De: Lee Isaac Chung. Com Steve Yeun, Alan S. Kim, Yoon Yeo-jeong, Will Patton e Han Ye-ri. Drama, EUA, 2020, 115 minutos.
Em uma das tantas belas cenas de Minari: Em Busca da Felicidade (Minari), o pequeno David (Alan S. Kim) está próximo a uma densa vegetação, onde sua avó Soonja (Yoon Yeo-jeong) contempla a visível evolução de uma horta improvisada de Minari - a planta que dá título ao filme é uma espécie de agrião tipicamente coreano. Num tipo de simbiose com o vegetal, a idosa o contempla enquanto improvisa poéticos versos sobre o quão maravilhosa é aquela planta. No instante seguinte, a câmera em close mostra essas mesmas plantas se remexendo ao vento, como se se "curvassem" em sinal de agradecimento. É o tipo de instante que resume a abordagem sensível proposta pelo diretor Lee Isaac Chung em sua obra. Minari, no fim das contas, é uma experiência cinematográfica contemplativa, recheada por instantes bucólicos, de comunhão com a natureza, enquanto a família de David e Soonja luta para se estabelecer como agricultores em uma terra nova, a qual eles não estão familiarizados.
É um filme bonito, tocante, comovente e a escolha de adjetivos semelhantes a esse poderiam preencher um parágrafo inteiro, que jamais seriam suficientes. Numa jornada como aquela que acompanhamos, que envolve um coletivo de protagonistas absolutamente carismáticos - completado pelo pai Jacob (Steve Yeun), pela mãe Monica (Han Ye-ri) e pela irmã Anne (Noel Cho) -, as dificuldades são compensadas pela força de vontade e pela permanente esperança, que parece mover tantos seres humanos. Em uma das primeiras noites, em uma casa nova que não é aquela maravilha toda e que fica numa pequena cidade do Estado do Arkanas, no sul dos Estados Unidos, a chuva castiga a estrutura meio decrépita da construção com goteiras. Há outros temores, como tornados, que se avizinham. E, por mais que os integrantes daquele núcleo familiar briguem, discutam entre si, no fim das contas eles sabem que eles terão apenas eles mesmos para dar a volta por cima, sacudir a poeira e persistir.
Não, não é uma obra de auto-ajuda. As dores são muitas, pesarosas. Mas é uma trama meio "vida real", costurada por uma série de episódios em que sorriremos, ficaremos tensos, nos emocionaremos. O menino David, por exemplo, com não mais de seis anos, possui uma condição que gera insuficiência em seu coração - e que criança dessa idade não AMA correr? Impedido de executar as mais básicas brincadeiras, encontrará compensação em outras formas, especialmente após a chegada da amorosa e excêntrica avó (e as cenas envolvendo os dois são de arrancar suspiros). Já Jacob se empenhará com todas as forças em fazer acontecer uma horta, tendo dificuldades com a irrigação, com a colocação da produção no comércio local e até mesmo com a desconfiança da comunidade que lhe acolhe, mas não podemos esquecer que se trata de uma família oriental tentando a vida no Sul dos Estados Unidos, nos poeirentos e imprevisíveis anos 80. Parece ser um filme que versa sobre a complexidade das relações. E sobre o que realmente importa nessa vida.
Primoroso também na parte técnica, o filme utiliza a sua fotografia meio granulada, empalidecida, para reforçar o caráter abstrato do projeto. Há uma calma permanente, uma aura quase mística, sensação ampliada pelos ângulos de câmera meio oblíquos e pela trilha sonora nada óbvia (e muito grudenta). Evitando os estereótipos, a obra também promove desvios de rota o tempo todo - e confesso que me diverti (e me comovi) com uma completa quebra de expectativa envolvendo um vizinho da família, um veterano de guerra que é também um fanático religioso (papel de Will Patton), uma espécie de combo que tinha tudo para descambar para um lado menos "otimista". Nas graças da crítica, a obra foi lembrada em seis indicações ao Oscar, tendo remotas chances. Mas o carinho de todos com o projeto e a recepção calorosa da crítica e do público, compensarão a ausência da estatueta dourada. Prepare os lenços de papel. Provavelmente serão necessários.
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