Menções honrosas:
40) A Corte (L'Hermine)
39) Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)
38) Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo (I Don't Feel At Home In This World Anymore)
37) Um Homem Chamado Ove (En Man Som Heter Ove)
36) Vida, Animada (Life, Animated)
35) A Tartaruga Vermelha (La Tortue Rouge)
34) Loving (Loving)
33) Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures)
32) Dunkirk (Dunkirk)
31) Corpo Elétrico
30) Animais Noturnos (Nocturnal Animals)
29) O Filme da Minha Vida
28) Mulher Maravilha (Wonder Woman)
27) Terra de Minas (Under Sandet)
26) Os Meninos que Enganavam Nazistas (Un Sac de Billes)
25) O Lagosta (The Lobster): não é por acaso que esse ótimo filme do diretor grego Yórgos Lánthimos (do excelente Dente Canino) recebeu uma indicação na categoria Roteiro Original. O filme, uma ficção científica absolutamente melancólica, se passa em um futuro próximo em que existe uma lei que proíbe as pessoas de ficarem solteiras. Assim, qualquer homem ou mulher que não estiver em um relacionamento é preso e enviado ao Hotel, onde terá o prazo de 45 dias para tentar encontrar um(a) parceiro(a). Caso isso não ocorra, os abnegados solteiros são transformados em algum animal de sua preferência e soltos em meio a uma floresta. A lagosta do título original é o animal escolhido pelo protagonista vivido por Colin Farrel neste filme que se utiliza de um humor peculiar para discutir, entre outros temas, a artificialidade dos relacionamentos modernos.
24) Até o Último Homem (Hacksaw Rigde): filmes de guerra baseados em fatos reais sempre são um convite para as indicações ao Oscar e, com a mais recente obra de Mel Gibson, não foi diferente. A trama se passa durante a Segunda Guerra Mundial, onde o médico do exército Desmond Toss (Andrew Garfield) vive em pé de guerra com o sargento Howell (Vince Vaughn) por se recusar a pegar em uma arma para matar pessoas. Pacifiista, dedica-se a trabalhar na ala médica, sempre sob o olhar desconfiado dos superiores, até o dia em que salva um amontoado de soldados na conhecida Batalha de Okinawa. Ainda que o desenho de produção seja elegante no resgate histórico, o diretor, como já é de praxe, não poupa nas cenas de violência e nos corpos dilacerados, promovendo um verdadeiro banho de sangue. A ideia é transmitir uma ideia antibelicista, ainda que o exagero e a exaltação do campo de batalha, quase promovam o efeito inverso.
23) Bom Comportamento (Good Time): divertido até dizer CHEGA, esse filme improvável conta a história de dois irmãos que querem assaltar um banco e descolar uma certa quantia de dinheiro. Nada sai como o planejado, especialmente pelo fato de Nick (Ben Safdie) possuir algum tipo de deficiência mental que o deixa em pânico quando as coisas começam a dar errado. Mas o caso é que Connie (Robert Pattinson em, acredite, grande interpretação) quer incluí-lo em suas "atividades" diárias pelo fato de o amar e por acreditar em seu potencial. Para tentar resgatar o irmão ele empreenderá uma verdadeira jornada contra o relógio, sendo que ele mesmo também está sendo perseguido pela polícia. Um filme tenso, frenético, violento, urgente. E cheio de personagens secundários insanos. A trilha sonora pulsante - da banda Oneohtrix Point Never -, a fotografia granulada e a câmera sempre próxima dos atores, parecem tornar tudo ainda mais delirante.
22) Frantz (Frantz): um dos diretores mais prolíficos da atualidade, o francês François Ozon (dos imperdíveis Dentro da Casa e Uma Nova Amiga) aposta no drama de guerra em sua mais recente película. A trama nos joga para uma pequena cidade alemã, onde a viúva Anna (Paula Beer) passa os dias chorando diante do túmulo do noivo, morto em uma batalha na França, durante a Primeira Guerra Mundial. Um outro jovem que também coloca flores no mesmo túmulo e que parece guardar segredos do passado, despertará a atenção de Anna. Filmado num elegante preto e branco, a obra conta duas histórias paralelas - a atual e aquele que envolve os dias de front - e possui boas reviravoltas, surpreendendo no quesito mistério. E mais: ao abordar, de forma transversal, temas como a tolerância e a importância do perdão, Ozon transforma Frantz em um pequeno documento sobre os tempos que vivemos.
21) Como Nossos Pais: aquelas pessoas que ainda insistem em questionar a qualidade do cinema nacional deveriam, como tema de casa, assistir aos filmes da Laís Bodanzky. Mestre em apresentar pessoas em seus cotidianos, de forma naturalista, a diretora aposta na força do diálogo como fio condutor para histórias que, em muitos casos, partem de fiapos de roteiro. Foi assim com Chega de Saudade (2007), As Melhores Coisas do Mundo (2010) e, agora, com esta verdadeira pérola chamada Como Nossos Pais. O título do filme - emulando o hino do cantor Belchior sobre a letargia de uma geração inteira que vê vida passar, como que paralisada - dá a deixa para o conflito estabelecido. Maria Ribeiro é Rosa, designer que, para ser mãe, abre mão de seus sonhos e vive um casamento de acomodação e com pouco espaço para a emoção ou para a novidade. E os conflitos com a mãe Clarice (a ótima Clarice Abujamra), tornam tudo ainda pior. Simples. Direto. E tocante.
20) Um Limite Entre Nós (Fences): vamos combinar que já seria motivo suficiente para assistir a esse filme, o fato de termos Denzel Washington e Viola Davis como o casal de protagonistas. E, mais ainda: construindo personagens absolutamente complexas e multidimensionais. A trama se passa nos anos 50, onde Troy (Washington) e Rose (Davis) moram, junto com o filho mais novo, Cory (Jovan Adepo). Troy trabalha recolhendo lixo das ruas e batalha na empresa para que consiga migrar para o posto de motorista do caminhão de lixo. Ressentido por não ter conseguido se tornar jogador profissional de beisebol, devido à cor de sua pele, ele luta para que o filho possa seguir como esportista. Isto faz com que o jovem bata de frente com o pai em muitos momentos, nesse filme verborrágico, cheio de frases espirituosas, interpretações marcantes e reflexões sobre preconceitos.
19) Mulheres do Século 20 (20th Century Woman): com idas e vindas no tempo, essa saborosa obra de Mike Mills (Toda Forma de Amor) procura, não sem certa ambição, abarcar um século inteiro de vida - bem como suas guerras, movimentos culturais, conquistas sociais e avanços tecnológicos - colocando em análise o papel da mulher na sociedade, em meio a tudo isso. Ainda que não seja pouco, o filme nunca se torna chato ou excessivamente didático. Um ou outro flashback aqui e ali, ou mesmo uso de câmera lenta para delimitar determinada sequência, e a trama já nos traz de volta para o ano de 1979 - período em que se passa o filme -, sendo as interações entre os personagens, seus diálogos e considerações sobre o mundo a grande força motriz da película. Na trama, o jovem Jamie está rodeado por três grandes mulheres, vividas por Anette Bening, Greta Gerwing e Elle Faning. É no roteiro absolutamente original e descolado que está uma das forças da película.
18) Loveless (Nelyubov): indicado da Rússia na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira para a edição de 2018, esse filme do diretor Andrey Zyagintsev - o mesmo de Leviatã (2015) - tem como arco central a história de um casal que está se separando, ao mesmo tempo em que decide, nesse contexto, qual será o destino do filho de apenas 12 anos. Distantes do filho, emocionalmente, ambos parecem mais preocupados com as suas novas vidas: ele, com uma nova namorada que está grávida e ela com um novo parceiro rico. Não demora para o jovem, sentindo-se desprezado, desaparecer misteriosamente. Mas o sumiço foi deliberado? Ele quis fugir de casa? Ninguém consegue conviver com o desamor, e Zyagintsev inunda a tela com imagens gélidas, de fotografia acinzentada, que transformam até mesmo a euforia das novas relações em convenientes atos individualistas e hedonistas. Um filme duro, amargo e, é preciso que se diga, surpreendentemente honesto.
17) Okja: Esse é aquele tipo de filme que fica por dias na nossa cabeça. A trama nos joga de volta para o ano de 2007, quando a CEO de uma poderosa empresa Lucy Mirando (Tilda Swinton, soberba) apresenta ao mundo uma nova espécie animal que teria sido descoberta no Chile. Apelidada de "super porco", ela é cuidada em laboratório até o momento em que 26 animais enviados para países distintos para serem apresentados a cultura local. A ideia espalhar os animais ao redor do planeta por 10 anos sendo que, após este período, participarão de um concurso que escolherá o melhor deles. Isso significa que, uma década depois a jovem Mija (Seo-Hyun Ahn), que convive desde a infância com Okja, está prestes a perder o super porco fêmea criado pelo avô. Ainda que seja nonsense, fantasioso e até levemente infantil em alguns momentos, as discussões sobre direitos dos animais, sustentabilidade ambiental e ganância das grandes corporações, tornam a obra mais do que atual.
16) Era o Hotel Cambridge: em um ano em que a notícia da reintegração de posse da ocupação Lanceiros Negros, no último mês de agosto, pegou a todos os gaúchos de surpresa, um filme como este Era o Hotel Cambridge vem bem a calhar. Misto de drama e documentário, a obra mais recente da diretora Eliane Caffé (do esplêndido Narradores de Javé) narra a rotina dos ocupantes de um velho edifício abandonado no centro de São Paulo. Lá estão refugiados recém-chegados ao Brasil, que dividem o espaço com um grupo de sem-tetos. Além da tensão diária que a ameaça de despejo causa, os moradores do prédio lidam com seus dramas pessoais e aprendem a conviver com pessoas que, apesar de diferentes, enfrentam juntos a vida nas ruas. Mas não é um filme excessivamente melodramático. Ainda que a discussão seja importantíssima, há espaço, ao menos em partes, para um clima otimista e de perseverança. E o José Dumont, como sempre, está hilário!
15) Lion: Uma Jornada Para Casa (Lion): indicado ao Oscar na categoria principal desse ano, a obra parte de ma estatística estarrecedora, que dá conta de que 80 mil crianças desaparecem POR ANO, na Índia. O que o filme pretende é contar uma dessas histórias e, vamos combinar que este é um roteiro que nasceu pra ser filmado em Hollywood, já que conta com um arco dramático potente, boas atuações e doses generosas de comoção, mas sem nunca parecer excessivamente piegas. Na trama, Saroo (o espetacular Sunny Pawar) é um menininho de apenas cinco anos que entra por engano em um vagão de trem que lhe conduzirá até Calcutá - mais de 1.500 quilômetros de distância de onde mora. Sem falar Bengali - a língua local -, o jovem se torna incapaz de explicar de onde vem, para onde vai e o que exatamente está fazendo ali. A sua jornada na tentativa de voltar as suas origens, certamente rende algumas das mais tocantes sequências do ano.
14) A Qualquer Custo (Hell Or High Water): nesse filmaço indicado ao Oscar na categoria principal, somos apresentados aos irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner (Bem Foster), que vivem de pequenos roubos a bancos, com o objetivo de levantar grana para saldar a hipoteca atrasada do terreno da falecida mãe. E para garantir o futuro dos filhos de um deles, é necessário quitar a dívida, a qualquer custo, sob pena de perder o único bem da família. A trama é simples, mas isso não significa filme preguiçoso. Aliás, muito pelo contrário. David Mackenzie (do sensível Sentidos do Amor) mostra versatilidade ao incluir símbolos e signos que conferem à obra um tom quase premonitório sobre o que se imagina de uma América que vá ser "grande de novo" - como espera o inexplicável e eleito presidente Donald Trump. Em um lugar em que todo mundo anda armado, até na igreja se for o caso, o racismo e o preconceito ainda fazem parte da rotina, nessa obra surpreendente.
13) Toni Erdmann: Ines (Sandra Hüller, em excelente interpretação) é uma bem sucedida mulher de negócios que trabalha em Bucareste, na Romênia. Um trabalho burocrático, que lhe deixa infeliz, mas lhe possibilita uma vida de luxo, de bons restaurantes, de festas e de homens ricos - ainda que pobres de espírito. É nesse ambiente atribulado e cheio de códigos de etiqueta que Ines receberá o seu pai Winfried (o impágável Peter Simonischek) para o seu aniversário. Winfried é um idoso de espírito leve, sempre pronto para fazer alguma brincadeira ou pregar alguma peça nos demais. É evidente que o mundo lúdico de Winfried, um pianista aposentado com tempo para ficar um mês ao lado da filha, entrará em choque com o comportamento frio de Ines e suas reuniões sisudas, almoços de negócios e metas de trabalho a serem cumpridas. Indicado ao Oscar na categoria Filme Estrangeiro essa obra tocante toma por base essa dualidade, para nos faz refletir sobre o que, de fato, importa nessa vida.
12) Moana: Um Mar de Aventuras (Moana): a animação pode até não ter ganho o Oscar em sua categoria nesse ano - o vencedor foi o divertido Zootopia (2016) - mas com certeza ele é aquele filme que traz as melhores mensagens. Quer dizer, uma animação não sobreviveria somente de mensagem, se o traço não fosse bom, se o roteiro não tivesse diálogos inteligentes e se a obra não fosse enfim, divertida e com boas piadas (sem falar da música)! A Moana do título é uma jovem cheia de coragem, que vem de uma longa linhagem de navegadores em uma tribo da Oceania. Curiosa, quer descobrir mais sobre seu passado e sobre os habitantes de uma ilha mítica em que teriam vivido seus ancestrais. Ocorre que seu pai super protetor não é muito favorável a ideia. Mas aí pode ter certeza de que ela dá um jeito. Ver um pequeno grande filme desse tipo discutindo de forma tão inteligente a questão do respeito a igualdade de gêneros, torna ele maior e mais atual do que muitos por aí.
11) O Cidadão Ilustre (El Ciudadano Ilustre): nessa verdadeira pérola do cinema argentino, somos apresentados ao escritor Daniel Mantovani (o ótimo Oscar Martinez), sujeito bem ambientado aos modos cosmopolitas e a rotina nas grandes metrópoles. Radicado há 40 anos na Europa, é um dos mais celebrados autores argentinos - ganhou inclusive o Nobel de Literatura. Em certa altura do ótimo (e divertido) roteiro, ele é convidado pelo município interiorano de Salas (onde nasceu) para receber uma homenagem. Não é preciso ser nenhum adivinho para saber que o retorno a sua cidade natal desencadeará uma série de situações - muitas delas constrangedoras - que o tornarão uma presença bem menos desejada do que no começo. Sem tomar partido, os diretores Gaston Duprat e Mariano Cohn (do igualmente bom O Homem ao Lado) discutem temas diversos que envolvem a vaidade de um autor celebrado em "conflito" com uma comunidade tida por ele como provinciana.
10) La La Land: Cantando Estações (La La Land): esse é o filme por excelência sobre pessoas em busca de sonhos, as custas de muito suor, sangue, lágrimas (e dança). Na trama, Ryan Gosling é o pianista de jazz Sebastian que, apaixonado por tal vertente musical, sonha em abrir um bar em Los Angeles, com o objetivo de fazer reviver nomes como Charlie Parker, Ella Fitzgerald e Miles Davis. Já Emma Stone vive Mia, atriz iniciante que deve conviver com a rotina cansativa de "nãos" em audições entediantes, enquanto se vira nos trinta como atendente de um bar próximo a Hollywood. As vidas de ambos se cruzarão, como é de se supôr, em uma obra absolutamente leve, cheia de cenários multicoloridos, claramente nostálgica, excessivamente otimista e recheada de bons números musicais. Aquele seu amigo presunçoso metido a cinéfilo disse que não gostou? Ignore. O novo trabalho de Damien Chazelle - que QUASE fatura o Oscar - é a mais pura diversão!
9) O Apartamento (Forushande): ainda que não seja o melhor trabalho do iraniano Asghar Farhadi - dos ótimos Procurando Elly (2010) e A Separação (2012) -, a obra vencedora do Oscar 2017 na categoria Filme em Língua Estrangeira se aproveita de seu pano de fundo para, novamente, tecer comentários sobre a sociedade em que todos estão inseridos. Uma sociedade, diga-se, machista, conservadora, patriarcal. Na trama o casal de atores Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) se vê obrigado a se mudar, após um alerta para que todos os moradores do prédio em que vivem, deixem o local imediatamente por risco de desabamento. No novo local em que passam a residir, Rana é surpreendida (e agredida) por um estranho, no momento em que estava no banho. O trauma afetará os dois - que encenam a montagem da peça teatral A Morte do Caixeiro Viajante - fazendo com que Emad empreenda uma verdadeira jornada atrás do homem que atacou a esposa.
8) Corra! (Get Out): uma das boas surpresas entre os alternativos da temporada, esse ótimo filme de estreia do diretor Jordan Peele é um verdadeiro tratado sobre o racismo estrutural. Chris (Daniel Kaluuya) é um jovem negro que está prestes a conhecer a família de sua namorada caucasiana Rose (Allison Williams). O que era para ser um saudável encontro se torna um filme de terror para o protagonista, que logo percebe haver algo de muito errado no comportamento excessivamente amoroso da família da namorada - que possui apenas empregados negros. "Meus pais não são racistas, se eles pudessem votariam no Obama mais uma vez", comenta Rose em certa altura do filme. A trama trata justamente sobre isso: sobre aquele tipo de racismo velado, escondido em cada canto da vidinha tranquila das "famílias de bem" e que está pronto para vir à tona da forma mais perturbadora e preconceituosa possível.
7) Manchester à Beira-Mar (Manchester By The Sea): Casey Affleck já tinha entregado grandes interpretações em sua carreira, mas no papel que lhe deu o Oscar de Melhor Ator nas premiações desse ano vive um zelador de prédio, de nome Lee Chandler, reprimido, apático e abalado emocionalmente. De volta a sua cidade natal após a precoce morte do irmão, Chandler é incumbido de cuidar de seu sobrinho (o ótimo Lucas Hetges). Ainda que a dinâmica entre ambos seja boa - especialmente pelo carisma do jovem - o protagonista parece guardar uma série de segredos do passado que, aos poucos, virão a tona, e explicarão parte de seu ódio a tudo que o rodeia. Não é um filme fácil - é bom se preparar com os lenços, especialmente em certa cena que a ex-esposa, vivida de forma tocante por Michelle Williams, aparece. Mas jamais é excessivamente melodramático ou piegas.
6) Bingo: O Rei das Manhãs: o nosso enviado oficial para a categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar pode até não ter se classificado para a final. Mas é um filmaço! Vladimir Brichta está insano como o protagonista, inspirado na vida de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo, no programa matinal de nome homônimo exibido pelo SBT durante a década de 80. E a história não poderia ser mais convidativa para virar "A" cinebiografia. Ator de chanchadas, Barreto alcançou fama com o personagem. Mas a frustração por jamais ser reconhecido pelas pessoas por estar sempre fantasiado, aliada as dificuldades de relacionamento - com a equipe, com o filho - formaram o combo perfeito para uma vida hedonista e de muito uso de crack e cocaína. A recriação de época é perfeita e as referências divertirão todos os que cresceram na década. Assim como os coadjuvantes, entre eles o querido Domingos Montagner, em seu último trabalho.
5) Mãe! (Mother!): obra cheia de metáforas sobre o processo criativo (e sobre a concepção), a mais recente película do diretor Darren Aronofsky conta a história de um casal que vive em um imenso casarão no campo. Parece simples, mas ambos estão ali para que o marido (vivido por Javier Bardem) possa recuperar a inspiração para um novo livro de poesias. Já a esposa (Jennifer Lawrence, que será a injustiçada da vez na cerimônia do Oscar 2018) anda pelos cômodos fazendo pequenas arrumações, consertando alguma coisa aqui e ali. A chegada de dois visitantes - vividos com histrionismo por Ed Harris e Michelle Pfeiffer - virará a vida (e a casa) de ambos de ponta cabeça. Parece um suspense e até é um suspense. Mas a complexidade das subtramas, que falam de temas como submissão, fanatismo religioso, conflitos internos e sexualidade reprimida, entre outros, transforma esta em uma experiência cinematográfica única.
4) Corpo e Alma (Teströl és Lélekröl): classificado para a final na categoria Filme em Língua Estrangeira no Oscar, essa obra húngara vencedora do Urso de Ouro no último Festival de Berlim conta uma curiosa história de amor que começa num sonho, literalmente. Após um crime sexual ocorrer nas dependências de um frigorífico, uma psicóloga é acionada para identificar os responsáveis pelo ato. Em uma série de entrevistas percebe que duas pessoas relatam terem sonhos exatamente iguais. Nesse mundo paralelo de fantasia - ambos surgem como cervos em meio a uma densa (e gelada) floresta - eles acabam se encontrando diariamente todas as noites. Na vida real nem tudo será fácil na curiosa relação entre ambos. Ela é extremamente fechada. Ele é eventualmente grosseiro. Só que o amor idealizado sempre será diferente daquele que, de fato, vivemos, como nos mostra esse grande filme.
3) Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight): toda a confusão ocorrida no final da cerimônia do Oscar desse ano não apaga o fato de que a obra dirigida por Barry Jenkins merecia e MUITO a principal estatueta da noite de premiações. Película desenvolvida de forma fluída, sem exageros, nos mostra três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying da infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, essa verdadeira obra-prima moderna, realiza um belo estudo de personagem. Nunca estereotipado, Chiron é mostrado como alguém que alcança certo status, mas que guarda para si uma série de segredos, resultado de uma sociedade preconceituosa e racista. O terço final, absolutamente poético e romântico, está entre os grandes momentos do cinema moderno.
2) Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake): a burocracia para tentar acessar políticas públicas de amparo ao trabalhador não é exclusividade nossa, como nos mostra essa obra vencedora do última Palma de Ouro, em Cannes. Na trama, o sempre engajado diretor Ken Loach nos apresenta ao personagem-título que, após sofrer um ataque cardíaco e ser desaconselhado pelos médicos a retornar ao trabalho busca, de todas as formas, receber os benefícios concedidos pelo Governo àqueles que estão nessa situação. A jornada de Daniel Blake (Dave Johns) na busca por seus direitos será tão ultrajante, que a vontade do espectador será a de ENTRAR na tela pra tentar resolver de alguma forma a situação. Não bastasse o drama pessoal do protagonista, a obra ainda nos apresentará a cena mais emocionante do ano, envolvendo uma mãe solteira de dois filhos (vivida de forma tocante por Hayley Squires), que está morta de fome. Triste é pouco.
1) A Ghost Story: com ares de filme de terror, esse surpreendente exemplar do cinema alternativo nos mostra como é possível fazer uma grande obra com um fiapo de história. Na trama, Casey Aflleck é um sujeito que morre num acidente automobilístico e "retorna" para a sua antiga casa como um fantasma (bem naquele estilo que se vê nos desenhos animados, com lençol branco e olhos escuros) para tentar se reconectar de alguma forma com a viúva, vivida de maneira comovente por Rooney Mara. De saída parece um filme de terror ou de suspense convencional. Mas é muito mais do que isso: é um verdadeiro tratado sobre resiliência e sobre a capacidade (ou não) de superar perdas. Tocante, sutil, minimalista, amargo até dizer chega... essa é uma película diferente de TUDO o que já vimos. E, por isso, merece estar na nossa primeira posição.
Gostaram da lista pessoal? Qual filme que faltou nela? Diga pra gente! =D
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