Assistir a um filme como Selma: Uma Luta Pela Igualdade (Selma) é ter a oportunidade não apenas de apreciar uma excelente produção do ponto de vista cinematográfico, mas também de conhecer um pouco mais sobre uma das mais importantes personalidades da recente história norte-americana - no caso o pastor protestante e ativista político Martin Luther King Jr (Oyelowo). Nascido em Atlanta, no ano de 1929, King se tornaria, a partir do final dos anos 50, um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros, nos Estados Unidos, com uma campanha baseada em métodos não violentos e, consequentemente, em ações pacíficas, amparadas por discursos e marchas que pudessem, eventualmente, criar uma opinião pública favorável para a questão.
O filme começa com King recebendo o Prêmio Nobel da Paz, no ano de 1964, que lhe foi outorgado como forma de reconhecer a sua liderança na resistência não violenta pelo fim do preconceito racial nos Estados Unidos e também por conquistas prévias, relacionadas ao fim da segregação na terra do Tio Sam - como no caso da divisão étnica que existia há (pasme) apenas 50 anos, em transportes coletivos. Só que um cruel e surpreendente ataque a um grupo de crianças é o gatilho para que o espectador perceba que a realidade é bem diferente - especialmente nos estados do Sul, como é o caso do Alabama, onde fica a cidade de Selma. É por lá que direitos básicos de qualquer cidadão, como o voto, ainda são negados por lideranças políticas (brancas, claro) locais.
King e seu grupo, a Conferência da Liderança Cristã do Sul (CLCS), viajam para Selma com o objetivo de reverter essa questão. As negociações envolvem conversas com integrantes do Comitê Não Violento de Coordenação Estudantil (CNVCE) - em muitos pontos, contrário as ideias do ativista - e até com o presidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson que, com apenas uma assinatura, poderia resolver o imbróglio passando o assunto para a esfera federal. E nesse sentido, é preciso que se faça um elogio aos roteiristas Paul Webb, além de Duvernay, por tornarem um assunto complexo e, em muitos casos, desconhecido do público de outros países, em algo mais fácil de ser assimilado. Ao passo que também merece elogio o design de produção, por recriar com perfeição os figurinos e cenários da época.
A obra também não alivia nas cenas de violência que, em muitos casos, serviram de base para que outras pessoas aderissem ao movimento. O filme recebeu apenas duas indicações ao Oscar - tendo faturado a estatueta na categoria Canção Original, com a soberba Glory, composta por John Stephens e Lonnie Lynn e interpretada por John Legend e pelo rapper Common, que também integra o elenco da película. E talvez tenha sido pouco, especialmente em um ano tão modesto em termos de qualidade cinematográfica. Oyelowo, que interpreta King com um naturalismo impressionante, bem poderia estar no lugar de Benedict Cumberbatch. O mesmo valendo para a diretora Duvernay, já que Morten Tyldum parece estar sobrando, com seu trabalho em O Jogo da Imitação. De qualquer forma, independente de indicações, trata-se de um filme de qualidade e que trata com respeito um tema caro não apenas aos americanos, mas às outras pessoas também.
Nota: 8,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário