Mas essas músicas, sinceramente, não são nada. A crítica esperava, aparentemente, que depois do álbum No Mythologies to Follow (2014), levemente mais hermético que este registro, a artista se aprofundasse ainda mais em sonoridades pouco óbvias, mais profundas e mais solenemente adultas (especialmente agora, que ela recém completou 30 anos). Mas não. O título do trabalho não parece ser mera homenagem: como uma espécie de Peter Pan do mundo da música disposta a se divertir sem restrições, aberta ao ecletismo dos estilos, livre de qualquer amarra, MØ entrega um álbum leve, fluído, fácil de ser apreciado. As canções não seguem uma lógica específica (ou um "conceito", aliás, troço mais chato): elas apenas acontecem e nos vão dando aquela sensação de calor primaveril da juventude, onde a gente só quer expressar as nossas angústias sem ficar refletindo demais sobre o que os outros estão pensando.
O álbum abre na calmaria com Intro, onde a artista é sincera nos versos que dizem desavergonhadamente Isso é o que eu queria em toda a minha vida. Da segunda música (Way Down), até a sétima (Mercy), talvez tenhamos uma das melhores "primeiras metades" de disco desse novo milênio. A primeira tem batidinha do trap em modo econômico (e caribenho), la la las e uhs! que ancoram o refrão grudentíssimo. A segunda tem a lentidão necessária de quem vai pedir desculpas, mas quer a atenção do interlocutor. Uma canção que começa vagarosa, tem uma ponte que cresce e aquela refrão em modo "coro", que vai te fazer cantar a melodia mentalmente por dias. E você não vai se importar com isso, claro. E ainda tem a letra, que não poderia ser mais comovente - Eu preciso de misericórdia, eu estou te implorando por favor / Você sabe que eu não posso ver sem você.
No meio do caminho o pop convencional de sintetizadores e estalinhos de dedos de I Want You, culminando naquele refrãozão que não faria feio num disco da Carly Rae Japsen. Há ainda Nostalgia (que nos fará ter saudade de algo que não sabemos o quê) e Sun In Our Eyes (mais uma daquele tipo pra cantar junto a plenos pulmões). E aí chegamos a Blur, que mais parece um encontro da artista com a música alternativa - e ela tem um espírito meio Pixies, meio Sonic Youth, no caminho, que torna esta a melhor canção do álbum (rivalizando com Mercy). O trabalho segue com mais um punhado de grandes músicas como If It's Over, Beautiful Wreck e Purple Like The Summer Rain. Participações de outros artistas como Diplo, Charlie XCX e Empress Of, somada a uma dúzia de produtores, transformam o trabalho em uma miscelânea de estilos, capaz de ir das emanações latinas (Red Wine) à economia das baladas à moda da Lorde (Trying To Be Good) em segundos. Mas o que se sobressai mesmo é o pop cintilante, juvenil, daquele que a gente sempre está disposto a ouvir.
Não prestei a devida atenção neste material da MØ. Depois da leitura deste texto, já tô ouvindo o novo minidisco com outro entendimento.
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