terça-feira, 18 de setembro de 2018

Novidades em DVD - É Apenas O Fim do Mundo (Juste La Fin Du Monde)

De: Xavier Dolan. Com Gaspard Ulliel, Nathalie Baye, Vincent Cassel, Léa Seydoux e Marion Cotillard. Drama, Canadá / França, 2016, 99 minutos.

Quem acompanha a carreira do jovem diretor canadense Xavier Dolan - dos ótimos Eu Matei Minha Mãe (2009) e Mommy (2014) - sabe que ele utiliza os seus filmes para contar histórias bastante pessoais, muitas delas com ares autobiográficos. Não é diferente com o recém lançado em DVD É Apenas O Fim do Mundo (Juste La Fin Du Monde), em que reúne elenco estelar para narrar a história do escritor de peças de teatro Louis (Gaspard Ulliel) que, longe de casa há 12 anos, resolve visitar a mãe, o irmão mais velho, a cunhada e a irmã mais nova para lhes contar um segredo. Só que a tarefa não será tão simples já que, como manda o figurino das obras envolvendo famílias disfuncionais que trazem à tona memórias e mágoas do passado, Louis praticamente não encontrará espaço (e nem ânimo) para informar a todos a respeito do fato de que está com uma doença terminal. (o que o roteiro nunca deixa claro, mas que supomos ao ligar alguns pontos dentro da narrativa)

A história toda se passa em um único dia, com todos enfurnados na casa da matriarca da família (a veterana Nathalie Baye), que tenta impressionar o filho aparecendo sempre bem vestida e com maquiagem carregada - "ele é uma pessoa das artes, ele gosta disso", ela argumenta. O irmão mais velho Antoine (Vincent Cassel) parece ter, com seus modos rabugentos e intolerantes, algum tipo de mágoa do irmão, talvez relacionada ao fato de ele, ainda jovem, ter saído de casa (o que talvez representasse algum tipo de abandono). A irmã mais nova, Suzanne (Léa Seydoux), tolera a intransigência do irmão mais velho e orbita a mãe, ainda que pareça desejar o quanto antes "se livrar" daquele núcleo familiar. E há ainda a cunhada Catherine (Marion Cotillard) que, com seu olhar doce e modos educados, é capaz de comover a cada instante em que surge em cena, sendo impossível não se emocionar em passagens como aquelas em que ela agradece Louis pelos cartões postais enviados.



É um filme sobre pessoas absolutamente distintas, convivendo em um mesmo ambiente, fazendo valer a velha máxima de que "família não se escolhe". Antoine é pragmático, cartesiano e conservador, ao passo que Louis é sonhador, sensível e humanista. A mãe deles parece padecer de algum tipo de tormento da alma, de difícil definição. E a caçula vive em um mundo paralelo, encontrando refúgio nos cigarros de maconha. Será dessas (pequenas) diferenças, somadas ao natural distanciamento de quem está há muito sem se ver, que emergirão brigas e mágoas, que remeterão a um tempo tão nostálgico quanto distante. A mãe super protetora talvez tenha cerceado a liberdade de Antoine e de Suzanne, agindo de forma complacente com Louis. As diferenças de tratamento podem estar no centro dessas feridas abertas que parecem ser tão difíceis de serem curadas. Ainda que haja mais lacunas para que o espectador preencha.

Com domínio de técnica, Dolan praticamente "cola" a câmera no rosto de cada personagem, o que intensifica a sensação de claustrofobia - ampliada pelo calor escaldante -, já que o tempo todo eles parecem presos a algum tipo de subjetividade mental que até nos escapa. Da mesma forma, dificilmente nos vemos diante de um cenário, ou de algum plano médio (ou americano), sendo o fundo quase sempre um borrão escurecido que remete aos móveis velhos dos pesados ambientes da casa. Já a trilha sonora, que traz nomes diversos como Grimes, Blink 182 e Moby, serve à perfeição para ilustrar, com suas letras, o estado de espírito daqueles que assistimos em cena. Com grandes interpretações - Cassel, em especial, que não faria feio no rol dos grandes violões do milênio - o filme ainda reserva para o seu final a metáfora perfeita para o sentimento vivido pelo protagonista, que saiu de casa para morrer (deixando algum tipo de rastro pelo caminho).

Nota: 8,0


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