quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Novidades em Streaming - Suor (Sweat)

De: Magnus von Horn. Com Magdalena Kolesnik, Aleksandra Kolieczna e Julian Swiezewski. Drama, Suécia / Polônia, 2020, 106 minutos.

"E fora do story, tu tá bem?". A pergunta que virou meme recentemente nas redes sociais reacendeu a discussão: vestimos máscaras nas redes sociais? Somos nós que aparecemos verdadeiramente nas publicações que fazemos - especialmente as do Instagram, onde a ordem parece ser manter uma atitude permanentemente otimista? Ou é tudo um faz de conta em que "publis" e "recebidos" cheios de sorrisos são substituídos pela vida real? Bom, a intenção desse jornalista que vos tecla nesse modesto site não é apelar pra psicologia barata e sim falar de um filme polonês que trata de forma magistral essa temática - no caso o ótimo Suor (Sweat). Disponível na plataforma Mubi, a obra nos apresenta à influenciadora digital fitness Sylwia (Magdalena Kolesnic), uma verdadeira celebridade das mídias digitais, que atraiu milhares de seguidores postando seus treinamentos e exercícios cheios de energia, de cores e de vida.

Requisitada para participar de programas de TV, reconhecida pelas pessoas nas ruas e amada pelos seus seguidores, Sylwia parece ter uma vida perfeita: tem dinheiro, tem saúde, tem amigos, mas... será mesmo tudo tão bom assim? O que o filme do diretor Magnus von Horn faz, com maestria diga-se, é nos mostrar um outro lado - no caso o lado menos glamouroso dessa rotina. Hábil, o diretor faz com que modifiquemos o tempo todo o nosso pensamento sobre a protagonista que acompanhamos - e, nesse sentido, é bastante natural que façamos um julgamento prévio a respeito da natureza do comportamento da bela jovem, que será substituído mais tarde por uma outra percepção. Especialmente quando percebermos que todas as suas supostas virtudes servem apenas como uma fachada que esconde uma existência solitária e, vá lá, talvez até com alguns problemas de autoestima e autoaceitação.

Vamos combinar que deve ser um saco ter de aparentar felicidade em um dia em que não necessariamente estejamos alegres - e o que essa bela experiência fílmica faz é humanizar o influenciador digital. Sim, pode parecer incrível, mas por trás dos dentes perfeitos e da maquiagem sempre impecável há um ser humano: cheio de falhas, de medos, de inseguranças, de anseios. Aliás, um dos desejos que Sylwia manifesta em uma de suas lives para os seus seguimores tem a ver com a vontade de ter um namorado. Alguém pra amar, simplesmente. Pra lhe acarinhar. Pra assistir Netflix debaixo das cobertas. Só que expor esse tipo de fragilidade (?) nas redes sociais significa desgastar a sua imagem - especialmente em relação aos patrocinadores, aos investidores. Sim, o público pode até eventualmente gostar: o vídeo viraliza, gera engajamento. Mas é um burburinho que, na bolsa de valores das estrela, tem impacto negativo. E como contornar isso? E, pior, todo o santo dia?

Sem fazer julgamentos o filme deixa as conclusões em aberto - sem nos deixar de fazer refletir sobre temas como culto às celebridades, dificuldades de relacionamento e mesmo a necessidade permanente que temos de expor a nossa vida pessoal nas redes. Até que ponto isso é saudável? Quando acompanhamos Sylwia sofrendo para estabelecer qualquer tipo de conexão emocional (ou química) com um candidato a namorado ou mesmo para conseguir sucesso em qualquer conversa com a sua mãe, percebemos que todas essas questões não tem respostas fechadas. Ao mesmo tempo, a jovem não parece genuinamente feliz quando está fazendo aquilo que mais ama - seus exercícios, em rede nacional -, sendo adorada por uma horda de pessoas que sonham em uma vida cor de rosa como a dela? É desse contraste, que se estende aos aspectos técnicos - a fotografia que se alterna entre a riqueza de cores do universo barulhento e fake dos treinos e o cinza dos instantes introspectivos e silenciosos é um achado -, que von Horn extrai a matéria-prima para esse filme imperdível.

Nota: 8,5

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