De: M. Night Shyamalan. Com Gael Garcia Bernal, Vicky Krieps, Thomasin McKenzie e Rufus Sewell. Drama / Suspense, EUA, 2021, 108 minutos.
Vamos combinar que a capacidade do diretor M. Night Shyamalan em produzir BOMBAS cinematográficas nunca surpreende. E, como uma espécie de paradoxo, os fãs de cinema parecem estar sempre aguardando o seu próximo projeto - e eu estou incluído entre eles. Acho que desde o ótimo A Dama na Água (2006) que o indiano não realiza algo que preste (e mesmo essa obra divide opiniões). Só que uma coisa é fato: por mais que falte qualidade na execução, a simples intenção de tentar fazer algo minimamente diferente faz com que passemos um baita pano pro cara. E eu confesso que quando assisti o trailer de Tempo (Old) - adaptação da HQ Castelo de Areia de Frederik Peeters e Pierre-Oscar Lévy (que eu não li) e que está disponível no Now -, fiquei genuinamente empolgado! Bom, mas aí chegou a hora de assistir e o resultado foi uma frustração monumental. Aliás, para um filme sobre a inesperada passagem do tempo, devo admitir o fato de que não via a hora de que a tortura acabasse de uma vez.
A realidade é que deve ser muito difícil assumir tantos papeis ao mesmo tempo no cinema - e Shyamalan tem essa predileção por produzir, dirigir, roteirizar e até atuar (nem que seja em pequenas pontas) em seus projetos. O caso é que, assim, parece que nada sai bem feito. A meu ver um dos principais defeitos está no roteiro, que não aproveita a sua premissa para a construção de uma experiência que poderia até, eventualmente, ser mais existencialista, mais reflexiva. Há uma ânsia por gerar movimentos - seja em travellings circulares, seja com personagens correndo aleatooriamente pela praia, seja em cortes secos que se alternam em sequências estendiiiiiidas com a câmera oblíqua. O que se soma com personagens que se comportam todos da mesma maneira - não há praticamente nenhum traço de personalidade que os diferencie uns dos outros -, e que ainda tomam as decisões mais estapafúrdias do planeta, diante do mal que os está assombrando.
Bom, pra quem ainda não sabe, Tempo é um filme sobre uma família que vai passar férias em um resort meio isolado. Aqui e ali um ou outro diálogo dão conta de que o casal Guy (Gael Garcia Bernal) e Prisca (Vicky Krieps) está em crise. Como forma de bonificá-los a gerência do local oferece uma visita à uma praia paradisíaca meio distante - os dois e mais os filhos são levados de van, em meio à mata fechada. O local em si - uma enseada em meio a natureza, com amplos rochedos - é realmente bonito. Junto de Guy e Prisca estão outras pessoas - mais três casais, uma criança, uma idosa, um cachorro. Tudo parece esquisito em meio ao silêncio - e nesse momento a sensação de que algo meio estranho está para acontecer até gera um tipo de tensão razoável. Não demora pra que todos ali percebam que há algo errado quando as crianças surgem inesperadamente mais velhas (e a idosa sofre uma parada cardíaca). O tempo passa mais rápido naquela ilha e, pior, parece ser impossível escapar dela. Magnetismo marítimo, um vírus fatal, invasão alienígena?
Não demora pra que o coletivo se torne um bando zumbificado de pessoas incapazes de encontrar alguma lógica naquilo que assistem diante de seus olhos. O estranhamento se perde em meio a um tipo de frenesi que não parece dialogar com os eventos. Os personagens são burros, e vão se tornando mais mesquinhos conforme o tempo passa. Os diálogos são constrangedores. Alguns são interrompidos no meio do nada e parecem não fazer nenhum sentido. Não há profundidade alguma. Há um médico alucinadamente reacionário que surta (Rufus Sewell), sua jovem namorada obcecada com a perda da beleza decorrente daquele dia que a está envelhecendo a olhos vistos (Abbey Lee) e há ainda um subaproveitamento total da ótima Thomasin McKenzie, que faz uma das filhas de Guy e Prisca. Em meio ao filme eu fiquei me perguntando como seria se a obra fosse dirigida por um Darren Aronofsky ou por um Yorgos Lanthimos. Quantas sensações de desconforto e de estranhamento não poderiam ser geradas com uma mão menos "pesada". Mas o filme é do Shyamalan. A tentativa é dele. E o mérito (ou a falta dele) também é. Fazer o quê. Fica para o próximo projeto. Que aguardaremos ansiosamente.
Nota: 3,0