quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Cine Baú: Morangos Silvestres

De: Ingmar Bergman. Com Victor Sjöstrom, Bibi Andersson, Ingrid Thulin e Gunnar Björnstrand. Drama / Clássico, 1957, 95 minutos.

Assistir a qualquer filme do diretor sueco Ingmar Bergman, é mergulhar em um universo repleto de simbolismos, de imagens poéticas e de metáforas relacionadas a vida, a morte, a religião e a condição humana - e, confesso que selecionar a primeira obra do mestre a figurar no nosso Cine Baú, se consiste em um dilema existencial que está bem adequado àqueles que compõem as suas delicadas narrativas. Gravado apenas um ano depois de outro clássico, no caso, O Sétimo Selo, Morangos Silvestres (Smultronstället) conta a história do professor de medicina Isak Borg (Victor Sjöstrom, em interpretação magistral), que receberá um prêmio honorário pelos 50 anos de carreira, oferecido pela Universidade de Lund, na cidade onde nasceu.

Isak, um senhor de 78 anos solitário e amargurado, sairá de Estocolmo acompanhado da nora Marianne (Thulin) para uma viagem de quase 20 horas em direção ao local em que será concedida a honraria. No caminho, a dupla dá carona a três jovens, entre eles a espevitada Sara (Anderson), que, por conta de sua personalidade e nome, fará com que Isak se recorde de seu grande amor da juventude. Além dos jovens, passará pelo caminho do grupo um casal de meia-idade que parece viver as turras. Todos esses encontros, aliados a uma série de sonhos e alucinações vividos pelo professor, servirão para que ele faça um balanço de sua vida - compreendendo os motivos de sua frieza, que podem ser fruto de uma vida inteira de decepções, especialmente no campo das relações.


Como forma de conferir certa complexidade a essa jornada de autoconhecimento, Bergman inunda a tela de imagens repletas de simbologias - sempre fotografadas no tradicional preto e branco, que compõe boa parte de sua ampla obra. Como por exemplo, na parte em que o professor sonha estar em uma cidade deserta e em ruínas e os relógios da cidade aparecem sem ponteiros. Na cena seguinte, um caixão cai de uma carruagem deixando parte do corpo que ali jaz, a mostra. Isak acorda assustado ao perceber que ele mesmo é o sujeito morto, numa metáfora para um homem que, ainda que esteja vivo, encontra-se morto por dentro, resultado de uma vida de fracassos e de uma personalidade desagradável, capaz de machucar a todos aqueles que o rodeiam.

Um encontro com a mãe e outro com o filho, possibilitará ao professor uma espécie de redenção conforme o filme avança - mas sem abusar do sentimentalismo -, especialmente quando o docente passa a compreender que os problemas emocionais vivenciados por ele, parecem ser transmitidos por gerações, quase como uma espécie de doença genética sem cura. Morangos Silvestres faturou diversos prêmios, entre eles o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e o Urso de Ouro no Festival de Berlim e o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Veneza, além de Bergman ter sido indicado ao Oscar na categoria Melhor Roteiro. A obra pavimentou ainda o caminho para outros clássicos do diretor sueco, como A Fonte da Donzela, Através de um Espelho, Luz de Inverno e, especialmente, Persona. Fundamental.


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