A safra pode até não estar tão boa esse ano, mas a menos que você seja um alienígena que acaba de chegar à Terra, você já sabe que nós, brasileiros (e patriotas de VERDADE) temos todos os motivos do mundo para estar de olho na premiação máxima do cinema - que ocorre no próximo domingo, com a transmissão da TNT (e da Globo, que vai exibir o Oscar de forma concomitante com a primeira noite do Carnaval do Rio). E, sim, não é pra ter clima de Copa do Mundo mas vai ser lindo demais ver o Brasil vindo abaixo, com Marquês do Sapucaí e tudo, se a Fernanda (ou o filme) faturarem o carecão. Como projeto de cinéfilo fui meio negligente nesse ano e não consegui ver todas as produções - pequei principalmente em Documentário, que só assisti um. Ainda assim, a gente faz o trabalho aqui: pondera as premiações prévias, aciona a bola de cristal e faz as nossas projeções. De quem vence. E de quem queremos que vença. E que domingo seja TUDO NOSSO e NADA DELES! Bora!
FILME
Esse ano parece tudo meio imprevisível na categoria máxima, até mesmo porque a régua tá lá embaixo. É claro que Anora salta na frente, até mesmo por ter faturado uma série de prévias, como o PGA, o DGA, o WGA e o Critics Choice, além de outras premiações. Nessa altura do campeonato, o concorrente mais forte parece ser Conclave, que venceu o Bafta, que sempre é um bom termômetro. Sim, aqui nem precisa dizer que a gente torce demais pro Ainda Estou Aqui, mas vamos combinar que a simples lembrança entre os dez mais já é uma grande conquista. E nem precisa dizer o quão putos ficaremos se Emilia Pérez que, até certa altura parecia favorito a muita coisa, vencer. Ah, e Wicked também porque, vamos combinar, que bela BOMBA.
Ganha: Anora
Na torcida: Ainda Estou Aqui
DIRETOR
Sean Baker levou o DGA que costuma ser o termômetro mais fidedigno para a categoria. Ainda mais com Anora pintando como o favorito ao prêmio máximo - o que junta aquela coisa do filmezinho independente com algum sentido social a mais. O maior entrave pra dobradinha parece ser Brady Corbet de O Brutalista, que andou ganhando uma série de prévias, inclusive o Bafta. Em matéria de torcida, iremos amar ver a Coralie Fargeat subindo ao palco para receber o Oscar por A Substância. Ainda que isso pareça um sonho distante.
Ganha: Brady Corbet, por O Brutalista
Na torcida: Coralie Fargeat, por A Substância
ATOR
Aqui tudo indicava que o caminho estava aberto para Adrien Brody pelo seu trabalho na epopeia O Brutalista - ele venceu o Critics Choice, o Globo de Ouro e o Bafta nas prévias. Mas aí quando a taça estava garantida, o Timothée Chalamet voltou pro jogo ao faturar o SAG na última semana, pelo seu papel em Um Completo Desconhecido. Só que essa vitória pode ter sido tarde demais, já que os envelopes do Oscar já estavam selados. E a campanha também.
Ganha: Adrien Brody, por O Brutalista
Na torcida: Ralph Fiennes por Conclave
ATRIZ
O nosso coração está todo com a Fernanda Torres, todo mundo sabe e a gente fica torcendo desesperadamente para que o Globo de Ouro possa ter sido uma abertura de portas para que os votantes da Academia prestassem uma atenção A MAIS em Ainda Estou Aqui. Pode ser que tenha havido tempo para que a campanha encontrasse sua rota. Mas o problema é que tanto Demi Moore, de A Substância, quando Mikey Madison, de Anora, paparam todas as prévias mais relevantes - a primeira o Critics Choice e o SAG, além do Globo de Ouro em Comédia e Musical, a segunda o Independent Spirit e o Bafta. Em favor de Demi está também a disrupção de fazer um papel que parece ter sido escrito sob medida pra ela - o de uma estrela em decadência que busca uma forma de preservar sua juventude (e seus discursos sobre etarimso e ausência de papeis para mulheres mais velhas no setor, têm chamado a atenção e podem pesar). No mais, é VAI FERNANDA com força!
Ganha: Demi Moore por A Substância
Na torcida: acho que nem precisamos dizer!
ATOR COADJUVANTE
A gente sabe que A Verdadeira Dor é um filmezinho qualquer coisa, mas a Academia tende a se assombrar com esse tipo de papel do sujeito atormentado, que é o que faz o Kieran Culkin aqui (mais ou menos reprisando o papel dele em Succession). Claro que ajuda bastante nessa projeção o fato de que o sujeito simplesmente patrolou nas premiações prévias, ganhando a maioria. Talvez essa seja uma aposta óbvia para o bolão. Por uma ironia do destino, o único que poderia ameaçar o prêmio de Culkin seria o Jeremy Strong, seu parceiro de Succession, e que se empenha em entregar uma boa interpretação no fraco O Aprendiz.
Ganha: Kieran Culkin, por A Verdadeira Dor
Na torcida: Edward Norton, por Um Completo Desconhecido
ATRIZ COADJUVANTE
Tudo parece indefinido nessa categoria que pode derrubar o Bolão. Em geral talvez aqui rolasse o prêmio consolação de Emilia Perez, já que Zoe Saldaña fez uma varredura de prêmios na temporada. Só que toda a polêmica do filme em si pode ter prejudicado a campanha e talvez uma estatueta para Isabella Rossellini por seu elegante papel em Conclave possa ser uma aposta mais segura (ainda que ela tenha pouco tempo de tela). Difícil arriscar. E ainda há a Monica Barbaro de Um Completo Desconhecido correndo por fora.
Ganha: Zoe Saldaña por Emilia Perez
Na torcida: Isabella Rossellini, por Conclave
ROTEIRO ORIGINAL
Mais uma das categorias imprevisíveis, até mesmo porque os favoritos da noite se distribuíram nas prévias - A Substância, por exemplo, ganhou o Critics, ao passo que Uma Verdadeira Dor faturou o Bafta (sendo uma desvantagem não estar na categoria principal). E como se embolamento pouco fosse bobagem, Anora venceu o WGA, que costuma ser uma excelente prévia (é o prêmio do Sindicato dos Escritores). No mais, não dá pra betar muito nessa categoria não, porque tudo pode acontecer.
Ganha: Anora
Na torcida: A Substância
ROTEIRO ADAPTADO
Talvez aqui esteja uma das barbadas da noite, já que Conclave arrematou as prévias do Globo de Ouro, do Critics e do Bafta - ele não era elegível pro WGA e nem o diretor parece saber o por quê. No mais, é correr pro abraço.
Ganha: Conclave
Na torcida: Conclave
ANIMAÇÃO
Por mais que o Independente Flow seja uma pequena joia do cinema alternativo - tendo vencido o Annie em sua categoria, e também o Globo de Ouro -, a disputa é dura contra O Robô Selvagem, que pinta como um favorito meio que natural, depois da vitória no Critics e também no Annie em sua categoria. Um ponto a favor de Flow talvez pudesse ser a verdadeira comoção da Letônia com a indicação - com direito a estátua do gatinho no País e tudo. Ah, tem um detalhe: Wallace & Gromit: Avengança conquistou o Bafta. E, bom, vai saber.
Ganha: O Robô Selvagem
Na torcida: Flow
DOCUMENTÁRIO
Como fã de cinema, essa foi a categoria que fui mais negligente: como dito no começo desse texto, só assisti um - no caso o excelente Sugarcane. Mas, pendências cinéfilas a parte, esta também parece ser uma categoria difícil de cravar o vencedor, até mesmo porque as prévias apontam uma espécie de empate técnico entre No Other Land e Porcelain War, com o segundo tendo uma leve vantagem, por ter faturado o DGA e o prêmio do Juri em Sundance (além do tema relevante, que envolve o conflito entre Rússia e Ucrânia).
Ganha: Porcelain War
Na torcida: Sugarcane
FILME INTERNACIONAL
Emilia Perez pode ter derretido no último mês com todas as polêmicas envolvidas à Karla Sofía Gascón, mas o filme segue sendo, sejamos justos, o favorito à categoria - até mesmo pelas vitórias em prévias importantes como o Bafta, o Prêmio do Júri em Cannes e o Critics Choice. Mas o Brasil, sabemos, está comendo pelas beiradas e sabendo se aproveitar da campanha desastrosa do filme francês (que se passa no México), ainda mais depois da vitória da Fernanda no Globo de Ouro. Sim, a gente tá sonhando com essa arrancada, esse sprint final, essa comoção. Que transformará o nosso Carnaval na maior festa da história!
Ganha: Ainda Estou Aqui (não consigo ser racional aqui, é clima de COPA DO MUNDO)
Na torcida: Ainda Estou Aqui
FOTOGRAFIA
As vitórias no Bafta e no prêmio da Sociedade Britânica de Forografia deve garantir uma vitória mais ou menos segura para O Brutalista. Claro que o prêmio da Sociedade Americana de Fotografia para Maria pode embolar um pouco a disputa, que ainda tem como concorrente o Nosferatu, que faturou o Critics Choice. Ainda assim, a aposta segura está no primeiro.
Ganha: O Brutalista
Na torcida: Nosferatu
EDIÇÃO
Com o prêmio American Cinema Editores (ACE), que poderia ser um bom termômetro, sendo revelado apenas após o Oscar, essa categoria fica meio que no escuro, por mais que uma ou outra prévia possam indicar alguma coisa - como no caso de Conclave, que venceu o Bafta. Aliás, particularmente iria simpatizar com essa vitória, já que a edição de Anora é meio confusa e, por vezes, quase faz com que nos percamos. Em tempo, nos bastidores há quem diga que Wicked tem boas chances nessa categoria. O que seria mais um daqueles momentos "vem meteoro", legítimos de nosso tempo.
Ganha: Conclave
Na torcida: Conclave
DESENHO DE PRODUÇÃO
Falando em "vem meteoro", esta é uma das categorias que deve dar Wicked com folga - e, justiça seja feita, é nisso aqui que o filme brilha. As vitórias no Bafta, no Art Directors Guild e no Critics Choice são boas credenciais. Se o mundo fosse justo, Conclave venceria nessa categoria, até mesmo porque vai reconstruir a Capela Sistina de forma fidedigna, pra ver?
Ganha: Wicked
Na torcida: Conclave
FIGURINO
Aqui também teremos de aturar Wicked subindo ao palco para pegar seu Oscar. Sim, vocês já perceberam que eu não fui muito com a lata desse musical chôcho - e talvez vai ver eu não seja o público alvo nessa história. Ah, o Bafta, o Critics Choice e o Costume Design Guild são as credenciais que tornam essa uma das barbadas da noite.
Ganha: Wicked
Na torcida: Conclave
MAQUIAGEM E PENTEADO
Aqui vai uma mistura de torcida com trabalho de impacto nesse setor - e quem já viu A Substância sabe do que estamos falando. Há um esforço geral dos outros indicados, mas nada que supere.
Ganha: A Substância
Na torcida: A Substância
SOM
Na premiação do CAS (o Cinema Audio Society) deu Um Completo Desconhecido e, sejamos justos, seria uma estatueta muito bem entregue. Claro, Wicked e Duna Parte Dois correm por fora e certamente tudo pode acontecer. Mas o CAS coloca o filme de James Mangold em vantagem.
Ganha: Um Completo Desconhecido
Na torcida: Um Completo Desconhecido
TRILHA SONORA ORIGINAL
A trilha sonora de Robô Selvagem é maravilhosa e adoraria vê-lo como vitorioso. Mas como concorrer nessa categoria com filmes tão xaropemente musicais como Emilia Perez e Wicked? Ainda assim, tem apostador acreditando que O Brutalista corre por fora. É chute, por final.
Ganha: Wicked
Na torcida: Robô Selvagem
CANÇÃO ORIGINAL
A Diane Warren tem tentado ao longo dos tempos e a história dela com o Oscar (e as indicações) certamente daria um documentário - e a vantagem dela é que Sing Sing ao menos é um filme razoável e não apenas um Oscar bait qualquer. Só que, no mais, vai ficar meio chato se Emilia Pérez, com 13 indicações, sair de mãos abanando. Então pode cravar a vitória de El Mal aqui.
Ganha: El Mal, de Emilia Perez
Na torcida: Never Too Late, de Elton John Never Too Late
EFEITOS VISUAIS
Se a gente arremessar pra cima os indicados acho que fica entre Wicked e Duna Parte Dois. Essa é aquela hora de servir uma taça de vinho enquanto aguarda a premiação andar.
Ganha: Duna Parte Dois
Na torcida: Duna Parte Dois
ANIMAÇÃO EM CURTA
A vitória no Annie e no Bafta dá uns pontinhos a mais pro bonito Wander to Wonder. E muito mais do que isso não tem como saber!
Ganha: Wander to Wonder
Na torcida: Wander to Wonder
DOCUMENTÁRIO EM CURTA
Vamos combinar que os esforços da Netflix na campanha de divulgação podem fazer a diferença em uma categoria de baixa visibilidade, o que faz com que A Única Mulher na Orquestra esteja um pouco na frente. No mais, na maior categoria desempata bolão da história, tudo pode acontecer. Como a vitória de I'm Ready, Warden, por exemplo.
Ganha: A Única Mulher na Orquestra
Na torcida: A Única Mulher na Orquestra
CURTA LIVE ACTION
Por mais que eu goste de I am Not a Robot, talvez aqui o prêmio fique com Anuja. Ou com O Homem que Não se Calou. Ou The Last Ranger. Boa sorte pra quem conseguiu ver todos.
Ganha: The Last Ranger
Na torcida: I am Not a Robot
E pra vocês, quem ganha o quê? Vai Fernanda!