quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Cinema - Grandes Olhos

De: Tim Burton. Com Amy Adams, Christoph Waltz e Krysten Ritter. Comédia dramática, EUA, 2014, 106 minutos.

Uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade. A frase atribuída ao político alemão Joseph Goebbels serve perfeitamente para resumir a história de Grandes Olhos (Big Eyes), mais recente empreitada do diretor Tim Burton - que finalmente deixa de lado o estilo sombrio para apostar numa paleta de cores mais ensolarada, ainda que se trate de uma obra com alta carga dramática. A trama - que de tão improvável chega a surpreender que seja baseada em fatos reais -, narra a história da pintora Margaret Keane (Amy Adams) que, recém-separada do marido, tenta a vida vendendo quadros de crianças assustadoras com os tais "olhos grandes", em pequenas feiras culturais da cidade de San Francisco.
A vida da artista muda completamente quando ela conhece o charmoso pintor Walter Keane (Christoph Waltz, abusando um pouco do estilo "quero-ganhar-mais-um-Oscar-então-vou-exagerar-na-dose"), que a pede em casamento, propondo também uma parceria de negócios: ela pinta, ele vende. Financeiramente arruinada e com o risco de perder a guarda da filha, Margaret aceita a proposta. Só que, conforme o negócio avança e os quadros da pintora começam a ficar famosos, Walter muda o seu comportamento, embebido pela fama repentina, atribuindo a ele próprio a autoria dos retratos. "Tudo pelo bem do negócio", diz ele, já que, nos anos 50, não eram tão comuns as mulheres ligadas as artes.



O filme discute de maneira inteligente as questões de gênero, em uma época em que as mulheres eram apenas esposas submissas e subservientes ao marido. Vivendo diariamente sob a ameaça de revelação da farsa, à Margaret só resta pintar, tornando-se conivente com a proposta. E, enquanto Walter tem encontros com estadistas internacionais e artistas de Hollywood, em saraus repletos de pessoas elegantes interessadas nos quadros - que vão ficando mais famosos a cada dia -, a pintora se enclausura em um minúsculo cômodo da mansão em que vivem, isolando-se não apenas dos antigos amigos, mas também da própria filha. Que, evidentemente, passa a desconfiar do comportamento recluso da mãe.
Com excelente trabalho cenográfico, a obra recria os anos 50 e 60, com seus figurinos e penteados típicos, de forma acertada e, ao mesmo tempo, econômica. Bem diferente daquilo que nos acostumamos a ver em outros filmes de Tim Burton - casos de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Sweeney Todd e Sombras da Noite - aqui a fotografia é mais ensolarada e colorida, ainda que, nos momentos de maior suspense, o filme ganhe cores mais frias, tornando a paleta mais sombria. No elenco, Adams, que foi agraciada com o Globo de Ouro como atriz de Comédia ou Musical, entrega um trabalho soberbo - ainda que tenha sido ignorada no Oscar. Diferentemente de Waltz, que mais parece interessado em impressionar pelos maneirismos, algo que o torna, em alguns momentos, caricato, tirando parte da força da película.

Nota: 7,5


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