quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Cinema - Viva: A Vida É Uma Festa (Coco)

De: Lee Unkrich e Adrien Molina. Com Anthony Gonzalez VIII, Benjamin Bratt e Gael Garcia Bernal. Animação / Fantasia, EUA, 2018, 105 minutos.

Imagine você vivendo em um mundo em que não lhe fosse facultado o direito de ouvir música. Nunca. Em lugar nenhum. Sob pena de ser castigado pele mãe ou por algum outro familiar. Pois esta é a realidade do pequeno Miguel (Anthony Gonzalez VIII) de apenas 12 anos, o protagonista desta verdadeira joia da Pixar que, no Brasil, recebeu o nome de Viva: A Vida É Uma Festa (Coco). Ocorre que esta proibição remete a um trauma que envolve os antepassados de Miguel. Mais precisamente o seu tataravô, que abandonou a esposa e a filha pequena para seguir carreira como artista. Por conta do baque a música é banida do seio familiar, só que o problema é que Miguel não apenas ama as canções - especialmente as melodias românticas de seu ídolo Ernesto De La Cruz (Benjamin Bratt) - como ainda sonha em ser artista. Será possível conciliar isso?

Enquanto se esforça para, em segredo, participar de uma espécie de festival de talentos local, Miguel acompanha a movimentação familiar, com os seus parentes se preparando para a celebração do Dia dos Mortos - espécie de festa em homenagem àqueles que já partiram e que, de acordo com a crença, "autoriza" os mortos a visitar os seus parentes. Não é por acaso que as casas são enfeitadas com velas, flores, incenso, além da comida preferida daquele ente que já partiu. Ah, e também com fotos - artigo fundamental para que a memória seja mantida. Ao se meter em uma trapalhada no cemitério local e que envolve o furto do violão que está junto ao mausoléu de Ernesto De La Cruz - e que a esta altura Miguel acredita ser o seu falecido tataravô -, o menino acaba indo parar, por engano, do "lado de lá" (no mundo dos mortos). Bom, está feita a confusão.



Bom, este é o resumo de uma história absolutamente doce e delicada que, como já é tradição no universo da Pixar, nos faz refletir sobre temas diversos como a importância de acreditar nos nossos sonhos e o respeito a honra da família. Sim, não há nada de mais nisso e talvez essa abordagem até não seja nenhuma novidade. Mas a película de Lee Unkrich e Adrian Molina transforma a jornada do pequeno Miguel em uma viagem tão singela e repleta de simbolismos - confrontando vida s morte, sonho e realidade, entre outros - que é simplesmente impossível não se emocionar. Mesmo as reviravoltas do roteiro (que eventualmente poderão parecer meio óbvias) acompanham a lógica natural da trama em tentar transformar cada personagem em alguém um tanto mais complexo do que mostram as aparências. E reparem como Ernesto De La Cruz e Hector (Gael Garcia Bernal) se comportam de maneiras distintas - e nunca maniqueístas - no decorrer da película.

Contando com excelentes e inteligentes piadas - uma delas, impagável, envolvendo a artista Frida Kahlo - a obra ainda traz uma pungente e profunda mensagem sobre a importância de mantermos vivos em nossa memória aqueles que já partiram, o que expande a noção de amor não-físico e também o significado do afeto como parte da lembrança daqueles que, indiretamente, são parte de nós. Não por acaso, as cenas finais envolvendo a bisavó de Miguel (a Coco do título original), arrancarão lágrimas até dos mais duros corações. E, é preciso que se diga: só o fato de tratar da morte com tanta naturalidade (todas as crianças e adultos passarão por eventos dessa natureza), já torna Viva: A Vida É Uma Festa um dos grandes filmes de 2018. Favorito para a estatueta do Oscar na categoria Melhor Animação, a obra ainda é um combo sensacional de boa edição, linda fotografia e trilha sonora riquíssima, com o som mixado de maneira perfeita (capaz de fazer o espectador se envolver ainda mais com a história). Ah, e ainda há Remember Me, aquele tipo de canção que fica por horas na nossa cabeça, assim que terminada a sessão.

Nota: 9,0

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