segunda-feira, 19 de abril de 2021

Novidades no Now/VOD - Druk: Mais Uma Rodada (Druk)

De: Thomas Vinterberg. Com Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang e Lars Ranthe. Comédia dramática, Dinamarca, 2020, 117 minutos.

Um grande elogio à importância da bebedeira. Aliás, o subtítulo do indicado ao Oscar na categoria Filme em Língua Estrangeira pela Dinamarca Druk: Mais Uma Rodada (Druk) poderia ser algo do tipo. Ode ao tragoléu, talvez. Que seja. Bom, o caso é que enquanto assistia à obra do sempre ótimo Thomas Vinterberg - dos imperdíveis Festa de Família (1998) e A Caça (2010), era tomado por um sentimento de nostalgia em que rememorava os porres homéricos tomados, especialmente, na juventude. E acabei me dando conta de que eles ocorreram em grandes momentos de celebração: aniversários importantes, formaturas, festas de faculdade, casamentos. Ou até em alguma noite aleatória de jogatina ou de decisão futebolística. Condição que contribuía pra tornar a existência mais leve, ampliando a socialização, a desinibição. Beber, afinal de contas, torna a vida melhor? Mais divertida? Aumenta o "brilho"? Nos tira a chatice e nos faz encarar os problemas do mundo com menos letargia ou opacidade? Bom, a película não responde, em definitivo, essas questões. Mas dá algumas pistas.

Pra começo de conversa, a trama já parte de uma premissa no mínimo inusitada: instigados por uma curiosa teoria do psiquiatra norueguês Finn Skarderud, um grupo de quatro professores de Ensino Médio, que levam uma vida bastante ordinária, resolvem fazer um "experimento social". Skarderud concluiu, em suas pesquisas, que os humanos possuem um déficit permanente de 0,05% de álcool no sangue. E que a receita para a felicidade seria equilibrar essa equação, de alguma forma. Assim, adotando o empirismo como metodologia, os educadores Martin (Mads Mikkelsen), Thommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe) resolvem testar na prática as ideias do pesquisador. E, de saída, os benefícios são palpáveis, com o quarteto se saindo melhor tanto nas relações familiares, quanto na rotina com os alunos - que antes se apresentava como um grupo amorfo e desinteressado. Só que os problemas começam quando eles resolvem avançar para além dos limites. E, bom, não é preciso ser nenhum adivinho pra imaginar que as coisas sairão do controle.

Vinterberg, como é de praxe em sua filmografia, trata aqui de um tema mais sério, mas com boas doses (com o perdão do trocadilho), de humor. Foi assim quando abordou o fascínio armamentista em Querida Wendy (2005) ou o vazio completo da vida no existencialista Dogma do Amor (2003). Aqui, o diretor que surpreendeu ao ser indicado ao Oscar - desbancando nomes como como o de Aaron Sorkin (que poderia concorrer por Os 7 de Chicago) -, alterna momentos leves, como o da corrida dos jovens em volta do lago (que envolve muita bebedeira), com outros mais introspectivos (e a cena inicial, do jantar dos quatro amigos, é uma das mais comoventes). E, conforme a bebida vai entrando na história - sendo muitas vezes filmada em closes, ou com descrições detalhadas de suas composições, aromas e sabores (resista a tomar uma taça de vinho, que seja, após a experiência!) -, a obra vai descambando para a tragédia que envolve a falta de limites, quando o assunto é a bebida. Ainda que jamais soe excessivamente moralista, já que nunca deixa de reconhecer o "valor" do consumo moderado.

Tomando por base a dinâmica entre alunos e professores para fazer a história evoluir, a obra encontra na celebração alcoólica o ponto de "encontro" que quebra as diferenças geracionais. Não é por acaso que é num nível elevado de álcool no sangue, que Martin faz os estudantes compreenderem melhor aspectos da vida de Churchill, Roosevelt e Hitler. Ou que Tommy comemora um gol de um aluno de seu time, na escolinha, como se fosse uma final de campeonato. "É melhor morrer de vodka do que tédio" já diria o poeta russo Maiakovski e a gloriosa sequência em que líderes políticos completamente bêbados são exibidos (com destaque para Boris Yeltsin e Bill Clinton gargalhando inadiavelmente), talvez seja a prova de que talvez até as relações diplomáticas poderiam ser menos pesadas, se regadas a uma ou outra taça. Não há conclusão definitiva. Apenas a diversão, a inconsequência e a desinibição que faz com que um professor possa dançar livre e, espetacularmente, com os alunos, sem se preocupar com o entorno. E quem já bebeu com algum professor sabe do que estou falando. Aliás, alguém não bebeu com o professor?

Nota: 9,0

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