segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Novidades em DVD - Ponte dos Espiões (Bridge Of Spies)

De: Steven Spielberg. Com Tom Hanks, Mark Rylance, Scott Sheperd (II), Amy Ryan e Alan Alda. Suspense / Thriller Político, EUA, 2015, 141 minutos.

Pode-se dizer sobre Steven Spielberg o que se quiser: que seus filmes já não são tão grandiosos como em outrora, que a magia infantojuvenil de seu cinema talvez tenha minguado, ou que hoje ele trabalhe, com sua carreira consolidada, em uma espécie de "piloto automático", entregando obras corretas, mas dificilmente inesquecíveis. Mas tem algo que não muda na obra do diretor, responsável por clássicos tão distintos como ET - O Extraterrestre (1982), Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), Tubarão (1975) e O Resgate do Soldado Ryan (1998): a capacidade de contar boas e envolventes histórias, algo que ocorre, novamente, com o indicado ao Oscar de Melhor Filme Ponte dos Espiões (Bridge Of Spies), que deve pintar entre os lançamentos para a telinha já no início do mês de março.

No filme, Spielberg utiliza-se mais uma vez de um expediente que tem repetido, especialmente em seus trabalhos mais recentes: o do recorte, em muitos casos baseado em fatos reais, envolvendo um pano de fundo histórico e político. Foi assim com os já hoje distantes (e ótimos) A Lista de Schindler (1993) e Amistad (1997). O mesmo tendo ocorrido ainda com mais força em sua filmografia recente, vide os casos de Munique (2005) e Lincoln (2012). Em Ponte dos Espiões, o diretor se alia novamente a Tom Hanks para contar a história real de um advogado especializado em seguros chamado James Donovan (Hanks), que aceita um trabalho um pouco diferente ao que ele está acostumado: defender o espião soviético Rudolf Abel (Rylance), capturado pela CIA em meio a Guerra Fria, que é acusado de entregar segredos militares dos americanos para os comunistas.


Essa sinopse poderá enganar aquele cinéfilo que talvez possa imaginar estar diante de mais um representante da sétima arte que servirá apenas para ressaltar as virtudes e o patriotismo do povo americano. Mas não. Aliás, é exatamente a contrário. Hanks, com aquele estilo "boa praça" de sempre, capaz de transmitir com a maior naturalidade do mundo a fragilidade e a força que seu papel exige, incorpora Donovan como um advogado disposto a defender Abel de maneira justa e humanística. Enquanto a "família de bem americana" clama para que o espião vá para a cadeira elétrica, o protagonista trabalha para que o julgamento tenha o desfecho mais justo possível - nem que para isso tenha de comprar briga com lideranças políticas norte-americanas, que imaginavam tornar o julgamento uma espécie de mera formalidade, já que o destino de Abel já estaria mais do que traçado. Ainda que não existisse absolutamente nenhuma prova sobre que indicasse qualquer tipo de subversão de sua parte. A sede por sangue só esfriará após uma pequena reviravolta no contexto do conflito que, para aqueles que não assistiram o trailer, poderá se constituir em uma razoável surpresa.

Assim como Hanks que realiza, como de costume, uma performance correta, Rylance interpreta Abel como um homem frio, discreto e de fala mansa, capaz de cativar a todos com a melancolia de seu olhar - não à toa, a sua caracterização (e comportamento) no primeiro terço da película é um dos pontos altos da obra. O que certamente explica a sua primeira indicação ao Oscar - na categoria Melhor Ator Coadjuvante. Sua interação com o personagem de Hanks, que rende os melhores diálogos da história - "você não parece preocupado", afirma o advogado em certa hora, ao que o espião responde "e isso ajudaria?" - também contribui para que o filme, ainda que tenha um ritmo certamente mais arrastado, não se torne cansativo. E o humor quase nonsense em uma série de sequências - sendo uma das mais divertidas, a cena em que Hanks é perseguido na madrugada chuvosa por um homem de capa -, é fruto do trabalho dos Irmãos Coen que colaboraram com o roteiro.



Tendo ainda como uma de suas forças o excelente trabalho de Direção de Arte, o filme é capaz de recriar cenários, lugares e elementos cênicos com grande riqueza de detalhes. O mesmo pode ser dito do trabalho de fotografia de Janusz Kaminski, que adota uma paleta de cores amarelada e eventualmente acinzentada e sombria - especialmente nas cenas europeias, e que contribui para o clima tenso que se estabelece a partir da metade da obra. Ainda que não possua um grande e climático final ou que peque aqui e ali pelo excesso de didatismo ou pela falta de sutileza - (SPOILER ALERT: a sequência final seria tão mais impactante se a esposa percebesse por conta própria, ao ver o desfecho do caso da troca de espiões na TV, que o seu marido não havia ido "pescar", como anunciara), Ponte dos Espiões jamais esmorece em sua mensagem antibélica. O que mostra que a arte pode ir para muito além do puro e simples entretenimento.

Nota: 8,0

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