terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Lado B Classe A - The Afghan Whigs (1965)

Atenção:
Tire as crianças da sala.
Material altamente inflamável.

Com o álbum 1965, a banda The Afghan Whigs (uma das queridinhas aqui da casa) deu fim às suas atividades, no ano de 1998, entregando um trabalho altamente viciante, bem produzido e com uma levada soul elevada à enésima potência. Produzido pela primeira vez por David Bianco (dos excelentes discos Grand Prix, do Teenage Fanclub, e Smitten, do Buffalo Tom), o grupo alçou o rock alternativo ao patamar dos grandes clássicos da "música para acasalamento", até então representada por ícones como Marvin Gaye, Barry White, dentre outros.

Com uma coleção de faixas intensas, saborosas, suingadas e com um teor altamente explosivo, o vocalista, líder e compositor Greg Dulli destila todo o seu "veneno" com a fome de um predador prestes a capturar sua presa. Sabendo dosar os momentos mais agitados com outros mais elegantes, com uma melancolia subjacente, Dulli acaba por ser uma espécie de, guardadas as devidas proporções, Christian Grey (sim, daquele livro e, em breve, filme) do rock. Ou melhor: imagina o Wando cantando junto com o Mano Changes, da Comunidade Nin-Jitsu (do clássico gaúcho Maicou Douglas Syndrome) mais o rock dos anos 90, vocais de black music, e já dá pra ter uma noção do que encontrar aqui.


Ao apertar o play, ouve-se de imediato o som de um fósforo sendo aceso, já dando a deixa pra Somethin' Hot, com seu riff sacolejante, convidar o ouvinte pra dançar. A balada Crazy, com suas melodiosas frases de guitarra, pergunta: What ever did happen to your Soul?, numa referência óbvia ao estilo homenageado. Uptown Again volta a agitar, sendo um dos maiores destaques, com refrão forte. A faixa 66 traz uma das letras mais 'safadas' do disco, um balanço irresistível com alto teor pop, vocais femininos, uivos, gemidos e tudo mais... só ouvindo pra crer. Citi Soleil traz frases em francês e viola espanhola para complementar o já conhecido rock da banda, em outro destaque do álbum. John the Baptist traz uma letra que deve horrorizar os católicos mais fervorosos, com Dulli pecando sem pudor e trazendo à tona a frase que escancara a influência ddo grande clássico: Let's Get it On! A próxima música, The Slide Song, traz, como o título sugere, slides de guitarra fazendo a cama para mais uma linda balada, narrando a busca de um vampiro por amor. Neglekted talvez seja a mais soul do disco, com um suingue que casa muito bem com os vocais sussurados entremeados pelos backing vocals femininos, criando um clima sexy que descamba para um gran finale de cair o queixo. Por fim temos Omerta, uma faixa mais climática, porém de menor destaque, que faz o prelúdio para The Vampire Lanois, faixa instrumental que encerra este grande álbum.


Wando, Dulli e Mano Changes: incentivando a perpetuação da espécie

Recheado de hits, 1965 deveria ter se tornado um grande sucesso comercial que finalmente alçaria a banda ao mainstream. Infelizmente não foi o que aconteceu, o que acabou por levar o grupo ao término após a turnê do álbum. No entanto, Greg Dulli continuou na ativa e permanece até hoje, tendo neste meio tempo participado de projetos sensacionais como The Twilight Singers e The Gutter Twins, além de uma carreira solo. Em 2014, a banda voltou à ativa com o elogiado Do to the Beast, fazendo a alegria dos fãs de longa data. Com uma discografia invejável, este é o perfeito exemplar Lado B Classe A, uma dica preciosa que nós aqui do Picanha compartilhamos com vocês. Enjoy it!

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