sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Disco da Semana - The Decemberists (What a Terrible World, What a Beautiful World)

Quem acompanha o The Decemberists desde os seus primeiros álbuns sabe que, com o passar dos anos, a banda mudou um pouco o seu estilo - ainda que não tenha perdido, evidentemente, a sua essência. No começo de sua carreira de quase 15 anos, o grupo de Portland, nos Estados Unidos, adotava um formato musical que bem poderia fazer parte de algum espetáculo do vaudeville ou mesmo estar na trilha sonora de alguma peça de teatro exibida ao lado (ou dentro!) do cabaré Moulin Rouge da Belle Époque francesa - o que pode ser observado, de maneira especial, em pequenas obras-pimas de sua discografia, casos de Her Majesty (2003), Picaresque (2005) e The Crane Wife (2006).

Era nessa época que era possível acompanhar melodias que tinham como base instrumentos tão versáteis como violino, acordeão e xilofone e que versavam sobre duquesas, baronesas, concubinas, elefantes, carruagens, prostitutas, reis mouros, virgens prometidas, canhões de guerra, esposas de militares, reis canibais e até órfãos que "acordam" dentro da barriga de uma baleia apenas para confrontar seu algoz - como no caso da magistral The Mariner's Revenge Song, presente no disco Picaresque, uma das mais divertidas letras do rock moderno. Todos esses personagens fantásticos - e em muitos casos melancólicos - eram e são concebidos a partir do riquíssimo vocabulário do compositor e letrista Colin Meloy.


Após uma tentativa frustrada de fazer uma espécie de ópera-rock, com ecos de heavy metal, no insuportável The Hazards of Love (2009), o grupo abraçou de vez o pop no disco The King is Dead (2011) que tinha, entre outros, hits saborosos como This is Why We Fight, Rise to Me e Down By the Water. E esta proposta segue no agradável What a Terrible World, What a Beautiful World, lançado há algumas semanas que mantém o estilo que mistura rock com folk, como se o REM tivesse tum encontro com Neil Young para a realização de um disco. Canções como Cavalry Captain, Philomena, The Wrong Year e Make you Better são verdadeiras gemas para os ouvidos e, em alguns casos, parece até indicar uma nova guinada para a banda, que chega a flertar com música eletrônica e até, eventualmente, com o jazz.

Os temas, como se pode perceber já nos títulos das canções, permanecem, apenas saindo de cena as composições mais longas que, em alguns discos, chegavam a ultrapassar os 10 minutos - talvez para desespero dos puristas, fãs do modelo que já os incluiu entre os artistas do rock progressivo. A estratégia, aliada a um bom punhado de letras mais românticas e sensuais - I am the cavalry captain/ I am the remedy to your heart - pode ter o objetivo de atingir uma nova fatia de ouvintes que, vivendo em um mundo cada vez mais veloz e tecnológico, talvez não tenha paciência para ouvir uma música de mais de 12 minutos - e Better Not Wake the Baby, com seus impressionantes 1m45s talvez seja o melhor exemplo disso. Independentemente da estratégia da banda, ou de qual será o caminho adotado daqui pra frente, uma coisa é certa: o The Decemberists continua um grupo muito bacana. Como (quase) sempre foi.

Nota: 7,5

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