quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Cinema - Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight)

De: Tom McCarthy. Com Michael Keaton, Mark Rufallo, Rachel McAdams, Liev Schreiber, Stanley Tucci e John Slattery. Drama / Suspense, EUA, 2015, 128 minutos.

Filmes sobre jornalismo podem se constituir em verdadeiras lições de casa sobre o tema - não por acaso funcionando como material de apoio de excelência para atividades complementares em cursos de Comunicação Social mundo afora. Tomemos como exemplo obras como o recente Boa Noite e Boa Sorte (2005) de George Clooney, ou mesmo o já clássico Todos os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula. Ali, nestes bons filmes, estão exemplos do bom jornalismo, pautado pela ética, pelo compromisso com a verdade e pela imparcialidade. E também de paixão por aquilo que se faz - sem deixar de lado o pensamento crítico. No caso de filmes como O Quarto Poder (1997), do grego Costa-Gavras, ou mesmo no clássico (e maravilhoso!) A Montanha dos Sete Abutres (1951), de Billy Wilder, é o contrário. Vale o sensacionalismo barato, a exploração da tragédia humana, a chantagem e a manipulação, com o simples objetivo de conquistar uns pontos a mais no ibope.

O recém lançado Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight) - um dos grandes favoritos para a principal premiação da noite do Oscar - pertence a primeira categoria. E, certamente, deverá ser exibido em cursos de Jornalismo, futuramente, como reflexão relativa aos caminhos da profissão. Especialmente em uma época em que os grandes veículos de mídia parecem mais interessados em seus próprios umbigos - e em como manter as suas contas correntes bem polpudas -, esquecendo assim a importância da credibilidade, da pauta bem apurada, ou mesmo de outros aspectos que tenham por base a valorização da pluralidade de temas (e de debates), que sejam capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais democrática, justa e com ampla visão de mundo. Sem esquecer, claro, da pirâmide invertida, do lide, da objetividade, da clareza, das confiáveis fontes e de uma boa foto.


Baseada em fatos reais, a trama do filme dirigido por Tom McCarthy - dos ótimos O Agente da Estação (2003) e O Visitante (2007) - segue os passos de um grupo de jornalistas do diário Boston Globe, que, em 2001, teve acesso a uma série de documentos capazes de provar diversos casos de pedofilia causados por padres católicos. Com um agravante: os eventos teriam sido acobertados pela própria igreja, com transferências de religiosos para outras localidades e chantagens diversas - com direito a participação de advogados e da própria imprensa - ao menor sinal de que os casos pudessem vir à tona. É mais ou menos como um Todos os Homens do Presidente, já citado por aqui, mas sai o escândalo de Watergate, envolvendo o presidente americano Richard Nixon, entra um movimento escabroso de violência, capaz de traumatizar centenas de famílias, e que foi acobertado justamente por aqueles que deveriam apoiar os sobreviventes.

Um filme desse estilo, recheado de diálogos intensos em meio a cubículos e de pequenas surpresas no decorrer da projeção, praticamente implora por um elenco que consiga equilibrar aspectos como carisma,  certa ternura, alguma fúria e muita frieza diante daquilo que se investiga - e nem é preciso dizer que os atores, especialmente Ruffalo (como sempre) e Schreiber (em um papel que já tem a minha torcida por uma indicação ao Oscar), dão conta do recado. A fotografia quase pálida da redação do Globe, ou mesmo das ruas em seu entorno, em contraponto com a suntuosidade dos símbolos católicos, também funciona como impactante metáfora relacionada ao poder de cada uma das instituições retratadas. E, quando um dos personagens constata que 53% dos assinantes do periódico são católicos e que isso, de maneira alguma, impedirá o avanço da investigação - que dura meses, num ardoroso exercício jornalístico - o telespectador parece voltar no tempo. Para uma época em que, acima de qualquer ideologia, valia o jornalismo bem apurado e preocupado em levar informação de qualidade para o leitor.

Nota: 9,0 


6 comentários:

  1. tomara que seja exibido em Lajeado, senão, teremos que ir novamente a Porto Alegre para assistir a um bom filme.

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    1. É uma verdadeira incógnita sobre se vai ou não abrir em Lajeado, Bonine. É aguardar!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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