segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Cine Baú - Chinatown (Chinatown)

De: Roman Polanski. Com Jack Nicholson, Faye Dunaway, Harry Caul, Diane Ladd e John Huston. Drama / Suspense, EUA, 1974, 130 minutos.

Um roteiro intrincado e cheio de reviravoltas, grandes interpretações do elenco principal, um clima carregado de cinema noir à moda dos anos 30 em meio as tintas amareladas de uma Los Angeles calorenta, que começa a se formar. Essas são algumas das tantas características que tornam Chinatown (Chinatown), de Roman Polanski, um clássico tão fundamental. É a obra-prima do estilo por excelência: há um protagonista cínico e atormentado por algo que ocorreu no passado, a femme fatale misteriosa que sempre nos deixa em dúvida sobre a verdade, uma história misteriosamente densa e um senso de humor excêntrico em meio ao quebra-cabeças montado - a ponto de sequer nos surpreendermos com o fato de o detetive Jake Gittes (Jack Nicholson em mais uma de suas tantas caracterizações inesquecíveis), passar boa parte da projeção usando um curativo em seu nariz estropiado.

O filme começa no escritório de Gittes, quando ele recebe a visita de uma certa Ida Sessions (Diane Ladd) que alega que o seu marido Hollis Mulwray (Harry Caul) - engenheiro-chefe do departamento de Águas e Energia da cidade, tem uma amante. Após algumas fotos que comprovam que Mulwray realmente estava tendo um caso, a farsa é desmascarada: a verdadeira senhora Mulwray (Faye Dunaway) aparece no escritório de Gittes furiosa, deixando claro que jamais lhe contratou e, de quebra, processando-o. Intrigado com o mistério, Gittes passa a perseguir sorrateiramente Mulwray pela cidade, em locais próximo a represa e outros para tentar entender qual a motivação por trás do episódio ocorrido (que vira escândalo na mídia local). Não demora para que o homem apareça morto, tornando o quebra-cabeças ainda mais complexo.


O que no começo é para ser uma prosaica investigação de adultério se transforma rapidamente em uma trama sobre a ganância, com homens poderosos e engravatados em seus gabinetes, dipostos a fazer de tudo para se dar bem. Aos poucos o departamento de Água e Energia se mostra um antro de pessoas corruptíveis: Mulwray, avesso a ideia de construção de uma represa que poderia representar riscos para os moradores e que agradaria apenas a grandes produtores da parte oeste da cidade, aparentemente tem inimigos. E talvez a motivação política tenha falado muito mais alto do que a romântica - impressão que é aumentada após Gittes entrar em contato com Noah Cross, pai de Evelyn Mulwray e antigo parceiro de negócios do ex-marido desta. Na fachada são muitos os suspeitos e cabe a Gittes, com seu sorriso debochado e modos tranquilos, tentar desenrolar o novelo.

É um filme complexo, cheio de idas e vindas e que, de alguma forma, exige algum tipo de atenção do espectador. Detalhes como a simples presença de um objeto dentro de uma piscina natural nos fundos da mansão de Mulwray podem ser a chave para a resolução do mistério. É um drama denso e pesado, um suspense grandioso que, sutilmente, também aposta no deboche (e a cena em que o próprio Polanski aparece é, sem dúvida, uma das melhores). O desfecho trágico no bairro Chinatown dá conta de que não há redenção para toda aquela coleção de desajustados ambiciosos que vemos na tela - e os traumas de Gittes acabam por retornar com força, enquanto assistimos os créditos subir. Figurinha fácil em listas de melhores é o 19º melhor filme estadunidense da história, de acordo com o American Film Institute. No Oscar daquele ano só não foi tão bem sucedido porque havia um certo O Poderoso Chefão 2 no caminho. Mas isso é outra história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário