segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Cinema - Trumbo: Lista Negra (Trumbo)

De: Jay Roach. Com Bryan Cranston, Michael Stuhlbarg, Diane Lane, Helen Mirren e Louis C.K. Biografia / Drama, EUA, 2015, 125 minutos.

Em determinada cena do recém lançado Trumbo: Lista Negra (Trumbo, 2015), um representante do famigerado Comitê de Atividades Antiamericanas - que, no início da Guerra Fria, trabalhou para descobrir "ameaças subversivas que pudessem romper com os valores democráticos norte-americanos" - vocifera, para um adepto do Partido Comunista nos Estados Unidos: volta pra União Soviética! E aproveita o Balé Bolshoi! Evidentemente, o tom é de deboche e de ironia. O período - final dos anos 40 e início dos 50 - é o da conhecida Caça as Bruxas, promovida, entre outros, pelo senador Joseph McCarthy, que procurava banir a ameaça vermelha na Terra do Tio Sam. Algo parecido com o que se vê na internet, hoje em dia, quando representantes de uma nova direita digamos assim mais... extrema costuma dizer "vai pra Venezuela", como forma de se defender dos "horrores" promovidos pela ditadura bolivariana, que vem sendo implementada no nosso querido Brasil há cerca de 15 anos.

É nesse contexto pouco favorável que trabalham - ou tentam trabalhar - uma série de atores, escritores, redatores, publicitários e diretores de Hollywood, entre eles o roteirista Dalton Trumbo, vivido por Bryan Cranston, da série Breaking Bad, que passam a ser perseguidos pelos grandes estúdios ao se aliarem ao Comunismo. Assim, consequentemente, passam a representar uma grande ameaça a Nação com o seu plano de dominação comunista, que poderia envolver a "panfletagem" a partir de filmes e outras obras de arte. Por mais talentoso que Trumbo fosse - e era, como viria a se mostrar a partir da conquista de mais de um prêmio Oscar, com o uso de um pseudônimo - as portas da Meca do cinema mundial se fecharam para ele, que, não obstante, passou boa parte de seus anos preso. E tudo por causa de sua orientação política.


As desventuras de Trumbo, a partir da saída da prisão e as seguidas tentativas para voltar para o mercado de trabalho são filmadas com elegância - a recriação de época é cuidadosa ainda que seja discreta -, mesclando doses certas de humor com drama. Assim como divertem as cenas com o diretor Frank King (John Goodman), são melancólicas aquelas que envolvem a relação de Trumbo com a sua família, uma vez que o sujeito se torna obsessivo pelo trabalho (e pelo dinheiro) - não deixando de ser esta uma fina ironia para um "comuna". Aliás, Trumbo era um bon vivant, gostava de reunir a família, comer e beber bem, sendo chamado, em certa altura da projeção, de "soviético de piscina", numa curiosa atualização para a "esquerda caviar" de hoje em dia. O que talvez torne a expressão atual ainda mais anacrônica e deslocada de seu tempo, dado o contexto de época - e as eventualmente adequadas preocupações em relação ao stalinismo.

Ainda assim, por mais que a mensagem sobre o respeito a diversidade ideológica seja válida, servindo ainda como uma espécie de expiação dos americanos - nos moldes dos filmes alemães antinazismo, guardadas as proporções, evidentemente -, a obra do diretor Jay Roach (Austin Powers) comete alguns pequenos deslizes que parecem denunciar certo maniqueísmo. Algo que pode soar como panfletarismo para muitos. A explicação sobre o que é ser socialista e que envolve um sanduíche talvez não coubesse nem em uma conversa envolvendo alunos dos primeiros anos do ensino fundamental, de tão reducionista - e não é preciso ser nenhum gênio pra saber que o caráter de uma pessoa não está necessariamente relacionado a sua ideologia. E será que o ator John Wayne (David James Eliott, nada parecido, por sinal) era assim tão... boçal? Em determinada cena só faltou ele sacar uma panela e começar a bater nela. Enfim, são detalhes que, numa análise geral, não comprometem o todo.

Nota: 7,5


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