É provável que a principal piada do recém chegado em DVD Um Senhor Estagiário (The Intern), seja metafórica, algo no melhor estilo "a vida imita a arte". Robert De Niro, vocês bem sabem, dispensa qualquer tipo de apresentação: seus papeis em clássicos como Taxi Driver (1976), O Franco Atirador (1978), Touro Indomável (1980), Os Intocáveis (1987) e Cabo do Medo (1991) são um belo cartão de visitas sobre o que foi a carreira deste grande ator. Em resumo, Bob, como é chamado nos círculos mais íntimos, fez de tudo um pouco no cinema, acumulando em sua trajetória muito mais acertos do que erros. O que lhe garantiria talvez a possibilidade de desfrutar de uma aposentadoria tranquila, discreta e, muito provavelmente, frugal. Mas, quem, sabendo de sua capacidade, gosta de ficar parado? Com os astros de Hollywood, não é diferente, claro. O que talvez explique a sequência desastrosa de projetos em que De Niro anda se envolvendo nos últimos tempos, entre eles o que motiva essa resenha.
A vida imita a arte, eu mencionei ali no começo da resenha. No filme de Nancy Meyers - de obras divertidinhas (tentando encontrar um adjetivo adequado), voltadas a classe média americana como Alguém Tem Que Ceder (2003) e Simplesmente Complicado (2009) -, De Niro é mais ou menos como o seu "eu" da vida real. Bem sucedido após uma vida inteira dedicada ao trabalho em uma fábrica de listas telefônicas, ele curte a aposentadoria, o que inclui viagens, sessões de ginástica naturista para idosos, partidas de golfe, filmes e cafés da manhã na padaria local. Só que o seu personagem, Ben Whittaker, aos 70 anos de idade, após se tornar viúvo, está entediado. E resolve entrar em um programa promovido por uma startup de vendas de roupas online, que recruta estagiários da "melhor idade" (usando aqui uma expressão de que não simpatizo). Ben poderia ficar na sua, curtindo a aposentadoria. Mas, assim como Bob, quer trabalhar: independentemente da empreitada.
O "novo" empregado trabalhará diretamente com a chefe da firma, Jules Ostin (Hathaway), que, como muitos jovens bem sucedidos em seus negócios, iniciou a empresa há apenas 18 meses, transformando-a, nesse meio tempo, em um grande empreendimento com mais de 200 funcionários. Jules é um clichê ambulante no que se refere a mulher moderna, que firma sua posição em um mercado muitas vezes dominado por homens: workaholic, é incapaz de equilibrar as vidas pessoal e profissional, o que, em um filme que se pretende feminista, resulta em um baita tiro no pé. E Ben estendendo lencinhos - em um aparente ato de cavalheirismo - para salvar a situação de mulheres que choram por qualquer coisa, é algo que também não contribui para o cenário que se quer criar.
Assim como não funcionam os comentários e gags sobre igualdade de gêneros, pouca é a efetividade do roteiro, que, curiosamente, não apresenta NENHUM arco dramático que realmente tenha potencial para envolver o espectador. Ben é bem sucedido, e, a despeito das dificuldades com a tecnologia e das diferenças entre gerações - e que rendem, disparado, as melhores piadas - ele facilmente se encaixa no dia a dia da empresa, praticamente sem sofrer qualquer tipo de preconceito, fazendo amizade com os mais jovens e até encontrando uma nova possibilidade amorosa na massagista vivida por Rene Russo. Jules é pra ser uma carrasca no mundo dos negócios e nem bem com meia hora de projeção, já estabelece uma empatia e uma relação de afetividade e amizade com Ben, o que praticamente ocorre sem percalços. É tudo muito leve, cor de rosa, embrulhado em um sachê de lavandas. Pra quem gosta de feel good movies, um prato cheio. Pra quem procura algo mais, digamos, desafiador, é recomendado passar longe.
Nota: 4,5
A nota 4,5 tem como teto 5,0 ou 10????
ResponderExcluirPrezado Bonine, o teto das notas é sempre 10! =)
Excluirbom, então lamento que como blogueiro de cinema, tenhas que assistir estes filmes. De minha parte, com esta crítica, já pouparei algumas horas do meu tempo.
ExcluirHehe, "ossos do ofício", Bonine. No Picanha a gente procura assistir e atender a todas as vertentes. Naturalmente nem todos são grandes filmes.
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