segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Novidades em DVD - Rocketman (Rocketman)

De: Dexter Fletcher. Com Taron Egerton, Jamie Bell, Bryce Dallas Howard e Richard Madden. Drama / Musical, EUA / Grã-Bretanha / Irlanda do Norte, 2019, 120 minutos.

Se você colocar no sistema de busca do Youtube as palavras "Elton John oven manual song" você vai encontrar um dos vídeos mais divertidos da história da internet. Nele, o ator Richard E. Grant intima o astro da música pop a criar, do nada, no meio de uma entrevista, uma nova música tendo como matéria-prima o manual de instruções de seu novo forno elétrico. Sim, o MANUAL DE INSTRUÇÕES de um FORNO ELÉTRICO. Bom, o resultado é algo simplesmente inacreditável - e eu sinceramente adoraria que este vídeo já existisse com legendas em português. A capacidade de improviso de Elton nessa situação, serve pra dar conta de seu talento. Um talento que gerou um sem fim de grandes discos de rock and roll e uma quantidade inacreditável de hits capazes de tornar os seus shows de cerca de três horas de duração quase insuficientes, no que diz respeito a ideia de contemplar tanta música boa.

O Elton que se vê nesse vídeo é um artista animado, leve, divertido. Aliás, como vem sendo há quase 30 anos, período em que o astro está "limpo" - ou livre da dependência de álcool e de drogas mais pesadas, como a cocaína. Em Rocketman, como não poderia deixar de ser em uma cinebiografia de uma estrela tão retumbante quanto Elton John (Taron Egerton), estamos diante da clássica história de ascensão e queda. E de ascensão novamente. E de persistência. E de enfrentamento de preconceitos, claro. Em uma época (os anos 60) em que se declarar gay era quase um "crime inafiançável", o astro surge para o mundo da música com suas canções sensíveis mas potentes, reflexivas mas radiofônicas. Os figurinos ousados, festivos, chamativos, surgiriam mais tarde como forma de referendar o seu estilo. Para desgosto de sua família - pai e mãe ausentes, pouco amorosos, distantes -, e até de alguns de seus pares, que pareciam não acreditar no potencial de cada uma das criações ao piano do astro.


Mas o mundo não é feito só de familiares abjetos e de produtores desconfiados. Pra cada um desses, surgia um Bernie Taupin (Jamie Bell) disposto a contribuir. A dar sentido a cada uma das melodias mágicas de Elton. E a obra se ocupa de nos mostrar como essa parceria conturbada, mas cheia de amor, rendeu tantos bons frutos. E a nos mostrar as idas e vindas no tempo, as inseguranças do começo da carreira, a necessidade de ser aceito em seu meio, as frustrações com o mercado e com as pessoas. E assim é o filme do diretor Dexter Fletcher: uma história de um jovem de infância dificil, um talento nato, tendo de superar dificuldades, chegando ao limite, dando com a cara na porta. E nos entregando tantas canções maravilhosas, que duas horas de película não são suficientes para contemplar as suas criações.

O filme, por exemplo, nem chega musicalmente nos anos 90, ainda que I Want Love seja uma das primeiras músicas mostradas. O foco maior é na produção dos anos 70 e 80, com canções como Crocodile Rock, Goodbye Yellow Brick Road, Honky Cat, Your Song, Tiny Dancer e, claro, Rocket Man, sendo apresentadas de forma desordenada, mas com força, com coreografias descoladas, apaixonadas, vivas. Saturday Night Alright For Fighting, por exemplo, ganha número com Elton ainda no começo de carreira, como que conquistando o impulso necessário para levá-lo a um outro patamar. E, sinceramente, eu estou aqui escrevendo essa resenha cheia de palavras e de "análise detalhada", mas o filme é pura catarse. Elevação - assim como fazia Elton, se elevando ao piano como uma espécie de emanação mágica, mística, espiritual que pula e salta e frente a uma platéia despudorada, mas que também aconchega, afaga, acolhe.


Aliás, não é fácil escrever qualquer material sobre o teu artista preferido. Impossível não ser invadido pela paixão inflamada, ainda mais diante de uma obra com tantos predicados. Com Taron Egerton se empenhando em uma entrega comovente, assim como o restante do elenco. Com uma recriação de época fidedigna e com um tratamento sem endeusamento do biografado: se a primeira hora de filme é pura magia, música e dança, a segunda metade é a do baque, da porrada, da descida ladeira abaixo. Afinal, Elton John, um artista tão talentoso, também é gente como a gente: com dores, fraquezas, incertezas e anseios. E talvez por humanizar tanto uma figura que já seja tão humana, que esse filme acerta em cheio o coração de fãs e dos não fãs. É impossível não tamborilar os dedos. Não sorrir. E não se emocionar. Elton é puro carinho em cada apresentação que faz. Com os fãs. Com quem gosta dele. Ele faz uma música sobre um manual de instruções de um forno, se precisar. Porque ele já desceu até o fundo do poço e voltou. E é isso o que importa.

Nota: 9,5

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