terça-feira, 29 de setembro de 2015

Picanha em Série - Narcos

De: Chris Brancato e Eric Newman (com direção de José Padilha). Com Wagner Moura, Pedro Pascal, Boyd Holbrook, Luiz Guzmán e Juan Pablo Raba. Drama / Policial / Biografia, 2015

Assim que terminei de assistir a primeira temporada de Narcos - uma das melhores séries que já vi na vida (coloco inclusive ao lado de Breaking Bad e vocês não me atirem pedras!) - fiquei refletindo por alguns minutos: como pode, diante de uma material dessa envergadura, encontrarem problema no sotaque do Wagner Moura em sua interpretação do chefão do Cartel de Medellín, Pablo Escobar? E o seu esforço em ao menos tentar falar espanhol, com direito a permanecer dois anos estudando seu personagem na Colômbia? E o fato de ter engordado 20 quilos para interpretar o sujeito? E a produção impecável, caprichadíssima, aliada a uma fotografia amarelada e de acordo com o roteiro bem organizado, tudo pra contar uma história que, se fosse ficção, poucos acreditariam? Numa boa, só os colombianos estão autorizados a achar problema em sotaque.

E olhe lá. Ou será que os nossos vizinhos prefeririam o Benício Del Toro falando inglês no filme Paradise Lost, em que ele interpretava, vejam bem, PABLO ESCOBAR? Sim, falando inglês. Sendo que ele nunca deve ter sequer dito um yes ou no na língua do Tio Sam. O fato é que Wagner Moura está imperdível como Escobar. Ator de qualidade que é, consegue equilibrar, em sua interpretação, uma certa placidez em seu comportamento - especialmente no trato com a mãe, a esposa e o filho - com outros de absoluto descontrole, sendo capaz de mostrar no instante seguinte a sua verdadeira faceta como sujeito sanguinário, instável, cruel, desumano, insensível, intratável, bestial, boçal, estúpido e até mesmo repugnante. A lista de adjetivos poderia não ter fim, ao se analisar um sujeito que não hesitaria em levantar a arma para qualquer pessoa que estivesse "atrapalhando" seu caminho.


A série é narrada em primeira pessoa pelo agente do departamento antidrogas americano Steve Murphy (Boyd Holbrook) que, ao lado de outro agente, se envolverá em uma verdadeira caçada contra Escobar e seus comparsas. No começo da série, o traficante ainda é uma espécie de "peixe pequeno", ainda que já utilize a intimidação e a chantagem, como forma de obter vantagens nas negociações com a polícia local. E em uma das primeiras cenas do primeiro episódio fica clara a capacidade do sujeito de amedrontar, com voz calma, todos os encarregados de conferir a mercadoria transportada por Escobar. A aproximação a outros traficantes, um deles de nome Gacha, vivido por Luiz Guzmán (que nasceu pra interpretar o chicano de cara feia), o fortalecerá ainda mais - e também ao seu negócio, "construído" em esconderijos nas florestas colombianas e que só funciona por conta da alta demanda dos americanos pela cocaína.

Escobar terá problemas com a polícia local, com os agentes americanos, com os seus comparsas. Tentará ser presidente da Colômbia, com um discurso filantrópico de ajuda aos pobres. Invadirá o Palácio da Justiça. Matará juízes de direito, congressistas, candidatos a presidência (em especial os favoráveis a extradição) e advogados. E policiais. Aliás,  muitos polícias - cada um assassinado era capaz de render até US$ 200 mil pra cada capanga responsável pelo crime. O que era uma mixaria para quem faturava até US$ 60 milhões POR DIA de trabalho. Sequestrará pessoas que aparecem nas colunas sociais, se aproximará de jornalistas, tentando se dar bem as custas deles. Pablo tentará ser o dono do mundo em uma série absolutamente arrebatadora, tensa, impactante, nervosa, angustiante. Se alguém falar do sotaque de Moura novamente, ignore. Faça um bem a si mesmo e assista esse material. É entretenimento de primeira.



Na Espera - A Visita (Filme)

É um consenso para nós aqui do Picanha: desde o ótimo A Dama na Água (2006), que o diretor M. Night Shyamalan - de O Sexto Sentido (1999) e Corpo Fechado (2001) - não lança um filme que presta. Ainda assim, existe um certo magnetismo a cada nova película a ser produzia pelo indiano, que faz com que renovemos as nossas esperanças em relação as suas películas. É um clima meio guilty pleasure, que nos faz assistir a um trailer e pensar: esse vai ser legal!



Chamada A Visita (The Visit), a próxima produção - que tem estreia prevista para o dia 15 de outubro - conta a história de um garoto e de sua irmã, que são mandados pela mãe para visitar seus avós que moram em uma remota fazenda. Não demora muito para que os irmãos descubram que seus avós estão envolvidos com coisas profundamente perturbadoras que colocam suas vidas em perigo. O trailer (com direito a homenagem escancarada ao clássico Psicose, do Hitchcock), mistura momentos mais leves com outros mais tensos. Será que dá pra confiar? É aguardar!


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Pérolas do Netflix - A Espuma dos Dias

De: Michel Gondry. Com Romain Duris, Audrey Tautou, Gad Elmaleh e Omar Sy. Comédia dramática / Fantasia, França, 2013, 130 minutos.

O amor dos recém-casados Chloé e Colin é posto à prova quando ele descobre que sofre de uma doença misteriosa que faz uma flor crescer em seu pulmão. Poucas descrições de filmes serão capazes de dizer tão pouco quanto este resumo de A Espuma dos Dias (L'Ecume de Jours), que aparece junto do link para a obra, dentro da plataforma de streaming Netflix. Essa condensadíssima sinopse, é preciso que se diga, pouco diz a respeito dessa verdadeira pérola! Quer dizer, minimamente, se levarmos em consideração o fio condutor da história, sim, a descrição coincide com os acontecimentos. Mas todo o universo fantástico criado pelo ótimo diretor Michel Gondry - dos maravilhosos Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) e Rebobine Por Favor (2008) - é muito mais amplo.

A impressão que se tem ao assistir a película de Gondry - baseada na obra do autor Boris Vian - é a de se estar diante de algum novo filme de outro diretor francês: Jean Pierre Jeunet. Mas não me refiro aqui ao encantador O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (2001), mas sim a trabalhos anteriores, como Ladrão de Sonhos (1993) ou, mais especificamente, Delicatessen (1991). O visual absolutamente arrebatador do filme será capaz de conduzir o espectador para um universo de sonhos, quase surrealista, em que calçados se movimentam sozinhos, campainhas parecem gigantes baratas de metal, pianos são capazes de elaborar coqueteis, mesas têm curvas, almoços e jantas possuem vida própria e pernas se esticam para facilitar a dança ao som de Duke Ellington. Ah, e flores crescem nos pulmões!



Nesse sentido, é preciso que se diga que a Espuma dos Dias nunca é uma obra de fácil apreciação. Mais do que um título com começo, meio e fim, o filme se configura como uma experiência cinematográfica capaz de fazer o espectador navegar por um universo fantástico em que objetos inanimados ganham vida, chefs de cozinha se escondem atrás de paredes e ratos funcionam quase como pequenos amigos ao estilo do Lester, de O Mundo de Beakman. Assim, muito melhor do que entender tudo aquilo que está acontecendo - e, sim, poderá ser uma jornada cansativa para os desavisados - mais indicado é saborear todo esse contexto e sua riqueza de elementos, fruto de uma direção de arte esteticamente inovadora e criativa. Se ao invés de um filme, estivéssemos diante de um disco, talvez esse pudesse ser o Wondrous Bughouse, do Youth Lagoon. Isso pra se ter uma dimensão do sentimento de caos e de desordem que permeia a trama.

Ainda que seja uma história de amor sobre um homem rico e tímido (Duris), que nunca precisou se preocupar com o trabalho e que tem pouco sucesso com as mulheres, mas que se apaixona por uma graciosa jovem em uma festa (Tautou), Gondry encontra tempo pra abordar, metaforicamente, uma série de assuntos. A alienação política e intelectual, a burocracia das grandes corporações, o abuso de poder, a cooptação de religiosos por igrejas corruptas e o capitalismo "selvagem". Todos esses temas, aqui e ali, entre um elemento lúdico e outro, entre uma escadaria torta e uma nuvem densa, servem para demonstrar que, na prática, o discurso não é tão banal como parece. Ainda que não seja apresentado com a profundidade que, habitualmente, uma obra dramática poderia ter. Ideal para ser apreciada por mais pessoas, a surrealista obra é daquelas que inevitavelmente suscita o debate enquanto sobem os créditos. Para o bem ou para o mal.


domingo, 27 de setembro de 2015

Bombou na Semana

Antes de iniciar a semana, a gente recorda alguns dos assuntos mais falados da última!


 Não basta ser Johnny Depp. Tem que participar! Enquanto boa parte da crítica musical tratou de descer a lenha na banda Hollywood Vampires, da qual o astro faz parte e que se apresentou no Rock In Rio, Depp e sua esposa Amber Heard ajudavam crianças por meio da doação de aparelhos auditivos em um hospital carioca. Ídolo é pouco.

A talentosa cantora Ariana Grande foi desafiada pelo apresentador Jimmy Fallon, no quadro Wheel of Impressions, a fazer imitações de artistas como Britney Spears e Christina Aguilera. O resultado da brincadeira é surpreendente

A excelente música Don't Stop Me Now, do Queen, foi eleita por pesquisadores britânicos a melhor música para se sentir bem. Você concorda?

Que o Papa Francisco, com seu comportamento solidário, filantrópico e acolhedor, não para de surpreender, não chega a ser novidade. Mas a notícia da semana foi ainda mais impactante: o sumo pontífice lançará um disco de rock progressivo chamado Wake Up. O resultado sai no dia 27 de novembro!

Não bastasse ter lançado o ótimo Honeymoon, na última semana, a cantora Lana Del Rey ainda resolveu atender ligações de fãs, que telefonavam para o número que está na capa do mais recente registro. No link, a reação de uma sortuda fã!

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Na Espera - Suede (Disco)

As notícias sobre um novo disco dos ingleses do Suede não poderiam ser mais animadoras! O sucessor do álbum Bloodsports (2013) se chamará Night Thougths e será lançado no dia 22 de janeiro de 2016. Como complemento do trabalho também será lançado um curta-metragem, dirigido pelo fotógrafo Roger Sargent, que conhece os integrantes do grupo desde a metade dos anos 90, quando dividiram o palco no festival de Glastonbury para a elaboração de algumas fotos para o semanário New Musical Express. Sargent também já trabalhou com Brett Anderson e companhia no seu mais recente disco.


Ainda que se saiba pouco sobre o novo registro, o próprio Sargent garante que o disco lida com vários temas familiares - vida, morte, angústia, desespero; temas que serão expandidos com um acompanhamento visual (no curta) que mostrará como estes elementos afetam a psiqué humana
A banda ainda confirmou que a parte musical do disco será apresentada pela primeira vez ao vivo durante os dias 13 e 14 de novembro na casa London Roundhouse, em Londres. Como aquecimento, enquanto o disco não chega por aqui, já é possível curtir o primeiro single oficial, da canção Outsiders. É só clicar e curtir!


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Cine Baú - Sindicato de Ladrões

De: Elia Kazan. Com Marlon Brando, Karl Malden, Eva Marie Saint e Lee J. Cobb. Drama / Policial / Romance. EUA, 1954, 106 minutos.

Não é por acaso que o clássico Sindicato de Ladrões (On the Waterfront) se mantém, desde o ano de 1998, na oitava posição na lista de 100 Maiores Filmes do Cinema Americano, do American Film Institute (AFI) - a frente de Cantando na Chuva (1952), Crepúsculo dos Deuses (1950) e Psicose (1960), isso só pra citar algumas entre tantas inesquecíveis produções. Pra começar, o elenco é poderosíssimo, encabeçado por um ainda jovem e vigoroso Marlon Brando, acompanhado por "coadjuvantes de luxo", como Karl Malden e Eva Marie Saint. Depois, há uma potente história que envolve uma organização corrupta que comanda um sindicato responsável por organizar o trabalho dos estivadores nas docas em uma cidade portuária. Há ainda as composições impactantes de Leonard Bernstein e a condução precisa do diretor Elia Kazan - de Uma Rua Chamada Pecado (1951).

Brando é Terry Malloy, um ex-boxeador que ganha a vida trabalhando nas docas. Por ser apadrinhado pelo irmão mais velho, Charley (Rod Steiger), que atua como advogado do corrompido sindicato, o rapaz passa seus dias em trabalhos fáceis e de pouca exigência física, enquanto seus companheiros de estiva se exasperam, disputando as poucas vagas que sobram a cada dia de labor no local. Não bastasse esse contexto, Charley, ao lado do chefe do sindicato, um certo Johnny Friendly (Lee J. Cobb), ainda envolvem Terry em uma emboscada que resulta na morte do empregado Joey Doyle (John F. Hamilton), que vinha se mostrando contrário as ideias apregoadas pela sindicato. Os responsáveis pela entidade temiam que Joey pudesse delatar as péssimas condições de trabalho e o salário baixíssimo, fruto de um sistema próximo ao da escravidão, em que muitos ganham o mínimo e poucos detém grande parte da riqueza.


O assassinato de Joey provoca uma certa agitação no local. Ainda que prevaleça o silêncio entre os empregados do cais do porto - que evidentemente tem medo de retaliações, evitando qualquer manifestação sobre o tema - é a presença do padre Barry (Malden), que possibilitará que as coisas mudem de figura. O religioso, ao lado da irmã do falecido empregado, Edie (Saint), organizará uma comissão que tentará investigar os acontecimentos, que tem resultado em funcionários amedrontados - temor que se tornará ainda maior depois que Dugan (Pat Henning), morre em um "acidente" em meio ao trabalho. Claro que essa pequena resistência organizada resultará em um jogo de gato e rato, com ameaças de parte a parte e um aumento desenfreado da violência. Terry ficará no meio do caminho - já que, ainda que tenha um irmão no sindicato (ainda que discorde dos seus métodos e desconfie de um caso de traição), ele se torna próximo de Edie - que também tem desconfianças sobre suas intenções.

A obra faturou, não à toa, oito estatuetas do Oscar - nas categorias Filme (Sam Spiegel), Direção (Elia Kazan), Roteiro (Budd Schulberg), Ator (Marlon Brando), Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), Direção de Arte (Richard Day), Fotografia (Boris Kaufman) e Edição (Gene Milford). Sobre a Direção de Arte, é preciso que se diga que os cenários, que conseguem equilibrar uma certa imponência (com barcos, gruas e contêineres enormes), com um ar decadente (fruto da pobreza que permeia a região litorânea), funciona como uma metáfora legítima para o clima que impera no local - de poder em meio a lama geral. Visceral em seu tema, o filme se mantém até hoje atual, não sendo difícil encontrar semelhanças no sistema em que vivemos hoje, em que grandes corporações utilizam  mão de obra barata para o enriquecimento das mais altas camadas. A cena final mostra uma rara reação a esse processo - estando para sempre na mente de qualquer cinéfilo. Fundamental.


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Grandes Cenas do Cinema: Tempos Modernos

Filme: Tempos Modernos
Cena: Testando uma nova engenhoca...

O filme Tempos Modernos (Modern Times, 1936), assim como qualquer outro estrelado pelo gênio Charles Chaplin, é recheado de cenas clássicas que estão para sempre na memória dos cinéfilos. Quem não se lembra da sequência em que Carlitos sai pelas ruas apertando todos os "botões" que encontra, reflexo da rotina monótona, desumana e automatizada que enfrenta em seu trabalho, em uma indústria metalúrgica? Ou mesmo da cena em que o famoso vagabundo praticamente se funde aos mecanismos, alavancas e roldanas gigantes em meio a um sonho grotesco? Chaplin concebeu Tempos Modernos como uma espécie de crítica as desigualdades econômicas, a intolerância política e aos excessos tecnológicos, em um ambiente que ainda sentia os reflexos da Grande Depressão americana.



Em uma das melhores e mais engraçadas cenas - da história do cinema, inclusive - Carlitos é convidado a testar uma nova engenhoca que promete facilitar a vida dos operários durante o almoço. De início, a singela máquina até parece funcionar bem. Parece, como mostra o vídeo da clássica sequência!


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Na Espera - Ponte de Espiões (Filme)

Baseado em fatos reais, o próximo filme de Steven Spielberg - Ponte dos Espiões (Bridge of Spies) - tem a palavra Oscar escrita "na testa" (e parece ser uma espécie de Sniper Americano da vez, do ponto de vista do patriotismo americano). O longa conta a história do advogado James Donovan (Tom Hanks, que não chega a aparecer nas bolsas de apostas), um advogado do Brooklyn que, durante a Guerra Fria, é enviado, a pedido da CIA, para negociar o resgate de um piloto americano.



Com roteiro escrito pelos irmãos Ethan e Joel Coen - algo animador, é preciso que se diga -, a experiência de Donovan captura a essência de um homem que arriscou tudo nessa jornada. A película estreia por aqui no dia 22 de outubro. Nesse meio tempo, é possível conferir o trailer!


Disco da Semana - Ryan Adams (1989)

Que o Ryan Adams é um dos caras mais bacanas do mundo da música não é novidade. Prolífico e extremamente talentoso, o cantor e compositor já aprontou várias façanhas. Dos primórdios com a banda de alt-country Whiskeytown em meados dos anos 90 até a sua carreira solo, que persiste até os dias atuais, Adams tem quase 20 discos lançados, sendo alguns deles verdadeiras gemas. Da sua estréia solo com Heartbreaker, onde emulava Bob Dylan em um disco incensado pela crítica, até o álbum subsequente, Gold (um dos melhores da década passada), o garoto prodígio colheu elogios dos mais variados - inclusive pelo ídolo Elton John, que convidou o músico a participar de alguns shows junto dele. Seu mais recente álbum, intitulado simplesmente Ryan Adams, foi eleito aqui no Picanha o melhor disco de 2014 por este que vos escreve.

Bebendo das fontes clássicas da música, principalmente o rock, pop, folk, country e blues, o inquieto Adams chegou a gravar um disco de punk rock (1984) e até de metal (Orion). As brincadeiras incluindo seu nome e a similaridade a seu quase-xará Bryan rendeu, inclusive, encrencas em shows e versões ao vivo de músicas como Summer of 69 e Run to You, hits do autor da clássica música tema do filme Robin Hood (aquele com o Kevin Costner). Pra sorte dos fãs, a promessa de em pouco tempo sermos brindados por novas canções do artista quase sempre se concretiza. Há poucos meses atrás Ryan havia informado os fãs via Twitter que iria regravar, nada mais nada menos, que o multi-platinado disco 1989 da cantora pop Taylor Swift (!!!). O que parecia ser uma pegadinha começou a ser levado a sério quando trechos das gravações foram sendo postados no Instagram do artista, e a própria Taylor se revelou extremamente entusiasmada com a ideia. E eis que chegamos ao novo álbum de Ryan Adams, 1989.


Conforme havia sido divulgado, não seria apenas um disco de covers, mas sim de releituras - como se as músicas do popíssimo álbum de 2014 fossem tocadas (segundo Adams) pela banda The Smiths. E, realmente, o que vemos aqui não é uma simples reprodução de canções anteriormente gravadas, mas sim uma apropriação das letras e melodias com uma roupagem totalmente autoral, melancólica e que soa exatamente como... Ryan Adams! Desafio alguém que ainda não ouviu o disco da Taylor a ouvir este álbum e dizer que não cabe perfeitamente na discografia brilhante de Adams. Todos os elementos que consagraram o artista e agradam os fãs estão aqui: a beleza das interpretações, as melodias cativantes, o instrumental cru (que contradiz totalmente as gravações originais das canções) e a paixão pela música como um todo, casam perfeitamente com as composições de Swift (sim, a garota compõe as próprias músicas ao violão), por mais estranho que isso possa parecer.

Do início mais agitado e oitentista com Welcome to New York, à versão voz e violão folk do hit Blank Space, passando por releituras absolutamente inesperadas como, por exemplo, Out of the Woods que, na versão de Adams, se transforma em um épico emocionante e com um final estendido de arrepiar, o álbum não pára de surpreender: tente ouvir I Wish I Would e não se emocionar, ou cantarolar junto a versão a lá Wonderwall do hitzaço Bad Blood. A nostalgia anos 90 vem com força total na canção Wildest Dreams e seu climão The Wicked Game, aquela baladinha do Chris Isaak. Falando em balada, This Love se transformou em uma canção dolorosa levada ao piano enquanto I Know Places poderia muito bem estar em um filme de faroeste do Tarantino. A ironia disso tudo é que, embora muita gente tenha achado absurda e até mesmo engraçada a ideia desta obra, a junção Adams/Swift acabou por gerar um dos mais belos discos do ano até agora. Se você é fã do original, vá nesse sem medo - será uma experiência totalmente nova. Agora, o inverso também pode ser verdadeiro - e aí, vai encarar?

Nota: 9,5

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Cinema - Nocaute

De: Antoine Fuqua. Com Jake Gyllenhall, Rachel McAdams, Forest Whitaker e Naomi Harris. Drama / Esporte, EUA, 2015, 124 minutos.

Pra quem não está ligando o nome a pessoa, Antoine Fuqua é o diretor do sensacional - e oscarizado - Dia de Treinamento (2002), que reunia Denzel Washington e Ethan Hawke em uma trama sobre policiais corruptos e problemas com a máfia russa. É um filmaço! Ainda que nunca mais tenha conseguido repetir esse alto padrão de qualidade, é preciso que se diga que Fuqua se mantém na média (ao menos dentro do estilo) com seus projetos sempre encabeçados por personagens vivendo situações limite em tramas recheadas do mais tradicional suspense policial hollywoodiano - afinal também são dele películas como Lágrimas do Sol (2003), Invasão a Casa Branca (2013) e O Protetor (2014). Todos muito bem recebidos pelo público, ainda que, em geral, a crítica torça o nariz para os dramas eventualmente forçados vividos pelos protagonistas de cada filme.

Se esse não costuma ser muito o seu estilo, melhor nem tentar assistir Nocaute (Southpaw), mais recente trabalho do diretor. Se antes a parceria foi com Denzel Washington, Bruce Willis, Gerard Butler e Mark Wahlberg, agora é a vez de Jake Gyllenhaal aparecer como o protagonista da vez. Na trama, o ator vive Billy Hope, um boxeador em ascensão, que está a 43 lutas sem perder na categoria dos leves. A reviravolta na carreira ocorrerá após uma entrevista coletiva, em que Billy é provocado por um boxeador rival. O resultado não poderá ser mais trágico, com o assassinato da ardorosa esposa do atleta (McAdams). Deprimido e desmoralizado, o boxeador ainda perderá a guarda filha, que do mesmo não quer mais vê-lo, ao mesmo tempo em que vê toda a sua riqueza material irá para as cucuias. Sim, o fundo do poço é um clichê que volta e meia aparece nos filmes de Fuqua.


Mas, como você já imagina, sim, ele dará a volta por cima - e isso não chega nem a ser um spoiler, não me levem a mal. Após conhecer o treinador Titus Willis (Forest Whitaker, no piloto automático), que possui uma academia em um bairro de periferia, Billy passará a trabalhar no local, treinando para uma espécie de recomeço. O roteiro tratará de colocar na rota do protagonista justamente o boxeador rival que esteve envolvido no caso da morte da esposa de Billy. E o melhor: a história nem se envergonhará disso, já que, claramente, não possui nenhuma pretensão de ser levada a sério, de ser reflexiva, contemplativa ou qualquer outro adjetivo do gênero para as obras consideradas "de arte". O negócio é pancadaria - aliás, muito bem filmada, com closes extremamente realistas -, sangue jorrando - a maquiagem também é digna de nota - e verborragia - impressionante o que eles conversam.

Nesse sentido, é um filme bom, ainda que sempre soe exagerada a história do "exército de um homem só", do homem que cai para se reerguer, como uma espécie de mártir que ressurge das cinzas, quando tudo parecia impossível. É um contexto, é preciso que se diga, excessivamente americanizado, que valoriza as ações solitárias e o individualismo, em detrimento do espírito filantrópico. Além de ser, em termos de roteiro, totalmente previsível. O que sempre gera justos questionamentos. Ainda assim, Gyllenhaal - a quem considero sempre competente - se empenha em entregar o melhor em seu papel. E a (aparente) dedicação do ator em relação a parte física merece destaque. A propósito, Fuqua sempre trabalha com bons atores. O problema é que os coloca diante de produções "de gênero", ainda que possam parecer sofisticadas em seus aspectos técnicos. O que, infelizmente, limita a sua qualidade.

Nota: 6,5


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Disco da Semana - The Libertines (Anthems for Doomed Youth)

É até engraçado pensar que os ingleses do The Libertines lançaram, com o recém chegado Anthems for Doomed Youth, apenas o terceiro disco da carreira. As opiniões se dividem na hora de falar sobre o hiato da banda, que durou mais de 10 anos - o último álbum foi o homônimo, de 2004. É de conhecimento público os problemas do vocalista Pete Doherty com drogas pesadas, como heroína e crack. Também parecem ter contribuído para a pausa forçada os seguidos desentendimentos, muitos deles por diferenças artísticas, com o guitarrista Carl Barât - que, a bem da verdade, se exasperava com o comportamento autodestrutivo do companheiro de grupo. Após uma série de reencontros e apresentações especiais, foram sendo constituídos os novos materiais que constituiriam o novo trabalho. E que trabalho!

Não sei se sou eu que estava saudoso do grupo, mas o novo disco é uma coleção de belas canções que, se não é tão urgente e acachapante como os dois primeiros trabalhos - em especial o sensacional primeiro disco Up the Bracket (2002) - no mínimo merece ser ouvido, quase como que numa sessão nostálgica, que nos faz retornar ao início dos anos 2000 - quando grupos como The Strokes, Arctic Monkeys e White Stripes dominavam as "paradas". Sim, os tempos são outros, muita coisa mudou na forma de se consumir música. Só não mudou a paixão pelas boas melodias construídas a partir de guitarras tocadas de forma crua, levadas de baixo e com a bateria direta e bem ditada. Além de um vocal que fica situado entre o post-punk dos anos 80 e o rock de garagem dos 90. Sem deixar a personalidade própria de lado, evidentemente.


Ainda que canções como Barbarians, que abre o trabalho, tenham o mesmo pique de outrora, parece haver no registro uma natural diminuição da velocidade, algo bastante comum para bandas que já possuem algum tempo de estrada. É só pensar nos ingleses do Supergrass, por exemplo, na época do I Should Coco, comparando-os no quase contemplativo Road to Rouen. O mesmo vale para o Green Day, que quando surgiu para o mundo no disco Dookie era um e com o recente American Idiot parecia outro. Doherty certamente passou poucas e boas em seu período de "adicto", fazendo de tudo o que é loucura, querendo agora apenas curtir, tocar com a sua banda e aproveitar as coisas boas da vida. Algo que fica bastante nítido na litorânea Gunga Din, ou mesmo nas reflexivas Iceman, The Milkman's Horse (uma das MELHORES do ano!), You're My Waterloo e na música título.

Oh they were as boys, tell me what then did they know / What was it they learned and where did they go canta um Doherty, quase como que olhando para trás, para a própria vida e carreira, na sugestiva Fame and Fortune. A propósito, as referências a Londres - e a Inglaterra como um todo -, suas ruas, seus lugares, seus clubes e boates, suas personalidades, as pessoas comuns que lá vivem, tudo aparece nas características (e divertidas e espertas) letras da banda. É muito bom ter o Libertines de volta, ainda que talvez eles façam pouca diferença no abarrotado atual mundo da musica. De qualquer maneira, o que se pode notar é uma evolução, que talvez possa indicar o futuro a ser perseguido pelo grupo de Doherty e companhia. Relevantes ou não, um retorno que acerta em cheio o coração dos fãs. E iss, definitivemente, vale muito.

Nota: 7,5

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Na Espera - Silversun Pickups (Disco)

Os integrantes do Silversun Pickups seguem disponibilizando singles para divulgação do quarto disco de estúdio, que se chamará Better Nature. Programado para o próximo dia 25 de setembro, o trabalho - que já teve a sua capa liberada, como você confere abaixo -, foi produzido pelo selo do próprio grupo (New Machine Recordings) e contará com 10 canções.


O primeiro single, com ares de superprodução, foi lançado ainda em agosto, para a canção Nightlight. A impressão inicial é a de que parece haver um certo abandono do clima Smashing Pumpkins wannabe, para um investimento em um som ainda mais pesado e soturno. Bom, nós aqui do Picanha somos só expectativa, até mesmo por que o Carnavas (2006), primeiro álbum dos californianos, é um dos favoritos aqui da casa. É aguardar!


Cinema - Homem Irracional

De: Woody Allen. Com Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey e Tom Kemp. Comédia dramática / Suspense / Drama. EUA, 2015, 97 minutos.

Existe um episódio da espetacular série Breaking Bad em que Walter White, o protagonista vivido de forma arrebatadora pelo ator Bryan Cranston, assiste a morte da namorada de Jesse Pinkman (Aaron Paul), engasgada com o próprio vômito. Walt poderia ter salvo a moça - que estava dormindo - com um simples movimento de corpo. Mas preferiu vê-la agonizando, pois, em seu julgamento, ele acreditava que, para os seus negócios - a produção de metanfetamina em grande escala - seria melhor que a jovem batesse as botas. Do ponto de vista filosófico, Walt pode ser considerado, de acordo com os pensadores do século XIX Jeremy Bentham e John Stuart Mill, um conseqüencialista. Que é aquele sujeito que analisa o custo-benefício para todas as ações mundanas, determinando a partir daí se a atitude é boa ou ruim. Nem que seja algo moralmente absurdo!

Todo mundo sabe que as teorias filosóficas são, em muitos casos, pautadas por uma ética anacrônica ou questionável - e aqui está um sujeito que entende pouquíssimo delas. Mas elas eram motivo de reflexões as mais profundas, sendo verbalizadas por autores hoje considerados universais, como Platão, Aristóteles, Nietzsche e Sartre. E também servem como pano de fundo, para o mais recente filme do diretor Woody Allen, chamado Homem Irracional (Irrational Man). Na trama, Joaquin Phoenix - quem mais poderia ser? - é o professor de filosofia em crise existencial Abe Lucas, que chega para lecionar em uma pequena cidade dos Estados Unidos. No lugar, uma das alunas, de nome Jill (Emma Stone), se aproxima do docente, fascinada pelo seu intelecto e pela sua melancolia natural. Ao mesmo tempo, a professora Rita (Parker Posey) tenta ter um caso com ele - ainda que seja casada.



Abe é deprimido, não consegue se satisfazer sexualmente e vê pouco significado em sua vidinha simplória. Até o dia em que, ao ouvir uma conversa em um bar em que está acompanhado de Jill, ele tem um clique. No local, uma desconhecida lamenta a perda da guarda do filho, após uma decisão judicial. Algo que, na concepção do Abe, poderá ser evitado caso o juiz Spangler (Tom Kemp), que decretará a sentença, seja assassinado. É a partir daí que ele tentará elaborar um plano perfeito, que dê cabo de sua (maluca) ideia, sem ser descoberto. Como um verdadeiro conseqüencialista, o professor enxerga a "parte boa" daquilo que está fazendo - ajudando uma mulher a manter o seu filho por perto. E como resultado, Abe reencontra o prazer de viver em seu mundo particular. Ainda que o risco de ser descoberto passe a rondá-lo de maneira permanente.

É preciso que se diga que nem de longe é o melhor filme de Woody Allen - ainda que supere os recentes Magia ao Luar e Blue Jasmine, ainda fica muito distante de clássicos como Noivo Neurótico Noiva Nervosa, Manhattan, A Rosa Púrpura do Cairo e Zelig (o favorito da casa). Algo que pode ser constatado especialmente pelas ideias requentadas de películas anteriores do próprio diretor. Mas ainda assim é um filme que diverte - Phoenix está hilário! - e mantém um clima de suspense, sem esquecer a habitual ironia do prolífico diretor, que completará 80 anos em dezembro. Os fãs de filosofia irão se deliciar com as teorias abordadas, ainda que de forma superficial - nas entrelinhas podem ser percebidos aspectos relacionados a autenticidade de Camus e Sartre ou mesmo a Teoria do Super-Homem e a vontade de potência de Nietzsche. Quem gosta de Allen, definitivamente não pode perder.

Nota: 7,0

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cine Baú - A Felicidade Não se Compra

De: Frank Capra. Com James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore e Thomas Mitchell. Comédia dramática / Fantasia, EUA, 1946, 130 minutos.

Não é à toa que o clássico A Felicidade Não Se Compra (It's A Wonderful Life) é um dos filmes favoritos dos americanos, especialmente na época das festividades de final de ano. Pra cima, com um clima otimista e recheada de personagens fascinantes, a obra do diretor Frank Capra - que já figurou anteriormente no Cine Baú, com o igualmente belo Aconteceu Naquela Noite - ainda serve como um excelente veículo para o ator James Stewart demonstrar todo o seu carisma, talento e versatilidade. Na trama, Stewart vive o banqueiro George Bailey, uma espécie de "agiota do bem" (se é que é possível colocar essas palavras todas na mesma expressão), que ajuda os moradores da cidade de Bedford Falls, no Connecticut, a realizarem o sonho da casa própria, tudo realizado por meio de empréstimos amigáveis a perder de vista.

Por seu comportamento quase filantrópico, Bailey tem a simpatia de todos os nativos da cidade, especialmente pelo fato de sempre colocar a vida e o conforto não apenas da família, mas também dos demais moradores de Bedford Falls, em primeiro lugar. Ainda jovem, o homem adia o sonho de se formar, possibilitando ao irmão mais novo  esta oportunidade. O mesmo vale para as viagens ao redor do mundo, que, por um motivo ou outro acabam sempre postergadas - especialmente após o casamento com a graciosa Mary (interpretada de maneira carinhosa por Donna Reed). Todo esse senso de caridade é mal visto pelo ganancioso banqueiro Mr. Potter (interpretado de maneira detestável pelo ator Lionel Barrymore), que vive querendo achar uma maneira de confiscar os bens da família Bailey - que, como não poderia deixar de ser, também possui empréstimos no estabelecimento do ricaço.


Um certo dia, na véspera de Natal, por um pequeno erro do desatento Uncle Billy (Thomas Mitchell), sujeito que faz a contabilidade no estabelecimento de Bailey, Potter vê a oportunidade que tanto aguardava para colocar um plano maquiavélico em prática e que poderá resultar no fechamento da operadora de crédito da família de George. Sem alternativa e pressionado por todos os lados, o sujeito se encaminha para a tentativa de suicídio, saltando de uma ponte. É nessa hora que surge o anjo Clarence (Henry Travers), que tentará demover Bailey de sua ideia, mostrando a ele como seria a vida na cidade, caso ele não tivesse existido. E seria bem diferente, é preciso que se diga, com moradores menos solidários, mais individualistas e até mesmo mais agressivos. A reflexão a respeito do "e se..." fará com que George passe a valorizar as coisas mais simples da vida - e nesse sentido, o título do filme em português não poderia ser mais acertado.

Com um desfecho singelo até não poder mais - capaz de fazer palpitar o coração até do mais duro dos sujeitos -, A Felicidade Não Se Compra foi lançado logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em uma época em que a sociedade tentava se reerguer, nem que fosse por meio de produtos culturais recheados de simbolismos, que pudessem funcionar como catalisadores da bondade entre os seres humanos. Indicada em cinco categorias no Oscar, a obra acabou sendo esnobada na época - sendo preterida pelo clássico Os Melhores Anos de Nossas Vidas, de William Wyler, na categoria Filme. Com a exibição a exaustão nos Estados Unidos, o troco viria mais tarde: atualmente, a película figura na 20ª posição entre os 100 Melhores Filmes de Todos os Tempos do American Film Institute (AFI) - a obra de William Wyler está na 37ª posição. Um belo demonstrativo da importância do filme de Capra.


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Na Espera - A Colina Escarlate (Filme)

Com o final do ano se aproximando, é de praxe que os grandes filmes comecem a aparecer - vide a proximidade da época de premiações. Após realizar o filme de ação Círculo de Fogo, o espanhol Guillermo Del Toro parece estar voltando ao estilo que o consagrou com a sua obra máxima, o incensado O Labirinto do Fauno, de 2006. Considerado um terror gótico, A Colina Escarlate (Crimson Peak) é uma obra de época - a trama se passa na transição do século 19 para o 20, culminando em uma mansão "mal assombrada" na Inglaterra, onde coisas estranhas acontecem. Estrelado por Mia Wasikowska (Mapa Para as Estrelas) e Tom Hiddleston (o Loki, de Os Vingadores), o enredo parece ter um quê de romance também, além de uma belíssima fotografia de época, como podemos conferir no trailer abaixo. E você, também está curioso pela próxima incursão de Del Toro? A previsão de estréia no Brasil é final de outubro. Nós do Picanha, já estamos na expectativa!

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Pérolas do Netflix - Lunar

De: Duncan Jones. Com: Sam Rockwell, Kevin Spacey. Dominique McElligott. Ficção Científica, Inglaterra, 2009, 97 minutos.

Filmes de ficção científica geralmente são associados a mega produções com orçamentos estrondosos, inúmeros efeitos especiais e muita ação. No entanto, os melhores exemplares do gênero são aqueles cujas ideias trabalhadas sobressaem-se às explosões e catástrofes abordadas exaustivamente pelos autores. Obras clássicas como 2001 - Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick e Solaris, de Andrey Tarkovsky são muito mais sobre a exploração de conceitos do que propriamente do ambiente espacial, coisa que se repete aqui no surpreendente Lunar (Moon), de 2009, somente agora disponível no Netflix.

Na trama dirigida por Duncan Jones (filho do astro David Bowie, que parece ter herdado o talento da família por sinal) Sam Rockwell interpreta o astronauta Sam Bell que, enviado pela empresa Lunar Industries para uma missão de 3 anos no espaço, deverá manipular máquinas que estão explorando superfície da Lua de forma a obter energia limpa para que a mesma seja enviada para a Terra (que, num futuro aparentemente não muito distante, está sofrendo um colapso energético devido às ações irresponsáveis dos humanos) numa espécie de "garimpo" espacial. Acontece que a única companhia de Sam no espaço é o robô GERTY (na voz de Kevin Spacey) que, dotado de imensa inteligência (uma referência clara a Hal 9000 do já supracitado 2001), é o contato da nave com a corporação que os enviou nesta missão solitária.


A medida em que o tempo passa, Sam acaba por ficar cada vez mais depressivo e com saudades da esposa e filhos, cujos contatos por videoconferência são a única maneira de obter algum calor humano - algo que os emoticons emitidos pelo robô tenta emular, tornando a experiência ainda mais patética e sofrida para nosso protagonista. Mas quando Sam escuta uma conversa secreta entre GERTY e os empresários que o enviaram para o espaço, a dinâmica entre eles se alterará drasticamente e novas revelações surgirão - aumentando o drama e a tensão da obra, complementada brilhantemente pela excelente trilha sonora de Clint Mansell.

Revelar mais da trama seria estragar a surpresa para quem assiste, mas pode-se dizer que apesar do clima gélido da película (o filme se passa praticamente em um só cenário e com um ator de carne e osso em cena quase todo o tempo) as discussões levantadas pelo roteiro do diretor Jones e Nathan Parker são extremamente humanas e relevantes, tais como a necessidade que temos de nos relacionar uns com os outros, a ganância das grandes corporações, a responsabilidade frente às pessoas e ao planeta e, ainda por cima, a ética relacionada aos avanços tecnológicos. Mais uma prova de que um filme para ser marcante independe de um grande orçamento, Lunar é uma obra que reverencia clássicos do gênero porém sem ser derivativa, revelando a sua força de maneira inteligente e pouco óbvia - uma pérola a ser garimpada.

Lançamento de Videoclipe - Luneta Mágica (Lulu)

Os amazonenses da banda Luneta Mágica lançaram um dos discos mais legais do ano, como você pôde perceber na resenha publicada na semana passada, aqui no Picanha. Como forma de divulgar o trabalho, intitulado No Meu Peito, o quinteto lançou na última segunda-feira um videoclipe para a ensolarada canção Lulu, primeiro single do registro. Com produção caprichada, o vídeo, dirigido por Rafael Ramos, conta com ângulos de câmera diferentes, sequências filmadas de trás pra frente, coreografias dos participantes e todo aquele clima ensolarado próprio da composição - que serve como um bom recorte para indicar a leve mudança de estilo adotada pelo grupo desde o lançamento de seu primeiro álbum. É só clicar e conferir!



terça-feira, 8 de setembro de 2015

Picanha Cast 03/09/2015

Está no ar o novo Picanha Cast!

Resumão da semana do blogue, feito em parceria com o programa Enciclopédia da Rádio Univates FM 95.1 - comandado pelo Tiago Segabinazzi. No cardápio, o filme Escolha Perfeita 2, o novo álbum da Carly Rae Jepsen (Emotion), a expectativa pelos novos filmes do diretor Quentin Tarantino Os Oito Odiados e do ator vencedor da estatueta dourada no último ano Eddie Redmayne, A Garota Dinamarquesa - ambos cotadíssimos para a próxima edição do Oscar -, e o lançamento em DVD do filmaço de ficção-científica Ex-Machina - Instinto Artificial.

É só clicar e curtir!


Novidades em DVD - Promessas de Guerra

De: Russel Crowe. Com Russel Crowe, Olga Kurylenko, Dylan Goergiades e Yilmaz Erdogan. Drama / Guerra, Austrália / EUA / Turquia, 2014, 114 minutos.

Em sua primeira incursão como diretor de cinema, o astro de Hollywood Russel Crowe não faz feio no filme Promessas de Guerra (The Water Diviner), ao tomar emprestada, como pano de fundo, a Batalha de Galipoli, ocorrida entre 1915 e 1916 na Turquia, para narrar a história de um pai que perde os seus três filhos no conflito. Como desgraça pouca é bobagem, o homem, de nome Joshua Connor (vivido com a ternura e o carisma de sempre pelo próprio Crowe), ainda perde a esposa, em um episódio aparente de suicídio. Certamente provocado pelas reminiscência do trauma de guerra. Entre um debate e outro com o padre local - que, a despeito da completa perda desse homem devastado, ainda encontra tempo para cobrar a sua ausência na igreja da comunidade - Connor promete a falecida esposa que irá enterrar os seus três filhos, ainda dados como desaparecidos entre mortos pelo conflito, ao seu lado.

Para isso empreende uma jornada em direção a Turquia, palco da batalha, para tentar encontrar alguma pista que possa levá-lo ao encontro daquilo que restou de seus três filhos. Tudo para que eles possam ser sepultados na Austrália - a sua terra natal. (lembrando que a Austrália, por uma questão ideológica, apoiou a Inglaterra no conflito, o que motiva os jovens a serem recrutados pelo serviço militar) Em Istambul, ainda que a guerra tenha chegado ao fim, não são poucas as dificuldades para que Connor chegue ao campo de batalha onde os jovens teriam morrido. A burocracia, o pouco interesse dos ingleses, vencedores do conflito, em obter algum dado, as dificuldades com a língua e de negociação com os turcos, se tornam barreiras naturais para o êxito em seu intento. Isso sem contar os mais de 30 mil mortos entre neozelandeses e australianos na ocasião.


No fim o homem obterá ajuda da gerente de um hotel local (Olga Kurylenko) - que, por uma daquelas conveniências de roteiro (tem que ter romance, não?) também aguarda dia e noite o retorno do marido, desaparecido pela guerra. Também o auxiliará o major Hasan (Erdogan), que, a despeito de ser um inimigo, se compadece do forasteiro - único a tentar localizar algum parente, mesmo quatro anos depois do fim da batalha. Em meio as andanças de Connor, o roteiro reservará boas surpresas, especialmente a partir da segunda metade - e que, evidentemente, não convêm contar aqui. Entre um flashback e outro, cada cena - fotografada em um amarelo envelhecido por Andrew Lesnie (da série O Hobbit) - servirá para demonstrar a devoção desse pai para com os seus filhos. Nesse sentido, cenas como aquela em que Connor conta uma das histórias do livro das 1001 noites para as três camas vazias, ou mesmo a que ele salva os três rapazes, ainda meninos, de uma tempestade de areia, são naturalmente tocantes - ainda que, aqui e ali, possam parecer meio forçadas.

Ainda que, eventualmente, a obra careça de um pouco mais de foco em relação ao estilo adotado - em poucos minutos somos capazes de sair de uma cena com membros decepados, sangue e vísceras, passando para uma com drama de arrancar lágrimas, até chegar em outras mais lúdicas - especialmente aquelas que envolvem o jovem Orhan (Georgiades) - é preciso que se diga que Crowe entrega um produto satisfatório no conjunto da obra. Claro que as desnecessárias cenas em câmera lenta durante os flashbacks ofuscam um pouco o resultado. Mas são os pequenos detalhes que acabam compensando no todo - sendo um bom exemplo o fato de os turcos falarem a língua local, o que revela um cuidado com a produção, mesmo para um "estreante". O que não deixa de ser o encontro de uma pequena fonte de água no deserto para quem mal começou nessa lida.

Nota: 7,0

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Disco da Semana - Luneta Mágica (No Meu Peito)

É possível analisar o novo disco dos amazonenses da Luneta Mágica, a partir de dois pontos de vista distintos. Explico: no primeiro trabalho, o arrebatador Amanhã Vai Ser o Melhor Dia da Sua Vida (2012), o grupo - formado por Pablo Araújo (vocal e guitarra), Erick Omena (guitarra), Eron Oliveira (baixo) e Diego Souza (baixo e teclado) -, carregava no experimentalismo estético, apresentando uma obra um tanto densa, pautada por uma sonoridade pastosa (no melhor sentido da palavra) e que, amparada por vocais etéreos, a aproximava em muito de grupos americanos como Grizzly Bear ou Beach House. As emanações mágicas do dream pop estavam em toda a parte, desde a abertura com Astronauta, passando pela surrealista Cinco Bolas de Sorvete Por Apenas Um Real, até culminar na caótica Manaus 14:00, que se apropria de todos os elementos do estilo, transformando-os em um produto bastante particular e de referência local.

Nesse sentido, é preciso que se diga, o quarteto nunca aparentava estar fazendo a homenagem pela homenagem, sempre sendo capaz de, aqui e ali, incorporar algum aspecto de seu universo particular - e até mesmo regional. Fosse nos versos, ou mesmo na base sonora, ainda que, eventualmente, estivesse encorpada pelos sintetizadores e pelas guitarras ruidosas - que nunca soavam excessivamente desconexas, sempre tendo uma lógica de engate entre um elemento e outro dentro de cada composição. Os raros flertes com o pop radiofônico - como na nostálgica Largo São Sebastião e na melancólica Sábado - quase pareciam guardados em algum cantinho do registro, mas sempre prontos para serem descobertos depois de meia dúzia de audições.



Ocorre que, com o recém lançado No Meu Peito, a coisa muda completamente de figura. A banda abraça os versos cantaroláveis e um instrumental mais fluído e de fácil reconhecimento por parte do público. Como se estivesse pronta para derrubar algum eventual muro, que ainda servisse de bloqueio para o ouvinte. Evolução? Retrocesso? Uma banda, uma vez que inicia o seu processo de constituição, precisa invariavelmente caminhar com segurança naquela trilha que a torna conhecida com o decorrer de seus trabalhos? Ou é importante se reinventar a cada registro, ampliando suas possibilidades? Bom, eu não sou crítico de música profissional, como vocês já sabem, e não sei dizer se isso é bom ou se é ruim. Gosto demais de música pop, em todas as suas vertentes e, assim como o primeiro projeto da Luneta..., o segundo é sensacional.

Após a abertura com a homônima No Meu Peito, vem uma trinca de músicas que não faria feio, por exemplo, em algum disco do Biquini Cavadão (na falta de um exemplo melhor) - Lulu, Acima das Nuvens e Mônica são alegres, primaveris e capazes de encher de cor uma ambientação que, usualmente, era pautada pela melancolia, pelas vozes sussurrantes e pelo clima onírico. Evidentemente, os amazonenses não abandonam completamente esse modelo, algo que fica claro em registros mais minimalistas, casos de Preciso e Mantra. Mas é abraçando os hits - caso da derradeira Rita (a melhor!), que os integrantes do grupo parecem ampliar suas possibilidades sonoras - num curioso processo de inversão - capaz de aproximá-los e de torná-los conhecidos de um público ainda maior. Nós, aqui do Rio Grande do Sul, saudamos essa evolução. E esse disco, um dos melhores nacionais de 2015.

Nota: 8,5

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Lançamento de Videoclipe - Courtney Barnett (Nobody Really Cares If You Don't Go To the Party)

A australiana Courtney Barnett lançou, no começo de 2015, um dos discos mais legais do ano. Intitulado Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit o trabalho tem recebido elogios por parte da crítica especializada (e também do público) e, muito provavelmente, deverá figurar nas listas mais descoladas de melhores de 2015. Na última semana, a cantora lançou mais um clipe para divulgar o álbum - depois de Pedestrian At Best e Dead Fox, foi a vez da canção Nobody Really Cares If You Don't Go To the Party receber vídeo. Vale a pena conferir!


Na Espera - A Garota Dinamarquesa (Filme)

Vamos combinar que a próxima edição do Oscar promete! Cotadíssima a figurar entre as principais indicadas, a delicada obra A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl), narra a história da artista plástica Lili Elbe, que nasceu Einar Mogens Wegener se tornando, posteriormente, a primeira pessoa da história a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. O foco principal da trama parece ser o seu relacionamento conturbado com a esposa Gerda (Alicia Vikander, vista no recém resenhado Ex-Machina) e tudo o que envolve a sua descoberta como mulher. O diretor é o britânico Tom Hooper, já familiarizado com a estatueta dourada, após conquistas por O Discurso do Rei e Os Miseráveis. Eddie Redmayne protagoniza e deverá brigar pelo bicampeonato, após a vitória pela arrebatadora interpretação de Stephen Hawking em A Teoria de Tudo. A estreia está marcada para fevereiro do próximo ano. Confira o trailer abaixo!






terça-feira, 1 de setembro de 2015

Novidades em DVD - Ex-Machina: Instinto Artificial

De: Alex Garland. Com Domnhall Gleeson, Alicia Vikander e Oscar Isaac. Ficção Científica, Reino Unido, 2015, 108 minutos.

Devo confessar a vocês que tenho verdadeiro fascínio pelas obras de ficção científica. Até mesmo aqueles filmes que não são assim tão elevados - do ponto de vista artístico - são capazes de me provocar algum impacto. Além de renderem ótimas sessões, com o pleno atendimento de um dos mais fundamentais propósitos do cinema: entreter. E tudo isso porque gosto de ver o ser humano em situações limite, muitas vezes criadas pelo próprio homem, e que funcionam como uma metáfora muito bem adequada para os tempos em que vivemos - plenos em avanços tecnológicos, mas também pródigos em indiferença, individualismo, consumismo e total falta de compaixão. Bom, todo esse preâmbulo pouco útil é pra dizer que Ex-Machina: Instinto Artificial (Ex-Machina), é mais um desses filmes de ficção que exemplificam tudo o que disse nesse parágrafo.

Na trama, um jovem programador de computadores chamado Caleb (Gleeson) vence uma espécie de concurso na empresa em que ele trabalha, o que lhe possibilitará passar uma semana ao lado do ricaço Nathan Bateman (Isaac) que, não por acaso, é o presidente da companhia. O objetivo do sujeito, ao selecionar Caleb, é colocá-lo em uma experiência científica relacionada a sua mais recente criação: uma robô praticamente perfeita no quesito inteligência artificial. Durante sua estada, o rapaz deverá realizar uma série de experimentos, a fim de determinar se a robô - que tem o pouco criativo nome de Ava (Eva, em inglês) - tem, por exemplo, consciência da sua condição de máquina. "Um computador que joga xadrez, por mais capaz (ou "inteligente") que seja, sabe que está jogando xadrez?", provoca Caleb.



Não bastasse o desafio de identificar esses sinais, o jovem encontrará outros obstáculos pelo caminho. A começar pelo comportamento um tanto excêntrico do dono da mansão que, como uma espécie de Big Brother, monitora tudo o que o visitante faz. A própria casa, isolada no meio do mato, fria e silenciosa, repleta de corredores cinzentos e paredes sombrias, também não parecerá um ambiente muito acolhedor. Igualmente as recorrentes quedas de energia do local, parecerão prenúncio de que algo ruim possa estar pra acontecer em sua estada. E, nesse sentido, merece elogio o trabalho do diretor estreante Alex Garland - que foi o responsável pelo roteiro do impactante Não Me Abandone Jamais - por conseguir construir uma trama que mantém o suspense e a curiosidade sobre os caminhos a serem tomados pela história, do início ao fim da obra.

Ava (Vikander) parece ter algum segredo e usa de métodos de sedução - o que nos remete imediatamente ao espetacular Ela, outro filmaço de ficção científica - para tentar se aproximar e, consequentemente, ganhar a confiança do rapaz. Que passa, inclusive, a ter dúvidas a respeito de sua própria condição. [SPOILER ALERT: só leia a partir daqui se você já viu o filme e não quer ter alguma surpresa estragada!] Amparado por uma série de contrapontos interessantes - a casa moderna em meio a floresta e as rochas, a tecnologia avançada, mas que serve para rodar canções como o hit oitentista Enola Gay do OMD, a ausência de sinal de celular, as citações ao Ghostbusters e a obra do pintor Jackson Pollock entre outros - o filme organiza todas as peças para mostrar ao espectador, no terço final, que a tese de Bateman aparentemente estava correta. Ainda que a descoberta se dê da maneira mais impactante (e trágica) possível.

Nota: 8,0