A palavra abutre está lá no dicionário Michaelis: nome comum das aves de rapina, que nutrem-se preferencialmente de animais mortos. E, nesse sentido, é preciso que se diga que, poucas vezes um título em português foi tão eficaz no cinema recente, como no caso desse O Abutre (Nightcrawler), já que, na película dirigida pelo estreante Dan Gilroy, acompanhamos a rotina do jovem e enigmático Louis Bloom - vivido de forma propositalmente inexpressiva por Jake Gyllenhaal - na busca por imagens de acidentes, incêndios, assassinatos e outros crimes, que poderão ser vendidas por uma grana preta para as emissoras locais. Algo como um verdadeiro banquete de sangue e vísceras que é daquilo que se alimentam, afinal, os programas sensacionalistas.
Até chegar a parte em que Gyllenhaal aparece como um verdadeiro "chefão do tráfico" de IBAGENS (Datena?) chocantes, o filme perde um pouco de tempo - e é aí que reside um dos únicos problemas da obra. Talvez não fosse necessário mostrar como Louis entra pra esse mundo e toda a sua caminhada até se "especializar" na área - de forma autodidata, com vídeos da internet. Ainda que uma das cenas iniciais protagonizadas por Dan, quando acompanhamos um roubo seguido de agressão a um policial, seja importante para que tenhamos conhecimento de seu caráter sociopata, capaz até das atitudes maia agressivas para atingir os seus objetivos. Por mais escusos que estes sejam.
Apostando em uma atmosfera permanentemente sombria - fruto do bom trabalho de fotografia - o filme raramente apresenta algum alívio. Ao contrário, sufoca o espectador que viaja constantemente com Dan e Rick (Ahmed) pelas ruas de Los Angeles e suas madrugadas pouco amistosas, na busca pelas melhores imagens, que se tornam conhecidas por meio de audições de rádio dos canais utilizados pela polícia. Nem sempre dá certo. Mas quando dá, Dan tem a oportunidade de vender seu material para uma pequena rede local - e não deixa de ser curioso notar como a diretora de redação vivida por Rene Russo também funciona como uma espécie de "carniceira", capaz de qualquer coisa na hora de barganhar o produto. Mesmo que isso represente alguns poucos números a mais nos índices de audiência.
Centrando fogo nos programas sensacionalistas que povoam a TV aberta - vamos combinar que, hoje em dia, até no Jornal Hoje da Rede Globo vemos imagens do tipo, diariamente - a obra do estreante Gilroy encontra eco em clássicos como A Montanha dos Sete Abutres (1951) de Billy Wilder ao questionar a manipulação da mídia não apenas das imagens, mas dos envolvidos nelas. Tudo pelos índices de audiência. Apesar das eventuais limitações, a película caiu no gosto da academia tendo chance, inclusive, de ser indicada na categoria Melhor Filme. O mesmo valendo para Gyllenhaal que entrega uma interpretação visceral para um sujeito com sérios problemas. É aguardar.
Nota: 7,6
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