Em setembro de 2008 o mercado imobiliário norte-americano entrou em colapso, resultando em uma crise econômica talvez só vista, anteriormente, na época da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, que veio a acarretar a Grande Depressão nos Estados Unidos. O indicado ao Oscar - e um dos favoritos, após a recente vitória na premiação do Sindicato dos Produtores (PGA) - A Grande Aposta (The Big Short) se propõe a contar essa história, mas de uma maneira diferente: partindo justamente do ponto de vista daqueles que apostaram todas as suas fichas CONTRA o "infalível" sistema financeiro americano, a fim de lucrar milhões (e até bilhões) de dólares, as custas do sofrimento de centenas de milhares de pessoas que depositaram tudo no sonho da casa própria.
Assim, o que se vê na tela são sujeitos inescrupulosos dos mais variados tipos, sejam eles banqueiros, investidores, corretores e empresários de médio porte, que atuam em companhias de seguro, instituições bancárias e agências de classificação. Todos tendo por base apenas a ganância e o foco no lucro pessoal - e no polpudo bônus do final do mês - em uma espécie de cadeia alimentar da titularização, onde bancos realizam financiamentos que são verdadeiros negócios de risco, investidores compram esses títulos por um outro tanto, companhias de seguro fazem vista grossa e agências de classificação completam a farra, ranqueando com grandes notas - o famoso Triple AAA - os papeis. Inclusive os de alto risco. Tudo movido, em absolutamente todas as etapas, por gigantes movimentações financeiras, com outros crimes, como lavagem de dinheiro, estelionato, fraudes em notas fiscais e falsificação, fazendo parte do bolo. Enfim, a tal "bolha imobiliária" era inevitável.
Eu sei, parece chato. E, no começo, até dá a impressão de que vai MESMO ser chato. Termos como tranches, subprimes, títulos lastreados, hipotecas, derivativos de crédito, obrigações de dívidas garantidas, empréstimos ninja (sim, acredite) e outras tantas expressões, que somente aqueles economistas
Não custa lembrar que McKay dirigiu os absolutamente hilários O Âncora (2004), Ricky Bobby - A Toda Velocidade (2006) e Quase Irmãos (2008). Nesse sentido, e tendo a frente da produção um diretor de comédias - talvez um dos melhores de sua geração -, não faltam referenciais pop (músicas, séries, filmes), trilha sonora cheia de hits, quebras de quarta parede, gags engraçadas (a cena em que um grupo de especuladores pratica tiro ao alvo em inimigos públicos dos norte-americanos, como Osama Bin Laden, é sensacional) e uma série de celebridades - casos de Selena Gomes e Margot Robbie - que aparecem nos momentos mais "espinhosos" para esclarecer para o público o que alguns daqueles fatos querem dizer. O que torna a sessão não apenas mais divertida, como também mais didática. Especialmente para os que, assim como eu, não estão assim tão familiarizados com Wall Street e todos os seus caminhos.
Ainda assim isso não significa que o drama não esteja lá. A ideia central não é fazer deboche de um acontecimento real que marcou a vida dos americanos da pior maneira possível, resultando na falência de bancos e em milhões de desempregados e de desabrigados. Além dos trilhões em títulos pendentes, claro. O objetivo é mostrar como uma situação que beira o nonsense - americanos ambiciosos (e estúpidos) torcendo pelo fracasso e pela miséria de muitas pessoas -, consegue ser tão patética quanto as próprias piadas que compõem o roteiro, num processo de análise de uma realidade tão absurda, que, no fim das contas, só rindo pra conseguir aguentar. Algo que é alcançado com grande mérito não apenas pelo roteiro bem intrincado e pelo argumento nunca monótono, mas também pelas incríveis atuações - com destaque para Christian Bale (indicado ao Oscar) e, especialmente, Steve Carell, em mais um excelente papel dramático depois de Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo. Pra ver e rever.
Nota: 9,0
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