segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Cinema - O Jogo da Imitação

De: Morten Tyldum. Com Benedict Cumberbatch, Keira Knightley e Matthew Goode. Drama / Biografia, EUA / Inglaterra, 2014, 115 minutos.

Existe uma antiga anedota que diz o seguinte: dois homens caminham por uma floresta e são surpreendidos pela presença de um urso. Um deles se ajoelha e começa a rezar. O outro começa a calçar as botas que carregava para "bater em retirada". Ao avistar a cena, o primeiro comenta com o segundo: de que adianta calçar as botas se jamais poderemos ganhar uma corrida do urso? Ao que o outro responde: eu não preciso ganhar do urso. Eu apenas preciso vencer você. Dentro do filme O Jogo da Imitação (The Imitation Game), esse pequeno conto é mencionado pelo matemático Alan Turing (personagem de Benedict Cumberbatch, em boa atuação) e serve como metáfora perfeita para definir a ação orquestrada pela Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial e que tinha o objetivo de frear o nazismo.

Na trama, o governo britânico monta uma equipe que tem o objetivo de quebrar o Enigma, o famoso código em linguagem criptografada que os alemães usavam para enviar mensagens aos soldados de campo e para organizar futuros ataques. Turing, um matemático de 27 anos, é parte dessa equipe. Ainda que fosse um sujeito introspectivo e com problemas de relacionamento, Turing passa a liderar a equipe, ao mesmo tempo em que começa a colocar em prática um projeto para construir uma máquina que seja capaz de analisar todas as possibilidades de codificação do Enigma, em menos de 18 horas. Isto porque, passado este período, novas informações são enviadas - e elas são milhares - e todo o trabalho do dia anterior é perdido. Em resumo: uma baita duma sinuca!


A guerra funciona como pano de fundo - ela aparece em imagens em flashback que se tornam, a cada dia que passa, mais agressivas, servindo para dar uma dimensão da violência pela qual passava a Europa como um todo, com o avanço do nazismo. Mas o roteiro centra suas forças no relacionamento (complicado) entre Turing e os demais matemáticos - especialmente após a entrada de Joan Clarke (Keira Knightley) na equipe. Aliás, as questões de gênero resultam em sequências meio batidas como a da mulher que chega atrasada a uma prova, mas que mostra sua "força" ao ser a primeira a terminar um exercício que a qualificaria para entrar no grupo. Ou mesmo a necessidade de esconder essa nova realidade da família - e o diálogo entre Turing e Joan, na frente dos pais, com o objetivo de enganá-los, é preciso que se diga, é um tanto constrangedor.

A propósito, essas pequenas fraquezas tornam ainda mais surpreendente o fato de o filme do norueguês Morten Tyldum ter sido indicado a oito estatuetas do Oscar. E talvez esse seja um indicativo de que a premiação está realmente mais "fraca" - ao menos em relação a 2014. A obra é bem fotografada e, especialmente, bem montada. Os atores entregam um trabalho correto. O argumento é bom e, baseado em fatos reais, incrivelmente significativo. Mas a trama corre naquele esquema que a gente já conhece: o matemático chega, enfrenta dificuldades, briga com os empregadores e com os colegas de trabalho, chora, tem dúvidas, quase é demitido, insiste e eureka. Aquele momento em que cai a ficha, mas a gente nem entende o por quê. Sem surpresas. Sem curvas fora do prumo. Correto e extremamente cartesiano. Tal qual a matemática que é a base da película.

Nota: 6,0



3 comentários:

  1. Eu vi isso e eu ainda não entendo como a máquina de Turing funciona, mas não acho que o objetivo do filme é explicá-lo. Em vez disso, acho que a principal coisa é Turing, desenvolvimento, relações e sofrimento.

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  2. Eduardo Vinicius de Souza31 de julho de 2017 às 10:19

    O filme é ótimo, conta a história de um gênio. O crítico reclama do "esquema que a gente já conhece". Queria o quê? Que inventassem uma outra história diferente da verdadeira? Boçal!!

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  3. Obrigado pela participação Eduardo! Continue visitando nosso site e colaborando com suas críticas... abraço!

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