De: Guillaume Brac. Com Eric Nantchouang, Salif Cissé, Asma Messaoudene, Édouard Sulpice e Ana Blagojevic. Comédia / Romance, França, 2020, 95 minutos.
Um filme leve, de tons primaveris e que não tem nenhuma vergonha de enfocar quais os nossos limites, na hora da "conquista amorosa". Assim é All Hands On Deck (À L'Abordage), comédia romântica meio torta, que está disponível na plataforma Mubi. À moda das obras ensolaradas do diretor Eric Rohmer, aqui temos um fiapo de história, que servirá de base para idas e vindas e encontros e desencontros entre jovens tão imaturos quanto apaixonados. Na trama, os amigos Félix (Eric Nantchouang) e Chérif (Salif Cissé) saem dos arredores de Paris em direção a uma cidade litorânea. O objetivo é fazer uma visita surpresa à Alma (Asma Messaoudene), que Félix conheceu uns dias antes em uma noite de festa. Para o rapaz, a ideia parece boa, mas será que esse comportamento impulsivo não vai assustar a moça? É desse pequeno impasse inicial, que começam a brotar alguns pequenos e divertidos instantes, já na arrancada.
Condição que é aumentada quando Félix e Chérif resolvem utilizar um aplicativo de compartilhamento de caronas para a sua "missão" - momento em que eles conhecem o jovem Edouard (Édouard Sulpice). Completo oposto da dupla, trata-se de um filhinho de mamãe introspectivo e de pouco traquejo social. Inevitavelmente o contraste que envolve personalidades tão distintas, renderá bons momentos enquanto o trio, aos trancos e barrancos, tenta se aproximar. É engraçadinho e pode parecer bobo. Mas as boas doses de cinismo compensam. E tudo começa a piorar quando Félix, de fato, encontra Alma, que não deixará de demonstrar a sua insatisfação com a chegada inesperada do jovem. Enrolando-o o tempo inteiro, ela o conduzirá até o limite da humilhação, enquanto ele tenta, de todas as formas (e sem muito sucesso), se aproximar dela.
É, ao cabo uma obra sobre amadurecimento, mas que nunca pesa a mão na abordagem das dores juvenis. Enquanto Félix se angustia em meio à expectativas completamente frustradas (e quem nunca manteve as esperanças, mesmo quando tudo parecia direcionar para o contrário?), Chérif faz amizade com a simpática Héléna (Ana Blagojevic), mãe de um bebê que se sente meio abandonada pelo marido. Situação que, de forma meio inesperada, mexe com o coração do carismático Chérif. E assim, o filme vai indo, pra lá e pra cá, em meio a corredeiras, paisagens naturais bucólicas e uma cadência típica do "filme de verão" por excelência. "Neste filme, com seu enredo simples, tentei pintar o retrato complexo de uma geração, e mostrar não a juventude - que não existe como tal - mas os jovens, focalizando os pontos de convergência e fricção dentro da mesma geração, o que une e o que separa", salientou o diretor Guillaume Brac, no material de divulgação disponibilizado pela Mubi.
É um contexto em que todos, de alguma forma, aprendem. De Edouard, que passa a ser mais independente, passando por Chérif, que luta para sair da condição de "amigão" (o sujeito da friendzone), até chegar à própria Alma que, por fim, reconhece as virtudes do sofrido Félix - ainda que isso não signifique necessariamente sucesso no campo amoroso. Há instantes realmente cômicos, como aquele em que Chérif tenta mentir para o seu chefe na hora de pedir folga, que se alternam com outros mais comoventes e nostálgicos, como na sequência em que Chérif entoa ao lado de Héléna uma versão de Aline, o clássico inesgotável do Christophe. Vencedor do Prêmio Fipresci da Mostra Panorama, do Festival de Berlim, é uma obra de ambientação naturalista que pode até não ser inesquecível, mas que se constitui em um agradável entretenimento.
Nota: 8,0
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