terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Disco da Semana - Suede (Night Thoughts)

Após a morte do ídolo David Bowie, a sensação de ficarmos órfãos da música que o artista nos presenteou durante a sua passagem por esse mundo foi inevitável. Mas como todo grande artista seu legado marcou inúmeros outros, influenciando de forma substancial diversas bandas que surgiram a partir daí. Os britânicos do Suede talvez sejam uma das maiores provas disso: ao iniciar sua carreira no início dos anos 90, a banda capitaneada pelo vocalista e compositor Brett Anderson e o guitarrista Bernard Butler (um dos favoritos de quem vos escreve, que veio a deixar a banda após o magnífico segundo disco, Dog Man Star, de 1994) soube unir como ninguém o glam rock do supracitado ícone Bowie ao britpop dos irmãos Gallagher e do Blur. Depois de um hiato entre os álbuns A New Morning (2002) e o retorno em grande estilo Bloodsports (2013), eis que o grupo volta a nos presentear em 2016 com seu mais novo petardo, Night Thoughts.

Concebido como uma espécie de ópera rock, o disco foi lançado acompanhado de um filme (dirigido pelo documentarista Roger Sargent) que narra a história das reminiscências de uma tragédia familiar na mente de um homem levado a cometer suicídio jogando-se ao mar, enquanto este se afoga. Mas calma: se você pensa que encontrará uma espécie de climão a lá No Surprises do incensado álbum Ok Computer do Radiohead, você está enganado. Ou se por acaso o termo "ópera rock" já te deixa com o pé atrás, pode ficar tranquilo. O máximo de rock progressivo que encontraremos aqui é a junção entre uma faixa e outra e o clima grandioso, orquestrado e quase épico que, convenhamos, nunca deixou de fazer parte totalmente das obras da banda. No mais, é aquele bom e velho "Suedão" a que estamos acostumados - e vale muito a pena!


Repetindo a parceria com o guitarrista Richard Oakes, responsável pelas guitarras flamejantes do popíssimo Coming Up (de 1997, do hit Beautiful Ones) e dos discos posteriores, Anderson retoma aqui a sonoridade guitar pop do já citado álbum com a temática mais densa de sua obra-prima, Dog Man Star, ao tratar de temas como depressão, paixão, traição e frustração embebidos em uma atmosfera catártica porém noturna, romântica. Do início climático com When You Are Young  ao quase término com When You Were Young temos uma reflexão a respeito da percepção do amor com a passagem do tempo. A frustração frente aos desejos não realizados são jogados na cara do ouvinte já no título das canções: No Tomorrow,  I Don't Know How to Reach You, What I'm Trying to Tell You e I Can't Give Her What She Wants são bons exemplos disso.

Faixas como Outsiders de cara já entram para o rol de maiores hits da banda, com seus riffs bem construídos, baixo pulsante e refrão marcante - um baita som que me remeteu ao álbum Here Comes the Tears, obra excepcional de 2005 da banda The Tears (formada por Anderson e Bernard Butler em um ensaio do que poderia eventualmente ser o retorno do Suede à sua formação original - o que não aconteceu, Butler seguiu carreira solo). O mesmo vale para Like Kids, que segue o clima mais alegre, aliviando um pouco a barra ao relembrar dos momentos em que o amor era mais leve, doce e passível de ser realizado - o que é reforçado pelo coro infantil que acompanha determinados trechos da canção. E, claro, as baladas não poderiam deixar de estar presentes: a dramática Tightrope, a lenta Learning to Be, até o final com a pungente The Fur & The Feathers são mais uma prova de que o rock, além de divertir, é capaz de mexer com nossos sentimentos de forma ímpar - e o Suede sabe disso como ninguém. Poder conceber uma obra do quilate de Night Thoughts neste ponto da carreira é algo que deve ser valorizado - e aplaudido.

Nota: 8,5.

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