quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Encontro com a professora - Jazz e Cinema

All That Jazz

Ninguém duvida da importância da trilha sonora em um filme. Às vezes sutil, outras vezes intensa, a música conduz, sem medo de errar, muitas das emoções que sentimos diante da telona. Seguem algumas dicas sobre cinema e um de seus namoros mais antigos e promissores: o jazz. 

Quem curte as comédias românticas dos anos 1950/60, pode checar Ama-me ou Esquece-me, de 1955, com a queridinha da América Doris Day, que sempre fazia papéis de garota casta se debatendo ante o desejo masculino. É famosa a frase de Groucho Marx sobre ela e sobre como Hollywood constrói seus mitos: "Conheci Doris Day quando ela ainda não era virgem". Mas a atriz também teve uma bela carreira como cantora e, na trama, interpreta a canção-título, Love Me or Leave Me, música consagrada por Billie Holiday.  




Recomendadíssimo também é o soundtrack de O Homem do Braço de Ouro, de 1955. Filme baseado no livro de Nelson Algren, é um estudo visceral sobre o vício em heroína. Produzido e dirigido pelo cineasta Otto Preminger, apresenta uma trilha sonora incrível em que a música também é personagem pelo impacto que tem sobre o espectador. Elmer Bernstein trabalha com o ritmo do jazz justamente nesse sentido e Frank Sinatra mostra a que veio neste filme, levando, merecidamente, um Oscar. Imperdível.  

Outro destaque é Por Volta da Meia-Noite, de Tavernier, de 1986, talvez a melhor cinebiografia sobre jazz. Uma mistura puramente impressionista de ficção e realidade, sem intriga, sobre a vida de músicos negros que vivem entre Paris e New York. Livremente inspirada na vida de Bud Powell, foi uma obra que surpreendeu principalmente por reunir um elenco formado por músicos, o que proporcionou performances memoráveis gravadas com áudio "em direto", num cenário especialmente criado para a excelência em captação de áudio. O protagonista foi o saxofonista Dexter Gordon que concorreu ao Oscar de melhor ator. 



Bird, 1988, biografa os últimos anos de Charlie Parker, o nome da inovação do jazz, fundador do bebop, e influência, até hoje, de vários outros nomes, um verdadeiro divisor de águas na história do jazz cuja importância na música só se compara a Armstrong e a Ellington. O filme foi dirigido por Clint Eastwood, também responsável pelo excelente As Pontes de Madison, cuja trilha é arrasadora. Quem não ouviu I´ll Close My Eyes, com Dinah Washington, não viveu. 

Sugiro, ainda, o delicioso My Blueberry Nights, de 2007, dirigido por Wong Kar-Wai. Nele, Norah Jones canta Summertime, standard gravado por muitas vozes e instrumentos do jazz (Coltrane, Billie, Sarah, Ella, Armstrong, além da interpretação antológica de Janis Joplin) para esta música de George Gershwin, composta para sua ópera Porgy and Bess, de 1935. Cassandra Wilson poetiza, literalmente, Harvest Moon, de Neil Young.  





Outra pérola é Monica Z, de 2014. Dirigido por Per Fly, conta a história de uma jovem sueca que, nos anos 60, sonha em ser cantora de jazz. Embora ela já se apresente em vários clubes de sua pequena cidade, seu sonho é ir para os EUA e viver entre os jazzistas norte-americanos, principalmente seu ídolo Bill Evans. Mas esta trama não trata de simples ficção. É a história de Monica Zetterlund, que se tornou famosa nos clubes de jazz de Estocolmo e depois internacionalmente, durante a época de ouro do jazz. É um bom filme, com trilha sonora impecável, que contrabalança bem o drama com o contexto da época, a um tempo liberal – na Suécia – e tremendamente preconceituoso na terra do jazz onde não permitiam que a artista, loira e linda, se apresentasse com músicos negros e “selvagens”. 

Encerrando esta jam – e aproveitando a vibe do Oscar em 28 de fevereiro – lembro o oscarizado Whiplash, de 2014, e a música tema do filme, com Hank Levy.  

Como se percebe, há muito que ver e ouvir. Boa audição.

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