De: Anna Kendrick. Com Anna Kendrick, Daniel Zovatto e Autumn Best. Suspense / Policial / Drama, EUA, 2024, 94 minutos.
Uma jovem resolve participar de um programa de auditório no estilo Namoro na TV e, após uma bateria de perguntas e respostas com três candidatos, ela dá o veredicto e seleciona aquele que parece ter mais afinidade. Só que tem um pequeno probleminha: o escolhido é um serial killer doentio, responsável pela morte de quase uma dezena de mulheres na década de 70. Ela não sabe. Ninguém da produção sabe. E se não fosse inspirada em fatos reais, vamos combinar que A Garota da Vez (Woman of the Hour), que está em cartaz nas salas de cinema do País, quase penderia para o excessivamente excêntrico. Mas o fato aconteceu e, em tempos de forte apelo no subgênero true crime, esta pode ser mais uma história a encontrar seu público. Ainda mais com esse tipo de produção servindo como ferramenta acessória para o relevante debate a respeito do combate a violência contra a mulher - que pode surgir de forma inesperada.
E aqui, bota inesperada nisso. Porque por mais que Rodney Alcala (o ótimo Daniel Zovatto) pudesse emanar uma energia de celibatário involuntário virjão que, nos dias de hoje, passaria horas intermináveis em fóruns online (ou no Twitter) atacando mulheres aleatórias, o caso é que investigadores relatam que o assassino em série não chegava a parecer um sádico monstruoso, que tava com defeito na bússola moral. E que, por isso, estuprava e assassinava suas vítimas sem um pingo de remorso. Autor do livro The Killing Game: The True Story of Robert Alcala, o escritor conta que Cheryl Bradshaw (Anna Kendrick) havia simpatizado com ele, durante o programa, justamente pelo seu estilo leve, de respostas rápidas e inteligentes - especialmente por ele se apresentar como um fotógrafo, fã de motocicletas e de viagens. "Ele era charmoso e carismático", contou o promotor Matt Murphy, que trabalhou no caso.
Em partes, ainda que não se aprofunde tanto em detalhes sobre a personalidade de Alcala - alguém que, aparentemente, matava apenas pelo prazer de matar, já que não possuía histórico de abuso infantil, de abandono parental ou mesmo o diagnóstico de qualquer problema psiquiátrico mais severo -, o filme, a estreia de Kendrick na direção, realiza idas e vindas no tempo para mostrar como o serial killer atraía suas vítimas, sempre de câmera fotográfica na mão, se apresentando como uma espécie de profissional da área (o que era a desculpa perfeita para conduzir as mulheres a locais ermos com o pretexto de clicá-las). Já em outra linha do tempo, Cheryl é uma aspirante a atriz que está ficando enfastiada com o machismo galopante dos bastidores - é o final dos anos 70 -, e que vê no programa The Dating Show uma oportunidade para ter algum tipo de visibilidade para, quem sabe, chegar à indústria.
Apostando em contrastes, Kendrick filma as vívidas cenas de bastidores do programa de TV com aquele tom pastel típico de produções dos anos 70, com a fotografia mais saturada - com os diálogos com homens limítrofes quase soando excessivamente caricatos (mesmo com a ação se passando cinquenta anos atrás). Já nas cenas que envolvem Alcala e suas vítimas, a construção do suspense é bem executada e a gente consegue, de fato, ficar tenso - especialmente diante dos silêncios prolongados e do senso de isolamento e de desolação que antecede a tragédia (mesmo ao ar livre e de dia há um clima sombrio onipresente. "Qual de vocês que vai me machucar?" é a pergunta sugerida por uma mulher da produção à protagonista, num daqueles trocadilhos sobre frases que podem ser ditas em um programa estilo namoro na TV ou em um date com um assassino em série. São jogadas inteligentes que fortalecem a narrativa, tornando a coisa mais instigante do que poderia ser.
Nota: 7,5