quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Cinema - Eu, Tonya (I, Tonya)

De: Craig Gillespie. Com Margot Robbie, Allison Janney e Sebastian Stan. Comédia dramática / Biografia, EUA, 2018, 120 minutos.

Filmes baseados em fatos reais sobre atletas indo do céu ao inferno não chegam a ser exatamente uma novidade e, mesmo que Eu, Tonya (I, Tonya) não chegue a ser um Touro Indomável (1980) - pra ficar em um dos exemplos mais famosos - consiste-se em uma obra tragicômica, que merece ser vista. A história que é resgatada aqui é a da atleta Tonya Harding (Margot Robbie) que, no começo dos anos 90, surgiu para o mundo como um dos mais promissores talentos da patinação artística no gelo. Apesar de alta e relativamente forte para o esporte ela foi a primeira mulher americana a conseguir executar o dificílimo salto triplo axel em competições, o que lhe garantiu títulos no campeonato nacional, além de um vice-campeonato no Mundial de 1991.

Tonya era uma das apostas dos Estados Unidos para a conquista do posto mais alto do pódio nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1994. Mas o relacionamento abusivo com o violento marido Jeff Gilooly (Sebastian Stan) e as constantes humilhações e maus-tratos por parte da mãe (Allison Janney, em papel assustador) - com direito a toda a sorte de xingamentos e indiretas e até a facada no braço (!) "sem querer querendo" -, transformaram a vida da atleta em uma verdadeira descida ladeira abaixo. Não bastasse a baixa autoestima, apesar do estímulo das treinadoras, a situação piora quando Tonya participa de um bizarro plano durante a preparação para os já citados Jogos, que termina com outra patinadora - a rival Nancy Kerrigan - severamente machucada.



Se fosse tratado com o peso natural das tragédias que surgem na tela em efeito cascata, talvez Eu, Tonya fosse um filme meio difícil de ver. Talvez até intragável. Mas ao optar por uma abordagem mais leve - quase divertida -, o diretor Craig Gilespie (do ótimo A Garota Ideal) transforma a improvável história em uma daquelas comédias dramáticas capazes de nos deixar no limite entre o riso e o choro. Com ecos de filmes do Guy Ritchie e de Os Bons Companheiros (1990), com uma pitada de Irmãos Coen, a história é narrada em estilo documental, com direito a quebra da "quarta parede", o que confere um tom altamente intimista a trama. Além do artifício ser, diga-se muito engraçado - quem quebra a perna da sua amiga? questiona Tonya em certa altura da projeção.

A propósito de Robbie e Janney, ambas estão irrepreensíveis em suas caracterizações. E se a primeira parece se aproveitar da fama alcançada pela sua Arlequina no fraco Esquadrão Suicida (2016), repetindo aqui e ali uma espécie de sorriso alucinado e debochado (algo reforçado pela maquiagem) a moda de um "Coringa" do Jack Nicholson, a segunda compõe uma mãe capaz de se igualar a outras tenebrosas genitoras, como aquelas vistas em clássicos como Carrie - A Estranha (1976) ou mesmo em filmes mais atuais como Preciosa (2009). E não é por acaso que ambas foram lembradas em indicações para o Oscar desse ano, nas categorias Atriz e Atriz Coadjuvante, respectivamente, sendo Janney uma das favoritas em sua categoria. Com edição ágil e dinâmica - também indicada - Eu, Tonya talvez merecesse melhor sorte na maior premiação do cinema. Até mesmo por ser bem superior a obras medianas como Dunkirk e Lady Bird.

Nota: 8,5

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