segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

10 Considerações Sobre a Cerimônia do Oscar 2016

E então pessoal, gostaram da 88ª edição do Oscar, ocorrida na noite de ontem? Spotlight - Segredos Revelados foi o vencedor da noite na categoria Melhor Filme, enquanto Alejandro G. Iñarritu foi bicampeão na categoria Melhor Diretor - por O Regresso. Já o Mad Max - Estrada da Fúria, por suas conquistas nas categorias técnicas, pode-se dizer que "passou o rodo", levando seis estatuetas para a casa. No mais, nós, do Picanha, acompanhamos tudo, e agora fazemos um pequeno resumo dos principais acontecimentos do evento que reuniu astros e estrelas em Los Angeles. São as 10 Considerações Sobre a Cerimônia do Oscar 2016.

#1 Falta de diversidade. A apresentação de Chris Rock foi, como era esperado, um verdadeiro desfile de piadas e comentários sobre o problema da falta de diversidade entre os indicados. O monólogo de abertura, é preciso que se diga, teve lá seus bons momentos. O que a gente quer é oportunidade. Queremos que atores negros tenham as mesmas oportunidades. E só. Não só de vez em quando. Leo [DiCaprio] consegue um grande papel todo ano. Todos vocês conseguem grandes papéis o tempo todo. E os negros? lembrou Rock em certo momento. Ainda assim, o excesso de sátiras a atores que aderiram ao boicote, a relativização da importância de conquistas dos negros na sociedade atual, as piadinhas sem graça e a comparação baseada no sexismo, parecem ter soado meio estranhos para quem acompanhava a premiação - Jada (Pinkett-Smith) disse que não viria, em protesto. Jada boicotar o Oscar é como eu boicotar a calcinha da Rihanna. Eu nem fui convidado! Sobre se houve ou não um certo "erro de tom" é vocês que vão me dizer (e confesso que ver os "racistinhas da internet" delirando com o discurso não parece ter sido um bom sinal).



#2 Deu Leo, finalmente! Vamos combinar, a noite foi de Leo DiCaprio, que finalmente faturou a tão aguardada estatueta pela sua entrega comovente em O Regresso! O astro não aproveitou o momento apenas para agradecer àqueles que lhe propiciaram tal oportunidade, como é de praxe nesses casos. Em seu discurso falou sobre os problemas climáticos que a humanidade tem enfrentado, em uma dos mais bonitos e emocionantes momentos da noite. A mudança climática é real. É a ameaça mais urgente à nossa espécie, e precisamos trabalhar coletivamente e parar de procrastinar. Precisamos apoiar os líderes do mundo todo que não falam pelos grandes poluidores e grandes corporações, mas que falam por toda a humanidade, pelos povos indígenas do mundo, pelos bilhões e bilhões de pessoas desamparadas que serão as mais afetadas por isso, pelos nossos netos, e por essas pessoas que tiveram suas vozes afogadas pela ganância política, afirmou Leo.



#3 Explosão de MEMES. A propósito da expectativa pela vitória do Leo, a internet praticamente EXPLODIU em memes, antes e depois da conquista do astro. Para muitos, uma parte da "fábrica de memes" se fecha, agora que o ator finalmente conquistou seu Oscar. Outra que sofreu com as piadas online do pessoal ligado no Oscar foi a atriz Glória Pires, que desfilou toda a sua (falta de) conhecimento na transmissão da Globo, que, com sua tradicional falta de respeito a quem queria acompanhar a premiação, iniciou a transmissão apenas após o Big Brother, quase à meia noite, e quando meio evento já tinha ocorrido.






#4 Derrubando o Bolão. A noite contou com algumas zebras, daqueles capazes de fazer derrubar os apostadores em bolões do Oscar. A vitória de Ex-Machina, na categoria Efeitos Visuais, parece ter pego de surpresa até mesmo a equipe do filme - ainda mais se levarmos em conta o fato de que Mad Max - Estrada da Fúria estava papando todos os prêmios técnicos da noite e de que havia certa expectativa de que Star Wars - O Despertar da Força ganhasse algo em algum lugar. Outra grande surpresa foi a vitória da horrorosa canção de Sam Smith (Writting's On the Wall), pelo filme 007 Contra Spectre. Ainda mais depois da impactante apresentação de Lady Gag, para a música Til It Happens to You, do documentário The Hunting Ground, sobre o espinhoso tema do abuso sexual de jovens.



#5 Tirando o doce das mãos do Rocky! A derrota do Sylvester Stallone (de Creed - Nascido para Lutar) para o Mark Rylance (de Ponte dos Espiões), me fez lembrar aquele episódio do Friends, em que Joey Tribianni (vivido pelo Matt Le Blanc), tá concorrendo a um prêmio e perde! Vamos combinar, que, ainda que houvesse certa comoção em torno do eterno Rocky, a execução técnica, sutil e cheia de nuances de Rylance, como o agente russo de Ponte dos Espiões foi muito superior a de Stallone. Mas, é preciso que se diga, a zebra também andou por aí.



#6 O México é aqui! Ao faturar o bicampeonato por seu trabalho em O Regresso, Alejandro G. Iñarritu, que ano passado venceu por Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), se tornou apenas o terceiro diretor da história a conseguir tal feito - os outros dois haviam sido John Ford e Joseph L. Mankiewicz. Somando-se as duas vitórias, a conquista de Alfonso Cuarón, em 2014 (por Gravidade) e pode-se dizer que, quem manda na categoria atualmente, são os mexicanos!



#7 Spotlight e a surpresinha do final. Ainda que já tivéssemos alertado por aqui, sobre o fato de Spotlight - Segredos Revelados estar SIM na briga - principalmente pela conquista no Screen Actors Guild (SAG), não deixou de ser uma certa surpresa a vitória, que na reta final parecia mais polarizada entre O Regresso e A Grande Aposta - e a expressão de Morgan Freeman ao final não poderia ser mais evocativa nesse sentido. Foi pra finalizar a noite de surpresas, que fez os apostadores dos bolões se atrapalharem. (a propósito, CHUPA HENRIQUEEEEE, minha segunda vitória na história do Bolão!!!!!!1111ONE)



#8 Roger Deakins, o novo Leo DiCaprio. O diretor de fotografia Roger Deakins já foi indicado 13 vezes para o Oscar - a última, pelo seu trabalho no ótimo Sicario - Terra de Ninguém. Ainda assim, assistiu ao rival Emanuel Lubezki faturar a sua terceira estatueta consecutiva, por seu trabalho em O Regresso - as anteriores foram por Birdman e Gravidade.



#9 Morricone finalmente! Um ponto alto da noite foi a vitória do gênio Ennio Morricone na categoria Trilha Sonora - anteriormente havia recebido apenas a distinção honorária pelo conjunto de sua obra, em 2007 - , pelo trabalho em Os Oito Odiados. Aos 87 anos, e aplaudido de pé, o compositor (que fez trilhas pra clássicos como Era Uma Vez no Oeste e Três Homens em Conflito) se tornou ainda a pessoa mais idosa do mundo a faturar a estatueta.



#10 Não deu pra O Menino e O Mundo. Mas Valeu! Tirar a estatueta do ótimo Divertida Mente da Pixar, era tarefa quase impossível, mas o filme de Leo Abreu fez bonito na temporada estrangeira, aumentando o seu número de fãs e ampliando a visibilidade da animação nacional. Se o Que Horas Ela Volta não pôde estar lá, O Menino e O Mundo foi o Brasil no Oscar. E que venha 2017!



Bônus: uma foto da MUSA Kate Winslet, a mais linda de todas da noite. Ignorem o cara do lado dela, que não sei quem é.


E pra vocês? Houve mais algum momento marcante na premiação de ontem a noite? Deixem sua opinião nos comentários!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Especial Oscar 2016 - Nossas Apostas

Faltando apenas dois dias para a maior premiação do cinema - o evento é no domingo de noite (28/02), colocamos aqui as nossas apostas nas dez principais categorias do Oscar 2016 - Filme, Diretor, Ator, Atriz, Roteiro Original, Roteiro Adaptado, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Filme em Língua Estrangeira e Animação. Assim como já fizemos no ano passado, o Henrique e eu resolvemos fazer o post em conjunto, até mesmo para que sejam mais facilmente visualizadas as diferenças (ou não!) entre as nossas escolhas - as categorias técnicas, de curtas e de documentários deixamos de fora do nosso "bolão"! Fiquem à vontade para palpitar e para nos dizer o que vocês pensam sobre os possíveis vencedores que passarão pelo tapete vermelho dentro de dois dias.



FILME

Tiago

Não lembro quando foi a última vez que a disputa esteve tão polarizada entre TRÊS potenciais candidatos, como é o caso desse ano, com Spotlight - Segredos Revelados, O Regresso e A Grande Aposta. Se é que já houve alguma vez na vida algum caso em que três filmes chegavam ao dia da premiação praticamente empatados nas prévias. O vencedor do Producers Guild Awards (PGA), um dos melhores termômetros para esta categoria, foi o A Grande Aposta - e, em cerca de 75% dos casos, o ganhados do PGA também se consagra no Oscar. No conjunto geral de premiações prévias, Spotlight - Segredos Revelados foi o maior vencedor, com destaque pro Screen Actors Guild Awards. O Regresso parece ter a torcida a seu favor e o grande número de nominações (12), além de um Globo de Ouro - na categoria Drama - e um Bafta na bagagem. Qualquer outra coisa diferente, pode-se dizer que seria zebra - quase como o Grêmio ganhando, sei lá, um título.

Quem eu gostaria que ganhasse: A Grande Aposta
Quem ganha: O Regresso (por milésimos de segundo)

Henrique

Como dito acima, é uma categoria imprevisível devido à heterogeneidade das premiações. Mas como o Oscar curte premiar obras épicas e produções rebuscadas, O Regresso tem boas chances (apesar de nem sequer ter sido indicado na categoria roteiro - o que geralmente é um mau indicativo). Mas não será surpresa se A Grande Aposta ou Spotlight ficarem com a estatueta.

Quem eu gostaria que ganhasse: O Quarto de Jack (filme que mais me marcou) ou A Grande Aposta
Quem ganha: O Regresso (o que não me deixaria triste, porém)




DIRETOR

Tiago

Essa categoria até não parece tão complicada, uma vez que Alejandro G. Iñárritu, de O Regresso, venceu todas as principais premiações prévias da categoria - como o Bafta, o Globo de Ouro e, especialmente, o Directors Guild Awards (DGA). George Miller, com o seu insano trabalho em Mad Max - Estrada da Fúria seria o único que poderia atrapalhar o bicampeonato do mexicano - que faturou a estatueta ano passado por Birdman. A propósito, caso a vitória de Iñarritu se confirme, essa seria apenas a terceira vez na história em que um diretor venceria o Oscar em dois anos seguidos - ocorreu com John Ford (1941/42) e Joseph L. Mankiewicz (1950/51). Será que acontece de novo?

Quem eu gostaria que ganhasse: Adam McKay (A Grande Aposta)
Quem ganha: Alejandro G. Iñárritu (O Regresso)

Henrique

Categoria com fortes concorrentes, porém acho que o trabalho magnífico de Iñárritu tem grandes chances de ser premiado novamente. Muito embora o complexo trabalho do até então diretor de comédias, Adam McKay, em A Grande Aposta mereça louvor, bem como o retorno em grande estilo de George Miller com seu frenético Mad Max.

Quem eu gostaria que ganhasse: Iñárritu (O Regresso)
Quem ganha: Iñárritu (O Regresso)




ATOR

Tiago

Só um MILAGRE tira o prêmio das mãos de Leonardo DiCaprio esse ano, dada toda a comoção pública que se criou a partir de sua impactante caracterização em O Regresso. A infinidade de prêmios prévios faturados pelo astro - entre eles o SGA e o Globo de Ouro da categoria - também garantem ao ator uma boa folga em relação aos demais, nas bolsas de apostas. Finalmente chegou a merecida vez de Leo! Podemos comemorar!

Quem eu gostaria que ganhasse: Leonardo DiCaprio (O  Regresso)
Quem ganha: Leonardo DiCaprio (O Regresso)

Henrique

Acho que desta vez é barbada.

Quem eu gostaria que ganhasse: Leonardo DiCaprio (O  Regresso)
Quem ganha: Leonardo DiCaprio (O Regresso)




ATRIZ

Tiago

Aí está outra categoria que parece estar mais ou menos definida em favor da jovem (e estreante em premiações do Oscar), Brie Larson, por seu comovente papel em O Quarto de Jack. Nas prévias, a jovem tem empilhado elogios da crítica e premiações - como as do SGA e do Globo de Ouro. A única que poderia ameaçar essa lógica seria a veterana Charlotte Rampling, a única coisa realmente interessante do insosso 45 Anos. O que não deve acontecer.

Quem eu gostaria que ganhasse: Brie Larson (O Quarto de Jack)
Quem ganha: Brie Larson (O Quarto de Jack)

Henrique

Outra barbada. Só não ganha se o mundo terminar antes. Uma atuação impecável, sensacional e marcante de Larson.

Quem eu gostaria que ganhasse: Brie Larson (O Quarto de Jack)
Quem ganha: Brie Larson (O Quarto de Jack)



ATOR COADJUVANTE

Tiago

A disputa nessa categoria está acirrada entre Mark Rylance - pelo seu sutil papel de um espião russo em Ponte dos Espiões - e Sylvester Stallone, por sua caricata caracterização no mediano Creed - Nascido para Lutar. O que pesa em favor de Stallone é o fato de ele nunca ter vencido um Oscar. E também vamos combinar, se não ganhar agora, já beirando os 70 anos, também não ganha mais - fora o fato de que a Academia adora essas histórias de retornos triunfantes de atores com carreira praticamente encerrada. A favor de Mark Rylance, a boa quantidade de vitórias em premiações prévias. O problema é que ele é meio desconhecido do grande público e isso pode pesar a balança em favor do eterno Rocky.

Quem eu gostaria que ganhasse: Mark Rylance (Ponte dos Espiões)
Quem vence: Sylvester Stallone (Creed - Nascido Para Lutar)

Henrique

Todo o hype em cima do Stallone, que retoma aqui o seu clássico personagem Rocky Balboa, pode servir para a sua primeira estatueta. Tendo sido premiado já durante o ano pelo papel, talvez o prêmio seja uma forma de homenagear o conjunto da obra.

Quem eu gostaria que ganhasse: Christian Bale (A Grande Aposta)
Quem vence: Sylvester Stallone (Creed - Nascido Para Lutar)



ATRIZ COADJUVANTE

Tiago

Aqui está, talvez, a categoria mais difícil para se apontar a vencedora! Alicia Vikander, pelo seu belíssimo trabalho em A Garota Dinamarquesa, e Kate Winslet, que novamente brilha em Steve Jobs, estão disputando cabeça a cabeça - pra usar o chavão do turfe - o prêmio. E as conquistas prévias dão uma boa mostra desse "empate técnico". Alicia venceu o SGA, normalmente um dos melhores termômetros. Kate faturou o Globo de Ouro e o Bafta. Em favor de Alicia, o fato de ser uma coadjuvante que é quase uma protagonista, além de ser uma revelação. Já Kate, veterana nas premiações, pode ter a "camisa" pesando nessa hora. Totalmente indefinido!

Quem eu gostaria que ganhasse: Jennifer Jason Leigh (ela tá demais em Os Oito Odiados)
Quem ganha: Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa)

Henrique

Faço das minhas palavras as do Tiago, embora ache que Alicia Vikander fatura o prêmio com tranquilidade. Os Oito Odiados é um dos filmes "do coração" que apareceram neste ano, e Jennifer Jason Leigh (junto do Samuel L. Jackson) é a alma da película. Mas o favoritismo é todo de Vikander, por A Garota Dinamarquesa.

Quem eu gostaria que ganhasse: Jennifer Jason Leigh
Quem ganha: Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa)



ROTEIRO ORIGINAL

Tiago

Nessa categoria ninguém ameaça a tranquila vitória de Spotlight - Segredos Revelados, que faturou absolutamente TODAS as premiações prévias da categoria - casos do Writers Guild Of America (WGA) e Bafta. O fato de três filme entre os demais indicados - Straight Outta Compton, Ex-Machina e Divertida Mente -, não terem sido indicados a principal premiação da noite, também pesa a balança em favor do roteiro de Josh Singer e Tom McCarthy.

Quem eu gostaria que ganhasse: Divertida Mente (adoro o roteiro de Spotlight, mas o desenho da Pixar é simplesmente impressionante!)
Quem ganha: Spotlight - Segredos Revelados

Henrique

Divertida Mente é uma ausência imperdoável na categoria melhor filme, e o seu roteiro é talvez o maior ponto forte. Fazendo jus às melhores obras de Woody Allen e Michel Gondry, a animação da Pixar comove e diverte como poucas obras recentes. Mas é inegável que Spotlight também tem em seu importante roteiro uma força impressionante, que alavancou a obra ao favoritismo inclusive na categoria principal.

Quem eu gostaria que ganhasse: Divertida Mente
Quem ganha: Spotlight - Segredos Revelados




ROTEIRO ADAPTADO

Tiago

A vitória parece segura para A Grande Aposta - que venceu o Bafta e o WGA nas prévias. A ausência (surpreendente? ) de O Regresso nessa categoria, também deixa o caminho livre para a conquista do roteiro assinado por Charles Randolph e Adam McKay. Corre por fora (mas bem por fora MESMO) o trabalho em Perdido em Marte.

Quem eu gostaria que ganhasse: A Grande Aposta
Quem ganha: A Grande Aposta

Henrique

Mais uma vez concordo em gênero, número e grau com o Tiago. O roteiro complexo de A Grande Aposta deve ter sido trabalhoso pra caramba de adaptar e, com o auxílio do belo trabalho de direção, tornou a obra acessível e atraente para o grande público com sua temática relevante e atual. Só isso já faz a obra merecer todos os louvores.

Quem eu gostaria que ganhasse: A Grande Aposta (embora O Quarto de Jack não me desapontaria se ganhasse)
Quem ganha: A Grande Aposta




FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

Tiago

Essa categoria está particularmente difícil para este jornalista que vos "bloga" fazer qualquer tipo de análise, pois o único indicado que consegui assistir foi o belo Cinco Graças - nominado da França. Mas as prévias e a quantidade quase infinita de conquistas prévias dão a Filho de Saul, nominado pela Hungria, a vitória praticamente certa.

Quem eu gostaria que ganhasse: Cinco Graças (único que vi e gostei demais!)
Quem ganha: Filho de Saul (Hungria)

Henrique

Infelizmente não tenho muito palpite nesta categoria, pois não assisti aos indicados. Mas o incensado Filho de Saul é dado como aposta garantida para o prêmio.

Quem eu gostaria que ganhasse: o brasileiro Que Horas Ela Volta. (Ops, como assim, não foi indicado?)
Quem ganha: Filho de Saul (Hungria)





ANIMAÇÃO

Tiago

Essa é uma das barbadas da noite: por mais que estejamos torcendo MUITO pelo brasileiro O Menino e O Mundo, o prêmio deve ir novamente para a Pixar e seu saboroso Divertida Mente, que, vamos combinar, é um baita filme - e deveria, inclusive, ter sido nominado a categoria principal da noite. Vitórias em prévias como Globo de Ouro e Bafta só confirmam o favoritismo.

Quem eu gostaria que ganhasse: O Menino e O Mundo
Quem ganha: Divertida Mente

Henrique

Divertida Mente é, talvez, a melhor animação da Pixar e um dos melhores filmes do ANO para quem vos escreve. Ou seja, tem tudo pra ganhar na categoria muito embora seria um orgulho pra nós, brasileiros, vermos O Menino e o Mundo premiado - o que é pouco provável.

Quem eu gostaria que ganhasse: Divertida Mente
Quem ganha: Divertida Mente


Uma ótima cerimônia pra todos nós! =D

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Cinema - Cinco Graças (Mustang)

De: Deniz Gamze Ergüven. Com Günes Nezihe Sensoy, Doga Zeynep Doguslu e Elit Iscan. Drama, Turquia / França / Alemanha, 2015, 93 minutos.

Existe uma cena que talvez resuma à perfeição o cerne do debate proposto pelo singelo Cinco Graças (Mustang), indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pela França: em certa sequência os homens são proibidos pela Federação Turca de Futebol - a ação do filme se passa no País - a comparecerem ao próximo jogo do Trabzonspor, após uma confusão no estádio que envolveu violência entre torcidas, brigas generalizadas e selvageria no estádio. Assim, em uma daquelas raras decisões, apenas as mulheres estarão autorizadas a participar da próxima rodada, ocasião em que aproveitarão para, em lugar tipicamente ocupado por homens, fazer uma bela festa, com clima otimista, enérgico, colorido e vibrante. E, o melhor: sem nenhuma preocupação de serem tratadas de maneira diferente, com piadinhas, assédios ou comentários machistas de qualquer tipo.

Mas essa certa "liberdade" - fruto de uma certa "ocidentalização" que vem ocorrendo na sociedade turca nos últimos anos e que vem equilibrando (a passos de tartaruga), a igualdade entre gêneros - ainda é uma realidade muito distante das pequenas comunidades, especialmente as do interior. Nesses locais impera a lógica (ou falta de) de que "campo de futebol não é lugar pra mulher". E de que as moças não nascem e crescem para terem privilégios de qualquer tipo, sendo ainda tratadas, em uma sociedade puramente patriarcal, como aquelas que serão submissas ao marido - em casamentos, muitas vezes, arranjados. Que cumprirão seu papel de dona de casa, cozinhando, lavando, passando roupa, costurando. Estudar? Nem pensar. Trabalhar? Nada. É papel do homem prover o sustento. À mulher cabe deixar a casa limpa e arrumada, fazer a comida, cuidar dos filhos. Jogo de futebol é pela TV e olhe lá - já que o programa ideal para alguém do sexo feminino é a novela.


É nesse contexto de opressão que somos apresentados as cinco protagonistas da história - no caso as "cinco graças" do título em português. Um quinteto de irmãs órfãs que estudam e são cuidadas pela avó em uma vila distante centenas de quilômetros da "evoluída" Istambul. No começo do filme, o colégio está entrando em férias, então os estudantes aproveitam as horas de folga para curtirem a praia, de forma descontraída, despretensiosa, quase ingênua. Mas esse tipo de comportamento - rapazes e moças tomando banho de mar e brincando juntos - é visto como depravação pela conservadora comunidade, repleto de mulheres vestidas de túnicas "cor de merda" e de homens que não hesitam em destilar todo o seu machismo, travestido de preocupação em relação ao que os demais pensarão sobre um grupo de garotas "pervertidas" - que no fim, é preciso que se diga, só quer curtir a juventude, sem que essa se constitua como uma espécie de prisão.

Só que é justamente em uma prisão que elas passarão a morar, conforme os dias e semanas passarem e as suas pequenas subversões - sejam elas a a fuga para a assistir a uma partida de futebol ou para um encontro secreto com um candidato a namorado - aumentarem. O que, invariavelmente, ampliará o senso de impotência não apenas das meninas - que tem na faixa de 10 a 17 anos - mas de quem assiste a película e vê os muros e as grades se tornando obstáculos cada vez maiores, que funcionarão como uma excelente metáfora para a liberdade cerceada. Ainda que a obra se passe na atualidade, computadores e celulares também são confiscados na prisão domiciliar em que as jovens vivem. O que praticamente impedirá, pasmem, o seu contato com o mundo exterior - o que é feito, infelizmente com a conivência das mulheres mais velhas, que também contribuem para esse trágico processo, talvez, em muitos casos, calejadas por já terem também vivenciado tudo aquilo.



Não fosse o elenco absolutamente carismático (a interação entre as meninas é divertida e naturalista) e talvez a obra da diretora Deniz Gamze Ergüven, não tivesse a mesma força - e quando você perceber estará torcendo muito para que as coisas ocorram da melhor maneira possível para as protagonistas. [SPOILER ALERT: se você ainda não viu o filme e não quer ter nenhuma surpresa estragada recomendamos que pare a leitura por aqui] Há segredos familiares que vão sendo descortinados aos poucos e que aumentam a sensação de impotência em relação a situação vivida pelas moças - sendo a violência e até mesmo a morte praticamente inevitáveis. Em uma época que tanto se debate a igualdade de gêneros em nosso País - que muitas vezes, dadas algumas "vozes" que se ouve por aí, até parece mais atrasado que a Turquia (aliás, uma das notícias do dia, em Porto Alegre, dá uma pequena mostra disso) - um filme como Cinco Graças, gracioso até no título, tem a sua importância ainda mais ampliada.

Nota: 9,0

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Encontro com a professora - Jazz e Cinema

All That Jazz

Ninguém duvida da importância da trilha sonora em um filme. Às vezes sutil, outras vezes intensa, a música conduz, sem medo de errar, muitas das emoções que sentimos diante da telona. Seguem algumas dicas sobre cinema e um de seus namoros mais antigos e promissores: o jazz. 

Quem curte as comédias românticas dos anos 1950/60, pode checar Ama-me ou Esquece-me, de 1955, com a queridinha da América Doris Day, que sempre fazia papéis de garota casta se debatendo ante o desejo masculino. É famosa a frase de Groucho Marx sobre ela e sobre como Hollywood constrói seus mitos: "Conheci Doris Day quando ela ainda não era virgem". Mas a atriz também teve uma bela carreira como cantora e, na trama, interpreta a canção-título, Love Me or Leave Me, música consagrada por Billie Holiday.  




Recomendadíssimo também é o soundtrack de O Homem do Braço de Ouro, de 1955. Filme baseado no livro de Nelson Algren, é um estudo visceral sobre o vício em heroína. Produzido e dirigido pelo cineasta Otto Preminger, apresenta uma trilha sonora incrível em que a música também é personagem pelo impacto que tem sobre o espectador. Elmer Bernstein trabalha com o ritmo do jazz justamente nesse sentido e Frank Sinatra mostra a que veio neste filme, levando, merecidamente, um Oscar. Imperdível.  

Outro destaque é Por Volta da Meia-Noite, de Tavernier, de 1986, talvez a melhor cinebiografia sobre jazz. Uma mistura puramente impressionista de ficção e realidade, sem intriga, sobre a vida de músicos negros que vivem entre Paris e New York. Livremente inspirada na vida de Bud Powell, foi uma obra que surpreendeu principalmente por reunir um elenco formado por músicos, o que proporcionou performances memoráveis gravadas com áudio "em direto", num cenário especialmente criado para a excelência em captação de áudio. O protagonista foi o saxofonista Dexter Gordon que concorreu ao Oscar de melhor ator. 



Bird, 1988, biografa os últimos anos de Charlie Parker, o nome da inovação do jazz, fundador do bebop, e influência, até hoje, de vários outros nomes, um verdadeiro divisor de águas na história do jazz cuja importância na música só se compara a Armstrong e a Ellington. O filme foi dirigido por Clint Eastwood, também responsável pelo excelente As Pontes de Madison, cuja trilha é arrasadora. Quem não ouviu I´ll Close My Eyes, com Dinah Washington, não viveu. 

Sugiro, ainda, o delicioso My Blueberry Nights, de 2007, dirigido por Wong Kar-Wai. Nele, Norah Jones canta Summertime, standard gravado por muitas vozes e instrumentos do jazz (Coltrane, Billie, Sarah, Ella, Armstrong, além da interpretação antológica de Janis Joplin) para esta música de George Gershwin, composta para sua ópera Porgy and Bess, de 1935. Cassandra Wilson poetiza, literalmente, Harvest Moon, de Neil Young.  





Outra pérola é Monica Z, de 2014. Dirigido por Per Fly, conta a história de uma jovem sueca que, nos anos 60, sonha em ser cantora de jazz. Embora ela já se apresente em vários clubes de sua pequena cidade, seu sonho é ir para os EUA e viver entre os jazzistas norte-americanos, principalmente seu ídolo Bill Evans. Mas esta trama não trata de simples ficção. É a história de Monica Zetterlund, que se tornou famosa nos clubes de jazz de Estocolmo e depois internacionalmente, durante a época de ouro do jazz. É um bom filme, com trilha sonora impecável, que contrabalança bem o drama com o contexto da época, a um tempo liberal – na Suécia – e tremendamente preconceituoso na terra do jazz onde não permitiam que a artista, loira e linda, se apresentasse com músicos negros e “selvagens”. 

Encerrando esta jam – e aproveitando a vibe do Oscar em 28 de fevereiro – lembro o oscarizado Whiplash, de 2014, e a música tema do filme, com Hank Levy.  

Como se percebe, há muito que ver e ouvir. Boa audição.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Na Espera - O Dono do Jogo (Filme)

O cinéfilo de carteirinha sabe que esse primeiro semestre de 2016 está recheado de boas obras, que devem aparecer na telona nos próximos meses. Entre eles, o aguardado O Dono do Jogo (Pawn Sacrifice), promete agradar não apenas os fãs de xadrez - e, confesso, parece que fazia falta um filme com um pouco mais de envergadura que abordasse o esporte -, mas também os adeptos de thrillers políticos. O cenário, só pra variar um pouco, é o da Guerra Fria, envolvendo Estados Unidos e União Soviética. Nos anos 70, os soviéticos eram considerados praticamente imbatíveis no jogo de tabuleiro, sendo o enxadrista Boris Spassky um de seus representantes máximos. Mas eis que aparece um certo Bobby Fischer, espécie de prodígio norte-americano, que desafiará Spassky no Campeonato Mundial de 1972.



O jogo, disputado em Reykjavík, capital da Islândia, funcionará como uma espécie de metáfora para um conflito silencioso, onde ambas as potências pretendem medir forças, qualquer que seja a forma. Tobey Maguire (Homem-Aranha) e Liev Schreiber (visto recentemente em Spotlight - Segredos Revelados), interpretam os protagonistas. Michael Stuhlbarg e Peter Sarsgaard completam o elenco da película, que é dirigida pelo competente Edward Zwick - dos bons O Último Samurai (2003) e Diamante de Sangue (2006). Enquanto o filme que é baseado em fatos reais, não chega por aqui - a estreia em solo nacional, com dois anos de atraso, está prevista para o dia 14 de abril - vale conferir o trailer, que mostra também as pressões a que eram submetidos os sujeitos comuns, envolvidos em um contexto de guerra.


Disco da Semana - Animal Collective (Painting With)

Se o Animal Collective fosse um jogador de futebol, muito provavelmente ele seria o camisa 10 do time. O maestro. O líder. Aquele atleta diferenciado. Capaz das jogadas mais surpreendentes, dos dribles mais desconcertantes, das alternativas mais eficazes para deixar os atacantes na cara do gol. Seria aquele de quem se espera muito e, que, em muitos casos, seria fundamental para a vitória, as conquistas, as taças. O craque que todo o elenco sonha em ter! No Inter seria o D'Alessandro, talvez. No tricolor, o Renato Gaúcho (por mais que este não fosse o número de sua camisa). Foi assim, como uma espécie de meia avançado atuando em altíssimo nível, que os fãs do grupo de Baltimore, no Estado do Maryland, aprenderam a apreciar a discografia sempre instigante e nunca óbvia da banda desde o seu surgimento, no início dos anos 2000, com o experimentalíssimo Spirit They're Gone, Spirit They're Vanished.

Até mesmo pela capacidade de improviso, categorizar a banda dentro de um único estilo nunca foi tarefa fácil. Se trata de música experimental? Freak folk? Shoegaze? Psicodelia? Noise rock? Ou um conjunto de elementos que, misturados, é capaz de formar uma sonoridade única? Essa certa indefinição também ocorre ao ser analisada a discografia da banda, capitaneada por Avey Tare. Se Sung Tongs (2004) era uma obra garageira, barulhenta, quase tosca (no melhor sentido da palavra), Feels (2005) já possuía um clima mais onírico, bucólico e de emanações mais etéreas e nostálgicas. Se em Strawberry Jam (o meu preferido, de 2007) a base era a música eletrônica, com boas pitadas de rock'n roll, no incensado Merryweather Post Pavillion (2009), o que predominava era o aceno pop que não surpreenderia em rádios mais descoladas. Enfim, o quarteto sempre foi capaz de maravilhar o público com os seus registros diferentes, dotados de certa complexidade instrumental (e narrativa) e que sempre sugeriam a busca pela reinvenção, sem que isso representasse a fuga de um "modelo" de trabalho.


Mas até o camisa 10 do time "envelhece", passa a repetir seus movimentos, se tornar previsível. Eventualmente passa a ser vaiado - vaia que só ocorre porque o torcedor sabe que pode esperar MUITO dele. Ele não desaprendeu o seu ofício. Em seu íntimo segue sendo o craque de sempre. Mas talvez já esteja agora na zona de conforto, com uma carreira já consolidada, em que conseguiu cumprir o seu dever de forma quase sempre satisfatória. Ele já mostrou do que é capaz. O Animal Collective, com quase 20 anos de carreira, está muito longe de ser uma banda de velhos. Mas, aos poucos começa a repetir as fórmulas já testadas anteriormente, e que, se antes eram bem recebidas por representarem o uso de recursos inovadores, agora talvez não passem de um sentimento de "mais do mesmo" - e muitas bandas e artistas passam por processo semelhante, é preciso que se diga. Talvez essa sensação de "já ouvi isso antes" seja, de alguma forma, o que ocorre agora com o recém lançado Painting With, décimo disco da carreira do grupo.

Muito longe de ser um álbum ruim. Aliás, muito longe MESMO, já que o grupo apresenta, novamente, uma eficaz sequência de composições que contam, como de praxe, com um grande e variado número de instrumentos - e que quase ultrapassam a ambientação possível para uma sonoridade "terráquea". Singles como FloriDada e Golden Gal utilizam-se novamente de texturas mais acessíveis - uma certa limpeza vista em MPP - que talvez agrade novos ouvintes. Algo ampliado pela redução do tempo médio das músicas e do registro como um todo (que não ultrapassa os 41 minutos). Tudo com o padrão de qualidade de sempre. Só que pra quem se acostumou a Libertadores, fica difícil aceitar apenas um Gauchão. O Animal Collective nos deu agora um campeonato regional - o que sempre é bom, já que taça no armário é mais do que bem-vinda. Mas, como torcedores mal-acostumados que somos, a gente aguarda com certo saudosismo, que retornem os momentos épicos, a sonoridade grandiosa, as "conquistas inacreditáveis". Afinal de contas a gente sabe que esse camisa 10 pode muito mais!.

Nota: 7,3

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Novidades em DVD - Ponte dos Espiões (Bridge Of Spies)

De: Steven Spielberg. Com Tom Hanks, Mark Rylance, Scott Sheperd (II), Amy Ryan e Alan Alda. Suspense / Thriller Político, EUA, 2015, 141 minutos.

Pode-se dizer sobre Steven Spielberg o que se quiser: que seus filmes já não são tão grandiosos como em outrora, que a magia infantojuvenil de seu cinema talvez tenha minguado, ou que hoje ele trabalhe, com sua carreira consolidada, em uma espécie de "piloto automático", entregando obras corretas, mas dificilmente inesquecíveis. Mas tem algo que não muda na obra do diretor, responsável por clássicos tão distintos como ET - O Extraterrestre (1982), Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), Tubarão (1975) e O Resgate do Soldado Ryan (1998): a capacidade de contar boas e envolventes histórias, algo que ocorre, novamente, com o indicado ao Oscar de Melhor Filme Ponte dos Espiões (Bridge Of Spies), que deve pintar entre os lançamentos para a telinha já no início do mês de março.

No filme, Spielberg utiliza-se mais uma vez de um expediente que tem repetido, especialmente em seus trabalhos mais recentes: o do recorte, em muitos casos baseado em fatos reais, envolvendo um pano de fundo histórico e político. Foi assim com os já hoje distantes (e ótimos) A Lista de Schindler (1993) e Amistad (1997). O mesmo tendo ocorrido ainda com mais força em sua filmografia recente, vide os casos de Munique (2005) e Lincoln (2012). Em Ponte dos Espiões, o diretor se alia novamente a Tom Hanks para contar a história real de um advogado especializado em seguros chamado James Donovan (Hanks), que aceita um trabalho um pouco diferente ao que ele está acostumado: defender o espião soviético Rudolf Abel (Rylance), capturado pela CIA em meio a Guerra Fria, que é acusado de entregar segredos militares dos americanos para os comunistas.


Essa sinopse poderá enganar aquele cinéfilo que talvez possa imaginar estar diante de mais um representante da sétima arte que servirá apenas para ressaltar as virtudes e o patriotismo do povo americano. Mas não. Aliás, é exatamente a contrário. Hanks, com aquele estilo "boa praça" de sempre, capaz de transmitir com a maior naturalidade do mundo a fragilidade e a força que seu papel exige, incorpora Donovan como um advogado disposto a defender Abel de maneira justa e humanística. Enquanto a "família de bem americana" clama para que o espião vá para a cadeira elétrica, o protagonista trabalha para que o julgamento tenha o desfecho mais justo possível - nem que para isso tenha de comprar briga com lideranças políticas norte-americanas, que imaginavam tornar o julgamento uma espécie de mera formalidade, já que o destino de Abel já estaria mais do que traçado. Ainda que não existisse absolutamente nenhuma prova sobre que indicasse qualquer tipo de subversão de sua parte. A sede por sangue só esfriará após uma pequena reviravolta no contexto do conflito que, para aqueles que não assistiram o trailer, poderá se constituir em uma razoável surpresa.

Assim como Hanks que realiza, como de costume, uma performance correta, Rylance interpreta Abel como um homem frio, discreto e de fala mansa, capaz de cativar a todos com a melancolia de seu olhar - não à toa, a sua caracterização (e comportamento) no primeiro terço da película é um dos pontos altos da obra. O que certamente explica a sua primeira indicação ao Oscar - na categoria Melhor Ator Coadjuvante. Sua interação com o personagem de Hanks, que rende os melhores diálogos da história - "você não parece preocupado", afirma o advogado em certa hora, ao que o espião responde "e isso ajudaria?" - também contribui para que o filme, ainda que tenha um ritmo certamente mais arrastado, não se torne cansativo. E o humor quase nonsense em uma série de sequências - sendo uma das mais divertidas, a cena em que Hanks é perseguido na madrugada chuvosa por um homem de capa -, é fruto do trabalho dos Irmãos Coen que colaboraram com o roteiro.



Tendo ainda como uma de suas forças o excelente trabalho de Direção de Arte, o filme é capaz de recriar cenários, lugares e elementos cênicos com grande riqueza de detalhes. O mesmo pode ser dito do trabalho de fotografia de Janusz Kaminski, que adota uma paleta de cores amarelada e eventualmente acinzentada e sombria - especialmente nas cenas europeias, e que contribui para o clima tenso que se estabelece a partir da metade da obra. Ainda que não possua um grande e climático final ou que peque aqui e ali pelo excesso de didatismo ou pela falta de sutileza - (SPOILER ALERT: a sequência final seria tão mais impactante se a esposa percebesse por conta própria, ao ver o desfecho do caso da troca de espiões na TV, que o seu marido não havia ido "pescar", como anunciara), Ponte dos Espiões jamais esmorece em sua mensagem antibélica. O que mostra que a arte pode ir para muito além do puro e simples entretenimento.

Nota: 8,0

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Disco da Semana - Rihanna (Anti)

Qual caminho deve seguir uma artista de consolidada carreira na música pop, que possua mais de meia dúzia de discos formados por um rico catálogo de canções comerciais e radiofônicas - muitas delas figurando nos primeiros lugares das paradas -, e que, consequentemente, tornou os seus milhões de fãs acostumados a um certo padrão de consumo? Manter a mesma lógica, permanecendo na chamada "zona de conforto", quem sabe lançando mais e mais registros que servirão apenas para consumo imediato sendo talvez, posteriormente, relegados ao esquecimento, num processo naturalmente descartável dentro de um gênero com essa característica? Ou quem sabe talvez se reinventar, sair um pouco do lugar comum, experimentar um pouco mais, enfim, arriscar? Se você acredita que a segunda alternativa é a melhor, seja bem-vindo a um dos melhores (se não o melhor), disco da cantora Rihanna, o recém lançado e surpreendente Anti.

Ok, pra começo de conversa, também não estamos aqui falando que a artista tenha feito uma espécie de Kid A - o incensado e revolucionário álbum do Radiohead -, alterando tão drasticamente o seu modelo de trabalho. Ocorre que, para quem se acostumou a ouvir faixas carregadas de auto-tunes, sintetizadores e batidas mais naturalmente descomplicadas como nos casos dos ótimos hits Only Girl (In the World), What's My Name?, Diamonds, We Found Love, You Da One, ou mesmo a inaugural Umbrella, não deixa de surpreender o clima quebrado e pouco óbvio da abertura Complicated, ou mesmo o urgente soft pop feito com riqueza instrumental de James Joint, a oitentista Kiss It Better, a levemente caótica Woo (que chega a surpreender pela curiosa semelhança com o tUnE-yArDs) ou mesmo a jazzística Love On the Brain, que não faria feio no mais recente disco do Alabama Shakes (ou seria do Vaya Con Dios?). A compositora parece ter bebido de várias fontes desde o agora já distante e feito para as pistas Unapologetic (2012). E as aplica em seu novo trabalho de forma orgânica e fluída.



É claro que, como já mencionado, as mudanças não são da "água para o vinho". Mas são pequenas alterações que fazem com que esse oitavo registro se afaste um pouco das soluções um pouco mais fáceis encontradas por Rihanna em seus álbuns anteriores, tornando esse álbum levemente mais desafiador, o que faz com que ele cresça a cada audição. Ainda que, em cada curva de seu rico, limpo e característico vocal seja possível encontrar um pouco de cada elemento - dentro dos referenciais de hip hop, R&B e soul music - que até hoje formou a sua discografia. Não à toa que canções como a ótima Work - feita em parceria com o rapper Drake - muito provavelmente farão "carreira" nas rádios mundo afora - tanto que uma audição isolada da música talvez cause até um certo estranhamento ao ouvinte que ler essa resenha.

E aí chegamos a sensacional Same Ol' Mistakes, que, ao emular a canção New Person, Same Old Mistakes dos australianos do Tame Impala - presente no recente Currents, um dos melhores discos internacionais do ano passado -, talvez represente mais significativamente o novo momento vivido por Rihanna, algo muito provavelmente impensável na época de discos como o popíssimo Loud (2010). E o grudento refrão que inicia com a frase feel like a brand new person, parece simbólico, quase como um recado metafórico dado aos fãs e a crítica (por mais que a canção seja puramente romântica). Algo que também pode ser visto na imagem da capa, criada pelo artista gráfico Roy Nachum - e que a afasta do padrão fazendo-careta-e-sensualizando dos discos anteriores. Talvez Anti afaste um pouco o seu "ouvinte padrão". Mas quem se aventurar pelo trabalho, certamente descobrirá uma coleção de grandes canções.

Nota: 7,7

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Cinema - Brooklyn (Brooklyn)

De: John Crowley. Com Saoirse Ronan, Domnhall Gleeson, Emory Cohen, Julie Walter e Jim Broadbent. Drama / Romance, Irlanda / Reino Unido / Canadá, 2016, 111 minutos.

Se houvesse uma categoria no Oscar que premiasse o melhor desempenho coletivo dos atores, que me perdoe o excelente (e hollywoodiano) elenco do ótimo Spotlight - Segredos Revelados, mas a distinção deveria ir para os intérpretes do belo e singelo Brooklyn (Brooklyn), um dos oito indicados a Melhor Filme na premiação máxima do cinema, que ocorre na noite do próximo dia 28 de fevereiro. É praticamente impossível ficar alheio a tantos personagens interessantes numa mesma obra - sejam eles a tagarela e histriônica senhora Keogh (Julie Walters), dona de uma pensão que abriga jovens mulheres nos Estados Unidos, o bondoso e carismático padre Flood (Jim Broadbent), que auxilia a protagonista em suas intenções, ou mesmo o doce e apaixonado Tony (Emory Cohen), jovem italiano que trabalha como encanador e que tem uma predileção por festas irlandesas.

A obra do jovem diretor John Crowley - do interessante Circuito Fechado (2013) - é relativamente simples e conta a história da jovem Ellis Lacey (Ronan), que se muda de sua terra natal - um povoado no interior da Irlanda -, para tentar viver o sonho americano no bairro do Brooklyn, em Nova York. Ainda que a adaptação seja complicada, a jovem supera a saudade de casa, personificada pela mãe e pela irmã amorosas, especialmente após conhecer e se apaixonar pelo já citado Tony. Sim, é uma história de amor meio a moda antiga, com fotografia extremamente elegante e um estilo classudo, que, curiosamente, faz lembrar filmes como Orgulho e Preconceito (2005) e Desejo e Reparação (2007), sendo que este último rendeu a Ronan sua única indicação ao Oscar até então, quando tinha apenas 13 anos de idade. E é nesse novo ambiente que Ellis tentará se adaptar, tendo de tomar decisões que modificarão sua vida para sempre - especialmente nos campos amoroso e profissional.


E se o trabalho do elenco de coadjuvantes é exemplar, é preciso que se diga que Ronan não apenas faz por merecer a sua segunda indicação ao Oscar, como não seria nenhuma injustiça se vencesse na categoria Melhor Atriz - ok, ainda não assistimos a O Quarto de Jack, da favorita Brie Larson. Com um desempenho extremamente natural - ainda que tenha nascido em Nova York, a atriz se mudou ainda jovem para a Irlanda -, a intérprete utiliza-se de gestos delicados e olhares sutis para representar tanto as pequenas como as grandes mudanças que ocorrem em sua vida, com o desenrolar da trama. Nesse sentido, se no primeiro terço do filme vemos Ellis como uma jovem tímida e de modos introvertidos (ela chega até a caminhar meio curvada pra baixo), não deixa de surpreender a desenvoltura e a forma segura como se movimenta em seu retorno a Irlanda, já no terço final, quando se torna uma jovem de ares cosmopolitas e independentes. O que serve como exemplo de uma composição primorosa e de grande talento.

E se as interpretações ajudam para que, ao final, estejamos torcendo para que tudo ocorra da maneira mais satisfatória possível com cada personagem que vemos em tela, a fotografia e o desenho de produção também contribuem para que se torne mais palpável a transformação vivida pela protagonista. Se antes a jovem se comportava de maneira insegura e frágil - o que podia ser visto nas roupas em tons pastel e nos sapatos masculinizados - após o seu "intercâmbio", ela se torna uma mulher capaz de decidir por conta própria os caminhos a seguir em sua existência - sendo marcantes as já citadas mudanças de postura, que também podem ser observadas no figurino, que no terço final passa a ser de cores fortes e quentes e nos sapatos de salto alto, que ressaltam também a feminilidade e a maior confiança no que diz respeito aos relacionamentos. Parece tudo muito simples, e é. Mas os pequenos conflitos, as idas e vindas e as surpresas do roteiro - escrito por Nick Hornby - garantem certamente uma experiência acima da média.

Nota: 8,0


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Cinema - O Quarto de Jack (Room)

De: Lenny Abrahamson. Com: Brie Larson, Jacob Tremblay, Sean Bridgers, Joan Allen e William H. Macy. Irlanda/Canadá, Drama, 2015, 118 minutos.

Dos candidatos ao Oscar 2016 de melhor filme temos pelo menos duas obras extremamente impactantes para o espectador. Se em O Regresso vemos Leonardo DiCaprio passando horrores em busca por vingança e sobrevivência, neste estupendo O Quarto de Jack (Room) temos pelo menos duas personagens enfrentando situações limite pelas quais torceremos intensamente durante as quase duas horas de projeção. Dirigido pelo irlandês Lenny Abrahamson (do elogiado Frank), o filme conta a história da Mãe (Larson) que, sequestrada e há 7 anos vivendo trancada em um quarto minúsculo (o Room, do título em inglês) possui um filho de 5 anos de idade, Jack (Tremblay), fruto dos constantes abusos perpetrados pelo seu sequestrador "Old" Nick (Bridgers).

Tendo no filho a única companhia para sua vida em cativeiro, Ma ("mãe" em inglês, como é chamada por Jack) tenta de todas as maneiras tornar o ambiente um lugar menos insuportável de se viver. Não é a toa que, ao enxergarmos a criança, temos a sensação de que sua existência é aparentemente normal - e feliz. Claro, tendo em conta que o menino conhece apenas os objetos ali presentes (o tapete, as plantas, o abajur) e os únicos contatos "humanos" de Jack são os desenhos animados que assiste pela televisão, sua mãe e "Old" Nick. Este último, em especial, que aparece de tempos em tempos trazendo comida e alguns "presentes", sendo considerado pela criança quase como um "bem feitor" - em um artifício criado pela Mãe afim de evitar o sofrimento de seu filho, que é instruído a se trancar dentro do armário durante as visitas de seu algoz que a violenta constantemente. Para completar o ambiente claustrofóbico, o único acesso ao meio externo dá-se através de uma claraboia, cujo céu azul através do vidro torna-se um sonho distante a ser perseguido.


Baseado no livro de Emma Donoghue, o roteiro (adaptado pela própria autora), junto ao primoroso trabalho de direção de Abrahamson, traz um primeiro ato praticamente insuportável para o espectador que, ao mesmo tempo em que admira os subterfúgios utilizados pelo par principal para distorcer aquela realidade, torce incessantemente para que ambos consigam sair dali, sem saber exatamente como isso seria possível - o que aumenta ainda mais a angústia de quem testemunha o drama de ambos. E justamente devido à empatia proporcionada pela dupla principal, somos levados a nos importar e sofrer por eles ao perceber o desperdício de vida causado pela trágica situação em que se encontram. Apesar de esta ser uma obra de ficção, sabemos que histórias do tipo são reais - é só lembrar do caso do austríaco Josef Fritzl que manteve a própria filha (!) aprisionada e violentada sexualmente durante 24 anos - o que torna tudo ainda mais verossímil.

É óbvio que nada disso funcionaria se não fossem as soberbas atuações. Tremblay está impressionante como Jack (e merecia, juntamente com outra criança, Abraham Attah - de Beasts of No Nation - uma indicação ao Oscar deste ano), passando toda a doçura e vulnerabilidade de seu personagem que, mesmo nascido em circunstâncias indesejáveis, desperta na Mãe todo seu instinto protetor, além do amor incondicional inerente, o que torna as decisões da personagem interpretada brilhantemente por Larson (que só não ganhará o Oscar este ano se o mundo terminar antes) na transição para o segundo ato ainda mais difíceis e questionáveis - embora justificáveis. A atuação de Larson, por sinal, tem múltiplas nuances, passando de momentos de ternura para outros de raiva e o mais puro desespero, em um trabalho que ficará na mente de todos para sempre. Mas não é só isso: desde a edição e a trilha sonora, tudo funciona de modo complementar e orgânico à obra - e o exemplo máximo é a cena de transição entre os dois atos, que é uma das coisas mais aterrorizantes e tensas que já tive a lembrança de experimentar na telona (quem assistir saberá do que estou falando).

Sem revelar detalhes maiores da trama (se você não assistiu ao trailer do filme recomendo parar a leitura por aqui, já que o mesmo revela fatos importantes), podemos afirmar que o alcance temático e de significado da obra até o seu término é ainda mais abrangente, comovente, pungente e tocante. Ao mostrar as consequências do estresse pós-traumático, o alcance e a força do amor materno, a reação da família frente ao ocorrido (com o destaque para a atuação de Allen) e os desafios em recomeçar uma nova vida, O Quarto de Jack alcança um status de sublime ao demonstrar paradoxalmente os diversos lados da natureza humana - simultaneamente capaz dos atos mais autodestrutivos e belos, porém com uma inesgotável capacidade de enfrentar as dores e descaminhos da vida e insistir na busca de felicidade e afeto compartilhado com o próximo - o que deixa a obra ao lado de filmes como Amor (de Michael Haneke) e Ela (de Spike Jonze) na categoria de filmes excepcionais, porém que não pretendo voltar tão cedo a revisitar por ser uma experiência emocionalmente devastadora e impactante. 

Nota: 9,5


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Especiais Oscar: Charlotte Rampling

Não fosse a atuação tocante de Charlotte Rampling, percorrida por meio de gestos e olhares capazes de dizer MUITO, e talvez a obra 45 Anos (45 Years) passasse despercebida do grande público, sendo relegada posteriormente a condição de "mais um drama europeu como qualquer outro". Mas a sua entrega ao papel de uma mulher prestes a completar 45 anos de casada com o marido Geoff (Tom Courtenay), é ao mesmo tempo discreta e potente, sugestiva e eficaz. É daquelas interpretações que realmente fazem a diferença - e que talvez expliquem a única nominação ao Oscar - na categoria Atriz - da película do britânico Andrew Haigh, que tem no currículo os alternativos Weekend (2012) e Looking (2014). Sim, 45 Anos não é daqueles filmes inesquecíveis. Mas é uma obra de momentos. E de reflexões, que acabam envolvendo o espectador justamente por fazê-lo pensar sobre uma situação que é tão natural a qualquer pessoa: o envelhecimento e como evoluem em paralelo as relações afetivas.

Poucos dias antes da festa que marcará a importante data, Geoff recebe uma carta com uma impactante notícia que abalará a rotina já um tanto fastidiosa e rotineira de ambos: o corpo de sua primeira namorada, e que foi seu grande amor da juventude, foi encontrado congelado no meio dos Alpes Suíços. O que desencadeará no sujeito um sério abalo emocional, trazendo de volta as memórias de um passado agora já distante, mas que retorna vívido, luminoso, como a época em que viveu aquela marcante paixão. É nesse contexto que a personagem de Charlotte, de nome Kate Mercer, ampliará a sua importância na película, assim como também se tornarão maiores as suas dúvidas e o seu sofrimento em relação aos sentimentos do marido, que agora vive uma espécie de embriaguez quanto ao que ocorreu anteriormente.


Não chega a ser exatamente uma novidade a capacidade de a atriz britânica - que acaba de completar 70 anos, no último dia 05 de fevereiro - de elevar a qualidade dos filmes que participa a um outro patamar, apenas com a sua inebriante e classuda presença. Especialmente em sua carreira mais recente. Talvez a pequena pérola Swimming Pool - A Beira da Piscina (2003) de François Ozon não tivesse a mesma potência, enquanto filme de suspense, não fosse ela que emprestasse seu talento a escritora de romances policiais que vive uma crise criativa. Aliás, o prolífico diretor francês já contou com a veterana em quatro ocasiões diferentes - além de Swimming Pool, Sob a Areia (2000), Angel (2007) e Jovem e Bela (2013) -, o que dá uma mostra do valor de suas interpretações.

O mesmo vale para o surpreendente Não Me Abandone Jamais (2010), em que ela vive a professora Miss Emily, um papel que, ainda que pequeno, é de fundamental importância e de alto grau de exigência para o contexto desse pequeno grande filme. E o que dizer da enigmática Anna da obra Eu, Anna (2013), em que ela interpreta uma mulher que é vista próxima a cena de um crime? A sua presença em obras importantes como Memórias (1980), O Veredicto (1982), Coração Satânico (1987) e Melancolia (2011), bem como a lista de diretores com quem já trabalhou - que vai de Woody Allen e Sidney Lumet, a Todd Solondz e Norman Jewison -, também servem como um belo portfólio da carreira de mais de 40 filmes da estrela europeia.


É muito provável que Charlotte não vença o Oscar em sua categoria - a favorita parece ser Brie Larson, por sua performance no tocante O Quarto de Jack. Ainda mais depois da polêmica em que se envolveu, quando afirmou (pra nossa tristeza) que o boicote ao Oscar era "racismo contra os brancos" e que "talvez nesse ano os atores negros não merecessem estar na lista final". O que não deixa de ser uma surpresa, já que ela, como integrante integrante da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas deve ter assistido às viscerais interpretações de Samuel L. Jackson, em Os Oito Odiados, Idris Elba, por Beasts Of No Nation ou mesmo Michael B. Jordan, que bem poderia aparecer entre os candidatos a Melhor Ator - talvez no lugar de Bryan Cranston -, por sua performance no surpreendente Creed. Em nome dos bons serviços prestados à Sétima Arte a gente perdoa esse lapso, Charlotte. Mas que não se repita!




Lançamento de Videoclipe - Lana Del Rey (Freak)

A cantora Lana Del Rey lançou um dos melhores discos do último ano, o denso, soturno e cinematográfico Honeymoon. Como forma de seguir a divulgação do registro - que se afasta em definitivo do clima Katy-Perry-wannabe do primeiro trabalho, o pop Born to Die (2012) - a americana divulgou, na última semana, um videoclipe para a ótima e empoeirada canção Freak. A produção, de quase 11 minutos, conta com a especialíssima participação de Josh Tillman, o Father John Misty em pessoa. O vídeo mostra a dupla em uma espécie de viagem lisérgica, com direito a um epílogo ao som do Claire De Lune, de Debussy - "eu tomei ácido em um show da Taylor Swift", brincou Tillman. Na internet, as teorias envolvendo o clipe são várias, com direito a citações a Charles Manson e ao pastor Jim Jones, dependendo da interpretação. Pra você tirar as suas conclusões, é só clicar!


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Novidades em DVD - Um Senhor Estagiário (The Intern)

De: Nancy Meyers. Com: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Adam DeVine. Comédia, EUA, 121 minutos, 2015.

É provável que a principal piada do recém chegado em DVD Um Senhor Estagiário (The Intern), seja metafórica, algo no melhor estilo "a vida imita a arte". Robert De Niro, vocês bem sabem, dispensa qualquer tipo de apresentação: seus papeis em clássicos como Taxi Driver (1976), O Franco Atirador (1978), Touro Indomável (1980), Os Intocáveis (1987) e Cabo do Medo (1991) são um belo cartão de visitas sobre o que foi a carreira deste grande ator. Em resumo, Bob, como é chamado nos círculos mais íntimos, fez de tudo um pouco no cinema, acumulando em sua trajetória muito mais acertos do que erros. O que lhe garantiria talvez a possibilidade de desfrutar de uma aposentadoria tranquila, discreta e, muito provavelmente, frugal. Mas, quem, sabendo de sua capacidade, gosta de ficar parado? Com os astros de Hollywood, não é diferente, claro. O que talvez explique a sequência desastrosa de projetos em que De Niro anda se envolvendo nos últimos tempos, entre eles o que motiva essa resenha.

A vida imita a arte, eu mencionei ali no começo da resenha. No filme de Nancy Meyers - de obras divertidinhas (tentando encontrar um adjetivo adequado), voltadas a classe média americana como Alguém Tem Que Ceder (2003) e Simplesmente Complicado (2009) -, De Niro é mais ou menos como o seu "eu" da vida real. Bem sucedido após uma vida inteira dedicada ao trabalho em uma fábrica de listas telefônicas, ele curte a aposentadoria, o que inclui viagens, sessões de ginástica naturista para idosos, partidas de golfe, filmes e cafés da manhã na padaria local. Só que o seu personagem, Ben Whittaker, aos 70 anos de idade, após se tornar viúvo, está entediado. E resolve entrar em um programa promovido por uma startup de vendas de roupas online, que recruta estagiários da "melhor idade" (usando aqui uma expressão de que não simpatizo). Ben poderia ficar na sua, curtindo a aposentadoria. Mas, assim como Bob, quer trabalhar: independentemente da empreitada.


O "novo" empregado trabalhará diretamente com a chefe da firma, Jules Ostin (Hathaway), que, como muitos jovens bem sucedidos em seus negócios, iniciou a empresa há apenas 18 meses, transformando-a, nesse meio tempo, em um grande empreendimento com mais de 200 funcionários. Jules é um clichê ambulante no que se refere a mulher moderna, que firma sua posição em um mercado muitas vezes dominado por homens: workaholic, é incapaz de equilibrar as vidas pessoal e profissional, o que, em um filme que se pretende feminista, resulta em um baita tiro no pé. E Ben estendendo lencinhos - em um aparente ato de cavalheirismo - para salvar a situação de mulheres que choram por qualquer coisa, é algo que também não contribui para o cenário que se quer criar.

Assim como não funcionam os comentários e gags sobre igualdade de gêneros, pouca é a efetividade do roteiro, que, curiosamente, não apresenta NENHUM arco dramático que realmente tenha potencial para envolver o espectador. Ben é bem sucedido, e, a despeito das dificuldades com a tecnologia e das diferenças entre gerações - e que rendem, disparado, as melhores piadas - ele facilmente se encaixa no dia a dia da empresa, praticamente sem sofrer qualquer tipo de preconceito, fazendo amizade com os mais jovens e até encontrando uma nova possibilidade amorosa na massagista vivida por Rene Russo. Jules é pra ser uma carrasca no mundo dos negócios e nem bem com meia hora de projeção, já estabelece uma empatia e uma relação de afetividade e amizade com Ben, o que praticamente ocorre sem percalços. É tudo muito leve, cor de rosa, embrulhado em um sachê de lavandas. Pra quem gosta de feel good movies, um prato cheio. Pra quem procura algo mais, digamos, desafiador, é recomendado passar longe.

Nota: 4,5

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Lado B Classe A - Lupe de Lupe (Quarup)

Peço perdão ao leitor para uma declaração apaixonada a um disco pouco ouvido, de uma banda pouco conhecida, mas que acaba por tomar de arrebatamento quem vos escreve. E não é coisa de agora. Ele foi crescendo aos poucos, ao longo de muito tempo e durante muitas etapas da vida - Arte tem muito a ver com o contexto em que ela é inserida e chega a nosso encontro. Divago, mas explico: Lupe de Lupe (cujo nome não significa nada, conforme os integrantes) é uma banda mineira formada por Renan Benini (baixo e vocal), Cícero Nogueira (bateria), Vitor Brauer (guitarra e vocal) e Gustavo Scholz (guitarra e vocal) que iniciou sua carreira no ano de 2008, tendo lançado oficialmente seu primeiro disco em 2011, o EP Recreio. Após seguiram-se o álbum Sal Grosso (2012) e o EP Distância (2013) chegando ao derradeiro e ambicioso disco duplo Quarup, de 2014.

O que leva alguém a querer lançar um disco duplo em plena época de audições superficiais e imediatismo musical devido à internet? A pergunta eu não sei responder, mas ambição certamente é a palavra chave que define a jovem banda de Belo Horizonte. Pertencer à escola punk do do it yourself e ao estilo "eu não sei tocar mas toco" não são fatores limitantes para o resultado assombroso alcançado pelo grupo no registro em questão. Antes de mais nada o estilo aqui é rock, mais precisamente o noise rock, o pós-punk e o shoegazer, tudo embalado em uma estética lo-fi e barulhenta aos melhores moldes do rock independente dos anos 90 (Guided by Voices e Pavement são as primeiras bandas que me vem à mente, além é claro do Sonic Youth). Há um pouco também do rock brasileiro dos anos 80 (Legião Urbana é uma referência óbvia, reforçada pela homenagem a la My Bloody Valentine da clássica Por Enquantoem single lançado anteriormente) no caldeirão sonoro apresentado pelo grupo, que possui diversos compositores e vocalistas - o que torna tudo ainda mais embaralhado e imprevisível, mas de uma sinceridade desconcertante (e que é ainda mais reforçada pelas explosivas e emocionadas performances ao vivo).


Batizado de forma homônima ao clássico romance de Antônio Callado, de 1967, Quarup é enigmático em sua essência, mas se levarmos em consideração o tema da obra referenciada (o conflito do romance de Callado resume-se na incapacidade e na insuficiência da ação humana contra a injustiça de uma sociedade) tudo passa a ter um sentido mais amplo - porém não menos desafiador, tanto na forma lírica quanto instrumental. Concebido em duas partes, um lado positivo e outro negativo, temos uma parte mais "de boa" e outra mais "porrada", respectivamente. Do início contemplativo com O Futuro é Feminino até o pop rock de O Arrependimento na sequência, a aura é de gravação ao vivo, com poucos aparos de arestas imperfeitas, vocais desafinados e guitarras tortas, o que pode (deve) causar estranhamento em ouvidos pouco afeitos ao som mais experimental e sem polimentos a que somos apresentados aqui. Da declaração de amor da faixa Gaúcha que, de tão sincera e cara limpa, chega a ser constrangedora (no melhor dos sentidos) à maravilhosa e roqueira Ao Meu Verdadeiro Amor, o disco consegue emocionar àqueles que se deixarem arrebatar pela música sem concessões dos mineiros. Da bem humorada Esse Topper Foi Feito para Andar até a lenta, climática e bela Ágape e a catártica e ressentida Fogo-Fátuo, somos lentamente encaminhados para o lado B da obra.

Do início com os quase dez minutos de Jurupari, com suas guitarras e barulhos ensurdecedores, o clima é de pesadelo desafiando o ouvinte até onde ele é capaz de chegar. A porrada segue solta com Orquesta para Três (com sua citação a Quero Ser John Malkovich) e Minha Cidade em Ruínas, com o desespero típico de uma alma jovem e atormentada pela fase provavelmente mais difícil da vida - a passagem para a vida adulta, o amadurecer e o se sentir um estranho em sua própria cidade. Querubim alivia um pouco a barra ao esboçar a cura das feridas, mas sem deixar as guitarras post-rock de lado. A raivosa Eu Já Venci destila no vocal declamado e desconfortável de Vitor Brauer uma série de frases fortes, cuspindo na cara da cultura de vencedores tão em voga com sarcasmo e ironia mordaz, fazendo uma dobradinha coerente com a antepenúltima faixa Você é Fraco. O shoegazer volta com força total na dupla A César o que é de César, A Deus o que é de Deus e a derradeira Carnaval, com seus intermináveis 15 minutos.

Confesso pra vocês que encarar a obra do início ao fim é uma tarefa hercúlea, não só pela duração do disco (2 horas) mas também pelo teor das canções. Ao optar ir pela contramão de toda uma indústria e até mesmo de um estilo musical, a Lupe de Lupe chega ao auge da sua proposta com este impactante Quarup que, de tão urgente e visceral, deixa uma marca indelével em quem o escutar - para o bem e para o mal. Tem sentimentos aqui que evito retornar, enquanto outros me fazem sorrir e voltar frequentemente - coisa que só o tempo é capaz de fazer - e esta é uma obra que permaneceu comigo e provavelmente continuará por muito tempo. Resta ao ouvinte um convite a se aventurar.

A minha melodia é vã e arrogante
E parece engolir as outras melodias
Com a violência que é a minha voz
E que apesar de corajosa e arredia
No fim tende sempre a se juntar
A todas as outras melodias
Numa grande e estupenda harmonia
Num conjunto sublime e universal
Que soma a destruição e o amor
Num conjunto final
Carnaval

P.S.: É da banda também a homenagem à musa Tainá Müller, registrada no EP Distância.



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Lançamento de Videoclipe - Ok Go (Upside Down & Inside Out)

A banda de indie rock Ok Go é mais conhecida pelos seus videoclipes do que propriamente sua música. Quem não lembra do fabuloso video do single This Too Shall Pass, do álbum Of the Blue Colour of the Sky, de 2010, que viralizou tornando a banda estadunidense mundialmente famosa?

Pois é. Agora o grupo retorna em grande estilo com insano o clipe da música Upside Down & Inside Out, carro chefe do seu disco mais recente, Hungry Ghosts. No melhor estilo Apollo 13, os integrantes embarcaram em uma aeronave que os deixou em gravidade quase zero e... o que acontece só vendo pra crer! Embora a ideia não seja necessariamente original - Lulu Santos utilizou um conceito parecido em seu clipe pra música Todo Universo, como bem lembrou o crítico musical Iberê Borges - o resultado que verificamos aqui é sem precedentes, como toda matéria prima dos sonhos deve ser.

Isso, claro embalado em uma música muito bacana...



Vai perder? Clica AGORA no link abaixo e torne seu dia melhor. Nós garantimos!

https://www.facebook.com/okgo/videos/10153210535420683/

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Encontro com a Professora - Pacto Sinistro

Hitchcock e o crime quase perfeito

Quase todo admirador de filmes de suspense encontra em Alfred Hitchcock a referência das referências. Ainda que haja alguns tropeços aqui e ali, principalmente nos últimos anos da fase americana, tramas como Um corpo que cai, Psicose, Janela indiscreta, entre outros, são irretocáveis. Mas falemos de Pacto sinistro, de 1951.


Em um trem, estão dois homens desesperados para livrarem-se das pessoas que os oprimem: uma esposa que nega o divórcio, impedindo o marido de casar com a mulher que ama, e um filho cujo pai se nega a entregar-lhe a herança. Como conseguir amor e dinheiro, os dois eixos básicos da construção de um crime, de uma só tacada? O título no original entrega a senha: Strangers on a train.

Baseado no livro homônimo de Patricia Highsmith – a mesma autora de O talentoso Ripley – o filme conta a história do perturbado Bruno Antony (Robert Walker) e do inseguro tenista Guy Haines (Farley Granger, um dos atores de Festim diabólico), homens que se encontram aparentemente por acaso em um trem e começam uma conversa que põe à mesa o problema de cada um e, concomitantemente, a solução. Antony traça um plano perfeito: ele mataria a mulher de Guy e este mataria o pai de Bruno. Como ambos não têm qualquer relação, não haveria suspeitas. Haines não aceita, mas isso não faz diferença para Antony Bruno que executa a sua parte do plano e passa a exigir que Haines cumpra a dele.

Imediatamente é rompida a ilusão de que será uma trama policial hitchcockiana em que um investigador – não necessariamente autorizado para isso – persegue um suposto criminoso. A caçada, de fato, se estabelece entre os dois quase amigos, num jogo de gato e rato em que a policia é coadjuvante na resolução do caso. Na base, o enredo se desenrola a partir da fórmula do gênero, mas existe, neste caso, um assassinato planejado e, na tentativa de NÃO cometê-lo, cria-se uma situação detetivesca inusitada. Não dá para negar que a finalização é um pouco forçada. Mas como Hitch não costuma deixar nós soltos, é o próprio vilão que permite isso, ao perder o controle. Ademais, em Hitchcock sempre há mais do que um plot a contar.


O filme também oferece luta de classes, relações de gênero e hierarquias que mereceriam uma tese. Tudo em doses adequadas, às vezes tão sutis que sequer percebemos, como, por exemplo, as diversas representações femininas do filme. Da mesma forma, não dá pra negligenciar a relação entre Bruno e a mãe. Ele é um narcisista borderline e a mãe, cega ma non troppo, tenta protegê-lo, pateticamente, do pai e de todos que enxergam a verdade sobre o filho. Como sempre, Hitchkock não está preocupado em achar as causas ou em aprofundar, de maneira explícita, o problema psicológico de seus personagens. Porém, não se trata de displicência do diretor – pois seus suspenses são, essencialmente, psicológicos – mas a insistência em deixar pairando a psicose humana como a base da construção fílmica. 

Strangers on a train possui uma série de situações alegóricas. Enquanto os personagens interagem num processo de tensão crescente, existem detalhes que contam a história simultaneamente. É imperdível a metáfora do jogo de tênis de Haines relacionada à corrida de Bruno para incriminar o tenista. O carrossel é outra estratégia narrativa, além de aumentar o suspense, em uma sequência digna do mestre. Contudo, o destaque de Pacto sinistro sempre será a cena antológica do assassinato de Miriam Haines mostrada através das lentes de seus próprios óculos. Imperdível!