quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

25 Melhores Discos Internacionais de 2018 (+15 Menções Honrosas)

Sim, já está todo o mundo sabendo que não houve unanimidade entre a crítica na hora de selecionar os melhores discos internacionais do ano. Ficou tudo meio pulverizado, com artistas que figuraram nos primeiros lugares em certas relações, sendo completamente ignorados em outras. Para nós do Picanha foi um ano bom, musicalmente (sim, porque de resto não foi, como todos sabemos). Bandas que gostamos, como Arctic Monkeys, Spiritualized, MGMT e Beach House retornaram com grandes lançamentos. Já entre as estreias, nomes como Snail Mail, Tirzah e Miya Folick fizeram a nossa alegria com registros consistentes e adequados para os tempos em que vivemos (e quem tiver a paciência de ouvir as músicas acompanhando as letras terá boas surpresas). Ah, e foi um ano de grandes discos delas - de Robyn a Ariana Grande, passando pela sempre ótima Mitski. É só dar uma espiada na lista para perceber quantas cantoras/compositoras/vocalistas estão presentes. Bom, chega de conversa, eis a nossa lista de 25 Melhores Discos Internacionais de 2018 (+15 Menções Honrosas).

Menções honrosas:

40) Lykke Li (so sad so sexy)
39) Courtney Barnett (Tell Me How You Really Feel)
38) Pusha-T (Daytona)
37) Amen Dunes (Freedom)
36) Jorja Smith (Lost and Found)
35) U.S. Girls (In a Poem Unlimited)
34) Kali Uchis (Isolation)
33) Yves Tumor (Safe In the Hands Of Love)
32) Vince Staples (FM!)
31) SOPHIE (OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDE)
30) Blood Orange (Negro Swan)
29) Julia Holter (Aviary)
28) Parquet Courts (Wide Awake!)
27) Noname (Room 25)
26) The 1975 (A Brief Inquiry Into Online Relationships)


25) Arctic Monkeys (Tranquility Base Hotel + Casino): é muito provável que há dez anos atrás um disco "conceitual" fosse tratado como uma ideia absurda por Alex Turner e companhia. Ainda mais depois do sucesso estrondoso de crítica e de público que foi o trabalho anterior, AM (2013). Só que quando o tempo passa, a gente muda. Evolui. Amadurece. E se sente mais a vontade para criar. Four Out Of Five pode até ser aquele hitzão à moda antiga dos Monekys, mas há espalhado pelo disco, e em seu rico catálogo de variações rítmicas, um clima meio futurista, de ficção científica classuda e meio oitentista, guiada por canções que funcionam como divagações verborrágicas e atormentadas na mesma medida. Não, não é um trabalho fácil e quem se arriscar a escutar o disco com as letras a tiracolo encontrará, aqui e ali, uma espécie de crítica generalizada a uma espécie de mal estar da modernidade, com seus excessos consumistas, diferenças sociais, burocracia nas grandes corporações e romances falidos. É a diferente. E a gente adorou.

24) Manic Street Preachers (Resistance Is Futile): a despeito do niilismo do título (e até da capa), o álbum serve, novamente, como veículo para novas divagações político/filosóficas/sociais sobre o mundo que vivemos. Não é por acaso que a abertura, com People Give In, já inicia com uma série de versos pessimistas - People get tired / People get old / People get forgotten / People get sold - e que, de alguma forma, funcionarão como um guia para as reflexões que serão espalhadas pelo álbum. A sonoridade surge tensa, urgente, melancólica, até explodir no refrão roqueiro com direito e ooo ôs e um indelével otimismo. O expediente se repete em outras músicas. Sequels of Forgotten wars tem título quase autoexplicativo. Já Hold Me Like a Heaven é quase um manifesto por busca de conforto em meio a uma rotina de desgaste em que o grito já não é suficiente. Mestres no papel de difusores de boas ideias em um mundo tão cheio de intolerância, os galeses também não ignoram os hits - como atestam International Blue e Distant Colous. Discaço!

23) Soccer Mommy (Soccer Mommy): o disco de estreia do projeto de Sophie Allison pode até ser pequeno no tamanho - são apenas 10 músicas e 34 minutos de duração -, mas é grande no seu detalhamento. Com uma capacidade única de expôr as suas vísceras em letras absurdamente sinceras sobre dramas juvenis nunca insignificantes, a artista canta como se estivesse conversando conosco. Uma conversa franca, aberta, madura - mesmo para alguém de apenas 20 anos - sobre o fortalecimento que vem da angústia. "Sem dor, sem ganho", diz aquele velho refrão, e o Soccer Mommy, com o seu estilinho pop-noventista/softcore parece saber disso como ninguém. Eu quero ser como a sua última garota /Ela é o sol em seu mundo frio / E eu sou apenas uma flor moribunda narra a artista de forma debochada e autocomiserativa em Last Girl, enquanto uma cama instrumental cheia de idas e vindas acontece. Difícil resistir.

22) Tirzah (Devotion): Devotion é aquele disco que vai te conquistando aos poucos. Que vai te absorvendo a cada nova audição. E que cresce conforme vamos sendo envolvidos não apenas pelo vocal hipnótico e sussurrado da cantora britânica, mas também pelos efeitos nunca óbvios, pelas quebras de andamento, pela condução propositalmente enigmática, numa mescla de eletrônica, R&B, soul e pop. Ainda assim, o eventual hermetismo dessa ótima estréia jamais representa uma apreciação truncada, difícil. Em cada curva do registro somos surpreendidos por versos perfumados por algum dedilhado de violão discreto, um sintetizador econômico ou um toque suave ao piano. Os refrões ao mesmo tempo esquisitos e descomplicados (sim, acredite) de canções como Do You Know, Devotion e Gladly fazem o contraponto perfeito para os versos sentimentais, que jamais soam óbvios. Pra quem sempre achou que a FKA Twigs talvez pudesse ser mais comercial, talvez aqui esteja a resposta.

21) Florence + The Machine (High As Hope): aguardados pelos fãs como se fossem verdadeiros objetos de culto, os trabalhos de Florence Welch e companhia jamais decepcionam. Do começo mais hermético com Lungs (2009) até a consolidação com How Big, How Blue, How Beautiful (2015), cada registro tem como guia o timbre potente da vocalista, que mergulha o ouvinte em um cancioneiro rebuscado, que vai no limite do rock épico e do pop enigmático, cabalístico. O álbum, ainda que absolutamente homogêneo, alterna momentos de grande lirismo e sutileza (como na inaugural June ou em South London Forever), com outros mais espessos (caso de Patricia ou Hunger). O mesmo vale para os arranjos, que podem trocar entre a economia e a consistência em questão de segundos (muitas vezes dentro de uma mesma música). E ainda há as letras, que mantém o clima ritualístico na abordagem do amor - Eu ainda prefiro você / Você sempre será meu fantasma favorito, canta no hit Big God (que tem um videoclipe maravilhoso). Impossível não gostar.

20) Let's Eat Grandma (I'm All Ears): o tipo de senso de humor delirante, eventualmente paranoico que vemos não apenas nas letras, mas na sonoridade da dupla Jenny Hollingworth e Rosa Walton, já começa pelo nome da banda. "É uma brincadeira com o uso das vírgulas", explicaram elas em tom divertido na época do lançamento do exuberante I, Gemini (2016), quando tinham apenas 16 anos. No caso, elas alertavam para a completa alteração de sentido da frase, caso esta ganhasse o acento após a palavra eat. Aquele tipo de piada sombria que percebemos como uma espécie de extensão do tipo de material que elas apresentam - e não por acaso há uma pesada canção chamada Donnie Darko (um tour de force de mais de 10 minutos). Conseguindo ser despretensiosamente pop e experimentalmente sinistro ao mesmo tempo - como atesta o hit It's Not Just Me, o álbum da dupla pode soar anárquico, surrealista, controverso, onírico. O adjetivo dá pra escolher a vontade.

19) Rosalía (El Mal Querer): quem aguardava algo realmente NOVO no mundo da música neste ano, pode apostar com folgas nesta cantora espanhola. Misturando flamenco com música pop, um tantinho de folk e mais uma pitada de R&B, a artista aposta na iconoclastia - que já começa pela capa - para construir um trabalho conceitual, que forma um verdadeiro painel dos relacionamentos (especialmente os tóxicos). Adotando, nas canções, subtítulos como "casamento", "ciúmes" e "claustro", as várias fases do amor são pontuadas por ritmos que remetem ao folclore e ao regionalismo, envernizados por tintas multiculturais - bem ao estilo do que o globalismo acena. Um belo exemplo disso está em Pienso En Tu Mirá, terceira canção do disco, que mescla experimentalismo pop (nas camadas eletrônicas e até no vocal da artista), com o flamenco clássico, num exemplo estonteante de hibridismo. Que venha mais.

18) Dirty Projectors (Lamp Lit Prose): depois de derrapar feio com o registro anterior - o deprimido disco homônimo lançado no ano passado -, a banda comandada por Dave Longstreth voltou a ser aquele coletivo esquisitão de freak folk que a gente tanto ama e que já nos entregou obras-primas como o inesquecível Swing Lo Magelan (2012). Misturando rock alternativo, música eletrônica e hip hop, o registro adota um tom otimista (o que pode ser comprovado pela batucada festiva de I Feel Energy e pelos efeitos luminares e excêntricos que surgem o tempo todo em Break-Thru), ainda que não ignore o contexto político/social da atualidade. O céu escureceu / A terra se transformou em inferno, anuncia já na abertura, com Right Now para, logo em seguida, adotar um clima mais otimista  (Alguns disseram que uma luz brilhou / Onde a escuridão habitava). É na dualidade de ideias, nas idas e vindas de andamento e em outras trucagens, que se estabelece a narrativa dessa banda tão distinta e cheia de personalidade.

17) Ariana Grande (Sweetener): Você, você ama o jeito que eu te mexo / Você ama o jeito que eu te toco / Meu amado, no fim das contas / Você acreditará que Deus é uma mulher. A autoconfiança vista na letra da sinuosa e envolvente faixa God Is a Woman é um belo indicativo de que a garotinha desengonçada que víamos em séries como Sam & Cat definitivamente cresceu. E lançou um belo álbum, consolidando uma carreira em franca evolução e que posiciona a artista como um dos grandes nomes da música pop neste 2018. Utilizando como peça central a sua potente voz, Grande parece transformar Sweetener em um material mais homogêneo que os anteriores - e também mais rico e mais complexo no que diz respeito as emoções vividas na pós-adolescência. O disco - riquíssimo em camadas e texturas eletrônicas (cortesia de Pharell Williams) - equilibra momentos mais otimistas (sucessfull), com outros mais enfumaçados (como no hit no tears left to cry), de maneira irretocável.

16) Troye Sivan (Bloom): figuras como este sul-africano naturalizado australiano fazem um bem danado para a humanidade - especialmente em um mundo tão cheio de preconceitos e de intolerância como este que vivemos. Gay assumido, Sivan é youtuber, ator (estará no aguardado filme Boy Erased do diretor Joel Edgerton) e ainda lança discos inacreditavelmente belos como este Bloom - seu segundo da ainda curta carreira. Perfumado por sorridentes sintetizadores oitentistas, o registro equilibra calor, delicadeza, força, ternura e outros adjetivos em medidas variadas. As famílias de bem provavelmente se horrorizariam com letras pessoais como a da faixa-título, que versa sobre um jovem que se aproxima de homens mais velhos (Sim, eu floresço / Eu floresço só para você). Mas as metáforas certamente "suavizam" as ideias expressas, restando para nós, mortais, ue não convivemos o ódio diário, apenas curtir gemas pop como Seventeen, My My My! e Dance To This.

15) Iceage (Beyondless): a cada disco que lança, a banda dinamarquesa de post-punk parece mais disposta a se aproximar do grande público. Do completo hermetismo com o obscuro primeiro registro New Brigade (2011), até o recente Plowing Into The Field Of Love (2014), o diálogo com uma estética levemente mais limpa e menos soturna/gótica, transforma a audição do registro em uma "tarefa" não menos do que prazerosa. Sim, ainda são muitas as canções em que o vocalista Elias Bender Rønnenfelt parece enterrar as suas cordas vocais em meio as guitarras barulhentas, ao baixo robusto e a bateria potente. Mas, lá no meio, canções como Pain Killer (que poderia ter sido lançada pelo Cloud Nothings, se a banda de Dylan Baldi não tivesse feito o caminho inverso) e Catch It (que parece algo lançado pelo Afghan Whigs, fase Gentlemen) nos lembram por quê o Iceage é tão querido pelo seu público - que os segue como estes fossem objeto de culto.

14) Snail Mail (Lush): poucas estreias foram tão celebradas neste ano, quanto o projeto da guitarrista e cantora Lindsey Jordan. Sim, o clima é meio retrô-nostálgico, como se misturássemos alguma banda de shoegaze dos anos 90 (digamos o Superchunk) com outra mais barulhenta dos anos 2000 (talvez o Best Coast). Não é novo, mas tem personalidade. E sinceridade. E limpeza em meio a "aspereza". E naturalidade na hora de cantar sobre alegrias e dissabores existentes em cada relacionamento. Só que se engana quem pensa que se trata apenas de chororô adolescente: Jordan utiliza seus sofisticados versos como uma espécie de catarse. Um grito de liberdade em meio a um mundo em que não há compreensão e em que estamos sempre insatisfeitos, esperando por dias melhores. Eu espero que o amor que você busca / Engula você completamente, comenta despretensiosamente a artista em Heat Wave. Trata-se de uma garota de 19 anos. Acredite: com mais maturidade do que eu e você.

13) Spiritualized (And Nothing Hurt): valeu a pena esperar seis anos por um novo disco da banda capitaneada por Jason Pierce - aliás, é apenas o oitavo álbum de estúdio em mais de 30 anos de carreira. Neste, não há muitas diferenças em relação aquilo que foi testado em materiais anteriores - especialmente no clássico Ladies and Gentlemen We Aree Floating In Space (1997). O rock espacial, que mistura cordas eclesiásticas, "cenários" etéreos e uma psicodelia multicolorida, segue intocável. De difícil definição, cada trabalho parece tirado de algum Filme B de ficção científica, capaz de equilibrar os efeitos eletrônicos oníricos com a balbúrdia trovejante do jazz. Hey baby, está tudo certo / Você pode vir para a minha casa hoje a noite / Eu vou lhe dar a direção, parece convidar Pierce na gospel Here It Comes (The Road) Let's Go. É só o começo de uma viagem por canções cheias de romantismo e de curvas pegajosas, casos de A Perfect Miracle, I'm Your Man e The Morning After.

12) Cardi B (Invasion Of Privacy): quando Bodak Yellow foi apresentada ao mundo, ainda no ano passado, Cardi B ganhou (ainda mais) rapidamente os holofotes. A música, um rap denso (e tenso), cheio de camadas, de efeitos sinuosos e de flows sofisticados tinha todos os elementos que forjam uma canção do estilo. E ainda tinha a letra, autoconfiante, provocante, lasciva, cheia de contrastes entre um antes (de pobreza e de dificuldades) e um agora (em que se existe e se tem voz). Tudo com uma performance rica, em que sapatos de salto são metáforas perfeitas para armas sanguinárias na noite em que a violência, o oportunismo e a covardia reinam. Pra sorte, Cardi B não se transformou em uma artista de apenas um hit, já que Invasion Of Privacy amplia as suas ideias, fazendo com que a palavra "empoderamento" pareça tirada do dicionário do Jardim de Infância. Cardi mistura a petulância de MIA com a selvageria sexy de Nicky Minaj, numa explosão de sentimentos difícil de definir.

11)  MGMT (Little Dark Age): é preciso que se diga que, desde Oracular Spetacular (2007) que não havia um registro tão empolgante quanto este quinto disco dos americanos. "Nos sentimos invisíveis por alguns anos, mas foi positivo para esse novo momento nosso" chegou a dizer o tecladista Ben Goldwasser ao site Tenho Mais Discos Que Amigos. A sensação de sumiço vai embora em um álbum bem menos experimental e que aposta nos hits psicodélicos e no caldeirão sonoro, capaz de misturar pop oitentista, música africana, rock e eletrônica. She Works Out To Much tem refrão grudento e boas doses de ironia sobre a vaidade em tempos de redes sociais (Não me leve a mal / Eu nunca consigo acompanhar / Cansado de dar like em suas selfies). O expediente se repete em TSLAMP sobre a prática de perdermos tempo de vida olhando a tela do celular (Gods descend to take me home / And find me staring at my phone). E há ainda a inacreditável Me and Michael, uma das melhores músicas do ano.

10) Father John Misty (God's Favorite Customer): a gente sabe que hoje em dia não é prática comum escutar um álbum inteiro, ainda mais com as letras a tiracolo. Mas no caso do cantor e compositor americano vale muito a pena esse "esforço" já que, vale ressaltar: poucos artistas serão tão cínicos e corrosivos na hora de analisar a mesquinhez humana em meio a um mundo tecnológico, frio e hedonista. Menos hermético que o registro anterior - o elogiadíssimo Pure Comedy - este quarto trabalho ainda se apresenta mais palatável. Sim, a verborragia está toda lá - há muito da vida do artista nas letras -, bem como a crítica a sociedade de consumo, a políticos, a instituições e a lideranças religiosas. Sim, enquanto ouvimos o nostálgico folk de ares setentistas de Josh Tilman e canções que não fariam feio nas rádios mais descoladas, caso de Disappointing Diamonds Are The Rarest Of Them All, é possível assobiar e bater o pé novamente.

9) Beach House (7): é uma experiência absolutamente indefinível escutar qualquer disco da dupla Victoria Legrand e Alex Scally - e lá já se vão sete registros. Paisagens sonoras etéreas, que se misturam com evocativas viagens espaciais em um cenário de indefinições, complexo, inconclusivo. Mergulhar nas canções da dupla - uma das experiências mais saborosas e magnéticas da música atual, diga-se de passagem -, é trafegar no limite entre a nostalgia e a excitação. "Passamos muito tempo criando montanhas criativas do nada", disse jocosamente Scally ao Pitchfork. Em geral o álbum parece ainda mais denso (e levemente roqueiro) que os anteriores - bastando comparar músicas de uma leveza mística de álbuns passados, como Space Song e Myth, com outras deste disco, como as robustamente sonoras Drunk In LA e Lemon Glow. O efeito na mente - colorido, sensorial, cheio de justaposições e contrastes - continua o mesmo de sempre.

8) Robyn (Honey): a facilidade com que Robyn versa sobre relacionamentos, suas alegrias e tristezas, chega a assombrar. Enquanto corre solta a (econômica) base eletrônica que nos remete imediatamente aos anos 90, a artista reclama o espaço vazio que ficou no travesseiro ao lado após um rompimento (na inaugural Missing U), fala de canções que nos fazem lembrar alguém (Because It's In The Music) e pede desculpas naquele tipo de amor que vale a pena tentar (Baby Forgive Me). Sim, o clima é bem mais introspectivo do que em registros como o dançante Body Talk - lançado num agora dista 2010 -, com o sentimentalismo funcionando como uma espécie de "eixo central" da obra. Sem pressa, apresentando cada canção a conta-gotas, como uma peça isolada que formará um conjunto homogêneo, Robyn nos entrega um dos mais festejados trabalhos do ano.


7) Mitski (Be The Cowboy): tudo que Puberty 2 (2016) - o incensado registro anterior - tinha de enfumaçado, distorcido e alternativo, este mais recente trabalho tem de limpo, claro, seguro. Em comum entre os dois trabalhos, apenas a sinceridade na hora de falar de amor da forma mais confessional possível e a plena capacidade de traduzir em palavras os sentimentos mais diversos. Ando nos meus saltos altos / Toda alta e poderosa / E você diz: Olá / E eu perco canta Mitski em Lonesome Love, canção que emana vulnerabilidade por todos os poros. O expediente se repete em outras, como no hit Nobody (Meu Deus, eu sou tão solitária / Então eu abro a janela / Para ouvir os sons das pessoas). Em meio a uma batida eletrônica aqui, outra guitarra certeira acolá, o piano da artista flana, fazendo com que a cantora fique completamente despida de qualquer vaidade. Um registro rápido, dolorido e gostoso. Como o amor.

6) Tracyanne and Danny (Tracyanne and Danny): existe uma carga emocional, nostálgica, que é difícil de definir na sonoridade dessa dupla - que lança o seu primeiro registro. Tracyanne Campbell não é exatamente uma novidade (ela fazia parte da ótima banda Camera Obscura) e ao lado de Danny Coughlan apresenta uma coleção de gemas do folk, que dialoga com um pop orquestral ensolarado (à moda dos anos 50) e com o rock alternativo de artistas primaveris e épicos como Jens Lekman. Há um certo clima empoeirado, em que o cheiro de naftalina da lugar a arranjos perfumadamente jazzísticos, ora sutis (Jacqueline), ora expansivos (It Can't Be Love Unless It Hurts). Nós estamos passando pelo nevoeiro / Estamos vivendo em uma doce liberdade, canta a dupla na suave Alabama. É exatamente este o sentimento que nos invade ao escutar esse imperdível registro.

5) Janelle Monáe (Dirty Computer): uma das artistas mais completas da atualidade, a americana entrega o seu melhor e mais comercial registro com Dirty Computer. Do diálogo com os anos 90 (Crazy, Sexy, Life) à homenagem declarada ao mentor Prince (Make Me Feel), há em cada curva do trabalho um verdadeiro passeio por ritmos distintos como hip hop, soul e R&B. O clima em geral é festivo, mas a cantora - negra e recém-declarada pansexual - não foge dos temas espinhosos. A faixa-titulo, por exemplo, usa a metáfora do "computador feio, defeituoso" para falar de pessoas que vivem à margem da sociedade. Já o empoderamento feminino vem no formato de Django Jane (Nós vamos começar uma revolução de bucetas). Pynk é sobre liberdade sexual e tolerância. Ufanismo e patriotismo surgem no hino Americans (uma das melhores canções do ano). Participações de Grimes, Pharrel Williams, Zoë Kravitz e Brian Wilson dão conta da diversidade e conferem um charme a mais a esse imperdível trabalho.

4) The Internet (Hive Mind): caloroso, sexy, quente, o quarto disco dos americanos é um amálgama sonoro que mistura R&B, soul, funk e outros ritmos de forma fluída, bem estruturada. É aquele álbum cheio de groove, de batidas suaves e de arranjos refinados pra ouvir no sofá de casa, quando a gente tá cheio de segundas intenções a respeito da visita que está para bater a porta. Há um certo clima "anos 90" meio nostálgico na coisa toda, mas a banda esbanja personalidade em hits grudentos como La Di Da, Stay The Night e It Gets Better (With Time), que jamais soam ultrapassados ou como se fossem um produto desconectado de seu tempo. A voz de Syd - em alguns momentos mais delicada (Look What You Started) em outros mais furiosa (Come Over) - perfuma o registro com tonalidades primaveris, tornando o sussurro a matéria-prima para ecoar angústias, frustrações e anseios amorosos.

3) Miya Folick (Premonitions): como uma forma de tornar os acontecimentos mundanos em algo mais substancial, Folick apelidou a sua música de "pop doméstico". Mas nesse pop das coisas do dia a dia, relevantes a nossa maneira, impactantes em nossas entranhas, não há nada de comum. Em sua estreia, a artista usa a sua voz potente como a âncora perfeita para a formação de verdadeiros hinos catárticos embalados em um clima incandescente, vivo. A paisagem é grandiosa em cada curva de ricos sintetizadores, batidas, efeitos, barulhinhos e violões bem tocados. Mas a poética de Miya não é nada plástica, como poderia sugerir a estética de suas melodias. No caldeirão de ideias, um sincero e dolorido pedido de desculpas (Thingamajig), que não faria feio em um álbum da Sharon Van Etten, uma música sobre amar a si próprio acima de qualquer coisa (Cost Your Love) e a canção motivacional por excelência (Stock Image que, com seu refrão grudento, é impossível parar de ouvir).

2) Mutual Benefit (Thunder Follows The Light): se fosse possível definir a música feita por Jordan Lee com o Mutual Benefit em apenas um adjetivo este seria "aconchegante". É uma coleção de canções capaz de aquecer o coração em meio ao inverno gelado, já que as melodias e a voz doce do artista sugerem bondade, paciência, esperança. Mas há uma diferença que neste para os outros registros: o mundo não tá fácil pra ninguém e isto é traduzido pelas letras ao mesmo tempo reconfortantes, mas significativas. Crises climáticas, derrocada do espírito democrático, a brutalidade e a violência do Estado, por trás da cândura do folk suave da banda, um alerta permanente para os tempos sombrios que vivemos (nos Estados Unidos, representados pela figura onipresente de Donald Trump). Come To Pass, por exemplo, é a doçura por excelência. Mas até a ternura tem limites em cenários que beiram o apocalipse (In hopes that the smoke will clear the air / A cure for something that isn't there).

1) Kacey Musgraves (Golden Hour): é um álbum simplesmente irresistível, envolvente, gostoso de ouvir, o terceiro trabalho de Kacey Musgraves. E, é preciso ressaltar a ousadia da texana: se no registro anterior (o ótimo Pageant Material) predominava um country eventualmente estereotipado - ainda que legitimamente saboroso - agora a artista parece disposta a flertar diretamente com uma música mais radiofônica, o que provavelmente significará a porta de entrada para que um público ainda maior a conheça. Ainda assim, é preciso que se diga, um material acessível ou comercial jamais significa previsibilidade. Ao contrário, ao imprimir o seu vocal limpo, melodioso e afinado, aliado aos arranjos eletrônicos e coloridos que emanam de cada uma das treze canções, a cantora transforma Golden Hour em um verdadeiro "caldeirão da música moderna". Um registro cheio de personalidade, ensolarado, aconchegante e que tem em canções como Butterfly, Space Cowboy e Lonely Weekend, a sua força. Inegavelmente o número 1 com justiça.

E aí, faltou algo nessa lista? Comentem, dizendo quais os melhores para vocês!

E se vocês gostaram desse post, não deixem também de conferir as nossas relação de anos anteriores, de 2017, 2016 e 2015.

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