trilha sonora que equilibra percussão ritualística com timbres modernosos. Fora o elenco, de nomes como Michael B. Jordan, Danai Gurira, Lupita Nyong'o, Daniel Kaluya e Forest Whitaker.


15) The Post: A Guerra Secreta (The Post): mais recente projeto de Steven Spielberg, este é o filme sobre jornalismo por excelência. E sobre os bastidores da política. E, talvez por isso, possa soar meio enfadonho num primeiro momento. Mas o caso é que, como quase sempre ocorre com o diretor, estamos diante de um filmaço! Rico em termos de roteiro, cheio de grandes personagens (e interpretações) e com reviravoltas de tirar o fôlego. Sim, acredite: reviravoltas. A trama retorna para o começo dos anos 70 quando o New York Times inicia, com base em um grande volume de documentos sigilosos vazados do Pentágono, uma série de reportagens denunciando o fato de vários governos norte-americanos - Eisenhower, Kennedy, Johnson - terem mentido por mais de 30 anos acerca da atuação do País na Guerra do Vietnã (o que teria resultado em mais de 50 mil americanos mortos no conflito, em uma Guerra considerada "perdida"). Conduzido com elegância, a trama é instigante e tem no embate entre o editor do Washington Post Ben Bradlee (Tom Hanks) e a dona do periódico Kat Graham (Meryl Streep), um dos grandes atrativos. Leia a resenha completa.


14) Projeto Flórida (The Florida Project): essa pequena joia do cinema independente é a prova real de que não é necessário um elenco de grandes nomes - ou mesmo excessivas pirotecnias - para a construção de um grande filme. A história nos joga para o subúrbio de Orlando, mais precisamente para os arredores do complexo da Disney, onde famílias em vulnerabilidade social se acotovelam em hotéis de quinta categoria, tentando sobreviver. Nesse contexto somos apresentados a pequena Moonee (Brooklyn Prince), espevitada garota de seis anos que, em meio as férias de verão, se ocupa de pequenos trambiques (e brincadeiras) com outras crianças, enquanto a mãe Halley (Bria Vinaite) luta para manter as contas em dia. É uma obra de contrastes, que mostra um dolorido choque de realidade entre as famílias bordejam um dos parques mais desejados do mundo - sem poder ter acesso a este - com outras que (mais ricas, claro), que buscam o local para as suas férias. E há ainda Willem Dafoe no papel de Bobby - uma espécie de zelador que faz de tudo para que o local funcione da melhor maneira possível. Difíckl não se emocionar.


13) Uma Mulher Fantástica (Una Mujer Fantástica): grande vencedor na categoria Filme em Língua Estrangeira no último Oscar, o filme do chileno Sebastián Lelio é revoltante e encantador em igual medida. Com boas doses de surrealismo, narra a história de Marina (Daniela Vega, em caracterização comovente), uma garçonete transexual cujo namorado - um homem mais velho (Francisco Reyes) - tem um mal súbito e morre. Não bastasse ter de lidar com o luto, Marina, que sonha em ser cantora e se apresenta em bares da cidade, ainda precisa lidar com a hostilidade da família do falecido. É uma obra intensa sobre o preconceito, que surge de forma sutil (como na sequência em que um médico acha que deve chamá-la pelo nome de batismo) ou escancarada (em agressões verbais e físicas). Em um contexto em que o ódio e a intolerância em função de identidade de gênero legitimam aberrações políticas como o recém-empossado presidente Jair Bolsonaro, um filme como este não é apenas necessário. É fundamental.


12) Toc Toc (Toc Toc): poucas vezes na minha vida eu ri tanto assistindo a uma comédia como no caso dessa joia do diretor Vicente Villanueva. Toc Toc é, como o próprio nome sugere, um filme sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos. E é justamente esse o caso dos seis protagonistas da película que, reunidos na sala de espera de um psiquiatra, se verão forçados a encarar os seus problemas para tentar resolvê-los. A história é simples e se passa sempre no mesmo ambiente - a sala de espera do consultório do psiquiatra. Mas o que a torna absolutamente divertida é a forma com que humaniza as fobias (a gente até se identifica com elas). Nada funcionaria se não fosse um roteiro esperto, que aposta em diálogos inteligentes e cheios de comentários sociais valiosos sobre a importância de se respeitar o "diferente". A ágil edição também confere urgência e frescor na trama que mistura outros gêneros e nos possibilita ver de camarote Rossy De Palma e Oscar Martínez claramente se divertindo em uma comédia imprevisível, debochada, sarcástica e irônica. Leia a resenha completa.


11) Em Pedaços (Aus Dem Nichts): os filmes do diretor Fatih Akin nunca são fáceis. Mesmo em obras de temática mais "leve" - caso de Soul Kitchen (2009), por exemplo - sempre parece haver, nas entrelinhas, um certo desencanto com a sociedade em que vivemos, tão individualista, intolerante e, especialmente, preconceituosa. Com este trabalho que faturou o Globo de Ouro não é diferente. Na obra somos apresentados ao casal Nuri (Numan Acar) e Katja (Diane Kruger), que leva uma vida tranquila e confortável ao lado do filho Rocco, na Alemanha. Em um certo dia Nuri está com o filho no escritório em que trabalha, quando sofre um violento atentado: uma explosão criminosa que acaba com a vida dos dois, além de ferir outros tantos. Em Pedaços é um filme doloroso porque, mais atual do que nunca, traz a baila um dos tantos problemas da modernidade: o do renascimento de uma extrema-direita odiosa e conservadora que, legitimada por aberrações políticas como o presidente norte-americano Donald Trump, faz brotar grupos neonazistas e xenófobos que não hesitarão em levar a cabo seus planos doentios. Triste. Comovente. Devastador. Leia a resenha completa.


10) Três Anúncios Para Um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri): não houvesse um A Forma da Água pelo caminho e talvez esse filme do diretor Martin McDonagh (com ecos de Irmãos Coen) pudesse ter tido melhor sorte. A trama nos joga para uma pequena cidade no interior do Missouri, onde Mildred Hayes (Frances McDormand) que perdeu a filha brutalmente estuprada e assassinada está inconformada com a ineficácia da polícia local - que não tem uma pista sequer para a resolução do caso. Mildred decide chamar a atenção das autoridades locais alugando três outdoors nos arredores da cidade. Nos anúncios estarão três frases provocativas, remetidas diretamente ao delegado Willoughby (Woody Harrelson), ressaltando o fato de ninguém ainda ter sido preso, com o crime tendo ocorrido há sete meses. Será no embate entre essas duas figuras distintas que residirá a força dessa película, que tem ótima trilha sonora e é recheada por bem-humorados comentários sociais. Ah, e ainda há Sam Rockwell como um policial fascista, no melhor papel de sua carreira. Leia a resenha completa.


9) Viva: A Vida é Uma Festa (Coco): imagine você vivendo em um mundo em que não lhe fosse facultado o direito de ouvir música. Nunca. Em lugar nenhum. Sob pena de ser castigado pele mãe ou por algum outro familiar. Pois esta é a realidade do pequeno Miguel (Anthony Gonzalez VIII) de apenas 12 anos, o protagonista desta verdadeira joia da Pixar, que faturou o Oscar na categoria Filme de Animação, neste ano. Ocorre que esta proibição remete a um trauma que envolve os antepassados de Miguel. Mais precisamente o seu tataravô, que abandonou a esposa e a filha pequena para seguir carreira como artista. Por conta do baque a música é banida do seio familiar, só que o problema é que Miguel não apenas ama as canções como ainda sonha em ser artista. A trama (deliciosa) de descortinará na tentativa de conciliar esses dois "universos" que não dialogam mais, em uma narrativa absolutamente doce, delicada, e que ainda apresentará o mundo dos mortos de uma maneira poucas vezes vista no cinema. Leia a resenha completa.


8) The Square: A Arte da Discórdia (The Square): desigualdade social, hipocrisia das classes mais abastadas, falta de empatia, empáfia do universo das artes, informação na era digital, abuso de poder. São tantos os temas discutidos nessa obra-prima de Ruben Östlund, que a sensação que temos, ao final das duas horas e meia de projeção é a de que o filme poderia ter mais duas horas e meia que, ainda assim, não contemplaria os seus assuntos a contento. Esse é aquele tipo de película que não tem um começo, um meio e um fim bem definidos, nos apresentando a uma série de situações que, só nas aparências, parecem desconectadas. Um contexto em que as diferenças sociais existem e que transformam em inócuas as ações filantrópicas de senhores engravatados que carregam debaixo de seus finos trajes todo o seu preconceito. No fim das contas, essa é uma obra de contrastes, onde de um lado temos o universo das artes plásticas e o protagonista Christian (Bang) e do outro lado, as camadas em vulnerabilidade social, que se utilizam de verdadeiras manobras "artísticas" para tentar sobreviver. Obra tensa, urgente, bem-humorada. E imperdível! Leia a resenha completa.


7) Trama Fantasma (Phantom Thread): parece haver algo mal resolvido no que diz respeito a relação do estilista Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) com a sua mãe na juventude e que, agora, na fase adulta, reflete-se em seu comportamento - ele despreza completamente as mulheres, algo que já fica claro nas primeiras cenas. Um perfeccionista, o profissional exige dedicação (e submissão) permanentes daquelas que terão a honraria de se verem uniformizadas com as suas peças. Um trabalho certamente intragável para as jovens que com ele terão contato - ainda que o universo luxuoso, deslumbrante e requintado não deixe de ser um atrativo a parte. A situação muda quando Woodcock conhece Alma (Vicky Krieps). Jovem de personalidade forte, ela se tornará modelo do estilista - e também sua amante, numa relação que parecerá estar sempre no limite do amor e do ódio, da devoção e da fúria. É um filme deslumbrante, classudo, refinado, cheio de nuances psicológicas, numa das mais interessantes dinâmicas envolvendo um casal no cinema. Leia a resenha completa.


6) O Insulto (L'Insulte): a polarização político/religiosa não é exclusividade do Brasil - especialmente do pós-Golpe -, como nos mostra esse filme libanês, primeiro da história a ser indicado ao Oscar no País. A trama parte de um episódio quase prosaico, evoluindo para um verdadeiro estudo do contexto histórico-social da república localizada no Oriente (aliás, só esse fato já da conta da importância do cinema, enfim, dos filmes em nossas vidas). Em um certo dia Toni (Adel Karam), um cristão libanês está regando as plantas na varanda de seu apartamento quando, acidentalmente, molha Yasser (Kamel El Basha), um refugiado palestino, que não por acaso é o engenheiro responsável por uma obra que está ocorrendo na rua em que Toni mora. Yasser pede para que Toni instale um cano que de conta da correta vazão da água. Toni se nega a fazer. Yasser aciona a prefeitura e faz a obra por conta. E o estrago está feito quando as diferenças de pensamento e de visões de mundo se cruzam e transformam um evento pequeno em algo maior do que é - e que chegará até o tribunal.


5) Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman): cotado para aparecer entre os indicados na próxima cerimônia do Oscar, o novo filme do diretor Spike Lee vem bem a calhar  - especialmente diante da onda conservadora/fascista/preconceituosa que tem, inexplicavelmente, tomado forma no mundo. O filme retorna para o ano de 1978, onde Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, resolve se infiltrar na unidade da Ku Klux Klan local. Para colocar o seu plano em prática ele conta com a ajuda do colega de trabalho judeu Flip (o sempre ótimo Adam Driver), que era o responsável por estar fisicamente nos locais de reuniões do coletivo - enquanto que os telefonemas e cartas eram enviadas pelo próprio Ron. Sem nunca pesar a mão, Lee passa o recado de maneira formidável (e até divertida), mostrando a ascensão de Ron dentro da seita, o que lhe possibilitou sabotar atos racistas e outros crimes de ódio perpetrados pelas "famílias de bem americanas" - e que orgulhariam os votantes do Bolsonaro.


4) O Artista do Desastre (The Disaster Artist): histórias sobre os bastidores de Hollywood já renderam bons filmes e este possui uma narrativa tão improvável que, não fosse baseada em fatos reais, talvez fosse difícil acreditar que ela de fato tenha acontecido! A trama resgata a trajetória do excêntrico Tommy Wiseau (James Franco), sujeito megalomaníaco que sonhava em ser ator na Meca do cinema mundial. Sem absolutamente nenhum talento, mas com muita confiança, Tommy - que mais parece saído de algum videoclipe de alguma banda de "metal farofa" dos anos 80 - tenta a sorte por meio de participações em aulas de atuação. Em uma delas se aproxima e se torna amigo do jovem Greg Sestero (o irmão de Franco, Dave), com quem divide o sonho de fazer sucesso. Após alguns "nãos", Tommy produzirá, dirigirá, escreverá e protagonizará, ao lado do melhor amigo, The Room, obra considerada a pior de todos os tempos! Divertidamente nonsense, o filme conta os "bastidores" dessa megalomaníaca produção. Impagável é pouco. Leia a resenha completa.


3) A Forma da Água (The Shape Of Water): poucas vezes a empatia ou a importância do respeito às diferenças foi abordada de forma tão inteligente e delicada como no grande vencedor do último Oscar. A obra é uma verdadeira ode aos desajustados, capaz de transformar uma criatura "meio anfíbio meio homem" (Doug Jones) na metáfora perfeita para as minorias que buscam sobreviver em um mundo cheio de ódio, de preconceito e de intolerância. A narrativa nos joga para os anos 60, época em que, em meio à Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética mediam forças. Nesse contexto a faxineira Elisa (Sally Hawkins) atua como uma espécie de zeladora em um laboratório experimental secreto do Governo americano, local que recebe um fantástico ser capturado na Floresta Amazônica. Uma curiosa amizade iniciará e Elisa precisará elaborar um plano de fuga para livrar a criatura das mãos do agente Strickland (Michael Shannon em modo "bolsomito"), que quer a morte do animal para que seu corpo possa ser dissecado e estudado. Uma fábula leve, com tintas surrealistas, ótima trilha sonora e uma mensagem comovente. Leia a resenha completa.


2) Roma (Roma): provável vencedor na categoria Filme em Língua Estrangeira no Oscar 2019, a obra de Alfonso Cuarón (Gravidade) é um verdadeiro tapão na cara das hipócritas classes mais abastadas, que não se constrangem em explorar o trabalhador até o limite, fingindo uma generosidade que serve apenas para a manutenção do status quo. A trama volta no tempo, mais precisamente para a Cidade do México, no começo dos anos 70 - período de crescimento econômico (mas também de aumento das desigualdades) - para contar a história de uma família burguesa e de sua relação com a empregada doméstica Cleo (Yalitza Aparício). No período de um ano vários acontecimentos - da gravidez de Cleo a separação dos patrões - abalarão os moradores da casa. Com ecos de Que Horas Ela Volta?, a película aposta na sutileza - e em uma espetacular fotografia em preto e branco - para mostrar que a autonomia de Cleo só existe mesmo no campo das metáforas (como aquela que mostra a imagem de um avião refletida em uma poça da água).


1) Benzinho: devo admitir a vocês que não dava nada por este filme (a julgar pelo seu título). Mas saí da sessão absolutamente arrebatado, encantado não apenas pelo roteiro - que é até econômico, mas conduzido de maneira vibrante -, mas pelas personagens, viscerais, verdadeiras, honestas. É um filme que parte de um episódio isolado - o fato de o primogênito de uma família de classe média ser convidado para jogar handebol na Alemanha - para traçar um painel da nossa sociedade nos dias de hoje. Em meio a luta pela sobrevivência, a obrigação de lidar também com problemas domésticos (que podem ser desde uma torneira estragada até ter de conviver com a Síndrome do Ninho Vazio). É uma obra-prima cheia de metáforas, de barulhos que representam o caos interior da protagonista (vivida com paixão por Karine Teles) e que te faz rir, chorar, rir de novo, chorar de novo. Na montanha-russa de sentimentos, a vida de cada um de nós em uma película que prova que menos é mais e que atesta a grande fase do cinema brasileiro.




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