terça-feira, 14 de dezembro de 2021

25 Grandes Filmes Lançados no Cinema ou no Streaming em 2021 (+15 Menções Honrosas)

Vamos combinar que, por mais que o processo de vacinação esteja em curso, a retomada dos cinemas em sua "normalidade" ainda deverá ser um processo mais demorado. Filmes adiados, salas fechadas, crise do setor e desconfiança do público são alguns dos motivos para toda a incerteza que ronda a sétima arte. Ainda assim acho que já podemos afirmar que há um cenário para o otimismo - especialmente após o contexto nebuloso de 2020. O resultado foi um sem fim de grandes (e médias) produções que, novamente, encontraram seu porto seguro nas plataformas de streaming sendo, em muitos casos, exibidas em salas restritas ou no circuito de festivais. Nesse contexto, a boa notícia para o público segue sendo o aumento da possibilidade de acesso a bons filmes sem sair de casa - caso do recém-lançado Ataque dos Cães (2021), por exemplo, que deverá ser figurinha fácil na próxima edição do Oscar. Vale lembrar que a nossa relação de 25 Grandes Filmes Lançados no Cinema ou Streaming em 2021 com mais 15 Menções Honrosas engloba aquilo que conseguimos assistir - e definitivamente não deu pra conferir tudo o que desejávamos. O que poderá explicar, por exemplo, algumas ausências - especialmente de produções que já estão em cartaz nos cinemas, mas que ainda não assistimos, caso da refilmagem de Amor, Sublime Amor (2021) que, se confirmar a expectativa, deverá estar na lista do ano que vem! No mais, ainda dá tempo de se atualizar sobre o que de melhor rolou. 


Se você curte listas, não deixe conferir as nossas relações anteriores dos grandes filmes dos anos de 2020, 2019, 2018, 2017, 2016 e 2015. Boa leitura!

Menções honrosas

40) Ar Condicionado

39) Cry Macho: Caminho Para a Redenção (Cry Macho)

38) Nem Um Passo em Falso (No Sudden Move)

37) Time (Time)

36) Relatos do Mundo (News of the World)

35) Pacarrete 

34) Bela Vingança (Promising Young Woman)

33) O Som do Silêncio (Sound of Metal)

32) Quo Vadis, Aida? (Quo Vadis, Aida?)

31) Amonite (Ammonite)

30) Professor Polvo (My Octopus Teacher)

29) Meu Pai (The Father)

28) Eu Estava em Casa, Mas... (Ich War Zuhause Aber)

27) Uma Noite em Miami (One Night in Miami)

26) Marighella


25) A Casa Sombria (Night House): vamos combinar que muito do sucesso de um suspense psicológico se deve a capacidade de se criar uma atmosfera adequada àquela narrativa. Digamos que temos uma tendência maior a "comprar" a ideia se nos sentirmos mais diretamente conectados à experiência - e a ambientação, o clima ou mesmo a construção do mistério tem muito a ver com isso. Nesse sentido, essa trama protagonizada por Rebecca Hall é extremamente bem sucedida já que, aqui, temos um suspense de ares genéricos, onde uma professora (Hall) que mora em uma bela e isolada casa a beira de um lago, tenta superar o inesperado suicídio do marido. Mas o roteiro de aparência simples não demora a avançar para uma teia complexa, bem amarrada e cheia de possibilidades de interpretação, e que ainda se alia a uma ótima aplicação da parte técnica em favor da narrativa. É um filme fluído, que te prende, te instiga e ainda propõe ótimas reflexões sobre temas como depressão e outros transtornos psicológicos. Tudo executado com uma técnica impecável. Leia a resenha completa.

 

24) Suspeita (Klec): não deixa de ser uma curiosa coincidência o fato de um filme tão hitchcockiano como este ter recebido o mesmo título em português de um dos clássicos do Mestre do Suspense. Bom, homenagens e curiosidades à parte, a obra do diretor tcheco Jiri Stretch - disponível na plataforma da Amazon - é um excelente exercício de estilo, gerando uma espécie de tensão meio involuntária, que nos conduz por um terreno absolutamente imprevisível. E admito que simpatizo demais com filmes que apostam em um senso de humor meio excêntrico e, aqui, confesso que, enquanto os créditos subiam, permaneci uns bons minutos com um sorriso meio abobado no rosto. A trama nesse caso é simplíssima e coloca frente à frente a octogenária e solitária senhora Galová e o jovem e ambicioso ator Daniel, que surge meio do nada sugerindo ser um parente meio distante da idosa (algo tipo um tatatatata-sobrinho). É claro que tem caroço nesse angu e não demora para que a gente perceba que tudo não passa de uma farsa, nessa obra que surpreende justamente pelo estabelecimento de uma relação pouco usual entre esses antagonistas. Leia a resenha completa.


23) Caros Camaradas (Dorogie Tovarishchi): se compreender os meandros políticos do nosso Brasil já não é tarefa fácil, imagina então os da antiga União Soviética. Ainda assim, os que se aventurarem nessa obra enviada pela Rússia no último Oscar certamente serão recompensados. Há, pra começo de conversa, um fio condutor da narrativa, que culminará no episódio que ficou conhecido como Revolta de Novocherkassk - ocasião em que empregados de uma fábrica de construção de locomotivas entram em greve pelo fato de a comida estar a cada dia mais cara (e escassa), as condições de trabalho serem precárias e os salários estarem a míngua. O ano é 1962 e a promessa, com o Governo de Nikita Khrushchov, era o de criar um novo paradigma para o comunismo, muito mais distante da violenta herança estalinista. Só que os preços altos e o desabastecimento parecem estar batendo na porta. E os trabalhadores, no limite, avançam com o protesto. O resultado é trágico e a obra aposta no drama familiar como forma de analisar o todo, em um roteiro de forte teor político e que aborda, entre outros, a importância da sindicalização. Leia a resenha completa.


22) Pig (Pig): um filme com o Nicolas Cage interpretando um sujeito solitário, levemente obeso, com os cabelos compridos e a barba por fazer, que mora sozinho em uma casa isolada no deserto do Oregon com a sua... porca. Porca que, não tardará, será sequestrada, sem que saibamos o seu paradeiro. Vamos combinar, desde que esse projeto do diretor estreante Michael Sarnoski foi anunciado, os fãs do "astro" ficaram agitados. E não é para menos. Famoso pela carreira com muito mais baixos do que altos, Cage tem aqui uma oportunidade de redenção - que ele agarra, é preciso que se diga. A obra gira toda em torno do sujeito e da verdadeira via crúcis que ele empreende na busca de seu animal. Mas se engana quem pensa que, aqui, encontraremos o arco narrativo clássico do homem que sofre algum tipo de violência ou abuso e parte para uma jornada de vingança contra seus agressores, com tiro, porrada e sangue sendo veículo de redenção. O clima é muito mais taciturno, cheio de simbolismos, com uma melancolia latente. A despeito do hype é uma obra de forte apelo emocional, numa das grandes interpretações da carreira do astro.

 

21) All Hands On Deck (À L'Abordage): Um filme leve, de tons primaveris e que não tem nenhuma vergonha de enfocar quais os nossos limites, na hora da "conquista amorosa". Assim é eesa comédia romântica meio torta, que está disponível na plataforma Mubi. À moda das obras ensolaradas do diretor Eric Rohmer, aqui temos um fiapo de história, que servirá de base para idas e vindas e encontros e desencontros entre jovens tão imaturos quanto apaixonados. Na trama, os amigos Félix (Eric Nantchouang) e Chérif (Salif Cissé) saem dos arredores de Paris em direção a uma cidade litorânea. O objetivo é fazer uma visita surpresa à Alma (Asma Messaoudene), que Félix conheceu uns dias antes em uma noite de festa. Para o rapaz, a ideia parece boa, mas será que esse comportamento impulsivo não vai assustar a moça? É desse pequeno impasse inicial, que se desenrolarão pequenos e divertidos instantes, enquanto cada um dos personagens se esforça para consolidar amizades e... amores. Parece bobinho, mas foi eleito um dos melhores filmes do ano na Cahiers du Cinema. Não é pouco. Leia a resenha completa.

 

20) Nomadland (Nomadland): em uma das tantas belas sequências do vencedor do Oscar de Melhor Filme desse ano, um grupo de pessoas tem uma conversa aleatória sobre assuntos amenos, durante um almoço. Em dado instante uma das participantes mostra à protagonista Fern (Frances McDormand) uma tatuagem em que se lê a frase "lar é só uma palavra ou é algo que você carrega com você?" Extraída da letra da canção Home Is a Question Mark, dos britânicos do The Smiths, a sentença diz muito sobre a opção narrativa da diretora Chloé Zhao. Afinal de contas, seria muito cômodo em um filme sobre nômades involuntários - muitas vezes idosos - a escolha pelo caminho da demonização do capitalismo ou do sistema que exaure o trabalhador até a sua velhice, colocando-o como um refém financeiro de bancos, de imobiliárias e de empresas de seguro. Sim, tudo isso está lá. Mas o que a diretora pretende, com seu belo líbelo sobre a liberdade de escolha - ainda que por linhas tornas -, é questionar esses padrões, essas convenções sociais que nos estabelecem como verdadeiros escravos até o ocaso de nossas existências. É uma obra idílica, comovente, nostálgica e de riquíssima beleza estética, que analisa as distorções sociais sem temer a quebra de paradigmas. Leia a resenha completa.



19) No Ritmo do Coração (CODA): refilmagem de A Família Bélier (2014) essa joia dirigida por Sian Heder nos apresenta a uma família de surdos em que a única pessoa capaz de falar é a jovem Ruby (a carismática Emilia Jones). Mas, como se não bastasse o fato de seus pais e irmão não se expressarem com a voz - e não escutarem os sons, sendo a linguagem de sinais a forma de comunicação oficial -, a protagonista ainda tem um sonho: o de cantar. E será justamente esse fato que quebrará a harmonia familiar, especialmente após Ruby conquistar uma bolsa de estudos em um conservatório. Trabalhadores de uma colônia de pescadores, os pais e o irmão estão acostumados à labuta diária. Só que o professor de Ruby, o excêntrico Sr. V perceberá o seu potencial, sendo necessário explicar aos pais que vivem em um universo ausente de sons, como aquilo pode ser importante para a jovem. É, em linhas gerais, um filme leve e apaixonado cheio de ótimos (e divertidos) momentos e que ainda tem na parte técnica um dos destaques. Em tempo, os atores que interpretam surdos são efetivamente surdos. É só mais um em tantos méritos. Leia a resenha completa.


18) Nunca Mais Nevará (Sniegu Juz Nigdy Nie Bedzie): enviado da Polônia para o último Oscar, esse drama metafórico que dialoga com a obra de Alain Resnais nos apresenta a um imigrante ucraniano que atua como massoterapeuta em um condomínio fechado. Indo de casa em casa, sempre com a sua maca portátil a tiracolo, o protagonista tem contato com as mais variadas figuras que habitam esse universo particular - da dona de casa mãe de dois filhos que parece estar insatisfeita com o casamento, passando pelo idoso de comportamento reacionário até chegar a mulher solitária que se ocupa de cuidar de seus cachorros. Em meio a porteiros e vigilantes, a existência pacata do local parece estar sempre no limite do "acontecimento". Por baixo do véu de tranquilidade, um sem fim de angústias que sempre parecem prontas à vir a tona, seja em forma de discussões acaloradas, seja por meio de pulsões sexuais reprimidas. Trata-se ao cabo de um filme curiosamente agradável de se assistir e que aborda, à sua maneira, temas complexos como hipocrisia da sociedade, xenofobia e opressão às minorias em uma experiência tão agradável quanto complexa. Leia a resenha completa.


17) Helen: eu confesso a vocês que sou absolutamente fascinado por filmes que partem de um fiapo de história, para traçar um painel mais amplo em que questões políticas, sociais e culturais de certo País se descortinam de forma sutil, enquanto o cotidiano simplesmente acontece. No caso dessa estreia do diretor André Meirelles Collazzo, o cenário é o bairro do Bixiga, em São Paulo, e os seus labirínticos cortiços. É nesse contexto que vive a pequena Helen (Thalita Machad), de apenas nove anos. Cuidada pela avó (Marcélia Cartaxo), a garota se divide em meio à brincadeiras cotidianas com os amigos da pensão, os estudos em uma escola pública do bairro, e um esforço de sobrevivência que se dá em um cubículo claustrofóbico. Negligenciada pelos pais, a menina tem uma rotina de muitas dificuldades e de poucos prazeres - sendo um deles visitar uma vitrine que exibe um vultuoso estojo de maquiagens, que ela decide que será o presente que dará a sua avó, em seu próximo aniversário. Sim, aqui está o fiapo de história e que será o ponto de partida para uma narrativa tão dura quanto comovente - e que aposta em sutilezas como forma de evidenciar os contrastes sociais brasileiros. Leia a resenha completa.


16) tick, tick... BOOM! (tick, tick... BOOM!): na resenha escrita aqui no Picanha eu admiti: não conhecia nada da vida do compositor e roteirista Jonathan Larson. O que não impediu o fato de eu me conectar profundamente com a sua história já que o filme de Lin-Manuel Miranda é, ao cabo, um grande tributo ao seu legado. Um sujeito talentoso (e angustiado), que nos deixou precocemente - como tantos outros artistas, por sinal. E, mesmo com esse contexto tão melancólico, o diretor conseguiu converter a obra em uma ode ao otimismo e à persistência. Sobre nunca desistir de seus sonhos - esse tema tão batido e que parece papo de coach. Trata-se de um filme vibrante, emocionante, repleto de canções divertidamente existencialistas sobre o cotidiano, sobre o nada e tudo ao mesmo tempo. Como se fosse uma espécie de Elton John do teatro, Larson (vivido por Andrew Garfield) era capaz de pegar o tema mais prosaico, mais inesperado, e transformá-lo em uma linda e leve peça musical. O resultado é uma obra prodigiosa em sua montagem, com ótimas interpretações e repleta de ótimas reflexões sobre anseios e incertezas da juventude e sobre perdas pessoais. Leia a resenha completa.

 

15) O Homem Que Vendeu Sua Pele (L'Homme Qui a Vendu Sa Peau): quais os limites do uso do corpo como meio de expressão artística? Quais as barreiras éticas ou morais que podem resultar desse tipo de performance? Uma manifestação materializada na pele - seja ela um desenho, uma pintura, uma frase ou algum outro experimento -, é capaz de converter um ser vivo (bem como seus tecidos, seus órgãos e tudo aquilo que ele carrega) em uma simples "mercadoria"? Pronta para o consumo de excêntricos apreciadores de arte contemporânea? E, mais do que isso: afinal e contas, qual o conceito de arte? Bom, todas essas são questões nem sempre fáceis de se responder, nos acompanham durante toda a projeção dessa joia dirigida por Kaouther Ben Hani, que concorreu ao Oscar desse ano pela Tunísia. Na trama acompanhamos um refugiado sírio que, para escapar da guerra em seu País, oferece, literalmente, seu corpo para ser usado como parte de uma obra de arte. Mas qual o preço real dessa proposta? Essa é uma das tantas perguntas do filme, que discute xenofobia, crise dos refugiados e preconceitos na modernidade, de forma pouco convencional. Leia a resenha completa.


14) Suor (Sweat): "E fora do story, tu tá bem?". A pergunta que virou meme no meio do ano nas redes sociais reacendeu a discussão: vestimos máscaras na vida online? Somos nós que aparecemos verdadeiramente nas publicações que fazemos - especialmente as do Instagram, onde a ordem parece ser manter uma atitude permanentemente otimista? Ou é tudo um faz de conta em que "publis" e "recebidos" cheios de sorrisos são substituídos pela vida real? Disponível na plataforma Mubi, essa joia nos apresenta à influenciadora digital fitness Sylwia (Magdalena Kolesnic), uma verdadeira celebridade das mídias digitais, que atraiu milhares de seguidores postando seus treinamentos e exercícios cheios de energia, de cores e de vida. Requisitada para participar de programas de TV, reconhecida pelas pessoas nas ruas e amada pelos seus seguidores, Sylwia parece ter uma vida perfeita: tem dinheiro, tem saúde, tem amigos, mas... será mesmo tudo tão bom assim? O que o filme do diretor Magnus von Horn faz, com maestria diga-se, é nos mostrar um outro lado - no caso o lado menos glamouroso dessa rotina. E o resultado é não menos do que primoroso. Leia a resenha completa.


13) Collective (Colectiv): o dia 30 de outubro de 2015 foi marcado por uma tragédia que abalou a população da Romênia: nessa data, um incêndio na boate Colectiv, na capital Bucareste, matou 27 pessoas, levando outras dezenas de vítimas para o hospital. Só que o que era pra ser o período de recuperação para muitos pacientes que sofreram queimaduras ou intoxicações com fumaça se tornou uma calamidade ainda maior, quando mais 38 pessoas vieram a óbito nos meses seguintes. O que esse pesado e mais do que necessário documentário mostra é como uma equipe do jornal Sports Gazette desvendou um esquema bilionário de corrupção envolvendo o precarizado sistema de saúde do País - com o descaso de governo, de representantes de hospitais e de empresas que deveriam fornecer materiais de limpeza, sendo determinantes para o desfecho trágico do fato. O resumo é que as pessoas jamais deveriam ter morrido após terem sido salvas da noite na boate. Mas morreram. E as circunstâncias são revoltantes em uma obra que desnovela a podridão dos agentes governamentais. Leia a resenha completa.

 

12) Duna (Dune): tudo que o filme de 1984 - aquele filmado por David Lynch - tinha de caótico, de confuso, com um excesso inacreditável de diálogos expositivos e um sem fim de efeitos especiais toscos, esse reboot tem de bem organizado. Quem assistiu a obra que tinha entre as suas estrelas o cantor Sting - de cuecão de couro -, sabe que a bagunça daquele roteiro era tanta, que era até meio difícil de compreender quem era quem, quais eram os objetivos de cada um dos povos daquele Império fictício, quem era do bem, quem era do mal. Fora a trama em ritmo apressado, cheia de buracos. Pois o sempre competente Denis Villeneuve chamou pra si a responsabilidade de colocar ordem no negócio. Deu fluidez pra narrativa, estruturou o emaranhado de informações que, muito provavelmente, existem no livro, de uma forma bem menos apressada, tornando muito mais possível compreender aquele universo e suas intrincadas tramas e conspirações políticas e religiosas. e foi dessa forma que fez de Duna um dos grandes blockbusters de 2021. Leia a resenha completa.


 
11) Soul (Soul): impressionante a capacidade da Pixar em fazer um filme infantil, mas que não deixa de promover profundas reflexões sobre temas relevantes, como, sentido da vida, memória, morte, espiritualidade, importância da arte, entre outros. Espécie de cruzamento entre Divertida Mente (2015) e Viva: A Vida É Uma Festa (2017), Soul parte da história de um modesto professor de música do ensino fundamental que sonha em ser reconhecido como um virtuose do jazz. Quando a oportunidade finalmente surge para o educador - seu nome é Joe Gardner (Jamie Foxx) -, ele sofre um acidente que o transporta para um outro plano, colocando-o entre a vida e a morte. Nessa espécie de limbo etéreo, onírico, ele será uma alma que terá como missão auxiliar uma "criança" (Tina Fey) a encontrar o seu propósito de vida para que ela possa ser encaminhada para a Terra, onde assumirá o seu formato humano. E essa jornada poderá ser a saída para que o próprio Joe retorne para cá e consiga alcançar seu tão sonhado objetivo. Trata-se de uma obra que valoriza a experiência terrena, abordando temas mais filosóficos sem pesar a mão. Filmaço. Leia a resenha completa.



10) Lamb (Dýrið): obra atmosférica, silenciosa, contemplativa e com um pé no realismo mágico. Assim é esse ótimo filme islandês, que foi exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes. Na trama somos levados a uma fazenda isolada, erma, local em que um casal cria carneiros. Em meio ao manejo rotineiro da vida agrícola - levar pastagens para os animais, auxiliar as ovelhas prenhas na hora do parto, arar a terra - um ambiente de calmaria, de quase ausência de qualquer barulho. O sossego só é quebrado por algo que parece inquietar os bichos, que se mostram agitados, receosos. O que seria? Leva quase dez minutos para que ouçamos as vozes de Maria e Ingvar. De alguma maneira é possível afirmar que Lamb ocorre sem nenhuma pressa. As informações nos são entregues em pequenas pílulas. Sempre sutis. Até que certo dia o casal é surpreendido por um misterioso bebê recém-nascido, que é gerado no local. Misturando mitologia, fantasia e surrealismo, o filme discute especialmente o luto de uma forma pouco convencional. E acerta em cheio. Leia a resenha completa.



9) 7 Prisioneiros: sim, a gente sabe que está no (des)governo Bolsonaro, num contexto caótico em que absolutamente tudo é possível. Só que, ainda assim, parece meio inacreditável que, às portas de adentrarmos 2022, sejam tantos os casos revelados na imprensa que envolvem tráfico de pessoas e, mais ainda, trabalho análogo à escravidão. Experimente fazer uma pesquisa com os termos relacionados ao assunto, e não será surpresa encontrar notícias atualíssimas de trabalhadores resgatados, em meio a condições degradantes, ausência total de direitos e precarização de todos os tipos imagináveis. Na gestão do "mito", vale a ladainha do "mais trabalho e menos direitos". Isso no País que tem a quarta maior taxa de desemprego do mundo. A real é que há pouco espaço para qualquer tipo de otimismo no que diz respeito a esse tema. O futuro é nebuloso - e, em muitos casos, parece o passado. E, aqui, entra o grande mérito desse dolorido filme nacional que coloca o dedo na ferida na hora de escancarar o absurdo do trabalho escravo na contemporaneidade - uma de nossas tantas mazelas. É uma obra de baixo orçamento, mas que passa o recado. Leia a resenha completa.



8) Minari: Em Busca da Felicidade (Minari): Em uma das tantas belas cenas dessa joia dirigida por Lee Isaac Chung, o pequeno David está próximo a uma densa vegetação, onde sua avó contempla a visível evolução de uma horta improvisada da planta que dá título ao filme - uma espécie de agrião tipicamente coreano. Num tipo de simbiose com o vegetal, a idosa o contempla enquanto improvisa poéticos versos sobre o quão maravilhosa é aquela planta. No instante seguinte, a câmera em close mostra essas mesmas plantas se remexendo ao vento, como se se "curvassem" em sinal de agradecimento. É o tipo de instante que resume a abordagem sensível dessa experiência cinematográfica contemplativa, recheada por instantes bucólicos, de comunhão com a natureza, enquanto uma família luta para se estabelecer como agricultores em uma terra nova, a qual eles não estão familiarizados. É um filme bonito, tocante, comovente, que nos fará rir e se emocionar em igual medida. Há uma aura quase mística, um tanto abstrata no filme, que busca evitar estereótipos. Não esqueça o lenço de papel. Pode ser necessário. Leia a resenha completa.



7) Judas e o Messias Negro (Judah and the Black Messiah): os eventos que viriam a desencadear o covarde assassinato do líder ativista do partido dos Panteras Negras, Fred Hampton, conduzem a narrativa dessa joia dirigida por Shaka King e que figurou no Oscar desse ano. Em tempos em que o preconceito e a violência contra os negros parecem ser "legitimados" pelo comportamento bélico de figuras como o ex-presidente norte americano Donald Trump, esta obra se torna ainda mais relevante e atemporal. Afinal de contas, não seria nenhum exagero comparar aquele turbulento ano de 1968, cheio de acontecimentos históricos, com os nossos pandêmicos e caóticos tempos. O racismo estrutural, afinal de contas, segue em alta. Na trama, o FBI acompanha à distância cada movimento dos Panteras Negras, bem como as progressões feitas. E para tentar estar um passo à frente do coletivo, designa um ladrão de carros para atuar como infiltrado no grupo. O resultado é uma obra idealista e desalentadora e que faz com que nos lembremos que os revolucionários podem até morrer. Mas não a revolução. Leia a resenha completa.



6) Pedaços de Uma Mulher (Pieces of a Woman): A premissa desse filme é tão simples quanto dolorosa: um casal prestes a ter o seu primeiro filho opta pelo parto domiciliar, mas as coisas saem do controle durante o procedimento e o bebê morre instantes depois de nascer. Devastados, Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf) lutam para tentar retomar a "normalidade" em suas vidas - a rotina, o trabalho, a vida a dois -, ao mesmo tempo em que enfrentam um doloroso processo judicial em que a parteira (Molly Parker) é acusada de negligência criminosa. Sim, é pesado. E as dúvidas do casal, afinal, são muitas: se o parto tivesse sido realizado no hospital, o filho teria sobrevivido? E se a emergência tivesse sido acionada mais cedo? Há culpados, verdadeiramente? Colocar a parteira na cadeia amenizará, de alguma forma, a dor? Sem tomar partido, a obra do húngaro Kornél Mandruczó não fornece soluções fáceis, ao mesmo tempo em que mergulha o espectador na rotina excruciante da dupla de protagonistas. É uma obra dura, melancólica, cheia de simbolismos e com interpretações espetaculares. Merece ser (re)descoberta. Leia a resenha completa.



5) Annette (Annette): quem acompanha o cinema provocativo, sensorial, hermético e, invariavelmente, metalinguístico, do diretor Leos Carax, dificilmente se surpreenderá com Annette (Annette) - que está disponível na plataforma Mubi. O filme, afinal, é aquele tipo de experiência que, ao mesmo tempo que não entrega soluções assim tão fáceis, nos permite mergulhar em um sem fim de possibilidades no que diz respeito ao universo das artes. Não por acaso, a artificialidade quase teatral parece ter o formato metodológico ideal para a história de um casal que vive uma vida aparentemente perfeita, em uma Los Angeles fascinante e cosmopolita. Ele, um comediante de stand up que está em alta e que apela para piadas cínicas e autocomiserativas (papel de Adam Driver). Ela, uma cantora de ópera de renome internacional, que emociona as plateias em suas lotadas apresentações (papel de Marion Cottilard). Organizado como uma extensa peça musical, o filme fica no limite entre o sombrio e o cômico, especialmente quando o universo cheio de contrastes do casal central passa a entrar em choque. Leia a resenha completa.



4) Raya e o Último Dragão (Raya and the Last Dragon): quem me conhece sabe que eu tenho uma teoria que diz que o mundo seria um lugar muito mais fácil de habitar se as pessoas investissem mais tempo no consumo de obras de arte. É neles que, muitas vezes, confrontamos medos, incertezas, preconceitos. É assistindo a um filme ou lendo um livro que podemos quebrar paradigmas, repensar ideias ou refletir um pouco melhor sobre este ou aquele assunto. Significa que seríamos um coletivo melhor, mais justo, mais empático? Não sei. Talvez não fôssemos piores, o que por si só já poderia representar uma pequena vitória. O que isso tem a ver com a mais recente animação da Disney? Tudo. Na trama um mundo fantasioso - conhecido por Kumandra - está pronto para entrar em colapso por causa de uma força maligna conhecida como Druun - uma névoa tóxica que petrifica os habitantes do reino. E somente a princesa guerreira Raya poderá salvar o universo da extinção. Trata-se de uma joia que valoriza o espírito coletivo e que alterna tensão e comoção em igual medida. Adultos, crianças, idosos. Ninguém deixará de se emocionar. Leia a resenha completa.



3) Druk: Mais Uma Rodada (Druk): um grande elogio à importância da bebedeira. Aliás, o subtítulo do vencedor do Oscar na categoria Filme em Língua Estrangeira pela Dinamarca poderia ser algo tipo Ode ao Trago. Que seja. Bom, o caso é que enquanto assistia à obra do sempre ótimo Thomas Vinterberg, era tomado por um sentimento de nostalgia em que rememorava os porres homéricos tomados, especialmente, na juventude. E acabei me dando conta de que eles ocorreram em grandes momentos de celebração: aniversários importantes, formaturas, festas de faculdade, casamentos. Condição que contribuía pra tornar a existência mais leve, ampliando a socialização, a desinibição. Beber, afinal de contas, torna a vida melhor? Mais divertida? Aumenta o "brilho"? Nos tira a chatice e nos faz encarar os problemas do mundo com menos letargia? O filme tenta responder algumas dessas questões a partir da história de um grupo de professores que resolve fazer uma espécie de "experimento social" sobre o consumo de álcool. O resultado é uma obra leve, introspectiva e comovente e que jamais soa excessivamente moralista. Leia a resenha completa.



2) Ataque dos Cães (The Power of the Dog): escrito em 1967 pelo romancista Thomas Savage, esse livro foi convertido em um ótimo filme que dialoga - e muito - com a atualidade. É uma obra cheia de personagens complexos, que se aproveitam de uma narrativa imprevisível para discutir temas como masculinidade frágil, sexualidade reprimida e a permanente necessidade de reafirmação heteronormativa. Dirigida pela sempre competente Jane Campion a obra é um faroeste voluptuoso que quebra alguns códigos convencionais do gênero - o que faz com que ela chegue com ares de favorita para o próximo Oscar. A trama coloca frente a frente dois irmãos de personalidades distintas - o boçal Phil (Benedict Cumberbatch) e o gentil George (Jesse plemons) -, em um ambiente inóspito, em meio a criação de gado. A aridez do Estado de Montana há quase 100 anos é o cenário perfeito para uma trama perturbadora, opulenta e com altíssimas doses de tensão. E que terá acontecimentos como poderão mudar a vida de todos naquele rancho. Leia a resenha completa
 

 

1) Titane (Titane): tema complexo e que costuma despertar um sem fim de teses, de artigos e de trabalhos acadêmicos, o pós-humanismo dá conta de um novo modelo de subjetividade, capaz de integrar o sujeito às tecnologias disponíveis. Como nos filmes de ficção científica, esse imaginário costuma transcender o humano para além dos limites físicos (e carnais), fazendo com que este transponha as barreira entre o natural e o artificial, entre o orgânico e o maquínico. Alterações genéticas, clonagem, mutações e outras técnicas sofisticadas transformam o homem, de acordo com certas correntes de estudos, em verdadeiras máquinas híbridas com eventuais capacidades ampliadas. Sabe aquele ciborgue meio homem meio robô que vemos nos filmes? Digamos que o pós-humanismo divague sobre estas ideias. Mas quais os limites éticos de tudo isso? Sim, é complicado e essa experiência cinematográfica sensorial, complexa, curiosa, excêntrica, sexy, suja, vigorosa e robusta, conduzida pela diretora Julia Ducournau tenta apresentar algumas respostas. O resultado incomoda e quase quebra os limites da arte. Leia a resenha completa.


E então pessoal, gostaram da lista? Não deixem de dar as suas opiniões sobre os melhores desse ano. Claro que faltou muita coisa e, como já dito, nem todas as obras conseguimos assistir. Mas a intenção é a melhor! =)

 

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