Histórias sobre os bastidores de Hollywood já renderam bons filmes e não é diferente com o sensacional Artista do Desastre (The Disaster Artist) - uma narrativa tão improvável que, não fosse baseada em fatos reais, talvez fosse difícil acreditar que ela de fato tenha acontecido! A trama resgata a trajetória do excêntrico - sério, acho que excêntrico é pouco - Tommy Wiseau (James Franco), sujeito megalomaníaco que sonhava em ser ator na Meca do cinema mundial. Sem absolutamente nenhum talento, mas com muita confiança, Tommy - que mais parece saído de algum videoclipe de alguma banda de "metal farofa" dos anos 80 - tenta a sorte por meio de participações em aulas de atuação. Em uma delas se aproxima e se torna amigo do jovem Greg Sestero (o irmão de Franco, Dave), com quem divide o sonho de fazer sucesso em um mercado com alto grau de exigência.
Sim, eles receberão muitos "nãos" e, cansados de serem rejeitados em testes, partirão juntos para Hollywood. É lá que Tommy produzirá, dirigirá, escreverá e protagonizará, ao lado do melhor amigo, o próprio filme. O resultado: The Room, obra considerada a pior de todos os tempos - e que hoje é exibida regularmente no circuito alternativo, tendo recebido, inclusive, o status de cult. A trama se ocupa, em grande parte dos bastidores dessa produção que, diga-se, pode ter custado mais de US$ 6 milhões (dinheiro que ninguém sabe de onde veio, porque até isto é um mistério na vida de Tommy). E como a "plata" é que fala mais alto, Tommy contratará uma equipe de profissionais - editores, fotógrafos, diretores de cena, técnicos de som e de luz e figurinistas, além de atores - que conviverão, durante intermináveis 80 dias, com as extravagancias do sujeito.
Como não poderia deixar de ser em um filme desse tipo, com um protagonista tão singular, Franco (que também dirige) adota uma abordagem bem-humorada - e é impossível não gargalhar ao assistir os esforços de Tommy para tentar interpretar, mesmo nas sequências que poderiam ser consideradas mais fáceis de serem executadas por um ator minimamente profissional -, com destaque para as diversas participações especiais. Ainda assim, o realizador tem o cuidado de não transformar Tommy em uma simples caricatura exaltando assim, numa espécie de metáfora, todos aqueles que se esforçam na perseguição de seus objetivos. (e não é por acaso que - SPOILER - a cena final, com a plateia aplaudindo de pé a "comédia" The Room, em uma clara licença poética, se torna tão tocante e singela, numa verdadeira homenagem àqueles que se empenham em levar o universo do cinema para as nossas casas)
Sem deixar de brincar com o mau gosto em outros aspectos - o que dizer da trilha sonora que conta com a pérola kitsch Never Gonna Give You Up do cantor Rick Astley, entre outras breguices? - a película ainda satiriza a desorganização total e a completa falta de sentido de The Room por meio de pequenos erros de continuidade (observe como a bola de futebol americano quase nunca está no lugar certo enquanto Tommy e Greg brincam de arremessos, ou mesmo como o dia é capaz de virar noite de maneira inexplicável em questão de segundos), o que torna tudo ainda mais engraçado. Indicada para o Oscar na categoria Melhor Roteiro Adaptado - o livro de mesmo nome foi escrito pelo próprio Greg Sestero - a obra talvez tenha perdido força na reta final, por conta das acusações de assédio envolvendo James Franco. (e talvez este fato explique a sua ausência na categoria Melhor Ator, após ter faturado o Globo de Ouro, o que é sempre um ótimo termômetro) Ainda assim, trata-se de uma das mais improváveis e divertidas comédias do ano. E, se podemos dar uma dica, assistam The Room DEPOIS de ver o Artista do Desastre. Garantimos que tudo será AINDA MAIS HILÁRIO!
Nota: 9,5
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