terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Cinema - The Post - A Guerra Secreta (The Post)

De: Steven Spielberg. Com Meryl Streep, Tom Hanks, Bob Odenkirk, Sarah Paulson, Alison Brie e Michael Stuhlbarg. Drama / Suspense, EUA, 2018, 117 minutos.

Em um cenário de completa descrença no jornalismo, em que as fake news e as barrigadas são a ordem do dia e em que as redações parecem estar mais conectadas do que nunca aquilo que determina o setor comercial, um filme como The Post - A Guerra Secreta (The Post), deveria ser filmografia básica em qualquer curso de Comunicação Social. Não que isso fosse mudar alguma coisa dentro do atual modus operandi das empresas do meio ou mesmo do fazer jornalístico como um todo - atualmente NADA conectado com aquilo que interessa, de fato, a população, que é a informação de qualidade. Mas, ainda assim, talvez servisse, num gesto de desespero nostálgico, como uma espécie de homenagem àqueles jornalistas e editores - ou mesmo aos grupos que os coordenavam - que buscavam a notícia pautada pela verdade e pela e ética acima de tudo (e de todos), nem que para isso tivesse que passar por cima de poderosas instituições, como no caso o Governo.

Sim, o mais recente filme de Steven Spielberg é sobre jornalismo. E sobre os bastidores da política. E, talvez por isso, possa soar meio enfadonho num primeiro momento. Mas o caso é que, como quase sempre ocorre com o diretor, estamos diante de um filmaço! Rico em termos de roteiro, cheio de grandes personagens (e interpretações) e com reviravoltas de tirar o fôlego. Sim, acredite: reviravoltas. A trama retorna para o começo dos anos 70 quando o New York Times inicia, com base em um grande volume de documentos sigilosos vazados do Pentágono, uma série de reportagens denunciando o fato de vários governos norte-americanos - Eisenhower, Kennedy, Johnson - terem mentido por mais de 30 anos acerca da atuação do País na Guerra do Vietnã (o que teria resultado em mais de 50 mil americanos mortos no conflito, em uma Guerra considerada "perdida").



Presidente na época, Richard Nixon resolve processar o periódico com base na Lei da Espionagem - estabelecendo ainda uma cláusula que determinava que nada mais poderia ser divulgado sobre o assunto, em veículo de imprensa algum. Só que um dos integrantes da redação do The Washington Post - um jornal menor, à época - acaba tendo contato com a fonte que vazou a informação para o diário Nova Iorquino. O resultado: mais de sete mil páginas de documentos secretos vão parar nas mãos de Ben Bradlee (Tom Hanks) e sua equipe que, agora, devem convencer a dona do jornal, Kat Graham (Meryl Streep, capaz de levar qualquer película a um outro patamar, só com a sua presença), a publicar os documentos, como forma de protesto e como forma de defesa da importância da liberdade de imprensa. A decisão para Kat não será tão simples: herdeira do jornal (que era mantido pelo falecido marido), acaba de fechar contrato com novos acionistas que pretendem investir na publicação. Muitos deles integrantes de bancos e outras corporações diretamente ligadas ao Governo.

O embate é interessante, instigante e conduzido com a habitual elegância por Spielberg - aliás, impressionante a sua capacidade de enriquecer o roteiro, que se torna cheio de nuances no que diz respeito não apenas a relação entre os próprios veículos de imprensa, destes com a opinião pública (que fica a seu lado em um período de grandes transformações na sociedade) e destes com setores como o Departamento de Defesa Americano. Trazendo ainda um subtexto complexo e rico sobre a presença de uma mulher em um cargo que "deveria" (naturalmente, entre aspas), ser ocupado por um homem, o filme ainda brilha por mostrar a coragem e a ousadia de um veículo que, sem medo da censura, peitou as organizações mais poderosas dos Estados Unidos para mostrar que, em uma guerra patética, somente a população americana saiu perdendo. Com coadjuvantes de luxo - Bob Odenkirk e Michael Stuhlbarg (aliás, que ano para o ator que também integrou o elenco de Me Chame Pelo Seu Nome e A Forma da Água), só pra citar dois - a obra é uma ode ao bom jornalismo. E ao bom cinema, claro.

Nota: 8,5

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