sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Cinema - Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name)

De: Luca Guadagnino. Com Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg e Amira Casar. Drama / Romance, EUA / Itália / França / Brasil, 2017, 131 minutos.

Existe uma frase que corre pela internet que diz que "apaixonar-se é mais do que correr riscos, é ver os riscos e não correr". De alguma forma, pode-se dizer que esta oração resume o espírito do singelo Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name), filme de grande beleza plástica - ainda que econômico no que se refere a complexidade (e até ousadia) de sua trama. O roteiro nos joga para o lânguido verão de 1983, na Lombardia, na Itália. No local o jovem Elio (Timothée Chalamet, em papel altamente desafiador e indicado ao Oscar) passa as férias com os pais Anella (Amira Casar) e o senhor Perlman (o sempre ótimo Michael Stuhlbarg), em um ambiente multicultural, em que não apenas várias línguas são faladas de forma fluente - inglês, francês e italiano -, como também são naturais discussões sobre literatura, música e artes em geral.

O ambiente parece convidativo e ideal para isso e o charme dos cenários da cidade histórica quase pula para fora da tela - sensação ampliada pelas personagens e seus figurinos excêntricos, somadas a um desenho de produção inspiradíssimo e elegante e a uma fotografia granulada e propositalmente vibrante. A chegada do estudante Oliver (Armie Hammer) agitará o local. Todos os anos o senhor Perlman convoca um acadêmico para lhe ajudar com as pesquisas sobre cultura greco-romana. Só que Oliver é diferente - alto, louro, com voz firme chamará a atenção de Elio que, aos 17 anos, talvez experimentará pela primeira vez a sensação de, de fato, se apaixonar. Uma paixão que, diga-se, poderá ter data e hora para terminar já que, dali a seis semanas, Oliver retornará aos seus Estados Unidos natal.



O filme não tem pressa em retratar a aproximação entre os dois rapazes. Do toque casual durante uma prosaica partida de vôlei, à parceria de ambos em pedaladas em meio a cenários bucólicos, tudo é retratado com grande placidez, de forma quase entorpecente. O que diga-se, pode-se constituir no único pecado da narrativa, que pode se tornar eventualmente lenta e pouco fluída. Ainda assim, sem tornar o contexto ou o cenário opressivo à ambos, o diretor Luca Guadagnino se aproveita do estupendo roteiro escrito por James Ivory (diretor de pérolas como Vestígios do Dia), para tornar a película uma verdadeira celebração ao amor. O amor eventualmente desajeitado dos jovens, cheio de dúvidas, mas invariavelmente sincero como o dos "adultos". O amor que não escolhe gênero, cor, crença, tamanho, status social e que é apenas amor.

Nesse sentido, Guadagnino preenche a tela com belas e divertidas sequências, como aquela em que ambos se lamentam por não terem se aproximado mais cedo, deixando para os minutos finais da estada de Oliver as experiências mais marcantes. Ou mesmo momentos mais tocantes (e reveladores), como aquele em que o pai de Elio o incentiva a buscar a felicidade de qualquer forma, coisa que ele, no passado, não teria conseguido por força das circunstâncias. É um filme diferente de O Segredo de Brokeback Mountain (2005) já que não há, por exemplo, um conflito em um ambiente excessivamente conservador ou homofóbico. O que não deixa de ser também uma mérito para a obra, que ocupa-se muito mais da paixão entre os rapazes, deixando um pouco de lado os possíveis (e totalmente desnecessários) julgamentos.


Indicado em quatro categorias para o Oscar - além da principal, James Ivory concorre em Roteiro Adaptado (com boas chances, diga-se), Chalamet está por Ator e ainda há uma indicação na categoria Canção Original, com a melodiosa History Of Love, do Sufjan Stevens correndo por fora. Outra curiosidade sobre o filme é o fato de um dos produtores ser brasileiro, no caso o Rodrigo Teixeira (e uma eventual vitória da obra na categoria principal seria a única chance de vermos um brasileiro subindo ao palco para receber uma estatueta dourada). Ainda assim, independentemente de vitórias ou não no Oscar - que ocorre no próximo dia 04 de março - Me Chame Pelo Seu Nome é aquele filme de rara beleza, sobre ritos de passagem, sobre a descoberta do desejo e, como já foi dito, sobre o amor. Vale conferir.

Nota: 8,0

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