De: Lin-Manuel Miranda. Com Andrew Garfield, Alexandra Shipp, Robin de Jesus, Vanessa Hudgens e Bradley Whitford. Drama / Musical, EUA, 2021, 121 minutos.
Compor pra ele não parecia ser problema. Que o diga, por exemplo, a descaradamente divertida sequência em que ele "inventa" Boho Days, em meio a uma reunião de amigos em seu minúsculo apartamento. Licenças poéticas à parte, é dessa paixão pelo improviso que brotam versos inesperados sobre gatos perdidos na escada de incêndio, pias sujas e alugueis vencidos. Que culminarão no mais grudento dos refrões - This is the life bo-bo bo bo bo, bo he miaaaaa. Só que o caso é que Larson está à beira dos trinta e, como muitos de sua geração (e talvez da nossa também) está se sentindo atrasado em relação a tudo. O contexto é o do começo dos anos 90. Enquanto exercita a sua criatividade e espera pelo reconhecimento, labuta diariamente como garçom em um pequeno restaurante do Soho. É uma vida modesta, monótona e repetitiva, especialmente para quem tem o sangue fervilhante de boas ideias, que sempre encontram algum tipo de barreira para que, de fato, aconteçam.
A obra, no fim das contas, mescla as apresentações daquilo que se converteria, ao final, na peça da Broadway que dá título ao filme, enquanto narra as desventuras, as barreiras e, até, os eventuais bloqueios criativos. E é num desses que ele, efetivamente, se vê trancado. Em uma exibição pública para iniciantes - uma espécie de workshop com artistas e convidados - ele recebe uma dica do famoso Stephen Sondheim (Bradley Whitford): é preciso uma canção a mais, no meio da sua peça de ficção científica (que leva o nome de Superbia), que conecte os pontos, que junte uma coisa na outra. E o tempo - aquele mesmo que parece fazer um tick, tick permanente em seu cérebro - está correndo. E as coisas não estão acontecendo. Aliás, até estão: a vida, os fatos, o desenrolar de tudo. O namoro com a carinhosa namorada Susan (Alexandra Shipp), o trabalho que não paga o suficiente. As amizades, especialmente com o inseparável Michael (Robin de Jesus). Mas e aquela sensação de realizar aquilo que, verdadeiramente, apaixona?
Nesse sentido, o filme é uma espécie de prodígio da montagem, mesclando o transcorrer da vida atribulada de tentativa e erro em "tempo real", com instantes em que Larson aparece já no palco, em uma apresentação de sua peça. Como forma de dar contexto, a obra alterna justamente as incertezas e anseios da juventude - da vontade de querer sempre mais sem, necessariamente, saber como alcançar esse objetivo -, com doloridos momentos de perdas pessoais (com a explosão de casos de HIV entre os jovens, surgindo como uma espécie de condenação). Com ótimas (e carinhosas) interpretações do elenco, o filme corre por fora pra obter uma vaga entre os finalistas de categorias como Ator (Garfield), Roteiro Adaptado e Edição, no Oscar. Independentemente disso trata-se de uma joia, uma experiência vigorosa e que ainda tem como grandes trunfos canções maravilhosas, como a inaugural 30/90 e a saborosa No More.
Nota: 8,5
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