quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Curta Um Curta - Absorvendo o Tabu (Period. End Of Sentence)

"Não acredito que um curta sobre menstruação ganhou o Oscar". Essa foi a divertida reação da diretora Rayka Zehtabchi, ao receber no último domingo a estatueta dourada pelo sensacional documentário em curta-metragem Absorvendo o Tabu (Period. End Of Sentence) - que está disponível na Netflix. A manifestação de Rayka não é por acaso e diz muito sobre o assunto de sua obra - já que em muitas culturas ainda há um grande receio em se falar sobre o tema. Acompanhada de uma pequena equipe de filmagem, ela foi a uma aldeia da Índia para perguntar aos moradores locais o que sabiam sobre menstruação. Respostas como "uma doença que afeta as mulheres" ou a "presença de maus espíritos" foram ouvidas, o que também serviu para denunciar não apenas o patriarcalismo, como o completo descaso com uma questão de saúde pública, com mulheres constrangidas tendo de se esconder durante o período. A solução? Por meio de um programa que ficou conhecido como The Pad Project foi instalada na aldeia uma máquina para a fabricação de absorventes caseiros. O negócio foi uma revolução: mulheres passaram não apenas a se sentir mais seguras, mas também a ter emprego, renda e, consequentemente, aumento de autoestima. O filme é comovente, leve, divertido. E passa voando!




Cinema - Dogman (Dogman)

De Matteo Garrone. Com Marcello Fonte, Edoardo Pesce e Adamo Dionisi. Drama / Policial, Itália / França, 2018, 102 minutos.

Esqueça a Itália dos cartões postais, do romance e da valiosa gastronomia: no cinema de Matteo Garrone definitivamente não há espaço para o glamour ou para a estética higienizada vendida em pacotes turísticos. Assim, o que surge em tela é a cidade como um microcosmo para uma sociedade individualista, violenta e emburrecida. E que luta para ser feliz (e por um prato de comida), chafurdando nos restos como se fossem cães de rua. Já havia sido assim em Gomorra (2008), seu mais famoso filme. E é agora também em Dogman (Dogman), que faz a crítica a uma coletividade doente a partir da história do franzino Marcelo (Marcello Fonte), sujeito que trabalha em uma espécie de empresa para lavagem de cachorros - chamar de pet shop seria gourmetizar o ingourmetizável - localizada em uma cidade litorânea, inacreditavelmente decadente, fria, desalentadora.

A vida não é fácil para Marcello, mas ela vai indo mais ou menos bem: é um sujeito bem quisto pelos amigos e vizinhos que encontra nos almoços do restaurante da periferia e nas noites de futebol. É visitado vez ou outra pela devotada filha, já que compartilha a guarda desta com a ex-esposa. Só que pra tentar equilibrar um pouco mais as finanças, Marcello também trafica cocaína. E um de seus principais "clientes" é o brutamontes Simoncino (Edoardo Pesce). Simo, como é conhecido, é daqueles que não paga imposto pra se meter em confusão. Explosivo como se fosse um pitbull ensandecido - não serão poucas as brigas que resultarão até em tentativa de assassinato -, envolverá Marcello em vários delitos. Em um deles a Casa de Penhores que fica ao lado do estabelecimento do protagonista acabará invadida. E, inevitavelmente, sobrará para o vizinho, que vai parar na prisão.


A metáfora dos cães e suas mais diversas personalidades não será por acaso nessa pequena obra-prima baseada em fatos reais (a história teria ocorrido nos anos 80) e que foi a enviada da Itália para a mais recente edição do Oscar. Marcello começa o filme tentando lavar, a muito custo, um buldogue irritado. Com calma e paciência, "atacando" pelos cantos, amansará a fera e alcançará o objetivo. Na vida real a história não vai ser muito diferente: após a saída da prisão que lhe devasta a vida e lhe leva praticamente a falência, Marcello se reaproximará novamente de seu algoz - ludibriando-o com o seu "pedaço de carne" preferido. Será nessa hora em que a caça se transformará em caçador, numa reviravolta não menos do que arrebatadora. E que reconfigurará a Lei de Talião para aquele cenário.

É um filme triste, desesperançoso, amargo. Não há respiro em meio ao cenário úmido, envelhecido e acinzentado da cidade - e Garrone reforça essa condição com planos abertos que mostram um mundo sujo, quase grotesco. O trabalho de fotografia é fenomenal - e vale reparar como as tonalidades empalidecidas e a ausência total de cores fortes tornam a experiência ainda mais sufocante. E há a dupla central de atores que entrega uma caracterização não menos do que formidável. Fonte, sujeito pequeno, meio curvado, com dentes tortos e olhos expressivos parece estar sempre no limite entre a tenacidade e o medo (como mostra a "divertida" cena em que ele tenta em vão quebrar uma motocicleta). Não por acaso foi alçado a Melhor Ator no último Festival de Cannes pelo papel. Já Pesce é daqueles que assusta só de olhar, imprimindo um realismo e um naturalismo aterradores em sua personificação. "O homem é o bicho do homem", afinal: e é esse velho provérbio que esse ótimo filme evoca.

Nota: 9,0

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Disco da Semana - Terno Rei (Violeta)

Não são todas as bandas que conseguem colocar as suas referências/influências no "liquidificador" para retirar de lá uma sonoridade nova, criativa, cheia de personalidade - e é preciso que se diga, o Terno Rei faz isso com FOLGA. Não por acaso, assim que tem início os primeiros acordes da adocicada Yoko - canção que abre Violeta, o terceiro registro do coletivo paulistano - já nos sentimos absolutamente familiarizados com aquilo que ouvimos. É como se o grupo nos afagasse com o perfume nostálgico das emanações oitentistas, capazes de equilibrar um instrumental eminentemente primaveril, com as letras sobre desilusões amorosas, relacionamentos tensionados ou mesmo saudade daquilo que não foi - enfim, os dilemas afetivos modernos traduzidos à perfeição.

Continuidade natural do material apresentado no igualmente belo Essa Noite Bateu Com Um Sonho (2016), o presente disco limpa um pouco mais arestas - parecendo ser melhor produzido e menos enfumaçado. Não que essa seja necessariamente uma qualidade, mas o caso é que Ale Sater (voz e baixo), Greg Vinha (guitarra), Bruno Paschoal (guitarra) e Luís Cardoso (bateria) parecem assim dialogar mais facilmente com o ouvinte, seja nas melodias harmoniosas prontinhas para tocar nas rádios mais descoladas, seja na naturalidade com que os versos românticos escoam pelo registro, de forma fluída, orgânica. Às vezes até parece que Sater está conversando com quem ouve. Uma conversa franca, nem sempre fácil, eventualmente pessimista (ainda que haja luz no fim do túnel).


"Cansamos bastante da estética dos últimos dois discos, então (mudar) foi uma vontade natural. Buscamos mais elementos e mais repertório", explicou Sater em entrevista à Rolling Stone Brasil. O abandono da estética mais lo-fi (ou shoegaze) também passa pela adição de sintetizadores e teclados que surgem de maneira luminar em canções como São Paulo e Roda Gigante. O abraço ao pop (algo que só foi possível agora, que a banda parece ter encontrado definitivamente o seu caminho, como eles mesmos admitiram em entrevistas), também passa pelas letras diretas e pelos refrões grudentos, como no caso da soturna 93 (Quanto tempo faz que eu esperei? / Vou aceitar / As flores entreguei lá no seu prédio /No primeiro andar).

Ainda que a cada audição seja absolutamente impossível não pensar em bandas como The Cure e The Smiths ou mesmo artistas recentes como o Real Estate, o caso é que Violeta é um trabalho que foge da simplificação. É o rock nacional reivindicando espaço em um registro que é pequeno apenas em seu formato - são 11 músicas e pouco mais de 30 minutos -, mas que é grande como experiência criativa de um coletivo em franco amadurecimento. A estrada é generosa e você não quer ver / Que eu já não tenho medo de voar canta Sater na libertadora e viciante Medo. Os relacionamentos que não funcionaram ficam pra trás em meio a sintetizadores bem encaixados. Mas a metáfora para uma banda que já olha pra frente, é inevitável.

Nota: 9,0

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Na Espera - O Irlandês (Filme)

É provável que não haja nenhum filme no MUNDO que seja mais aguardado do que O Irlandês (The Irishman) - produção da Netflix ainda sem data de lançamento, que será dirigida por ninguém menos do que Martin Scorsese. Bom, a comoção não é por acaso e começa já pelos nomes que compõem o elenco, estando entre eles Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, Harvey Keitel e Bobby Canavale, entre outros. Depois, tem a trama sobre um veterano de guerra cheio de condecorações, que trabalha como assassino número um para a máfia, que é promovido a líder sindical e passa a ser investigado após um ex-presidente de uma associação desaparecer misteriosamente.


Sim, a gente já viu filmes sobre a máfia dirigidos por Martin Scorsese - Os Bons Companheiros (1990), Cassino (1995), Os Infiltrados (2006) - e era tudo filme FODA! Por isso o lançamento de um simples teaser em que não aparece absolutamente nada, no dia de ontem, mexeu com as redes sociais e com o coração dos cinéfilos. Há pouca informação. Não há quase imagens da obra e sequer se sabe a data de lançamento da película. Mas nada disso importa. É muito provável que daqui a um ano a gente esteja assistindo as premiações do Oscar, com muitos dos nomes envolvidos na produção nominados - e vou arriscar aqui um palpite de que o Joe Pesci estará entre eles (não sei por quê, mas algo me diz). No mais, é aguardar!

10 Considerações Sobre a Cerimônia do Oscar 2019

Sim, o Oscar foi há dois dias mas ainda estamos vivendo a ressaca da maior premiação do cinema! A noite que concedeu a Green Book: O Guia o prêmio máximo foi de boas surpresas e, aqui, resgatamos alguns acontecidos que merecem ficar na memória. Boa leitura!

#1 Ausência de um apresentador fixo. Vamos combinar que não fez a mínima falta! Ao contrário, a impressão que ficou foi a de que a cerimônia foi até mais dinâmica. Quando Amy Poehler, Maya Rudolph e Tina Fey surgiram no palco, na abertura da noite - elas já apresentaram várias vezes o Globo de Ouro e outras premiações -, a maioria das pessoas deve ter pensado que elas seriam as hosts. Mas em meio a comentários políticos e brincadeiras com os indicados, elas mesmas tiraram sarro dessa situação, o que acrescentou uma "leveza". Foi um começo bacana para um Oscar com menos enrolação!


#2 Adam Lambert e o Queen. Falando em abertura, vamos combinar que não poderia haver timing mais perfeito para uma apresentação da atual formação do Queen em uma cerimônia do Oscar. Se alguém estava achando que o troço ia ser sonolento, se enganou retumbantemente. Foi o indicativo para se ajeitar no sofá, para uma noite que prometia!


#3 Distribuição de prêmios. Eu particularmente adoro quando não há um Titanic - ou algum outro bicho-papão das premiações, que vai levar 253 estatuetas para casa, deixando todos os outros filmes a ver navios. E o equilíbrio tem sido a tônica das últimas edições - e até mencionamos esse fato nas considerações do ano passado. Pra se ter uma ideia, o maior premiado - ao menos em número de estatuetas - foi o Bohemian Rhapsody, com quatro. Pantera Negra, Roma e Green Book: O Guia levaram três prêmios pra casa - alguns com mais envergadura, como no caso da obra de Peter Farelly, que levou o prêmio máximo da noite. Outros filmes nominados na categoria principal - casos de Vice, A Favorita, Nasce Uma Estrela e Inflitrado na Klan - também tiveram um Oscar para chamar de seu. Mesmo que fosse pequenininho - como no caso de Vice, que levou por Penteado e Maquiagem.


#4 Diretores mexicanos. Se não foi possível Roma faturar a principal estatueta da noite, derrubando de vez o MURO do preconceito do Governo Trump, ao menos a categoria Diretor tem falado já há alguns anos a língua espanhola. Nas últimas seis premiações, foram cinco vitórias de diretores que vem da terra do Chaves e do Jorge Campos - dois para Alfonso Cuarón (além de Roma, Gravidade em 2014), dois para Alejandro Gonzales Inãrritu (Birdman, em 2015 e O Regresso, em 2016) e um para Guillermo Del Toro (A Forma da Água, em 2018). Aliás, Cuarón estabeleceu um outro recorde ao levar para casa também as estatuetas nas categorias Fotografia e Filme em Língua Estrangeira. No discurso de agradecimento, uma lembrança as mais de 70 mil empregadas domésticas sem direitos trabalhistas, que vivem no País.


#5 Spike Lee, finalmente. Falando em diretores, disparado um dos melhores momentos da noite foi a vitória de Spike Lee pelo Roteiro Adaptado de Infiltrado na Klan. Com direito a pulo no colo do amigo Samuel L. Jackson - que apresentava a categoria - a discurso comovente, tudo foi muito legal, fazendo a plateia vibrar. "Os ancestrais vão ajudar a voltarmos a ganhar nossa humanidade. As eleições de 2020 estão chegando, vamos pensar nisso. Precisamos nos mobilizar, estar do lado certo da história. É uma escolha moral. Do amor sobre ódio.", lembrou em seu discurso, que foi concluído com uma espécie de autorreferência a seu principal filme: "Vamos fazer a coisa certa". Sensacional foi pouco.


#6 Pantera Negra e a representatividade. Ainda que a maioria dos membros da Academia - parece que mais de 70% - seja (ainda) formada por homens brancos e conservadores, cada vez mais os prêmios têm sido dados por merecimento MESMO. A vitória de Ruth E. Carter pelo belíssimo Figurino afrofuturista de Pantera Negra foi um marco, já que ela foi a primeira mulher negra na categoria. O mesmo tendo ocorrido com Hannah Beachler, na categoria Direção de Arte. Se ainda havia alguma dúvida em relação à importância de Pantera Negra - e de suas indicações na maior premiação do cinema - acho que, agora, elas estão sanadas.



#7 Olivia Colman e a maior surpresa da noite. Essa foi pra derrubar TODOS os apostadores do Bolão, que davam como certa a vitória de Glenn Close na categoria Atriz, pelo seu elogiado trabalho em A Esposa. Era sua sétima indicação e todos imaginavam que havia chegado a hora dela. Restou os aplausos a Olívia Colman e sua entrega comovente como a marquesa de A Favorita. Aliás, ficou a impressão de que nem ela esperava essa vitória, já que ficou toda embananada na hora de discursar (ainda que o momento tenha sido genuíno e "sincero", como na parte em que ela lembrou aos filhos o fato de que aquilo nunca mais ocorreria de novo)!


#8 Shallow e a shippagem de Bradley e Gaga. A vitória de Shallow como Canção Original por Nasce Uma Estrela era mais do que certa - mas o que fica mesmo é a apresentação ao vivo de Bradley Cooper e Lady Gaga, que encarnaram carinhosamente os personagens do filme, causando verdadeira comoção nas redes sociais. Não por acaso, Gaga se dirigiu diretamente a Cooper na hora de celebrar o prêmio: "não haveria outra pessoa no mundo que eu pudesse cantar essa canção que não fosse você", resumiu.



#9 Mahershala Ali e os 100% de aproveitamento. Ninguém deu muita bola pra vitória de Mahershala Ali pelo seu papel em Green Book: O Guia, até mesmo porque ela era dada como certa. mas ela estabelece uma espécie de recorde pessoal: em duas indicações na categoria Ator Coadjuvante, ele faturou as duas - anterior havia sido por Moonlight (2017). Cem por cento de aproveitamento não é coisa pra qualquer um!


#10 Period. End Of Sentence e uma lembrança. Pouca gente sabe, mas o vencedor na categoria Documentário em Curta Metragem está disponível lá na Netflix - pode procurar, com o nome em português: Absorvendo o Tabu. No trocadilho sobre o nome original - que pode significar menstruação ou ponto final - um lembrete durante o discurso da ganhadora Melissa Berton: "um ponto final (period) jamais deveria encerrar a educação de uma garota."


E pra vocês? Quais os grandes momentos da noite? =D

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Especial Oscar 2019 - Nossas Apostas

A "safra" pode não estar lá essas coisas, mas não adianta: época do Oscar a gente sempre para tudo para assistir os filmes indicados na maior premiação do cinema! E, como já é de praxe, na semana que antecede a divulgação dos vencedores, a gente faz as nossas apostas para as 10 principais categorias. Vejam se vocês concordam e deem os seus pitacos! Lembrando que o Oscar ocorre no próximo domingo, dia 24!



FILME

As prévias mostram que a disputa está acirrada entre Roma e Green Book: O Guia. Na premiação do Sindicato dos Produtores a obra do diretor Peter Farrelly deixou o filme dirigido por Alfonso Cuarón para trás. O mesmo ocorreu no Globo de Ouro, com Roma tendo saído com as mãos abanando. Mas o Oscar tem seus critérios próprios e tá todo mundo sonhando com a possibilidade de ver um filme mexicano faturar a premiação máxima na terra em que há um presidente que quer fazer um muro na divisa entre Estados Unidos e México. De quebra, Roma ganhou diversas premiações menores - como o Critics Choice Awards - o que o coloca em leve vantagem. E ainda tem o A Favorita, com aquele estilão classudo, que corre por fora.

Quem eu gostaria que ganhasse: Roma
Quem ganha: Roma



DIRETOR

Alfonso Cuarón, por Roma ganhou o prêmio do Sindicato dos Diretores, o que é SEMPRE um ótimo termômetro. Além de já ser experiente nas premiações - faturou também a estatueta por Gravidade (2014). Na realidade o único diretor que poderia tirar o prêmio das mãos do mexicano anda meio de mal com a Academia - no caso, Spike Lee, de Infiltrado na Klan, que aderiu a campanha #oscarsowhite e sequer foi receber um prêmio honorário, conquistado recentemente.

Quem eu gostaria que ganhasse: Alfonso Cuarón, Roma
Quem ganha: Alfonso Cuarón, Roma



ATOR

Taí uma categoria que tem deixado os apostadores de cabelos em pé. Quem ganha afinal de contas: Rami Malek por sua irresistível composição em Bohemian Rhapsody? Ou Christian Bale por sua camaleônica transformação em Dick Cheney, em Vice? No Sindicado dos Atores, o prêmio ficou com Malek, que também ganhou o Globo de Ouro na categoria Ator em Filme de Drama. Só que Bale ganhou a premiação na categoria Ator em Filme de Comédia Ou Musical, além de ter recebido a distinção do Critics Choice Awards. Bom, a única coisa que sabe é que qualquer coisa diferente é ZEBRAÇA!

Quem eu gostaria que ganhasse: Christian Bale, Vice
Quem ganha: Rami Malek, Bohemian Rhapsody



ATRIZ

Parece que finalmente chegou a vez de Glenn Close ganhar a estatueta, em sua sexta indicação. Aliás, essa é uma das barbadas da noite, já que todas as demais atrizes estão estreando nesta categoria. Se há alguém que corre por fora é a Olivia Colman, pela sua formidável composição da marquesa em A Favorita. O resto vai aplaudir bonito a Glenn Close, que de quebra ainda faturou o prêmio do Sindicato dos Atores.

Quem eu gostaria que ganhasse: Glenn Close, A Esposa
Quem ganha: Glenn Close, A Esposa



ATOR COADJUVANTE

Mahershala Ali está muito próximo de estabelecer um recorde: está em sua segunda indicação e, ao que tudo indica, será o agraciado pela sua atuação cheia de personalidade como o Dr. Shirley, de Green Book: O Guia. Aliás, ele faturou a premiação do Sindicato dos Atores, normalmente um bom termômetro, assim como o Globo de Ouro. As caracterização meio mornas de Sam Rockwell em Vice e Adam Driver em Infiltrado na Klan, aumentam as chances de Ali. Aliás, acho que essa é mais uma das barbadas da noite, afinal.

Quem eu gostaria que ganhasse: Mahershala Ali, Green Book: O Guia
Quem ganha: Mahershala Ali, Green Book: O Guia



ATRIZ COADJUVANTE

Ainda não assistimos o Se a Rua Beale Falasse mas tá todo mundo falando que a Regina King está FODA nesse filme - ainda que o Sindicato dos Atores tenha dado o prêmio pra Emily Blunt, por Um Lugar Silencioso, sendo que ela sequer está nominada para o Oscar. De qualquer maneira o prêmio no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards a coloca um degrau a frente das demais. Só quem pode tirar o prêmio de King é Rachel Weisz que está (quase) insuperável em A Favorita.

Quem eu gostaria que ganhasse: Rachel Weisz, A Favorita
Quem ganha: Regina King, Se a Rua Beale Falasse (ou será que Weisz vira no final?)



ROTEIRO ORIGINAL

Não bastasse ser uma das minhas categorias preferidas, neste ano os melhores filmes americanos estão nela. Vice, Green Book: O Guia, A Favorita, Roma... todos disputam as atenções com o ótimo No Coração da Escuridão correndo por fora. No Sindicato dos Roteiristas um filme chamado Oitava Série (pasme!) faturou. O que deixa tudo mais nebuloso. Mas nesse caso acho que a Academia trabalha com a hipótese do prêmio de consolação - o que já ocorreu em outros anos, o que deve conferir a A Favorita, a vitória. Até mesmo pelo fato de o roteiro ser ótimo - não por acaso é a primeira vez que o grego Yorgos Lanthimos filma um roteiro que não é seu.

Quem eu gostaria que ganhasse: Roma
Quem ganha: A Favorita



ROTEIRO ADAPTADO

O Sindicados dos Roteiristas conferiu o prêmio ao (ainda) desconhecido Poderia Me Perdoar? - deixando pra trás Infiltrado na Klan e Nasce Uma Estrela. Mas ainda que este seja um belo indicativo, acho que no fim das contas o "peso político" de Spike Lee ainda falará mais alto.

Quem eu gostaria que ganhasse: Infiltrado na Klan
Quem ganha: Infiltrado na Klan



FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

Com todo o falatório em cima de Roma alguém ainda tem alguma dúvida? O polonês Guerra Fria é belíssimo, mas não é páreo.

Quem eu gostaria que ganhasse: Roma
Quem ganha: Roma



ANIMAÇÃO

Em um dos melhores termômetros, o Annie Awards, o vencedor foi o Homem Aranha no Aranhaverso (única animação que não assistimos), obra que faturou mais uma dúzia de outras premiações. Se fosse votar com o coração, o favorito é o japonês Mirai. Uma preciosidade - a resenha está mais abaixo aqui no site.

Quem eu gostaria que ganhasse: Mirai
Quem ganha: Homem Aranha no Aranhaverso


Uma ótima cerimônia do Oscar para todos nós! =D

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Cinema - Green Book: O Guia (Green Book)

De: Peter Farrelly. Com Viggo Mortensen, Mahershala Ali e Linda Cardellini. Comédia dramática, EUA, 2019, 130 minutos.

A mensagem passada pelo filme Green Book: O Guia (Green Book) já deveria estar mais do que decorada: não se mede caráter pela cor da pele. Mas estamos no País que alça uma aberração política como Jair Bolsonaro à presidência - legitimando assim o discurso de ódio, a intolerância e, consequentemente, o preconceito. O mesmo vale para os Estados Unidos de Trump. Há uma onda conservadora, reacionária que faz com que as pessoas percam a vergonha de, por exemplo, entrar lá na página da apresentadora Maria Julia Coutinho, que agora está na bancada do Jornal Nacional, para dizer verdadeiras obscenidades para ela, pelo simples fato de ela ser negra. Sim, o racismo continua sendo um gravíssimo problema de nossos tempos e uma obra leve e emocionante como Green Book serve para, no mínimo, nos fazer refletir. Nos fazer lembrar de que o racismo estrutural persiste e que está bem longe de ser solucionado.

Bom, no caso do filme de Peter Farelly - que dirigiu Debi & Lóide ao lado irmão Bobby, em 1994 - estamos no ano de 1962. Na história baseada em fatos reais Viggo Mortensen é Tony Lip, sujeito meio estourado que trabalha fazendo bicos como segurança em casas noturnas. Italiano morador do Bronx, em Nova York, herdou da família gringa o conservadorismo das "famílias de bem", extremamente religiosas, intolerantes e MUITO racistas (como fica provado em uma cena envolvendo copos de água, ainda no começo do filme). Com o Copacabana - boate em que estava trabalhando - fechada por tempo indeterminado, Tony se vê sem muita saída para honrar as suas contas. Mafiosos locais lhe oferecem emprego, mas o que balança mesmo ele é uma proposta irrecusável do excêntrico pianista Don Shirley (Mahershala Ali). Só que tem um problema: o seu futuro empregador é negro.


É claro que, colocadas algumas condições, ele aceitará o emprego que lhe exigirá uma temporada de dois meses ao lado do artista - longe da esposa Dolores (Linda Cardellini) e dos filhos - em uma série de apresentações no Sul dos Estados Unidos. E não é preciso ser nenhum adivinho para supor que essa jornada transformará a vida de ambos. De personalidades distintas - Shirley é um intelectual, arrogante, de modos refinados e discretos ao passo que Tony é histriônico, um brutamontes que só pensa em comer -, a dupla saltará aos poucos dos "confrontos de ideias" iniciais para uma amizade que se fortalecerá conforme a obra avança. Ainda que a temática do racismo se sobressaia, será interessante notar como cada um deles será capaz de crescer a partir desse intercâmbio meio forçado, que juntará experiências de vida que, no fim das contas, nem são tão distintas assim. Da mesma forma será interessante notar, aos poucos, as motivações por trás do esforço de Shirley em contratar Tony.

Indicada ao Oscar, a obra é o feel good movie por excelência: nos faz rir, nos emociona, tem ótima trilha sonora e sequências absurdamente divertidas (como naquela em que Tony "ensina" Shirley a comer frango frito). Mas é um filme sobre um assunto sério e o diretor sabe abordá-lo sem carregar as tintas, nos fazendo pensar. E há Mortensen e Ali que estão fenomenais em suas caracterizações - aliás, o segundo está muito perto de conseguir uma proeza histórica: faturar a sua segunda estatueta dourada em sua segunda indicação. Se a película não é tão potente na discussão do racismo se comparada a clássicos como O Sol É Para Todos (1962) ou o recente Corra! (2018), pensar que o segregacionismo (e o título original do filme tem muito a ver com isso) era coisa de 60, 70 anos atrás, é algo que nos impacta. Ainda que a sequência de eventos vista na tela nos encha de esperanças por dias melhores.

Nota: 9,0



terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Tesouros Cinéfilos - Mirai (Mirai)

De: Mamoru Hosoda. Com Moka Kamishiraishi, Haru Huroki e Gen Hoshino. Animação, Japão, 2018, 98 minutos.

Não bastasse o traço absurdamente irresistível do diretor japonês Mamoru Hosoda, Mirai (Mirai) ainda é uma obra-prima sobre relações familiares e de amadurecimento a partir de eventos "traumáticos". O evento traumático, no caso do jovem Kun (Moka Kamishiraishi), é a chegada ao mundo da irmãzinha que dá nome ao filme. Acostumado a ser o centro das atenções e o objeto de permanente afeto dos pais, Kun perceberá que a chegada de Mirai modificará esse cenário, com ele ficando em segundo plano. Não adiantará espernear, gritar, chorar, dizer que odeia a tudo e a todos, jogar os brinquedos longe e toda a sorte de outras desobediências: a atenção dos pais estará voltada, quase que exclusivamente, para este novo ser. E Kun, assim, experimentará pela primeira vez o sentimento de ciúme/inveja com o qual ele, sendo uma criança de seis, sete anos, não saberá lidar.

Após uma discussão doméstica em que Kun acerta a irmã mais nova na cabeça com um trem de brinquedo, o menino sai correndo para fora de casa desesperado - num misto de envergonhado e irritado com a situação (aliás, muita gente criticou o filme por simplesmente não suportar o berreiro e, consequentemente, o comportamento infantil e mimado de Kun). Será no quintal de casa, que o garoto acessará uma espécie de portal mágico que lhe possibilitará encontrar versões alternativas de seus parentes - como a sua irmã na fase adolescente, a sua mãe como uma criança de sua idade ou mesmo o seu bisavô embrutecido pela guerra que se avizinha. Até o cachorro Yukko aparecerá em uma curiosa versão humana. Todos eles com algum tipo de "mensagem" para o garoto.


Será no contato com cada uma dessas pessoas que formarão, numa espécie de emanação metafísica para o futuro, a genealogia de Kun, que aos poucos, compreenderá a sua existência no mundo, podendo assim suportar melhor as dores, os medos, as angústias. A cada ida para esse mundo mágico ele retornará um pouco mais compreensivo, menos rabugento e mais tolerante. Crescer, afinal de contas não é fácil. Amadurecer, pior. Mas Kun perceberá dessa maneira que assim é a vida e que caberá a ele aceitar a condição que se estabelece, se habituando a ela. E se nos colocarmos no lugar dele, quantas não foram as dores e sofrimentos que nos foram impostos em nossa juventude e o quanto não aprendemos com cada uma dessas experiências? A vida nos diz "não" muitas vezes e assim também será para Kun que, entre idas e vindas, aprenderá a andar de bicicleta e até mesmo a se virar quando se sentir perdido no mundo mágico.

Não é preciso dizer que a cultura oriental está em toda a parte e mesmo ela é apresentada de forma fluída, orgânica, o que não compromete a compreensão de quem assiste do outro lado do mundo. Os traços muito bonitos da animação possuem pequenas nuances, com cores que reforçam objetos mais importantes e cenários mais empalidecidos ou coloridos de acordo com o humor de nosso protagonista (o mesmo valendo para as figuras, assustadoras ou não, que se descortinarão na sua frente). Tratando ainda, de raspão, por temas relacionados à gênero e maternidade - repare como, pelo fato de o pai da família trabalhar em casa, cabe a ele o cuidado com os filhos -, Mirai se torna facilmente a melhor animação entre as indicadas ao Oscar em sua categoria (ainda não vi O Homem Aranha no Aranhaverso, o favorito e elogiadíssimo pela crítica), com traço belo e mensagem singela.

Curta Um Curta - A Partida Final (End Game)

Poucas pessoas sabem, mas existe um belíssimo documentário em curta-metragem que está indicado ao Oscar desse ano, disponível na Netflix - no caso o ótimo A Partida Final (End Game). Obra emocionante, versa sobre a rotina de uma equipe multidisciplinar que acompanha pacientes terminais - e suas famílias - num hospital de São Francisco, com o objetivo de tornar a despedida de entes queridos algo menos dolorido do que naturalmente é. Os cuidados paliativos buscam cuidar do doente como um todo, procurando ouvir das famílias a respeito de suas preferência no tratamento - ir ou não para uma clínica especializada, permanecer em casa, entre outras. É uma obra sensível, bem montada, triste em diversos momentos, mas que trata a chegada da morte com reverência e, especialmente, sinceridade. Qualquer pessoa que já tenha perdido um parente para alguma grave doença como o câncer, se identificará imediatamente.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Pérolas da Netflix - Dumplin' (Dumplin')

De: Anne Fletcher. Com Danielle Macdonald, Jennifer Aniston, Odeya Rush e Harold Perrineau. Comédia dramática, EUA, 2019, 110 minutos.

É simplesmente impossível não se emocionar com Dumplin' (Dumplin') - aquele filmezinho água com açúcar, com uma cara de Sessão da Tarde, mas que é inteligente em sua abordagem de temas como quebra de padrões de beleza e autoaceitação. A trama, na real, não chega a ter tanta novidade: a jovem Willowdean Dickson (Danielle MacDonald) cresceu em um ambiente que "respirava" os concursos de beleza, já que a sua mãe Rosie (Jennifer Aniston) foi eleita miss mais de 10 vezes em uma pequena cidade do Texas. Acima do peso, mas a princípio "desencanada" em relação ao próprio corpo, a protagonista, que passa os seus dias ao som das músicas da cantora Dolly Parton, não dá a mínima para esse tipo de competição até o dia em que encontra, em uma caixa com antigos objetos de uma querida e falecida tia - que também era gorda -, um papel com uma inscrição para um concurso, que nunca se concretizou.

É a deixa para que Will tente honrar o legado da tia, o que ela fará se inscrevendo para o concurso - o que desesperará Rosie, que é uma das organizadoras o evento. Will não quer vencer o concurso de beleza, claro - ela se inscreve como forma de "protesto", para tentar confrontar aquele tipo de padrão de beleza estabelecido pela sociedade (que são as mulheres magras, pra começar). Ao lado de Millie (Maddie Baillio), outra jovem obesa que sonha de verdade em ser coroada rainha, da provocadora Hannah (Bex Taylor-Klaus) e da melhor amiga Ellen (Odeya Rush), elas organizarão o plano para tentar sabotar o concurso, ou ao menos tentar chamar a atenção para o anacronismo desse tipo de evento que, inacreditavelmente, perdura até os dias de hoje. Bom, é claro que a tarefa não será fácil e elas ficarão a ponto de desistir durante as prévias e suas exigências - como é o caso das danças coreografadas.



A reviravolta acontece quando elas vão parar em uma espécie de casa noturna cheia de drags (!) que lhes "adotarão". Como legítimas outsiders, se qualificarão nos bastidores, em segredo, levando sua arte aos palcos da final, surpreendendo os demais e levando a antiga mensagem de que, sim, beleza não é tudo nessa vida. E que podemos ter outras qualidades e virtudes que também são valiosas. Sim, no meio da história a gente até mais ou menos já imagina o que vai acontecer. Mas tudo é descortinado de forma tão graciosa que a gente está o tempo todo rindo, chorando e torcendo por TODOS, já que o elenco é um dos mais carismáticos dos últimos anos. Jennifer é a mãe vilã mas sem ser megera. Já Will compreende as exigências dos concursos e assim passa a entender melhor também a sua mãe. E todos se aceitam nesse microcosmo fictício em que não há tanto ódio, preconceito e intolerância.

A propósito, um dos acertos da produção é o de não investir no velho clichê de transformar as demais competidoras do concurso, ou ao menos aquela que é a bonitinha favorita, em uma garota escrota. O mesmo vale para o par romântico de Will que se torna, no fim das contas, apenas uma subtrama secundária, sendo muito mais relevante a mensagem que a película quer passar. Em um ano em que tivemos a primeira candidata trans da história a se credenciar para o Miss Universo - no caso a espanhola Angela Ponce - e assistimos vitoriosas cada vez menos estereotipadas, representando os mais variados povos, um filme que, com leveza, chama a atenção para o tema, é um verdadeiro achado. Em certa altura, Will e sua amiga Ellen recordam que, para ter um corpo ideal para um biquíni basta um corpo e um biquíni. Parece tão óbvio, mas diante da onda política conservadora e machista que vivemos, nunca é demais lembrar isso.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Lançamento de Videoclipe - Sharon Van Etten (Seventeen)

O ano mal começou e a americana Sharon Van Etten já lançou um disco - de nome Remind Me Tomorrow - que deverá figurar em todas as listas de melhores, ao final de 2019. Famosa pelo tom melancólico e pelas letras absurdamente confessionais, a artista parece disposta a deixar entrar uma frestinha de sol nessa coleção de novas composições, não tão acústicas ou "tímidas", como ocorria nos álbuns do começo da carreira - especialmente em Tramp (2012). Seventeen tem os elementos formadores do cancioneiro da cantora - da letra nostálgica ao canto angustiado. Mas ao menos há um refrão, uma guitarrinha mais marcante e uma pegada mais eletrônica e até mais otimista. O singelo clipe dirigido por Maureen Towey é pura delicadeza e certamente será uma excelente porta de entrada para quem ainda não a conhece. Bora clicar?



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Cinema - No Portal da Eternidade (At Eternity's Gate)

De: Julian Schnabel. Com Willem Dafoe, Oscar Isaac, Rupert Friend, Mads Mikkelsen, Mathieu Amalric e Emmanuelle Seigner. Biografia / Drama, França, 2019, 111 minutos.

A história de Vincent Van Gogh não chega a ser exatamente uma novidade, já que a maioria das pessoas sabe que ele teve uma vida de extrema pobreza, pintou muitos quadros, vendeu apenas uma obra em vida e teve sérios problemas psicológicos a ponto de cortar a própria orelha. Bom, o que o diretor Julian Schnabel (do tristíssimo O Escafandro e A Borboleta) faz em No Portal da Eternidade (At Eternity's Gate) é condensar um pouco dessa história, especialmente os anos finais, imprimindo a ela um clima idílico, quase existencialista com destaque para a complexa relação do pintor com a natureza, com o mundo e, consequentemente, com as suas telas. Nesse sentido, a película se torna o veículo perfeito para que Willem Dafoe (e sua expressão permanentemente sofrida) encarne o artista com todas as suas nuances e loucuras. Aliás, ele está indicado ao Oscar pelo papel.

A trama começa com Van Gogh vendo sua arte sendo rejeitada em modestíssimas galerias. Contemporâneo e amigo de Paul Gauguin (Oscar Isaac) ele recebe uma recomendação deste: se mudar para Arles, no Sul da França, como forma de buscar inspiração para aquilo que produz. É nesse cenário bucólico, recheado por frondosas árvores, campos de trigo e de centeio, cenários pastoris, céu azul e muito sol que o artista fará sua simbiose: literalmente "mergulhado" na natureza, passará a pintar muito. Frequentemente. Foram mais de duzentas pinturas e cem aquarelas.Ainda que suas pinceladas vigorosas, que mais tarde formariam as bases do modernismo, tenham sido motivo, inicialmente, de chacota - como mostra uma desalentadora cena em que um grupo de estudantes invade o cenário em que o holandês exercita seu ofício.


Não bastasse a desconfiança a respeito de seu potencial artístico (o próprio Schnabel parece passar a impressão de Van Gogh ser um artista de menor expressão em alguns momentos), ele ainda precisa lidar com os sérios problemas psicológicos que fazem com que ele tenha alucinações, delírios e perda de memória. A chegada de Gauguin para uma visita - organizada pelo irmão Theo (Rupert Friend) - piora a situação: era com ele que o pintor mantinha um ideal de amizade que poderia ser cristalizado com a criação de uma espécie de coletivo de artistas (o que vemos no começo do filme). Só que enquanto Gauguin pintava por memorização (e com o coração), Van Gogh precisava estar diante de seu objeto de pintura. As diferenças de visão em relação a arte e até de personalidade acabarão por afastar ambos - e acarretarão a famosa cena em que uma orelha é decepada.

A espiral de decadência de um artista que jamais foi reconhecido em vida é nos apresentada de forma melancólica e desalentadora: Van Gogh implora para que Gauguin volte (e ele jamais volta). Um clérigo tenta lhe apoiar (personagem de Mads Mikkelsen em participação especial). E é desse período mais conturbado, mais alucinado e esquizofrênico obras bastante conhecidas como A Noite Estrelada. Pode não ser um filme tão fácil de ser apreciado, especialmente pela opção pelos longos planos que mostram a interação do artista com a natureza, com muitas cores (o amarelo sempre em destaque na fotografia), diálogos envolventes ("Um pouco da loucura é o melhor da arte") e muita música conduzindo as sequências absolutamente artísticas e elegíacas. Mas quem tiver paciência será recompensado por uma obra que honra o legado  de um dos maiores artistas do século passado, uma figura complexa, difícil e absurdamente talentosa.

Nota: 7,5

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Cinema - Guerra Fria (Zimna Wojna)

De: Pawel Pawlikowsi. Com Joanna Kulig, Tomasz Kot, Adam Ferency e Borys Szyc. Drama / Romance, Polônia / Reino Unido / França, 2018, 88 minutos.

Ao nos fornecer pouquíssimas informações a respeito do contexto político/social da Polônia pós Segunda Guerra Mundial é possível inferir que Guerra Fria (Zimna Wojna) é aquele tipo de filme que acredita na inteligência do espectador. Silenciosa e de grande lirismo, ainda que eventualmente meio arrastada, a trama compreende um espaço de tempo que vai do ano de 1949 à 1964, mostrando as idas e vindas do músico Wiktor (Tomasz Kot) e da jovem Zula (Joanna Kulig), sua pupila e par romântico. De personalidades opostas - Wiktor é mais sisudo e pragmático ao passo que Zula é sonhadora e intempestiva - ambos se conhecem durante uma espécie de programa de Governo da Polônia comunista que, após o conflito, busca localizar talentos musicais e artísticos com o objetivo de resgatar e repaginar o arcabouço cultural e folclórico do País.

Naquele período, a Polônia integrava o chamado Bloco do Leste sob ocupação da União Soviética. Em resumo, o território estava anexado ao Pacto de Varsóvia com os russos, pode-se dizer, participando das decisões políticas do País. De certa forma tudo vai indo bem nessa triagem cultural até o momento em que os generais do exército vermelho resolvem influenciar nas escolhas artísticas de Wiktor. Em suma, para os líderes do Governo as canções apresentadas pelos grupos em teatros lotados poderiam também abordar temáticas sobre a luta do proletariado por direitos e sobre o ideal socialista - por mais que o assunto pouco apareça na música de "raiz" polonesa. É nesse momento que há uma ruptura: exilado, Wiktor vai à França onde se submete às pressões de mercado (ele precisa ganhar dinheiro) atuando como pianista ou até mesmo como produtor de trilhas sonoras para filmes.


Já Zula segue se apresentando e vai ganhando espaço em outras frentes e formatos - de forma que a distância entre ela e Wiktor não se torna apenas física já que, em suas "essências", ambos se modificam completamente com o passar do tempo, em um trabalho de composição de personagens formidável. Joanna, em especial, transforma a "camponesa simples e de nobre coração", de cabelos claros e modos contidos - vista no começo do filme - em uma femme fatale que se apresenta em bares, com peruca escura e roupas provocantes. A Guerra Fria - muitas vezes relacionada apenas aos Estados Unidos e à União Soviética - é também a metáfora para os desencontros do casal que, em um cenário completamente adverso, briga para ser feliz. Se encontra. Se desencontra. Se casa e namora com outras pessoas. Mas que mantém viva a esperança de uma paixão que, no fim das contas, nunca se consolida em sua plenitude.

E não é por acaso que o diretor Pawel Pawlikowski (que já ganhou o Oscar de Filme em Língua Estrangeira pelo igualmente belo Ida) realiza um trabalho estético que, propositalmente, acentua o clima de desconforto. Da irresistível fotografia bergmaniana em preto e branco (trabalho de Lucazs Zai, também nominado ao Oscar em sua categoria) à câmera parada e aos ângulos curiosos (repare na ampliação dos espaços, com rostos "mal" enquadrados, mesmo na proporção de tela 4:3), tudo parece contribuir para que haja uma sensação de deslocamento e de incerteza, o que é reforçado pelas elipses e pelos saltos no tempo abruptos, ainda que fluídos. É a obra de arte por definição, até mesmo em seu final redentor, com direito a uma frase ambígua e cheia de significados, que nos fará ficar pensando naquilo que assistimos enquanto os créditos sobem. É o único filme estrangeiro capaz de tirar o Oscar de Roma. O filme de Alfonso Cuarón é, também um primor. Mas não haveria injustiça.

Nota: 9,0


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Novidades em DVD - Nasce Uma Estrela (A Star Is Born)

De: Bradley Cooper. Com Lady Gaga, Bradley Cooper, Sam Elliot, Rafi Gavron e Andrew Dice Clay. Drama / Romance, EUA, 2018, 135 minutos.

Essa já é a quarta versão para o cinema de Nasce Uma Estrela (A Star Is Born) e, é preciso que se diga, uma atualização da obra é mais do que bem-vinda já que a versão anterior - aquela com Barbra Streisand e Kris Kristofferson - envelheceu muito mal. Mas bota mal nisso (e uma revisão da película me fez ficar constrangido ao ver a dupla de protagonistas rolando no barro em meio a cenas românticas absurdamente piegas). Bom, nessa nova interpretação a ideia está repaginada. Sai de cena a cantora talentosa mas submissa do filme de 1976 para entrar em seu lugar uma Lady Gaga bem mais empoderada e consciente de seu talento, ainda que o nariz grande, em sua avaliação, impeça a sua carreira de deslanchar. Já Bradley Cooper (que também dirige o filme) é bem menos porra louca que o personagem de Kristofferson, ainda que o alcoolismo seja o seu calcanhar de Aquiles.

Na trama, o cantor country Jackson Maine (Cooper) vai parar em um bar do subúrbio após uma apresentação, onde conhece a candidata a cantora Ally (Gaga) que faz uma irresistível interpretação de La Vie En Rose, de Edith Piaf. Maine se encanta com a jovem e a leva para uma de suas apresentações, onde um dueto improvisado arrebata o público e recebe milhares de visualizações no Youtube. Ally passa a acompanhar Maine - que também se torna seu par romântico - na turnê de sua banda até o dia em que o empresário e produtor Rez (Rafi Gavron) lhe oferece um contrato. Bom, é claro que uma turnê solo de Ally, que mudará completamente de visual (e de estilo musical, com direito a videoclipes exuberantes) para atender a indústria será um choque para Maine que, em decadência, encontrará cada vez mais refúgio na bebida.


Será na proporção inversa entre a ascensão e a queda de dois astros que se amam que residirá o principal arco dramático da película. Ally deseja a fama, mas, a que preço? Já Maine conseguirá lidar de forma madura com o reconhecimento do talento da namorada? Ambos entregam performances corretas para os seus personagens, ainda que as inflexões de voz de Cooper soem quase artificiais em alguns momentos (pra não dizer caricaturais). Já Gaga faz uma boa estréia no cinema e o fato de ser cantora e compositora na vida real (ah vá!) parece naturalizar os seus movimentos em tela, bem como a sua personalidade decidida. O elenco de apoio é divertido e multicultural - do grupo de transgêneros que atua no mesmo bar em que Maine encontra Ally ao melhor amigo latino que trabalha no mesmo restaurante da cantora (vivido por Anthony Ramos).

Mas como não poderia deixar de ser a grande força da obra está mesmo na música. Shallow é um colosso e, a menos que haja alguma grande zebra, deverá faturar a categoria Canção Original, no Oscar. Com indicações para Filme, Ator, Atriz, Ator Coadjuvante (Sam Elliot, que interpreta um resignado irmão mais velho de Maine), Roteiro Adaptado e Fotografia (Matthew Libatique, o mesmo de Cisne Negro), entre outras, essa nova versão de Nasce Uma Estrela tem muito mais méritos por oxigenar algumas ideias, que tornam o filme menos maniqueísta (e até machista) do que as versões anteriores. E Gaga dando um soco em um policial xarope no começo do filme é um bom exemplo dessas pequenas subversões! O mesmo vale para o autógrafo dado por Maine no começo do filme. Nesse sentido, as premiações serão o de menos. O que vale mesmo é mostrar essa emocionante história, que segue encantando os cinéfilos, para as novas gerações.

Nota: 8,0

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Cinema - Vice (Vice)

De Adam McKay. Com Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell, Jesse Plemons e Sam Rockwell. Comédia / Drama, EUA, 2018, 132 minutos.

Um filme sobre a vida do vice-presidente do Partido Republicano Dick Cheney desde a sua juventude até os anos de parceria política com George W. Bush seria um convite para um sono "glorioso" se não fosse o diretor Adam McKay. Pra quem não está ligando o nome à pessoa, McKay é o cara que pegou o assunto mais xarope da história - no caso a crise do mercado imobiliário americano de 2008 - e o transformou em uma obra leve, dinâmica, repleta de referências à cultura pop, com ótima trilha sonora e outras trucagens. Assim, A Grande Aposta (2016) foi uma película absolutamente saborosa de se ver. Daquelas em que, sim, há muita informação - o tema é sério e a denúncia é grave - mas que também nos faz rir com seu indefectível deboche. Talvez rir (de nervoso, claro) do quão improvável é aquilo que assistimos. E do quão longe o ser humano é capaz de chegar para alcançar o poder - nem que para isso seja necessário despedaçar a maior quantidade possível de sonhos.

Bom, Vice (Vice), ao abordar a política dos Estados Unidos, amplia o espectro da ousadia. E mete o dedo na ferida ao fazer a crítica a um sujeito que, no fim das contas, pensa de forma semelhante ao atual presidente Donald Trump. Figura conservadora, adepta da família e dos bons costumes, Cheney (Christian Bale em modo camaleônico) era um Zé Ninguém no cenário político até o dia em que participa de uma reunião em que Donald Rumsfeld (Steve Carrell) derrama todo o seu amor a Deus e a família e todo o seu ódio a ameaça comunista. Cheney se identifica com isso. Aliás, a cena em que ele se "descobre" um republicano, ainda no começo do filme, nos fazer perceber que a escolha por uma ideologia, especialmente para os mais novos, muitas vezes não tem nada a ver com visões de mundo mais aprofundadas: naquele contexto tudo o que aquele jovem do Nebraska desejava era o poder. Era "ser alguém". Sonho de mudar o mundo? Consciência política? Esquece. Poder é a palavra de ordem.


Com idas e vindas no tempo o filme mostra a relação de Cheney com a sua esposa Lynne (Amy Adams), seus primeiros anos de bebedeiras (e de violência) e como fatos como o escândalo de Watergate - que fechou o cerco ao presidente Nixon - contribuiu para que figuras menos expressivas do Partido Republicano (e desligadas daquele celeuma) pudessem crescer. De inicialmente descrente na figura de um vice-presidente como alguém poderoso, o sujeito passa a compreender a sua relevância nos bastidores da política (o que envolverá aconselhamentos de conservadores notórios, como o juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, Antonin Scalia, famoso por suas posições reacionárias e antiquadas). E no jogo da política americana, ele moverá as peças do xadrez para possuir total poder, transformando o futuro presidente George W. Bush (Sam Rockwell) em uma patética marionete capaz de atender a todos os seus caprichos.

E não é por acaso que as maiores decisões envolvendo a Guerra ao Terror no Iraque passaram pelas suas mãos. Nesse sentido, a tenebrosa cena em que um garçom vivido por Alfred Molina (em participação especial) oferece um "cardápio de maldades" em uma restaurante chique é tão constrangedora quanto aquela em que Lynne faz um discurso antiquado para uma plateia do estado de Wyoming em que brada sobre mulheres usarem sutiãs ao invés de queimá-los (numa crítica estúpida ao feminismo que, como numa espécie de contrassenso, permite que ela esteja naquele posto, discursando). McKay não alivia o tom ao lembrar que o comportamento delirante dos republicanos fez com que (pasme) mais de 600 mil civis fossem mortos no Iraque - sob a desculpa de captura de Saddam Hussein. Mas o faz com uma inacreditável leveza em que subverte a lógica, quebra seguidamente a quarta parede, faz de conta que o filme acabou quando não acabou, congela a tela, coloca letreiros e por aí vai. As pitadas de humor estão em toda a parte e é absolutamente saboroso assistir a uma crítica tão ácida a um modelo político (e a uma figura) tão ultrapassados. E tão dispostos a qualquer coisa pelo poder.


E há ainda Bale, que engordou 20 quilos para o papel e que, por baixo de toneladas de maquiagem, adota o tom monocórdico e pouco expressivo do político - um tipo de apatia que torna ainda mais inexplicável a chegada de uma figura tão rotundamente estúpida ao poder. Ainda assim, nunca é demais lembrar: votar em "figuras rotundamente estúpidas" com a desculpa de defender a família, a Igreja e os bons costumes e afastar a ameaça comunista, não é especialidade apenas dos americanos. É nossa também. No começo de Vice, McKay lembra que uma massa que trabalha cada vez mais, que ganha cada vez menos e que só quer ir para a academia no final da tarde e comer o seu McDonalds em paz é muito mais manipulável. Era uma lição que deveríamos ter aprendido a tempo - quando ainda tentávamos lutar contra a legitimação do ódio, do preconceito e da brutalidade. Venceu o discurso vazio do combate a corrupção como modelo de política. Que, com apenas um mês, já percebemos que era apenas da boca pra fora. Como se não soubéssemos.

Nota: 9,0

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Cinema - A Favorita (The Favourite)

De: Yórgos Lánthimos. Com Olivia Colman, Rachel Weisz, Emma Stone e Nicholas Hoult. Drama, EUA / Reino Unido / Irlanda, 2018, 119 minutos.

É só nas aparências que A Favorita (The Favourite) talvez surja como o filme mais convencional do diretor grego Yórgos Lánthimos - que já nos fez "pirar a cabeça" com grandes obras como Dente Canino (2009), O Lagosta (2015) e O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017). Sim, não há novidade em apostar em uma trama de época, com figurinos luxuosíssimos, cenários deslumbrantes, desenho de produção impecável e figuras dispostas a todo o tipo de manipulação e mesquinharia para alcançar a tão sonhada ascensão social. Mas Lánthimos (re)constrói essa Inglaterra do Século XVIII bem a seu modo e, portanto, não serão poucas as personagens excêntricas, as sequências grotescas e a adoção de um estilo todo próprio de filmagem, capaz de levar à obra da absoluta normalidade filosófica ao delírio surrealista em questão de segundos. E, com isto em mente, a experiência se torna absurdamente divertida!

Na trama, Olivia Colman é a Rainha Anne. Com a saúde abalada, mas paparicada por Lady Sarah (Rachel Weisz) - espécie de amiga e conselheira -, a majestade não faz ideia de qual decisão tomar em relação à guerra que se espalha pela região. A chegada da jovem Abigail (Emma Stone) tornará o cenário ainda mais confuso. Apresentando-se inicialmente como uma figura humilde e disposta a auxiliar nas atividades do Reino, Abigail aos poucos mostrará a sua verdadeira faceta, quando começar a conquistar a confiança da Rainha. O que lhe possibilitará almejar um posto maior na corte. Evidentemente que este objetivo não será alcançado sem alguma dor ou sofrimento - e é neste ponto que entra o "toque" niilista do diretor: nada será simples (ou sutil) na relação entre essas três caricaturais personas. E o resultado dos embates entre elas não será menos do surpreendente!


Abusando do uso de lentes grandes-angulares - repare como os cantos dos cenários quase sempre estão arredondados - Lánthimos torna os cômodos do reino, naturalmente escuros, em ambientes absolutamente claustrofóbicos (e até mesmo sombrios, em alguns momentos). A nós, espectadores, resta a condição de observadores "participantes", que acompanharão cada estratagema desenrolado sem qualquer crise de consciência - e ainda por cima torcendo para que o caos se estabeleça! Retratando as figuras da côrte como uma massa totalmente alienada, o diretor utiliza a metáfora dos patos que participam de uma corrida (sim, pasme!) ou dos coelhos e sua capacidade de reprodução infinita, como uma rima para a estupidez claudicante das classes mais abastadas. Com a rainha batendo cabeça de um lado para o outro, incapaz de tomar qualquer decisão, e ainda cedendo aos caprichos da dupla de desafetas que luta pelo seu amor/amizade.

É um filme direto, mas ainda assim de grande riqueza visual, com trilha sonora pouco óbvia e criativo em suas resoluções - como atesta a sequência em que um tiro em uma pomba faz espirrar sangue no rosto de Lady Sarah que, mais tarde, inadvertidamente, sofrerá uma grave lesão no rosto. E que tem no seu trio de atrizes principais a sua grande força - e não é por acaso que as três estão indicadas para o Oscar desse ano, sendo Colman para a categoria principal, Weisz e Stone para a de coadjuvantes. Aliás, Colman está inacreditável como a Rainha que se despe de qualquer vaidade e que vai, da forma mais pessimista possível, entrando em um espiral de decadência que só a "falsa" sensação de poder é capaz de amenizar. A propósito, a cena em que ela aparece maquiada como um "texugo" ainda no primeiro terço é uma das grandes subversões do diretor, que apresenta uma obra convencional, mas que é capaz de romper justamente com as... convenções.

Nota: 8,5