quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Pérolas do Netflix - Qual É o Nome do Bebê?

De: Alexandre De La Patellière e Mathieu Dellaporte. Com: Patrick Bruel, Valérie Benguigui, Judith El Zein e Charles Berling. França, Comédia Dramática, 2013, 109 minutos.

Quem assistiu (e gosta) de clássicos imperdíveis como Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? (1966) de Mike Nichols, ou mesmo do recente Deus da Carnificina (2011) de Roman Polanski, não pode perder de jeito nenhum este Qual É o Nome do Bebê?. O estilo teatral é o mesmo dos anteriores, com um grupo de familiares reunidos durante as quase duas horas de projeção sob o mesmo teto. E o que começa como um agradável jantar oferecido pelo casal Pierre (Berling) e Elisabeth (Benguigui) ao casal Vincent (Bruel) e Anna (El Zein) e mais o amigo Claude (Guillaume de Tonquedec), terminará em uma lavação de roupa suja, a partir da revelação de segredos e verdades que apenas resultarão em mágoas e ressentimentos entre todos do grupo.

Mas é preciso que se diga: o filme é amargo apenas nas aparências. Baseada em peça de teatro encenada anteriormente pela mesma dupla de diretores, a obra já começa divertida, ao apresentar cada um de seus protagonistas - bem como seus hábitos e idiossincrasias - com uma dinâmica narração em off, que, diga-se, muito faz lembrar uma outra película francesa: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet. Ao chegar na casa do casal anfitrião, Vincent, que é irmão de Elisabeth, faz um jogo para que os outros adivinhem o nome que dará ao filho que a esposa Anna, grávida de cinco meses, está esperando. É a revelação do tal nome que iniciará um debate recheado de referências literárias, filosóficas e políticas (claro!).


Como em qualquer filme do gênero, a grande força dessa pequena pérola do cinema francês está no elenco afiadíssimo (apenas Berling não faz parte do grupo que interpretava a peça no teatro) e nos diálogos inteligentes e bem-humorados sobre os mais variados temas. Por exemplo: ao abrir um vinho caríssimo, no valor aproximado de 500 euros, Claude brinca, ao dizer que não se tomavam exemplares desse tipo na missa. Ao que Vincent responde: se fosse assim iria muito mais seguidamente a igreja. Em outro momento, Elisabeth se mostra preocupada com o fato de Anna, grávida, estar fumando, ao argumentar que o futuro filho poderá nascer baixinho. Vincent ataca novamente: se for assim, ele se tornará jóquei.

A naturalidade das interpretações também merece destaque, ainda que, eventualmente, determinadas sequências possam parecer um tanto quanto infantis - como no caso em que Elisabeth tampa os ouvidos e grita, apenas para não poder ouvir de Vincent qual será o nome do bebê, já que ela está magoada por algo dito anteriormente. A trama discute outros temas que envolvem, entre outros, a confiança entre amigos, o respeito as diferenças - em especial as intelectuais -, e até mesmo (pasme!), os limites do humor, quando se vai brincar com algo tão sério (!) como o futuro nome de uma criança. Todos os temas reforçados por citações que vão de Imanuel Kant, passando por Charles Chaplin, até chegar a Adolph Hitler.

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