terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Novidades em DVD - O Primeiro Homem (First Man)

De Damien Chazelle. Com Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chandler e Corey Stoll. Drama / Biografia, EUA, 2018, 141 minutos.

Do épico Os Eleitos (1983), passando pelo blockbuster Apollo 13 (1995) até chegar ao recente Gravidade (2013), não foram poucos os filmes que investiram em temáticas relacionadas à exploração do espaço - e devo admitir que gosto muito dessa vertente que, em muitos casos, cruza a realidade com o universo misterioso das ficções científicas. O badalado O Primeiro Homem (First Man) - mais recente trabalho do diretor Damien Chazelle (de La La Land) - é mais um desses. Adotando uma estrutura convencional, muito mais econômica do que "expansiva", a obra centra o foco na história de Neil Armstrong (Ryan Gosling), conhecido por ser o primeiro homem a pisar na lua. Na história a ida a Lua é o de menos. A trama volta no tempo, para o começo da década de 60, para mostrar como ele se consolida na profissão de engenheiro (e astronauta da Nasa), ao mesmo tempo em que tem de lidar com uma série de problemas pessoais.

Por problemas pessoais leia-se a perda de uma filha vitimada por um câncer, de amigos e de colegas de profissão em acidentes - sendo o mais marcante o que envolve o parceiro Ed White (Jason Clarke) que morre em incêndio durante um evento de testes mal sucedido. Não bastassem as pressões naturais da profissão de astronauta - que sai para trabalhar sem saber se voltará com vida - Neil, um sujeito claramente taciturno e sisudo, ainda deve encontrar equilíbrio para um convívio familiar estável ao lado da esposa Janet (Claire Foy, em impressionante caracterização que provavelmente lhe renderá uma indicação ao Oscar) e dos dois filhos. Como pano de fundo, o contexto político que desloca as personagens para o meio da Guerra Fria, período em que Estados Unidos e União Soviética travavam uma luta silenciosa para que se descobrisse qual dos dois tinha o maior "foguete" - e aí as cenas envolvendo engravatados em gabinetes, somadas a enfadonhas entrevistas à imprensa, completam o estresse generalizado que envolvia as famílias dos astronautas.


O filme avança no tempo, com a narrativa se ocupando do período entre 1961 e 1969, sendo este último, o ano em que a Apollo 11 faz a sua bem sucedida investida no satélite natural. Ainda que saibamos que Neil ficará vivo (ele foi pra Lua e voltou), não são poucas as cenas tensas em eventos de teste cheios de engrenagens barulhentas, com a câmera rodopiando e trilha sonora ostensiva. Mas ainda assim a intenção principal de Chazelle e companhia é a de focar na vida íntima daqueles que vemos na tela. Suas angústias, anseios, medos e preocupações - algo que Gosling, com sua cara de paisagem e olhares de peixe morto, executa sem muito esforço. Nesse sentido, a trama é inteligente ao mostrar que a eventual claustrofobia gerada por um pequeno módulo espacial talvez seja o menor dos problemas. Não por acaso, uma cena mostrando Gosling "encaixotado" pelas paredes de sua casa, após uma sequência em que há uma discussão com Janet, se torna um recurso bem sucedido para evidenciar o sentimento de "prisão" estabelecido por uma situação incômoda que deve ser superada.

Claro que esse tipo de efeito não transforma este em um filme superior dentro do estilo - e os três citados no começo desta resenha causam, cada um a sua maneira, mais "impacto" a meu ver. E na tentativa de não causar impacto, eventualmente Chazelle se perde na "linguagem de engenharia", com o espectador meio perdido em termos técnicos relacionados a cálculos de rotas, de distâncias de velocidades e pressões (o que para um jornalista desatento como este que vos escreve pode tornar a experiência meio sonolenta). Em contrapartida há que se reconhecer o esforço em conferir verossimilhança a narrativa, exaltando-se também a versatilidade do diretor que, em seu terceiro filme, deixa de lado os temas musicais para investir em uma trama de ares épicos. Não sei dizer se será indicado ao Oscar - os nominados serão conhecidos no dia 22 de janeiro -, mas, caso for, será um atestado de "safra fraca" já que o filme se estabelece bem, mas não chega a gerar nenhuma surpresa "a mais".

Nota: 7,0

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