A trama de Buscando... (Searching) não poderia ser mais convencional: homem que perdeu a esposa vítima de câncer, precisa lidar ainda com o desaparecimento inesperado da filha adolescente, que some sem muita explicação. Sim, a gente já viu essa história muitas vezes em Hollywood. Só que a grande diferença deste para outros filmes do gênero é o uso da tela do computador como recurso narrativo. A obra do diretor estreante Aneesh Chaganty - que fez barulho no último Festival de Sundance - se desenrola TODA dessa maneira. Não há grandes planos gerais, travellings criativos ou uso de gruas e outras técnicas de captura a que estamos acostumados, no cinema. Tudo o que vemos é David (John Cho), tendo seu desespero aumentado conforme tenta buscar alguma pista para o caso, invadindo o notebook da jovem Margot (Michelle La), de apenas 16 anos.
Hábil em sua grande sequência inicial, o filme torna o espectador íntimo daquela família em apenas cinco minutos. Com imagens, fotos e textos de arquivo acompanharemos a luta da esposa/mãe contra o câncer, as pequenas vitórias, tristezas, anseios e frustrações que levarão pai e filha a se tornarem figuras enlutadas - ainda que unidas. Margot faz aulas de piano e, como ocorre com qualquer adolescente, irrita o pai pela descompromisso com atividades prosaicas relacionadas à organização da casa, como levar o lixo para fora. David cobra Margot em uma série de mensagens a respeito disso, enquanto ela está na aula. Margot não responde. Ela fica horas sem responder. David começa a ficar preocupado, ensaia outras mensagens, começa a ligar para amigos, para pais de amigos, mas ninguém sabe do paradeiro da jovem, não restando alternativa a não ser o chamado à polícia.
Como já foi comentado aqui na resenha, tudo o que assistimos é um pai desesperado, diante da tela do computador, tentando encontrar alguma pista nas redes sociais, em alguma diálogo que tenha ficado subentendido ou que possibilitasse uma explicação lógica para o sumiço (ele até se tranquiliza ao lembrar que a filha tinha um acampamento previsto). Mas não. Ela some mesmo, deixando para trás inclusive o seu notebook pessoal. E será "entrando" nele que David "descobrirá" a sua filha, invadindo as suas redes sociais e vendo como ela se comportava em sites diversos como Facebook e Instagram, quais fotos publicava, com quem trocava mensagens no webmessenger, quem lhe curtia, quem era os eventuais haters, aqueles que tinham interesse ou que apareciam em suas fotos. Na internet, encontrará um verdadeiro dossiê que lhe mostrará como ele, de fato, não conhecia a sua filha. E a entrada no Youcast, em que verá uma série de vídeos publicados, ampliará esse sentimento.
Enquanto investiga de forma particular, David contará com o apoio da detetive Rosemary Vick (Debra Messing, a eterna Grace de Will & Grace, em um papel bem mais sério). A polícia procurará pistas e até obterá uma confissão com aquela cara de "notícia falsa". O que vai deixando David insatisfeito e desconfiado de todos a sua volta, até mesmo do irmão Peter (Joseph Lee) - não por acaso, a cena em que ambos se confrontam é uma das melhores da película. Usando o filme muito menos como um veículo para a crítica as redes sociais e a tecnologia e muito mais como uma ferramenta onipresente em nosso dia a dia, a obra é hábil em sua atenção aos detalhes (anda que seja econômico no cenário). Nesse sentido, não deixa de ser interessante notar como, ao enviar mensagens desesperadas ao seu irmão sobre o sumiço da filha, a produção se ocupe em demonstrar que, em mensagens anteriores que não nos são mostradas, ambos já teriam se conversado, com David tendo escrito a Peter sobre o acampamento da filha (em um tom apaziguador). O tipo de detalhe que enriquece a narrativa, sem torná-la cansativa.
Nota: 7,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário