De lá para cá foram mais dois registros - o bom Come Around Sundown (2010) e o chatinho Mechanical Bull (2013). Em ambos os casos as porções de southern rock mais cru e certamente mais direto que marcava presença nos trabalhos iniciais se encontrava, eventualmente, com o pós-grunge mais garageiro com um pé no alternativo, a marca dos álbuns mais recentes. Não chegava a ser exatamente uma esquizofrenia musical, mas, se os arranjos se fortaleceram no que diz respeito a complexidade - com mais efeitos, distorções e outros instrumentos - por outro lado o sentimento parecia meio confuso em relação ao caminho que a banda deveria seguir em seu sétimo disco. Se reinventar? Se apropriar de outras vertentes? Voltar as origens? Ou entregar um trabalho a moda do Kings Of Leon a que estamos acostumados? Bom, acertou MAIS quem arriscou esta última alternativa.
Poucas vezes o Kings Of Leon soou tão à moda do... Kings Of Leon, aquele mesmo a que estamos acostumados, como em WALLS, o seu mais recente trabalho. Uma audição despretensiosa no primeiro single, Waste a Moment, já nos dá aquela impressão de "já ouvi isso antes". Desde a guitarrinha certeira que abre a canção, somado ao baixão característico, até a entrada do vocal anasalado de Caleb Followill... tudo juntado até entrar um dos refrões mais ganchudos do ano, a impressão que temos é a de estarmos diante de uma espécie de Use Somebody 2. E a sensação não muda ao ouvirmos Reverend, Around the World, Find Me, Over. Sem medo de apresentar um material familiar, o quarteto consegue a rara proeza de lançar um álbum com 10 músicas com potencial radiofônico. Alguma vergonha nisso? Nenhuma. Isso é simplesmente garantir aos fãs mais algumas boas doses de diversão.
É evidente que o lançamento de mais uma boa coleção de canções pegajosas não representa, necessariamente, obviedade e há que se ter cuidado sobre isso. Ainda que a crítica esteja saudando WALLS - um acrônimo simpático para We Are Like Love Songs - como um retorno aos primórdios, há muito mais a ser considerado. Não é por acaso que a própria capa, um trabalho bem diferente do convencional, tem suscitado debates e comparações com a registrada pelo The Byrds em Byrdmaniax - certamente uma referência para os Followill. Da mesma forma a sonoridade aparentemente tradicional do quarteto, aqui e ali, é capaz de revelar elementos inovadores, e que atestam a relação dos Kings com outras vertentes. É o caso, por exemplo, da percussão latina e dos ecos quentes de Muchacho, uma das mais legais do disco.
Se apresentando ainda como uma espécie de voz da geração, Followill segue construindo as suas letras a partir do ponto de vista macro das angústias humanas, poucas vezes invadindo o íntimo, mas sempre falando sobre aquilo que efetivamente queremos ouvir. Assim, não é difícil encontrar versos que analisam relacionamentos complicados (Waste a Moment), amores nostálgicos e fracassados (Over) ou mesmo divagações cotidianas (Around The World). São lugares de voz que podem até parecer complexos em um primeiro momento, mas que se tornam de fácil identificação a partir daí. E que talvez também expliquem a verdadeira comoção que os irmãos causam em sua relação com os fãs. Bem longe de querer construir o disco do ano, o KOL segue lançando e agradando. Para eles não parece ser necessário mais do que isso.
Nota: 7,7