quarta-feira, 10 de março de 2021

Cinema - Raya e o Último Dragão (Raya and the Last Dragon)

De: Carlos López Estrada e Don Hall. Com Kelly Marie Tran, Awkwafina, Gemma Chan e Daniel Dae Kim. Animação / Aventura / Fantasia, EUA, 2021, 107 minutos.

Vamos combinar que a "naturalização" de uma existência em meio a uma pandemia quase faz com que nos esqueçamos da importância das artes em nossas vidas. Eu não sei como tem sido pra vocês, mas eu tive terríveis crises de ansiedade no último semestre - o que tem sido equacionado em boa parte com terapia, medicamentos e apoio daqueles que nos amam, além de doses cavalares de filmes, séries, obras literárias, músicas, canais de Youtube e até mesmo o BBB. Sim, porque se por um lado a cultura também nos ajuda a escapar, nem que seja por algumas horas (ou minutos) dessa rotina desalentadora de espera que parece não mais ter fim, por outro estes mesmos produtos feitos por atores, diretores, roteiristas, produtores e desenhistas, nos ajudam a manter as esperança por dias melhores. E este é exatamente o caso do maravilhoso Raya e o Último Dragão (Raya ans the Last Dragon), mais recente e incontestável animação dos estúdios Disney.

Quem me conhece sabe que eu tenho uma teoria que diz que o mundo seria um lugar muito mais fácil de habitar se as pessoas investissem mais tempo no consumo de obras de arte. É neles que, muitas vezes, confrontamos medos, incertezas, preconceitos. É assistindo a um filme ou lendo um livro que podemos quebrar paradigmas, repensar ideias ou refletir um pouco melhor sobre este ou aquele assunto. Significa que seríamos um coletivo melhor, mais justo, mais empático? Não sei. Talvez não fôssemos piores, o que por si só já poderia representar uma pequena vitória. O filme de Carlos López Estrada e Don Hall é a mesma história da Disney de sempre, com algum herói (ou heroína) que precisa salvar o "dia" de algum vilão opulento, misturando elementos místicos, sacros, históricos, folclóricos e até religiosos, com o combo sendo completado com um sem fim de personagens secundários fofinhos ou carismáticos, tudo feito com um traço irretocável. Mas o timing desse Raya e o Última Dragão, vamos combinar, beira a perfeição.

Porque a trama mostra um mundo fantasioso - conhecido por Kumandra - que está pronto para entrar em colapso. Por muito tempo a antiga civilização venerou dragões, bem como seus poderes e sua sabedoria. Só que quando surge uma espécie de força maligna conhecida como Druun - uma névoa tóxica que petrifica os habitantes do reino -, somente a princesa guerreira Raya (Kelly Marie Tran) poderá salvar o universo da extinção (o que significa encontrar o último dragão vivo para, após, reunir forças para juntar as peças de uma relíquia que evitará a quebra da estrutura). Parece complexo, mas durante a jornada é mais fácil compreender: após uma disputa entre líderes dos cinco reinos - conhecidos por cauda, espinha, garra, presa e garra -, há uma espécie de rompimento "político". E será necessário acertar essas diferenças para que Kumandra não se dissolva em definitivo e para que seja possível enfrentar esse mal maior, que é representado pelo Druun. Sabe a população brigando entre si em meio à pandemia, negando a existência da doença, duvidando da ciência (e das vacinas), enquanto a covid mata quase duas mil pessoas por dia, somente no Brasil? Pois é...

A mensagem de que a "união faz a força" e de que o caráter solidário e comunitário é tão ÓBVIA, que provavelmente nem será necessário esfregá-la na cara de quem assiste o filme. Com elegância, a obra alterna momentos absurdamente tensos e comoventes - como no instante em que Ba (Daniel Dae Kim) é transformado em pedra, logo no início (e juro que já saí vertendo lágrimas ali) -, com outros que são a mais pura diversão à moda da Disney, como no momento em que a figura "humanizada" e relativamente simples de Sisu (em trabalho de voz espetacular de Awkwafina), nos é apresentada. Recheado de ótimas lições, o filme utiliza suas tantas pequenas reviravoltas para nos lembrar o tempo inteiro de que a violência só gera a violência, com as consequências de embates podendo ser trágicas. Linda, a animação é ainda um deleite visual, e certamente fará sucesso entre os pequenos, que reconhecerão aquele clima meio de "videogame" no desenrolar episódico da narrativa, com as missões acontecendo num sistema de fases. É difícil não se encantar. Eu, durante os créditos, já estava alertando os amigos para essa jóia em forma de filme, que tornou minha noite de terça-feira um tanto mais leve. Assistam. Pra ontem.

Nota: 9,5

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