quarta-feira, 27 de junho de 2018

Novidades em DVD - Um Lugar Silencioso (A Quiet Place)

De John Krasinski. Com Emily Blunt, John Krasinsi, Millicent Simmonds, Noah Jupe e Cade Edward. Suspense / Ficção científica, EUA, 2017, 89 minutos.

Existe um provérbio chinês que lembra que "Deus deu ao homem dois ouvidos e uma boca para que ele ouça duas vezes mais do que fala" - e esse chavão é levado quase ao pé da letra no arrepiante (e surpreendente) Um Lugar Silencioso (A Quiet Place). A trama se passa em algum local dos Estados Unidos no ano de 2020 - como revelam antigos recortes de jornais espalhados pela casa de campo dos protagonistas. Sem muita explicação, a humanidade está sendo perseguida e atacada por algum tipo de entidade alienígena que tem a sua percepção "ativada" por meio do som. Ou seja, fazer qualquer tipo de barulho é despertar o perigo que se esconde nas densas florestas e nas plantações de milho que rodeiam a fazenda em que Lee (John Krasinski) e Evelyn (Emily Blunt) moram com os filhos Regan (Millicent Simmonds, uma verdadeira joia juvenil da atuação), Marcus (Noah Jupe) e Beau (Cade Edward).

A trama não poderia ser mais simples e por mais que o filme se passe inteiramente no mesmo cenário, ele possui uma série de qualidades capazes de transformar o projeto em um produto superior se comparado a outros do gênero. Para começar, o roteiro não se ocupa em explicar de onde surgem as criaturas agressivas e repulsivas que estão atacando a humanidade - e não deixa de ser divertido de, agora em DVD, poder pausar a projeção para ver o que está escrito nos já citados recortes de jornais que estão colocados em uma parede no porão da casa em que a família mora (a maioria deles com alertas para a população, para que esta não faça barulho) e que poderiam fornecer algum tipo de explicação para o caso. Ao contrário, a trama já inicia no dia 89 no que parece ser a Terra pós-apocalipse com a família toda andando na ponta dos pés em uma espécie de farmácia, buscando medicamentos em meio ao cenário devastado.



É nesse tipo de cenário - meio Walking Dead - que perceberemos a natureza dos perigos que rondam a família, que procura caminhar sobre a areia, como forma de reduzir a amplitude do som produzido em meio aos matagais percorridos por todos. Assim, não demorará para que percebamos a importância do silêncio e de como qualquer descuido poderá ser inevitavelmente fatal. Assim, acompanhamos a rotina da família, que vive em harmonia, a despeito de uma tragédia ocorrida e que é apresentada no começo do filme. E, aqui, destaca-se mais uma virtude - o fato de simpatizarmos com as personagens que estamos vendo (carinhosas, amorosas, amistosas), o que, em uma obra de um gênero que se preocupa apenas com o sangue e com o descarte de corpos, se torna um belo diferencial. Queremos todos vivos, compreendendo o problema, escapando dele e, se possível, resolvendo-o. O que não será fácil e certamente garantirá momentos de muita tensão.

Em uma obra que se ocupa tanto do silêncio, a edição de som quase beira a perfeição ao fazer com que redobremos a atenção na busca por qualquer ruído "a mais" que pudesse representar algum tipo de perigo. Não é por acaso que chegam a ser motivos de alívio poder ouvir, em determinadas sequências, o barulho de uma cachoeira ou mesmo a canção Harvest Moon, de Neil Young, saída dos fones do ouvido de Evelyn. Por que em geral o que se escuta são apenas sussurros ou diálogos realizados na língua de sinais - e que já eram empregados pela família por conta da deficiência real de Regan (aliás, a construção do som ao redor dela também rende outros tantos momentos fabulosos da película). Assim como com o som, o desenho de produção é rico ao mostrar objetos com revestimentos que os tornam mais macios ou mesmo o uso da luz não apenas como objeto decorativo para a propriedade, mas também para denotar perigo.


Famoso pela série The Office e acostumado ao humor John Krasinski, que também dirige o longa, brilha ao construir a sua obra a partir de uma premissa tão simples - e talvez o fato de ser casado na vida real com Blunt, tenha reforçado à empatia junto ao público. "Eu havia acabado de ter a minha segunda filha com Emily e pensei que esse poderia ser o maior horror que alguém poderia passar: o medo de perder a família, de que algo pudesse acontecer com seus filhos", revelou em entrevista a Revista Preview. Não apenas como filme de terror, mas como uma verdadeira metáfora para o amadurecimento, o filme ainda possui uma das melhores sequências do ano - toda ela ocorrendo dentro de um silo secador de grãos. Uma cena de arrepiar e que mostra que o diretor iniciante tem talento para mais.

Nota: 8,0

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