quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Cinema - A Esposa (The Wife)

De: Björn Runge. Com Glenn Close, Jonathan Pryce, Christian Slater e Max Irons. Drama / Suspense, Suécia / EUA, 2017, 100 minutos.

Em uma das primeiras cenas do ótimo A Esposa (The Wife), o escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce) recebe uma ligação de Estocolmo, na Suécia, lhe comunicando que ele será laureado com o Prêmio Nobel de Literatura. Antes de a notícia ser dada, o homem faz questão de que a sua esposa Joan (Glenn Close) ouça a mesma conversa pela extensão telefônica. Enquanto Joe, emocionado, ouve os elogios do encarregado à obra literária do agraciado, Joan está em um outro cômodo, quieta, com o olhar perdido, como que excessivamente perplexa por aquilo que escuta. Seus olhos parecem comunicar algum tipo de tensão, de desconforto e de incerteza - e não serão poucas as sequências em que este expediente se repetirá, especialmente naqueles momentos em que o homenageado tomará a palavra para mencionar a importância da esposa para a sua vida. "Eu não sou nada sem ela", será uma frase ouvida com frequência.

Joan não quer ser vista pelos demais - especialmente pela equipe de produção do Nobel - como a companheira sofredora de um sujeito narcisista de "mente brilhante". Mas parece haver algo a mais do que esse simples incômodo, quando os primeiros flashbacks começam a aparecer no filme. Na juventude, Joan também era escritora. Uma escritora de talento, pelo que se pode perceber. Joe era um professor de literatura com boas idéias, mas muita dificuldade de colocá-las no papel. Não demora para que percebamos que a união pelo casamento, também se estenderá ao trabalho, sendo difícil mensurar o impacto causado pela "presença" de Joan na obra de Joe. Só o que sabemos é que o simples fato de ser mulher, impediu Joan de explorar seus sonhos dentro do mundo das artes. E a existência de apenas 12 ganhadoras do Prêmio Nobel de Literatura em 114 edições, é um verdadeiro atestado do machismo existente TAMBÉM nesta área.



A obra tinha tudo para ser mais melodramática e até histriônica - como era por exemplo o igualmente bom Grandes Olhos (2014), do Tim Burton. Mas o diretor Björn Runge aposta na economia, na sutileza e, especialmente, na ambiguidade. Pra falar a verdade a gente nunca sabe exatamente o quê está pensando Joan, em cada movimento sinuoso que faz em volta do marido - cuidando de sua saúde e fazendo observações gerais sobre seu comportamento no cotidiano. Ela estará satisfeita com esta "condição" que lhe foi imposta? Para ela é cômodo pensar que ela, minimamente, também poderia ser uma escritora? Seria ela reconhecida pelo mesmo material, por ser mulher? O surgimento de um jornalista de nome Nathaniel Bone (Christian Slater), interessado em escrever a biografia de Joe, tornará o contexto ainda mais curioso, indefinível.

Aqui e ali, Runge pincelará a película algumas sutilezas que parecem pequenas, mas dizem muito - como é o caso do momento em que Joe esquece o nome de uma de suas personagens, sendo lembrado disto pelo filho (com quem ele não tem boa relação, o que também resulta em boas cenas). Mas a força MESMO desta obra está na caracterização impressionante de Close, que certamente será uma das indicadas para o Oscar na categoria Melhor Atriz, tentando tirar da favorita Lady Gaga, pelo seu trabalho em Nasce Uma Estrela, a estatueta dourada. Joan é uma figura complexa, interessante, nada óbvia, que parece conhecer o comportamento errático do marido, aparentemente estando tranquila (e segura) quanto a isso. Mas estará mesmo? Com boas pequenas reviravoltas, a obra mantém a tensão até o surpreendente final, que transforma esta em uma das boas surpresas do começo dessa temporada.

Nota: 9,0

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