terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Disco da Semana - Animal Collective (Painting With)

Se o Animal Collective fosse um jogador de futebol, muito provavelmente ele seria o camisa 10 do time. O maestro. O líder. Aquele atleta diferenciado. Capaz das jogadas mais surpreendentes, dos dribles mais desconcertantes, das alternativas mais eficazes para deixar os atacantes na cara do gol. Seria aquele de quem se espera muito e, que, em muitos casos, seria fundamental para a vitória, as conquistas, as taças. O craque que todo o elenco sonha em ter! No Inter seria o D'Alessandro, talvez. No tricolor, o Renato Gaúcho (por mais que este não fosse o número de sua camisa). Foi assim, como uma espécie de meia avançado atuando em altíssimo nível, que os fãs do grupo de Baltimore, no Estado do Maryland, aprenderam a apreciar a discografia sempre instigante e nunca óbvia da banda desde o seu surgimento, no início dos anos 2000, com o experimentalíssimo Spirit They're Gone, Spirit They're Vanished.

Até mesmo pela capacidade de improviso, categorizar a banda dentro de um único estilo nunca foi tarefa fácil. Se trata de música experimental? Freak folk? Shoegaze? Psicodelia? Noise rock? Ou um conjunto de elementos que, misturados, é capaz de formar uma sonoridade única? Essa certa indefinição também ocorre ao ser analisada a discografia da banda, capitaneada por Avey Tare. Se Sung Tongs (2004) era uma obra garageira, barulhenta, quase tosca (no melhor sentido da palavra), Feels (2005) já possuía um clima mais onírico, bucólico e de emanações mais etéreas e nostálgicas. Se em Strawberry Jam (o meu preferido, de 2007) a base era a música eletrônica, com boas pitadas de rock'n roll, no incensado Merryweather Post Pavillion (2009), o que predominava era o aceno pop que não surpreenderia em rádios mais descoladas. Enfim, o quarteto sempre foi capaz de maravilhar o público com os seus registros diferentes, dotados de certa complexidade instrumental (e narrativa) e que sempre sugeriam a busca pela reinvenção, sem que isso representasse a fuga de um "modelo" de trabalho.


Mas até o camisa 10 do time "envelhece", passa a repetir seus movimentos, se tornar previsível. Eventualmente passa a ser vaiado - vaia que só ocorre porque o torcedor sabe que pode esperar MUITO dele. Ele não desaprendeu o seu ofício. Em seu íntimo segue sendo o craque de sempre. Mas talvez já esteja agora na zona de conforto, com uma carreira já consolidada, em que conseguiu cumprir o seu dever de forma quase sempre satisfatória. Ele já mostrou do que é capaz. O Animal Collective, com quase 20 anos de carreira, está muito longe de ser uma banda de velhos. Mas, aos poucos começa a repetir as fórmulas já testadas anteriormente, e que, se antes eram bem recebidas por representarem o uso de recursos inovadores, agora talvez não passem de um sentimento de "mais do mesmo" - e muitas bandas e artistas passam por processo semelhante, é preciso que se diga. Talvez essa sensação de "já ouvi isso antes" seja, de alguma forma, o que ocorre agora com o recém lançado Painting With, décimo disco da carreira do grupo.

Muito longe de ser um álbum ruim. Aliás, muito longe MESMO, já que o grupo apresenta, novamente, uma eficaz sequência de composições que contam, como de praxe, com um grande e variado número de instrumentos - e que quase ultrapassam a ambientação possível para uma sonoridade "terráquea". Singles como FloriDada e Golden Gal utilizam-se novamente de texturas mais acessíveis - uma certa limpeza vista em MPP - que talvez agrade novos ouvintes. Algo ampliado pela redução do tempo médio das músicas e do registro como um todo (que não ultrapassa os 41 minutos). Tudo com o padrão de qualidade de sempre. Só que pra quem se acostumou a Libertadores, fica difícil aceitar apenas um Gauchão. O Animal Collective nos deu agora um campeonato regional - o que sempre é bom, já que taça no armário é mais do que bem-vinda. Mas, como torcedores mal-acostumados que somos, a gente aguarda com certo saudosismo, que retornem os momentos épicos, a sonoridade grandiosa, as "conquistas inacreditáveis". Afinal de contas a gente sabe que esse camisa 10 pode muito mais!.

Nota: 7,3

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