E finalmente chegamos a nossa última - mas não menos importante - lista de melhores de 2015! O ano que recém terminou foi maravilhoso também para a música nacional. Foram grandes e diversos lançamentos que mostraram a pluralidade do nosso cancioneiro, capaz de ir (muito) para além daqueles estilos que "poluem" as rádios populares nos dias de hoje. E, o melhor: muitas delas com o acesso a um clique, seja por meio dos sites dos artistas ou através de plataformas de
streaming como o
Deezer ou o
Spotify. Ou seja, não tem desculpa pra não ouvir música boa! Esperamos que a nossa relação com os
25 Melhores Discos Nacionais de 2015, com direito a mais
15 menções honrosas, possa servir, humildemente, de referencial nesse sentido! Boa leitura e que venha 2016!
Menções honrosas
40) The Mozões - The Mozões
39) Diogo Strausz - Spectrum Vol. 1
38) Facção Caipira - Homem Bom
37) Pélico - Euforia
36) Cidadão Instigado - Fortaleza
35) Lia Paris - Lia Paris
34) Black Alien - Babylon VS. Gus Vol. 2 (No Princípio Era o Verbo)
33) Sara Não Tem Nome - Ômega III
32) Chico César - Estado de Poesia
31) Maria Gadú - Guelã
30) Mahmed - Sobre a Vida em Comunidade
29) BNegão e Seletores de Frequência - Transmutação
28) Jair Naves - Trovões a Me Atingir
27) Bike - 1943
26) Gal Costa - Estratosférica
25) Wander Wildner (Existe Alguém Aí?): o gaúcho hoje está com 55 anos. E a proximidade da tão famosa "terceira
idade" o tornou mais sério, o que se reflete nas letras políticas,
reflexivas e em alguns momentos até sombrias do novo registro. Em
entrevista a
Zero Hora, ele chegou a dizer que este se tratava de
seu primeiro disco conceitual - o que não deixa de ser verdade, já que
os trabalhos anteriores, na maioria dos casos, se configuravam como um
apanhado de canções que, ainda que soassem divertidas, roqueiras,
sacanas, muitas vezes representavam um recorte um tanto desconexo, em
uma análise mais global. "As músicas mostram a minha visão da sociedade
atual" falou o compositor ao periódico.
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24) P A R A T I (Superfície): também integrantes do grupo Cabana Café, os músicos Rita Oliva e Zelino Lanfranchi lançaram o seu elogiado primeiro trabalho com este projeto paralelo. Com um estilo que remonta a composições da MPB dos anos 60, o duo também flerta com a música moderna, especialmente ao utilizar emanações ao mesmo tempo oníricas e eletrônicas que aproximam a banda do
dreampop de grupos distintos como
Beach House ou
Mazzy Star. Divertido, leve, eventualmente empoeirado e com letras espertas sobre relacionamentos, este é um dos grandes registros desse ano, a despeito do formato enxuto, com apenas oito canções e cerca de 30 minutos.
23) SILVA (Júpiter): o capixaba SILVA decidiu descomplicar tudo com o seu terceiro registro de inéditas, o que pode ser uma barreira para aqueles que acreditam que a evolução natural de um músico está
diretamente relacionada ao alcance de uma certa complexidade nos versos e
de algum requinte na parte instrumental. Se pra você o que importa é a boa música, seja ela simples e de alcance universal ou rebuscada e hermética, sem problemas: SILVA bebe de referências tão diversas - de Lulu Santos a
Sampa Crew - e entrega um trabalho direto, com alta carga romântica e de batidas e versos simples. O que de maneira alguma significa algo menor em sua curta (e ótima!) carreira.
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22) Comunidade Nin-Jitsu (King Kong Diamond): juramos que quando vimos que os gaúchos tinham lançado disco novo - o anterior havia sido o discreto
Na Laje, no longínquo 2008 -, nossa primeira reação foi a de desconfiança. O
play foi dado com pouquíssima expectativa. Não que esperássemos um novo
Maicou Douglas Syndrome - das hoje já clássicas
Cowboy, Ah! Eu Tô Sem Erva, Patife, Não Aguento Mais, Arrastão do Amor,
entre outras. Mas o que queríamos mesmo era o mesmo clima leve,
descompromissado, chinelão. Queríamos aquela boa e velha
mistura criativa (!) de funk com rock, de pancadão com guitarras. E tá tudo lá, podem acreditar, num dos mais improváveis, sacanas e divertidos álbuns do ano.
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21) Siba (De Baile Solto): o mais legal do mais recente registro do pernambucano Siba é que, a despeito do clima regionalista - que não está apenas nos versos e no instrumental, mas também na capa - o músico fala sobre temas universais, colocando o dedo na ferida sobre temas os mais diversos, sejam eles relacionados a política, a causa social, abuso de poder. Sim, há o clima de bailão carnavalesco, de cultura local, de maracatu.
Toda vez que esmorecer a vontade de cantar/ Vai sempre um doido gritar “tamo afim”/ De festa enquanto dorme o inimigo enorme, neles em nós e em mim, canta o artista na ótima O Inimigo Dorme, emulando Chico Buarque em canções como To Me Guardando Pra Quando o Carnaval Chegar. Festa e reflexão andam lado a lado, definitivamente.
20) Bárbara Eugênia (Frou Frou): a carioca Bárbara Eugênia tem um jeito absolutamente irresistível de misturar música brega com o alternativo, trafegando sempre no limite daquilo que seria a música mais comercial - com aquele quê de Jovem Guarda - com aquela mais voltada para o consumo dos indies de plantão. E a abertura com a espetacular Besta -
Preste atenção no que eu digo/ Você me marcou com unhas e dentes/ E sangue/ Eu lhe tenho amor/ Eu lhe tenho amor/ Eu lhe tenho amor - já dá as caras, pavimentando o terreno para uma rica coleção de canções melancólicas e confessionais, com um caráter tão universal que é impossível o ouvinte não se identificar.
19) Jonas Sá (BLAM BLAM!): Perdidos na Noite, Gigolô, Safo, Sexy Savannah e, principalmente,
Chat Roulette. Os nomes das canções do mais recente registro do carioca já tão o tom sobre o divertidíssimo e sacana último tranalho! E o que dizer da capa? Some-se a isso um instrumental eletrônico, recheado de referências a programas de auditório,
games e filmes dos anos 80 e tá feito um caldeirão explosivo e criativo como poucas vezes se viu na música nacional recente. Jonas Sá definitivamente deixou pra trás o clima
Lulu Santos wannabe do seu disco anterior,
Anormal, para, à vontade, versar sobre aquilo que realmente lhe interessava!
Ouço a tua carne/ O som da respiração/ O ranger da cama/ Acende a minha emoção, canta Sá em Gigolô. Tirem as crianças da sala!
18) Letuce (Estilhaça): Se eu quiser eu tenho muita cara de pau/ De cu, de arara, de clown/ Se eu quiser eu tenho muita cara. É assim de cara limpa e de peito aberto, que Letícia Novaes canta a música Muita Cara, que integra o terceiro registro de inéditas do projeto Letuce, que ela divide com o parceiro Lucas Vasconcellos. Mantendo a tradicional mistura de MPB, com
lounge music e
soft rock, que permeia o trabalho do duo desde a estreia com o ótimo
Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim (2009), a dupla mantém a pegada melancólica na hora de falar de desilusões amorosas, ressacas matrimoniais ou mesmo medos diversos ligados a relação a dois. É pesado, doloroso, por vezes difícil. Mas ainda assim saboroso em cada detalhe.
17) Dingo Bells (Maravilhas da Vida Moderna): ainda que não seja
assim nenhum exemplar do outro mundo em termos de criatividade ou em
relação ao que se tem ouvido nas últimas décadas no rock gaúcho, o
primeiro trabalho da Dingo Bells merece (muita) atenção. Muito por conta do
trabalho dos produtores Felipe Zancaro (Apanhador Só) e Gustavo Fruet
(Chimarruts), capazes de levar o ouvinte a uma fácil navegação por meio
de um conjunto de canções essencialmente pop, muito próximas de artistas da
soul music dos anos 70 (oi Tim Maia?) e nunca vazias em seu
conteúdo. O clima é colorido, a despeito da capa acinzentada, e a viagem
versa sobre a vida depois dos 30 e sobre o "sentimento" dos
dinossauros, entre outros.
16) Wado (1977): o mais recente álbum do alagoano, cujo título faz referência ao ano de nascimento do cantor, é um
disco curto e direto - o que talvez torne esta sua obra mais
acessível até o momento. Ou seja, é uma excelente porta de entrada para
quem quiser se aventurar na excelente obra do músico! A novidade da vez é a
influência do rock, explicitada de cara na excelente (e pesada) faixa de
abertura,
Lar. As faixas seguintes,
Cadafalso (com participação de Lucas Silveira, da banda gaúcha Fresno), com seus jogos de palavras, e
Deita, a mais pop de todas, não deixam a peteca cair. Mas engana-se quem pensa que o disco inteiro seguirá na mesma
vibe, pois também há espaço para a beleza neste, que é um dos grandes registros do ano.
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15) Cícero (A Praia): o recente trabalho do cantor e compositor serviu para "resgatar" aquele Cícero
que andava perdido pelas introspecções balbuciadas e excessivamente
incompreensíveis do trabalho anterior, o irreconhecível
Sábado, para recolocá-lo novamente no
caminho daqueles que aprenderam a gostar dele não pelos recortes e
fragmentos concretistas, que servem apenas como demonstração de um
eventual virtuosismo, mas pela música pura e simples. Aquela que a gente
gosta de cantar junto nos shows. Que nos acompanha. Que significa. Que
nos faz mais leve a hora de limpar a casa ou de lavar a louça. Ainda que
ninguém seja obrigado a agradar o público e muito menos as rádios. Mas é que ficamos mal acostumados. E
estamos felizes com o "reencontro".
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14) Supercordas (Terceira Terra): só a letra arrebatadora de
Fundação Roberto Marinhos Blues & Co - canção quase autoexplicativa que abre o mais recente registro de inéditas dos cariocas - já seria o suficiente para colocar a banda de Pedro Bonifrate nessa lista. Com o clima colorido e onírico de sempre - talvez com uma nota mais baixa em relação aos trabalhos anteriores, especialmente o bucólico
A Mágica Deriva dos Elefantes (2012) - o grupo reforça a crítica social, especialmente aquela relacionada as grandes corporações e aos governos com ares totalitaristas, mas sem perder a ternura. O instrumental equilibra bem os ruídos e sintetizadores com as guitarras, aproximando-os de bandas tão distintas como
My Bloody Valentine, Pink Floyd, Mercury Rev e Clube da Esquina. É imperdível.
13) Ventre (Ventre): é na visceralidade e na delicadeza – como o próprio nome já sugere – que a banda carioca Ventre mostra suas cartas em forma de
power trio no seu homônimo álbum de estreia. A trinca baixo, guitarra e bateria só é simples na aparência. Ao dar uma entortada nas canções, a banda faz a cama para as letras que versam sobre amor de forma muitas vezes bastante intensa - vide as faixas Quente (
Mas eu gosto quando tudo fica quente/ Gosto de quando me falta o ar) e Pernas (
E quando você se tocar/ Deixa escorrer pelas pernas), por exemplo. Rock, MPB e até
stoner rock são estilos que podem ser encontrados aqui. Uma estreia de força de uma banda a se prestar atenção daqui em diante.
12) Rafael Castro (Um Chopp e Um Sundae): prolífico e extremamente talentoso, o músico paulista Rafael Castro deixa de lado as guitarras para abraçar os sintetizadores estilo anos 80 e a irreverência nesse divertidíssimo registro. Irreverência esta já explícita na capa do disco, onde ele encarna uma espécie de David Bowie tupiniquim. E as letras não deixam por menos: ouça Caetano Veloso e Bicho Solto -
Porque o bicho bom é bicho solto na natureza - para ter uma noção. Além do mais, tem a presença dos hits
Preocupado e
Motivo que deixariam o Ritchie e o grupo Dominó (ou Polegar, enfim) - pra se ter uma ideia da diversidade no caldeirão de referências - orgulhosos.
11) Ian Ramil (Derivacivilização): o teu papinho é de fudê. Eu tô sentado em casa vendo qualquer merda na tevê. Mas você se quiser pode cagá nesse artigo. Todas as frases aqui descritas fazem parte de alguma das canções do segundo registro do gaúcho - filho do cantor e compositor Vitor Ramil - que foi lançado nesse ano. Um tanto mais afiado (pra não dizer raivoso!) do que no suave primeiro trabalho, Ian abusa do estilo irônico das letras ao falar de política, indústria cultural, burocracia, vida veloz, violência urbana e relação amorosas (e sexuais). Bem distante daquilo que se convencionou chamar de "rock gaúcho", o músico apresenta ampla variação instrumental, capaz de lhe aproximar de artistas não distintos como Nação Zumbi e Radiohead, em um registro cheio de personalidade.
10) Karina Buhr (Selvática): é maravilhoso demais o contraste provocado pela voz adocicada e melodiosa da pernambucana na relação com os seus versos e mesmo o potente instrumental. É como se a Mallu Magalhães - e, vejam bem, isso é um elogio! - se tornasse selvagem, tropicalista, teatral.
Hoje eu não quero falar de beleza/ Ouvir você me chamar de princesa/ Eu sou um monstro, canta Karina na ótima Eu Sou um Monstro. O tom é caótico, instável, por vezes agressivo, e os temas, como não poderiam deixar de ser, são os mais variados, passando por política (e corrupção), diferenças sociais e feminismo.
De peito aberto, a artista entrega um trabalho enérgico, rápido, adequado aos dias de hoje, mas sem perder a eventual doçura, com direitos a refrãos absolutamente grudentos.
09) Ava Rocha (Ava Patrya Yndia Yracema): Ava Rocha não nega de quem é filha e em cada cantos dos versos e arranjos apresentados pela filha de Glauber Rocha, é possível perceber a influência do pai - um dos grandes expoentes do movimento Cinema Novo, famoso pelos filmes com críticas sociais inflamadas, caso de
Deus e o Diabo na Terra do Sol. E isso, de maneira alguma, quer dizer que a artista não tenha personalidade própria. Justamente ao atualizar os temas tratados no passado, a partir de uma roupagem moderna - ainda que, eventualmente, regionalista - é que se pode perceber a força desse registro, equilibrado entre emanações climáticas e excêntricas, com outras mais acessíveis e até radiofônicas. Um belo trabalho.
08) Jaloo (#1): Jaloo é um fanfarrão! Sarcástico, irônico, divertido, subversivo! Tudo o que de melhor pode servir pra que se faça não apenas boa música, mas também arte num sentido pleno - ainda que altamente acessível. Da capa que emula (pasmem), a frente do primeiro disco da excêntrica cantora
FKA Twigs, às letras improváveis, tudo resulta em composições magnéticas, que farão sorrir até o mais sisudo dos sujeitos. Com arranjos que remetem aos sintetizadores dos anos 80, modernizados pelo verniz do tecnobrega e da música regionalista, o paraense convida o povo pra curtir.
Ah, vem pra cá, balançar, se acabar/ Sente o som, tudo é bom/ Here we go, entra nessa e vem pra cá, canta o artista na abertura com Vem. Nem precisa convidar duas vezes!
07) Tulipa Ruiz (Dancê): Medida, forma, direção / Proporcional
aos fatos / Gostar assim sem previsão / É normal nesse caso / Aconteceu
de caber / Coube em mim. Coube em você / Calhou de encaixar legal /
Envergadura, estatura, peso e tal / Visto GG, você P. Tulipa está safadinha no disco Dancê - o que é ótimo! - e isso é algo que pode ser percebido nesse trecho da fantástica
Proporcional.
Apenas uma entre tantas gemas pop dessa que é uma das principais
artistas brasileiras da atualidade. O disco é puro balanço,
brasileirismo, sensualidade. Tem participação de João Donato e Felipe
Cordeiro, entre outros músicos de renome. A artista canta firme e faz o
ouvinte suar. E dançar. Ah e tem uma das melhores canções do ano:
Tafetá.
6) Lenine (Carbono): poucos artistas brasileiros (e atuais)
conseguem traduzir tão bem a amplitude de significados da música
nacional como Lenine. Suas canções são ao mesmo tempo regionalistas e
universais, simples e complexas. O mesmo vale para suas letras, para a
estética adotada em cada trabalho, para a sonoridade. No seu mais
recente álbum, o artista utiliza o carbono - elemento que compõe
basicamente toda a matéria - como uma metáfora as coisas que parecem
simples, mas no fundo guardam certa complexidade. O cantor - que é
engenheiro químico, nunca é demais lembrar! - se reúne com grandes nomes
nacionais, sendo a Nação Zumbi o mais marcante. E lança um discaço, recheada de clássicos modernos como Cupim de Ferro e A Meia Noite dos Tambores
Silenciosos.
5) Boogarins (Manual): reduzir o Boogarins a uma simples "banda de rock psicodélico" parece ser uma espécie de reducionismo capaz de não abarcar a grandiosidade do grupo capitaneado por Fernando Almeida. Sim, a banda possui em seu DNA as emanações coloridas (e setentistas), capazes de remeter a artistas distintos como
Os Mutantes e os
hypados do
Tame Impala. Mas conseguem, ao mesmo tempo, e com grande personalidade, rechear o seu segundo registro de inéditas com uma forte identidade própria, mostrando que Goiânia tem muito mais a oferecer além das famosas duplas com homens usando calças apertadas. Onírico e delicado, o trabalho se equilibra bem entre os momentos mais reflexivos e arrastados - como em Tempo - com outros que não fariam feio naquela rádio universitária descolada - casos de Avalanche e 6000 Dias (Ou Mantra dos 20 Anos).
4) Luneta Mágica (No Meu Peito): com o espetacular segundo registro, os amazonenses abraçam, definitivamente, os versos cantaroláveis e um instrumental mais fluído e de fácil
reconhecimento por parte do público. Como se estivesse pronta para
derrubar algum eventual muro, que ainda servisse de bloqueio para o
ouvinte. Evolução? Retrocesso? Uma banda, uma vez que inicia o seu
processo de constituição, precisa invariavelmente caminhar com segurança
naquela trilha que a torna conhecida com o decorrer de seus trabalhos?
Ou é importante se reinventar a cada registro, ampliando suas
possibilidades? Bom, não somos críticos de música profissionais, como
vocês já sabem, e não sei dizer se isso é bom ou se é ruim. Gosto demais
de música pop, em todas as suas vertentes e, assim como o primeiro projeto da
Luneta..., o segundo é
sensacional.
Leia a resenha completa.
03) Maglore (III): se o
Vamos Pra Rua já se constituía em um excelente exercício de
música pop, o mais recente trabalho ampliou ainda mais esse espectro,
consolidando o grupo como um dos mais criativos e interessantes da cena
atual. Ainda mais
homogêneo que o trabalho anterior, o disco se apropria de outras
vertentes, caso da nova onda psicodélica - que tá na moda agora - para
enriquecer ainda mais as melodias de suas canções. Nesse sentido, a
eventual melancolia que permeia o registro, acaba absorvida pelos
arranjos multicoloridos e ensolarados - sendo, nesse sentido, impossível
ficar alheio ao potencial radiofônico da ótima
Se Você Fosse Minha.
Outra músicas como Mantra, Dança Diferente, Ai Ai e Café Com Pão
certamente arrancarão do eventual novo ouvinte aquele sorriso de
satisfação. Vida longa ao Maglore!
02) Elza Soares (A Mulher do Fim do Mundo): a veterana carioca tem 85 anos, mais de 30 discos lançados, e ainda tem gás pra fazer esse espetacular trabalho, cantando com a fúria e a voz rouca de sempre, como se fosse uma novata!
Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida/ Na avenida dura até o fim/ Mulher do fim do mundo/ Eu sou e vou até o fim cantar, versa Elza na canção título, já dando a letra sobre suas intenções. Mas esse magistral trabalho é muito mais! Temas como violência contra a mulher (na divertida Maria da Vila Matilde), sexualidade (na autoexplicativa Pra Fuder) e vida em comunidade (Firmeza?!) são abordados em um álbum recheado de suingue, brasileirismo e malandragem numa mistura explosiva, capaz de atrair, inclusive novos ouvintes. Simplesmente fundamental!
01) Emicida (Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa): quem vê a delicada (e ótima!)
Passarinhos - parceria com a cantora Vanessa da Mata - sendo trilha sonora de propaganda de TV, pode até se enganar em relação ao ótimo segundo registro - fora as
mixtapes - do
rapper paulista. Sim, há espaço para as músicas mais radiofônicas, esperançosas, dançantes, mas também permanece reservado para a crítica social e para o diálogo com as minorias - sejam elas gays, negros, pobres, dependentes químicos, trabalhadores, mulheres - uma grande fatia das canções desse irretocável álbum. E músicas como as magníficas 8, Boa Esperança e Mandume mandam o recado amparadas por batidas menos complicadas, rimas bem elaboradas e uma clara aproximação em relação aos ritmos africanos. Com
Sobre Crianças... Emicida chega ao primeiro lugar aqui no nosso humilde Picanha, ao mesmo tempo em que se consolida como um dos principais artistas da música nacional.
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